Por *Letícia Sallorenzo - a Madrasta do Texto Ruim
Primeiro, o contexto da bagaça: a situação 1 era o candidato
A, preso e impedido de concorrer, na liderança isolada, seguido do candidato B
(dsclp) no segundo lugar, com metade dos votos do candidato A. Tal situação
persistiu até terça-feira da semana passada. Em 11 de setembro o contexto se
alterou para a situação 2: candidato A’ entra no lugar do candidato A;
candidato B mantém o segundo lugar.
Com isso, a pesquisa Ibope de ontem, na verdade, está
medindo até que ponto A’ consegue emular A, e se o percentual de B se altera. O
que o Ibope mediu: A’ cresceu 11 pontos percentuais em sete dias, e está em
segundo lugar, sem empate com ninguém, enquanto B oscilou na margem de erro, e
está em primeiro.
Observem os verbos que eu usei no parágrafo acima para falar
de Haddad (o Alinha) e o Bolsonaro (Bê): oscilar para Bolsonaro e crescer para
Haddad.
Agora vamos ver como os jornais deram destaque a isso. Claro
que dona Pragmática vai nos ajudar na análise:
Bolsonaro atinge 28%; com 19%, Haddad se isola em 2º
(Estadão, capa)
Haddad cresce 11 pontos e se isola no segundo lugar
(Estadão, interna)
Bolsonaro segue líder e Haddad cresce 11 pontos, aponta Ibope
(Folha, interna)
Bolsonaro lidera com 28%; Haddad vai a 19% e se isola em
segundo lugar (Globo, capa)
Bolsonaro é líder, Haddad sobe 11 pontos (Globo, interna)
- Bolsonaro é líder / lidera / atinge;
- Haddad cresce / sobe e se isola.
Não sei quanto a vocês, mas eu tô aqui encasquetada com esse
“se isola” do Haddad. É possível entender esse “se isolar” como “não está
empatado na margem de erro com ninguém”, mas também é possível entender algo
como Haddad estar à parte da corrida presidencial – tipo Daciolo nas montanhas.
Como nas manchetes eleitorais não há necessidade de catar
cabelo em ovo, vou fazer de conta que não vi esse “isolamento”. Mas deixo ocêis
tudo aí cas pulga atrás dazoreia.
Mas não consigo deixar de observar que em todas as manchetes
de capa o tópico é Bolsonaro (que apenas oscilou); Haddad (que subiu
inacreditáveis onze pontos) virou tópico só na manchete interna do Estadão. O
importante é reforçar a liderança do Bolsonaro, né? E Segura, Berenice, que
esta semana ainda tem Datafolha!
*Letícia Sallorenzo é jornalista pela UFRJ e mestra em
Linguística pela UnB, onde defendeu em 2018 dissertação "Gramática e
Manipulação: análise cognitivo-funcional de manchetes de jornais durante o
segundo turno das eleições presidenciais de 2014". Sob a alcunha de
Madrasta do Texto ruim, mantém o blog Objetivando Disponibilizar.
Via - Jornal GGN
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