Por: Alfredo Bonessi
"Depois da passagem por Curaçá, Lampião diterminô qui
Luiz Pêdo, eu, Anjo Roque, i mais outro cabra, nóis deixasse a Incruzêra, pra
si encontra nus Trêis Riacho. Ele siguiu prua istrada i nóis pru outra. Nóis
siguimo pula istrada qui ia toca in casa di Benevide Preto, portigido di
Lampião.
Quano cheguemo na casa du Benevide Preto, êle preguntô:
- Quem são voceis ? São força ou são cangacêro ?
Cumpade Luiz Pêdo arrespondeu a êle:
- Nun lhe interessa, u qui interessa é você bota cumida pra
gente cumê.
Êle disse:
-Nun dô cumida, nem a cangacêro, nem a macaco !
Déiz anu preso ! Eu, Anjo Roque da Costa, entrei na casa
dele, i incontrei um home preso. Benevide tinha prindido u home, fazia uns 10
ano, pru causa da fia di um vaquêro, u rapáiz buliu cum ela. O rapáiz disse:
- To preso aqui, fáis 10 ano !
Tava dum lado da parede i a corrente, cum qui êle tava
amarrado, furava a parede, indo prega num cepo du outro lado.
Cagava, mijava, drumia e cumia, amarrado. Era um fedo
horrive. Mosca zunindo. I o home si acabano...
Eu disse:
-Levanta rapáiz !
Êle má si alevanto, torno a caí, apois tava cum as pernas
sem pude mexe. Eu chamei Benevide Preto i disse:
- Você é marvado. Cumu é qui você prende um home, nua
cundição dessa ? Lampião sabeno disso tu tava sangrado. Vamo, sorte u home...
Êle foi, distrancô u cadiado i sortô u home, a purso.
Um dus cabra qui tava mais eu, passo u cacete in Benevide
Preto. Ele disse:
- Você nun pode dá in mim.
Quando percuremo Benevide na sala, êle já ia nu tabulêro,
sem chapéu, correno, cumo um danado. Nóis aí, afroxemo as ispingarda in riba
dele, atiremo nele, mas uns tiro nun pego pruque u peste tava sumido.Di noite,
incontremo cumpade Lampião qui tinha sabido dus conticido. Pulo Benevide Preto.
Recramô cum nóis:
- Pra qui vocêis buliro cum Benevide Preto ?
Cumpade Virgino disse:
-Pru quê êle miricia. Marvado ! Tinha prindido um home, déiz
ano cunsicutivo, na casa dele. Foi perciso nóis dá nu home banho morno pra vê
si sarvava u home. Mas u home nun vai guentá.
Siguimo, in siguida prô Rio Sá, mais um guia. Us “minino”
mataro muita gente pulo caminho, di noite: morrero bem umas 10 pessôoa, sem
percisão,pula fôrça da cachaça qui nois tava bebeno."
Depoimentos de Labareda a Estácio de Lima, em “ O mundo
Estranho dos Cangaceiros” - pág 215-216-217 - Editora Itapoã Ltda – 1965
Alfredo Bonessi - Fortaleza
Sócio da SBEC
Via - Seminário Cariri Cangaço
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