Da Redação do Socialista Morena
Em janeiro de 2017, o Serviço Americano de Pesca e Fauna
Selvagem (USFWS) dos EUA incluiu uma espécie de abelha, Bombus affinis, entre
as espécies ameaçadas de extinção. Uma das cinco espécies do país, a população
destas abelhas diminuiu 88% desde o ano 2000. O Canadá já havia feito o mesmo
com a Bombus affinis em 2010.
Historicamente, esta abelha estava distribuída de forma abundante pelos
28 Estados norte-americanos e em duas províncias canadenses; a partir de 2000
aparece em apenas 13 Estados uma província do Canadá. Outras sete variedades de
abelhas de cara amarela oriundas do Havaí já tinham sido incluídas na lista
pelas autoridades norte-americanas.
A ameaça a estes insetos preocupa tanto o mundo que a União
Europeia convocou no ano passado um congresso internacional de especialistas
para discutir a saúde das abelhas. Além de produzir mel, as abelhas atuam como
polinizadoras e podem aumentar em cerca de 25% o rendimento das colheitas. Sem
abelhas, já se fala até em usar drones para polinizar artificialmente, como no
episódio de Black Mirror. Um estudo da agência ambiental norte-americana
confirmou a relação entre os agrotóxicos à base de neocotinoides, que estão
entre os mais utilizados no mundo, e o desaparecimento das abelhas, já que
danificam seu sistema nervoso central. Em abril deste ano, eles foram banidos
da União Europeia.
Nada disso acontece em Cuba. Livres de pesticidas, as
abelhas da ilha não só não estão ameaçadas de extinção, como o mel orgânico que
produzem se tornou o quarto produto agrícola de exportação do país, atrás dos
pescados, dos charutos e do rum, e à frente de produtos tradicionais como o
café e o açúcar. Graças à ausência de químicos e hormônios na agricultura, o
mel cubano é considerado uma iguaria mundo afora e a ilha é saudada como “o
paraíso das abelhas e do mel orgânico” pela imprensa internacional. Um frasco
com 250 gramas de mel de romerillo, considerado “raro” por proceder de uma flor
da família das margaridas típica de Cuba, é vendido por 27 reais na Inglaterra.
“Todo o mel cubano pode ser certificado como orgânico. É um
mel com um sabor muito específico, típico; em termos monetários, é um produto
altamente valorizado”, disse à Reuters o representante da FAO em Cuba, Theodor
Friedrich. Cuba produz atualmente cerca de 8 mil toneladas por ano de mel, e o
governo acredita que esta produção pode chegar a 15 mil toneladas anuais. Um
programa governamental de apoio à apicultura estabeleceu uma meta de 10 mil
toneladas por ano em 2020. Os apicultores, reunidos em cooperativas, revendem
tudo à empresa estatal Apicuba, que distribui o produto às duas fábricas
autorizadas para processá-lo. Outra estatal, a Cubaexport, é quem vai vender o
mel para o mundo.
FIDEL CASTRO VISITA UM PRODUTOR DE MEL. FOTO: APICUBA |
Enquanto isso, os cientistas do Centro de Pesquisas Apícolas
(Ciapi, na sigla em castelhano) de Cuba desenvolvem subprodutos do mel. Fundado
em 1982 e único do gênero na América Latina, o centro anunciou em maio dois
novos produtos, o hidromel, um digestivo antioxidante recomendado como vinho de
mesa (aqui na Chapada Diamantina também tem) e o Propomáx 5, um antibiótico
natural, bactericida e fungicida com propriedades antioxidantes benéfico para
doenças cardiovasculares e diabetes. Há ainda o complemento nutricional
Panmiel, que estimula o apetite, melhora o funcionamento da próstata e combate
a anemia, e outros derivados do própolis.
É tudo uma questão de prioridades: enquanto os EUA se
orgulham de ser o maior exportador de armas do mundo e outros países de lucrar
bilhões com agrotóxicos, Cuba vai marcando seu caminho como potência mundial em
educação, saúde e… mel orgânico.
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