Chegada de Dorival Júnior ao Flamengo faz Brasileirão 2018
atingir a marca de 22 trocas de técnico em 26 rodadas.
Luiz Ferreira
Dorival Júnior tem onze rodadas para salvar o ano do
Flamengo / Gilvan de Souza /
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A chegada de Dorival Júnior ao Flamengo na última semana foi
simplesmente a 22ª segunda troca de técnico entre os 20 times da Série A em
cinco meses de competição. Apenas Mano Menezes (Cruzeiro), Renato Gaúcho
(Grêmio), Odair Hellmann (Internacional), Thiago Larghi (Atlético Mineiro) e
Diego Aguirre (São Paulo) continuam em seus clubes desde o início do Campeonato
Brasileiro 2018. As equipes citadas acima ou estão na parte de cima da tabela
da competição ou em boas condições de brigar pelo título de uma Copa do Brasil
ou de uma Libertadores ainda nesse ano.
Não sei se o torcedor faz parte do coro que afirma que “é
mais fácil mudar um do que onze”, mas essa troca desenfreada de treinadores diz
muito sobre o nosso futebol. Se contratos são rasgados, compromissos são
ignorados e leis são desrespeitadas, por que raios vocês pensavam que nossos
técnicos teriam paz e sossego pra trabalhar? Ainda mais num futebol
desorganizado e muito abaixo do que pode dar dentro e fora de campo em matéria
de qualidade e organização.
Infelizmente, meus amigos, o velho e rude esporte bretão
sofre da síndrome do “fato novo”. Se uma equipe vai mal num torneio, é preciso
criar “algo novo”. E esse “algo novo” geralmente é a demissão do treinador. Os
dirigentes vêm a público e afirmam que “o time precisava de uma mexida para que
os resultados voltassem a ser favoráveis” ou que “o trabalho não vinha sendo
bem compreendido pelo grupo e a mudança acabou sendo a melhor saída para salvar
o ano”. Falem sério, quantas vezes vocês ouviram esse papo vindo dos dirigentes
dos seus times do coração? Toda essa conversa mole esconde uma administração
cheia de falhas e bravatas. Salários atrasados, premiações não pagas e outras
lambanças do tipo.
A marca de 22 mudanças de técnico em 26 rodadas da Série A
de 2018 é uma das maiores da história dos pontos corridos. Tivemos 23 trocas em
38 rodadas no ano passado e 29 em 2016. O “recorde” está com a temporada de
2015: 32 trocas em 38 rodadas. E de 20 clubes, apenas um manteve o treinador do
início ao fim do Brasileirão. Somente o Corinthians, o campeão daquele ano.
Sabem quem era o técnico? Tite, atual treinador da Seleção Brasileira.
As trocas de técnico escondem um problema mais grave: a
falta de um planejamento adequado para o clube numa temporada. Vejam o Sport,
por exemplo. Milton Mendes é o quarto treinador do Leão só em 2018. Não há
plano de trabalho que resista a tanta turbulência e tanto troca-troca. Mas
também existe o outro lado. Como não se lembrar de Jorginho? O lateral
tetracampeão tinha três partidas no comando do Ceará quando deixou o Vozão para
assumir o Vasco. Acabou igualmente demitido pelos resultados ruins.
Ser técnico no futebol brasileiro não é tarefa para
iniciantes. Ela envolve doses cavalares de paciência, controle dos nervos e uma
boa disponibilidade para viagens. Mas ainda assim ela parece ser rentável. O
que tem de treinador recebendo salário de três quatro clubes é uma festa. Mesmo
demitidos. Mesmo sem ter time pra treinar. Vai entender.
Sobre o Flamengo, é muito difícil que Dorival Júnior
conquiste alguma coisa pelo clube. Tirando o empate sem gols com o Bahia no
último sábado (29), o treinador tem apenas onze partidas para levantar o grupo
e tirar algo deles. Se conseguir o título brasileiro, vira gênio. Se não
conseguir, vai ser consequência das decisões descabidas dos dirigentes
rubro-negros. E vida que segue. Assim caminha o futebol brasileiro.
Edição: Jaqueline Deister
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