Uma das coisas que mais me entristecem neste momento trágico
pelo que passa o Brasil é ver cair a máscara de bom caráter, de bom mocismo,
que muitas pessoas que conheço usavam.
Não fico desapontado porque elas são de direita, não gostam
deste governo ou de Lula ou do PT.
Como ser humano civilizado considero que sou obrigado a
respeitar as diferenças.
Se não souber conviver com esse fato absolutamente natural
numa espécie que evoluiu ao ponto de transformar, em seu proveito, o mundo em
que vive, não mereço estar na companhia dos outros.
O bom da vida, acredito, é justamente a sua diversidade.
Como é que falavam antigamente? "O que seria do
vermelho se todos gostassem do amarelo..."
Numa democracia, ou até mesmo num projeto de democracia,
como o Brasil, respeitar as diferenças, proteger as minorias, dialogar com a
contraparte, deveria ser algo tão comum quanto respirar.
Por isso é que me entristece profundamente ver gente que
considerava igual a mim, em termos intelectuais e de educação - não só a
formal, mas principalmente, aquela que nos dita como se comportar em sociedade
-, agir, hoje, como se fizesse parte de uma matilha de lobos à caça de uma
presa, como nesses documentários que passam na televisão sobre a vida selvagem.
Repito: ninguém é obrigado a gostar do PT, dos comunistas,
do Palmeiras, do Corinthians, de feijoada ou da Ana Carolina.
Todos nós temos preconceitos, uns mais, outros menos.
Mas, em muitos casos, pelo simples motivo de que externá-los
pode ofender nossos interlocutores, o melhor negócio é calar a boca, em nome da
boa convivência.
Convivi com muitas dessas pessoas que julgava serem gente de
boa índole, incapazes de fazer ou até de pensar mal dos outros.
Com algumas compartilhei alegrias e frustrações.
Ri e chorei com elas.
Infelizmente, agora só me resta, para que não se apague em
mim a frágil chama que alimenta a esperança de um mundo mais fraterno e menos
injusto, a recordação do tempo em que éramos todos, simplesmente, bons
companheiros.
Texto de Aguinaldo Munhoz
No blog CONTRA maré
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