Na última sexta-feira (31), em Porto Velho, o candidato a
Presidência do Brasil pelo Partido Social Liberal – PSL, afirmou que o que
torna a mulher “tão forte” quanto um homem é “uma arma na cintura dela”.
Não sou capaz de dizer qual o sentimento que assombra uma
parcela da classe média brasileira, com seu discurso de ódio e apoio
incondicional a um candidato que busca se diferenciar dos demais incentivando o
uso da arma de fogo. Ou mesmo as pessoas que assistem indiferentes esse mesmo
candidato fazer gesto de arma nas mãos de uma criança.
Em uma primeira leitura do que foi dito pelo inominável,
este sugere que os homens são fortes por natureza, e que as mulheres para se
igualar a essa condição teriam que se valer de um instrumento feito para matar,
e não pacificar. Será mesmo a arma na cintura, um parâmetro para estabelecer a
igualdade entre homens e mulheres?
Acredito que não, e penso que existem problemas nesta
narrativa e o primeiro deles é perceber as mulheres como seres fracos, ou
frágeis. Sobre este primeiro aspecto, entendo que as mulheres não são fracas,
ao contrário, são fortes, mas continuam a figurar manchetes de noticiários como
vítimas destes “homens”.
Quanto ao segundo aspecto, relacionado a uma arma na
cintura, tão equivocado quanto o anterior, provoca uma reflexão: seria a
solução para violência contra a mulher, transformar mães de família, companheiras
e jovens meninas em assassinas?
Ou esta proposição seria apenas uma medida irresponsável e
paliativa, utilizada para ganhar os votos daqueles que também são vítimas da
violência, e não vislumbram perspectivas diante da crise estrutural que assola o
país?
Sem apresentar uma medida concreta e realmente eficaz, que
coíba a prática de violência na sua raiz, e não somente apresentar mera
resposta à agressão já instaurada, “mandar bala”, para solucionar os problemas
da segurança pública, sigo acreditando que esta é apenas uma medida
irresponsável com viés eleitoral.
E o grande problema é que o feminicídio é um crime
anunciado, é o resultado final de outras condutas criminosas que o predestinam.
Cuja mulher, vítima dessa cadeia de violência, recebe ameaças e agressões no
cotidiano da vida doméstica. Por isso reforçamos o entendimento de que a mulher
necessita da proteção do Estado e não de uma arma na cintura.
Dez dias antes de morrer, Regina que foi vítima de
feminicídio, no último domingo (26/08/2018), denunciou Eduardo Gonçalves de
Sousa à polícia. A vítima teve o pedido de medida protetiva negado pelo Juizado
de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher do Paranoá em Brasília. Com a
proteção, provavelmente estaria viva.
Conforme os dados levantados pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, no Brasil morrem, em média, 12 mulheres por dia. Se
acreditarmos que a solução está no porte de arma, podemos inverter a situação e
passarmos a ter nos próximos capítulos uma nova manchete: 12 homens morrem por
dia assassinados por suas companheiras que agiram em legítima defesa. Seria
essa a solução?
Quanto ao exemplo acima, ainda me vem à lembrança o caso de
Ana Raquel Santos da Trindade, 31, que foi absolvida por unanimidade pelo
assassinato, em 2014, do ex-namorado Renato Patrick Machado de Menezes. Ana
Raquel foi absolvida pelos jurados que entenderam que ela não tinha mais
recursos diante da ineficiência do serviço de proteção à mulher. Ana chegou a
registrar 20 boletins de ocorrência contra o agressor, que nunca foi preso.
Com frequência torna-se um mistério para a minha compreensão
pouco desenvolvida e meus sentimentos imperfeitos, que pessoas “de bem”
prefiram votar em um candidato que reduz a sua narrativa ao uso da arma de
fogo, e não é capaz de propor alternativas de reestruturação do sistema que
ponha fim a situações vivenciadas por Maria Regina e Ana Raquel, vítimas da
violência praticadas contra a mulher.
Como professora de Políticas Educacionais, prefiro ver uma
criança carregar um livro, um carrinho, uma boneca, uma flor, uma flauta. Mas,
nestas eleições é você quem decide que instrumento a sua filha irá tocar no
futuro. Para as minhas, desejo um violino!
*Luiza Rangel é professora de Políticas Públicas e gestão
educacional e Políticas Educacionais na Universidade Estadual de Goiás – UEG.
Nenhum comentário:
Postar um comentário