Um dos principais intelectuais marxistas, Mészários faleceu
neste domingo (1) aos 86 anos ; confira entrevista com ele.
Igor Felippe e Miguel Stedile
Revista Sem Terra.
Em entrevista exclusiva concedida no ano de 2007, István
Mészáros ataca capital financeiro e governos, e enfatiza papel da educação rumo
ao socialismo.
A articulação do capital financeiro com os países mais
poderosos de toda a história da civilização ocidental ameaça o futuro da
humanidade pelo nível de exploração da natureza. O motor do desenvolvimento que
sustentava a superioridade do capitalismo sobre os outros modos de produção, o
conceito de “destruição produtiva” criado pelos economistas neoliberais, sofreu
uma mudança estrutural que o deixou do avesso. Atualmente, o sistema
capitalista avança por meio de uma “produção destrutiva”.
“A maneira como o sistema capitalista opera hoje, sob o
domínio do capital financeiro destrutivo e com apoio de poderosos governos,
está nos levando à destruição. Temos que nos opor fundamentalmente a isso”,
defende o pensador húngaro István Mészáros, professor emérito da universidade
de Sussex, na Inglaterra, designado o principal intelectual marxista da
atualidade.
Nascido em Budapeste, em 1930, o autor de “A teoria da
alienação em Marx” (1970), “O poder da ideologia” (1989) e de “Para além do
capital - Rumo a uma teoria da transição” (1995), publicados no Brasil pela
editora Boitempo, visitou a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), na
cidade de Guararema (SP), em novembro de 2007.
Mészáros recebeu uma homenagem do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra) pela importância da sua obra para a compreensão
da sociedade contemporânea e pela contribuição na luta socialista. Na escola,
ele plantou uma árvore de mogno para deixar a marca da sua visita.
“Considero o Movimento Sem Terra muito importante para o
futuro por uma característica particular. Eu escrevo muito sobre a necessidade
de uma aliança substantiva, não formal, e o movimento é uma manifestação muito
clara e importante dessa aliança, que é o futuro”, declarou o pensador na
cerimônia.
A seguir, trechos de seu depoimento. Leia a versão integral
da entrevista exclusiva de István Mészáros na Revista Sem Terra.
Capital e governos
O capital financeiro tem o poder de governos e os governos
poderosos apóiam o grande capital. Se você olhar ao redor do mundo, todos os
governos neoliberais estão do lado do grande capital. A única saída é resistir
por meio de um modelo que garanta o futuro, preserve o meio ambiente e a terra,
em vez da destruição do planeta onde vivemos. Temos que nos opor
fundamentalmente a isso. O MST é diferente disso, não causa destruição e está
construindo. Não envenena a terra e respeita o ciclo de produção natural.
Agricultura
“O grande capital domina o agronegócio e produz destruição,
porque a sua única razão é o lucro. Destrói florestas e tantas outras coisas,
inclusive com o uso de venenos químicos que se coloca na terra. O futuro e a
sobrevivência humana dependem da resistência ao poder financeiro do grande
capital nesse campo”.
Circulo vicioso
“Nunca houve um sistema de produção na história da terra que
possa remotamente ser comparado ao desperdício da economia capitalista. Não há
futuro nisso, que só pode durar por um curto período”.
Movimento de massa
“Precisamos de um grande movimento de massa. Não pequenos
movimentos e movimentos que brigam entre si, por pequenas divisões sectárias
que não conseguem nada. É preciso um grande movimento de massa, educação e
modelo viável de produção, uma forma de vida sustentável”.
Edição: Revista Sem Terra
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