Outra corre no Judiciário, no mercado e na grande mídia para
impedir Lula de ser candidato, e já tem data e local marcado para a grande
decisão: 24 de janeiro, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto
Alegre.
À medida em que se aproxima o dia do julgamento do recurso
do ex-presidente contra a sua condenação a 9 anos e seis meses de prisão em
primeira instância, novos atores entram em cena, tornando o desfecho
absolutamente imprevisível.
Primeiro, o prefeito tucano de Porto Alegre, Nelson
Marchesan Jr. solicitou ao presidente Temer o envio de tropas do Exército e da
Força Nacional para impedir manifestações em defesa do ex-presidente no dia do
julgamento.
O pedido foi sumariamente recusado pelo governo federal, mas
neste sábado o portal do Estadão informa que um vídeo divulgado esta semana por
João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Sem Terra, convocando os militantes
para atos de protesto antes, durante e após o julgamento, “acendeu a luz de
alerta” dos serviços de inteligência das Forças Armadas.
Em reportagem de Roberto Godoy e Ricardo Galhardo, ficamos
sabendo que os militares estão acompanhando as movimentações de João Pedro
Stédile e temem que possam evoluir para um confronto direto e violento com a
polícia, e “pior, para a pressão além do limite sobre o Judiciário, sobre os
magistrados, principalmente”.
No vídeo, Stédile afirmou que os 87 grupos reunidos na
Frente Brasil Popular estão organizando manifestações diante de fóruns, não
apenas em Porto Alegre, mas em outras capitais, “sobretudo da Justiça Federal
para mostrar nossa indignação”.
A partir de março, a Frente Brasil Popular planeja
mobilizações permanentes em defesa da candidatura de Lula para culminar num
grande ato em julho, para 100 mil pessoas, no Maracanã.
“Teremos um 2018 cheio de mobilizações, de muita disputa
política em que a própria campanha eleitoral se transformará numa verdadeira
luta de classes”, anunciou Stédile.
Embora os líderes do MST tenham afirmado que “sempre
procuramos minimizar qualquer tipo de conflito, até porque quem paga é o
trabalhador”, a preocupação dos militares ouvidos pelo Estadão é a
possibilidade de choques entre militantes dos sem terra e do MTST (Movimento
dos Trabalhadores Sem Teto) com organizações como o Movimento Brasil Livre
(MBL), apoiadores de Bolsonaro e do prefeito paulistano João Doria, que já se
mobiliza também para fazer protestos contra Lula e em defesa do juiz Sergio
Moro no dia do julgamento.
Com o silêncio das ruas nos últimos meses, fica ainda mais
difícil avaliar neste momento que dimensões podem ganhar as reações populares,
de um lado e de outro, ao julgamento de Porto Alegre.
O certo é que esse clima de beligerância só tende a aumentar
daqui até o dia da eleição, nos tribunais e nas ruas, tornando irrelevantes os
acordos partidários que estão sendo costurados pelos pré-candidatos e os
partidos.
A pouco mais de nove meses da abertura das urnas, a disputa
eleitoral fugiu do controle dos velhos caciques políticos, que tentam manter
seu poder a qualquer preço, nem que seja necessário mudar as regras do jogo em
andamento, como estão planejando em Brasília.
Por isso, já tem cada vez mais gente até duvidando que as
eleições aconteçam mesmo na data marcada pelo calendário.
Ainda estão muito vivas na memória da minha geração as
trágicas lembranças do que acontece quando os militares entram em cena para
resolver impasses e conflitos políticos.
E pensar que mal acabamos de completar três décadas de
redemocratização do país após 21 anos de ditadura.
Vida que segue.
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