A delação de Júlio Camargo, da Toyo Setal, de que Eduardo
Cunha teria sido responsável pela cobrança de 10 milhões de dólares de propinas
referentes a dois contratos de US$ 1,2 bilhão de navios-sonda, assinados pela
Petrobras entre 2006 e 2007, é a tampa do caixão político do presidente da
Câmara Federal que já vinha perdendo força no Congresso, apesar de todo seu
comportamento de dono da Casa. Quem tiver dúvidas do que estou dizendo deve
procurar o que Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) andou dizendo dele.
Cunha vem escapando
de escândalos aqui e acolá há algum tempo. E vem conseguindo ampliar seu raio
de atuação agindo como lobista de vários setores. Na disputa do Marco Civil da
Internet, por exemplo, operou fortemente para derrotar a nova legislação a favor
das teles. Certamente apenas por ideologia…
A força de Cunha no Congresso tem muito a ver com isso. Ele
não é um líder natural, que conquista
seguidores pela ideias que representa. Ele é aquele que sabe se movimentar nos
bastidores e influir a partir de operações um tanto heterodoxas.
Diversos deputados falam à boca pequena que Cunha ganhou as
eleições para a presidência na Câmara ainda na campanha eleitoral. E que sua
força teria relação com o financiamento
da campanha de vários dos eleitos.
Se é verdade ou não, as investigações que serão abertas a
partir do depoimento de Júlio Camargo poderão mostrar.
Mas em política, as coisas são mais complicadas do que
parecem. E hoje Cunha acabou.
E por que ele acabou?
Porque mesmo os deputados que podem ter sido agraciados com
seus favores agora já devem estar apagando todas as chamadas e torpedos que
receberam dele nos últimos meses. Sabem que neste momento se relacionar com o
presidente da Câmara passa a ser uma ameaça.
Aos poucos, alguns começarão a não só a se afastar dele como
vão lhe sugerir que é hora de baixar as armas e sair do foco. Ou seja, tentar
fazer uma presidência menos barulhenta ou mesmo se afastar dela enquanto as
investigações acontecem. E para que com a sua presença de investigado não atrapalhe
a ação de todos os seus colegas.
Certamente Cunha vai ter a generosidade de parte da mídia na
cobertura do seu caso. Principalmente da Globo, cujas relações que mantém não
vem de hoje.
Antes de ser parlamentar, Cunha foi convidado por Paulo
César Farias (lembram?) para presidir a Telerj na gestão de Fernando Collor, o
senador da Lamborghini de 2,5 milhões de reais.
Na época, ele encaminhou a privatização da empresa e
envolveu-se em um escândalo de superfaturamento. Ele assinou um aditivo de US$
92 milhões da Telerj com a fornecedora
de equipamentos telefônicos NEC Brasil que era controlada pela família Marinho
(vejam que coincidência).
Mas mesmo com a benevolência quase certa da Globo, Cunha não
vai dar conta do que vai acontecer com ele a partir de agora.
Manifestações contra o deputado passarão a ser uma constante
depois disso. Principalmente porque ele tem se mostrado uma ameaça aos direitos
da infância, dos LGBTs e de tudo que guarda relação com direitos humanos e
ampliação de conquistas progressistas.
Ou seja, esses grupos terão ainda mais um motivo para
combatê-lo.
Como previsto por este blogueiro, Cunha não estava indo com
tanta sede ao pote à toa. Ele queria mostrar força para tentar escapar das
denúncias que sabia apareceriam na Operação Lava Jato. E que poderiam levá-lo a
ter o fim de Severino Cavalcanti.
Cunha jogou seu jogo duro e ainda vai tentar outras
caneladas, como aprovar o processo de impeachment de Dilma. Mas a partir de
hoje ele é mais do que um pato manco. É um congressista carimbado por uma
acusação gravíssima de corrupção, porque dez milhões não são dez tostões.
E ai, meus caros, com essa ameaça lhe infernizando a vida,
Cunha não terá alternativa. Vai ter de trabalhar para se defender. E ficará sem
condições de liderar o que quer que seja. E terá de voltar para a tumba da sua
inexpressividade. De onde nunca deveria ter saído. Ou seja, o caixão político
de Cunha está sendo lacrado antes do seu primeiro pronunciamento à Nação.
Via Portal Forum
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