EUA hastearão bandeira no próximo dia 20, em uma Cuba revolucionária, nove presidentes depois; antes, dia 10, cubanos hasteiam a sua em Washington
Quando voltou a Washington o que havia restado do bando de
1.500 mercenários que os EUA tinham mandado para tentar invadir Cuba, John
Kennedy recebeu uma bandeira que o grupo levou na sua aventura. Kennedy a
guardou e lhes prometeu que lhes devolveria a bandeira em Havana, em uma “Cuba
democrática”.
A aventura da invasão de Praia Giron tinha sido recebida por
Kennedy do seu antecessor, Dwght D. Eisenhower. Foi um projeto paralelo à
ruptura de relações com Cuba, depois que outras tentativas de afogar a ilha
tinham fracassado.
Os EUA tinham levado a sério o lema das elites cubanas: “Sem
cota, não ha país”. Quando Cuba apelou à URSS como alternativa à suspensão de
compra da safra cubana, ficou a alternativa de ruptura de relações, acreditando
que seria o golpe final no novo regime. O bloqueio econômico começava nesse
momento.
Os funcionários norte-americanos se retiraram do imenso
edifício no Malecon havaneiro, de arquitetura bem ao estilo deles, o edifício
mais alto da cidade, onde desde o último andar, segunda a lenda, era possível
ver Miami. Eu estive, muito anos depois, no edifício, quando abrigava a
delegação dos EUA para relações informais com Cuba, em reunião com o mais
progressista e mais importante diplomata norte-americano em Cuba, Wayne Smith.
Entrar ali era como entrar nos EUA, com todos os mecanismos
de controle de um aeroporto, assim como com o mesmo tipo de pessoal. Wayne me
desmentiu que se podia ver Miami do último andar. Mas é estranha a sensação de
se estar dentro de um bunker em pleno Malecon havaneira. Na saída, nos aguarda
a famosa frase de Fidel: “Senhores imperialistas, arrogantes e prepotentes: Não
lhes temos absolutamente nenhum medo”, a confirmar-nos que do lado de fora nos
espera sempre a acolhedora Havana.
Nesse edifício voltará a estar a bandeira norte-americana no
próximo dia 20. Wayne se lembra ainda quando, em abril de 1961, saiu com o
último pessoal da embaixada, com enorme tristeza, sem saber quando voltaria a
Cuba. Voltou, como representante de negócios, durante a presidência de Jimmy
Carter, quando pude encontrar-me com ele.
Em contrapartida, no mesmo dia 10 de julho, no velho casarão
de Washington, que havia sido embaixada cubana na capital dos EUA desde os
tempos de Batista, antes da vitória da Revolução, será hasteada novamente a
bandeira de Cuba. Eu pude estar ali em 2013, em uma recepção nesse casarão, que
se parece com os velhos casarões da elite cubana, na 5ª Avenida, em Havana.
Obama disse que a bandeira norte-americana será hasteada
“com orgulho” em Cuba. Se tivesse sido entregue aos mercenários que Kennedy
tinha prometido entregar, poderia ser com orgulho. Mas a bandeira dos EUA volta
a estar hasteada em uma Cuba revolucionária, nove presidentes depois, 54 anos
depois de que ela tivesse sido baixada da sacada da embaixada.
Cinquenta e quatro anos depois de iniciado o bloqueio
econômico, fracassado, conforme as próprias confissões de Obama, no seu
discurso de retomada das relações diplomáticas com Cuba. E, portanto, com
vergonha, derrotados e não com orgulho, que voltam a Cuba. A bandeira cubana,
por sua vez, volta vitoriosa a Washington. Bandeira – um rugi, cinco franjas e
uma estrela – de um país que não se abateu diante do bloqueio de mais de meio
século, da tentativa de invasão de Praia
Giron, da crise dos foguetes de 1962, de tantas tentativas de sabotagem e de
assassinato de Fidel.
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