Keith Olbermann,
comentarista norte-americano, em entrevista a Bill Maher, sobre o debate dos
candidatos republicanos, disse que muitos deles, senão todos, pareciam sessão
de comentários do Facebook como candidatos a presidente do país. A ironia nem é
fina. É sarcástica. Para mim, soou como um eufemismo para evitar chamá-los de
burros. Que é como Eliane Brum faz, sem meias palavras, no seu artigo Parabéns,
atingimos a burrice máxima.
De acordo com o analista, a internet se tornou na expressão contrária ao "não ouça o mal, não veja o mal e não fale o mal" |
Por Jorge Alberto Benitz,
No Observatório da Imprensa
Vale reproduzir um parágrafo deste artigo onde está dito o
seguinte: “Os burros estão por toda parte, muitos deles estudaram nas melhores
escolas e, o pior, muitos ensinam nas melhores escolas. A ‘moção de repúdio’ a
Simone de Beauvoir foi aprovada pela Câmara de Campinas por 25 votos a cinco.
Assim, os burros são a maioria. É preciso enfrentá-los com pensamento, fazer a
resistência pelo diálogo”.
No caso de Eliane Brum, ela foca o Brasil que exala e
“cheira mal” nas sessões dos comentários das mídias sociais. No fundo, é o
mesmo (des)espírito denunciado por Keith Olbermann na dita entrevista se
reportando, por sua vez, ao público americano. Estas reflexões sobre o mundo
internetês seguem a mesma linha de pensamento de Umberto Eco quando diz que “a
internet deu voz aos imbecis”, e a Juan Arias, que vai mais longe ao afirmar
que ela “organizou os imbecis”.
Na esteira destas reflexões ouso afirmar que, concordando
com estes pensadores, percebo algo mais assustador, que é a opção da grande
mídia brasileira pelo pensamento conservador e mesmo reacionário dos grotões.
Grotões que sempre foram sinônimos de redutos da direita mais retrógrada.
Grotões que funcionavam como o último reduto do coronelismo político. De certo
modo, faz sentido esta opção, já que a grande mídia opera, segundo o estudo
Coronelismo Eletrônico de Novo Tipo (1990-2004), de Venício A. de Lima e
Christiano Aguiar Lopes, um coronelismo midiático. Coronelismo midiático porque
agora o público-alvo da manipulação ideológica é urbano. Novos tempos, novas
técnicas.
De espaço geográfico a espaço midiático
Os grotões – alguns preferem chamá-los de senso comum
conservador –, que sempre habitaram a cabeça das pessoas dos mais variados e
diversos perfis, passaram da condição dos comentários feitos no dia a dia e
ganharam o estatuto de opinião ao se apresentarem por inteiro nas sessões de
comentários da internet. Logo, nada mais natural em uma mídia voltada para o
mercado do que escolher os mais representativos desta fauna. Raciocínio prático
e raso voltado não para a formação de um cidadão com alto grau de civilidade,
mesmo quando conservador e/ou de direita.
Estamos diante de uma reedição pela grande mídia, guardadas
as proporções, do discurso de Jarbas Passarinho quando da edição do AI- 5 em
1968, quando disse “Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os
escrúpulos de consciência.” A frase, que foi modificada na ata sem prejuízo de
sentido (as “favas” foram trocadas pela conjugação verbal “ignoro”). Às favas
valores democráticos que mais entravam o avanço ou a manutenção dos interesses
dos mais ricos, entre os quais estão os donos de jornais, revistas semanais,
TVs e rádios. Como Getúlio Vargas e João Goulart antes, o PT no governo
demonstrou não ser confiável na defesa intransigente destes interesses, apesar
das concessões feitas de blindagem dos interesses dos rentistas e investidores,
a solução é a dada pelo ex-senador catarinense Jorge Bornhausen (PFL, DEM e
agora no PSD), que em 2006 disse “Precisamos acabar com essa raça”,
referindo-se aos políticos de esquerda – principalmente o PT. Raça dos que
defendem reformas que muitos consideram tímidas, mas que representam muito para
grande parcela da população.
A razão disso. Além das já comentadas, existe outra que me
parece determinante. A saber: a falta de argumentos racionais para defender
ideias conservadoras e reacionárias. Fato que se agravou com a quebra de 2008
quando justamente o neoliberalismo era hegemônico, sem nenhum contraponto
ideológico depois do fim do socialismo real e a queda do muro de Berlim. Sem
ninguém para confrontá-los, eles quebraram o mundo ao por em prática suas
ideias sociais, econômicas e políticas. Segundo os seus mais entusiasmados
adeptos, como o ex-presidente FHC, estávamos diante de uma nova renascença. Deu
no que deu. Como se não bastasse, tiveram que ser socorridos pelo demônio
Estado. Tudo na contramão dos ensinamentos do Corão do neoliberalismo, o
Consenso de Washington.
Como no contexto atual ficou difícil promover um golpe
militar, o novo paradigma é o modelo paraguaio de inviabilização de governos
eleitos democraticamente com um mínimo de compromisso com as classes
desfavorecidas. Modelo que implica ataque sistemático da imprensa, aliado a
questionamento jurídico da vitória eleitoral feito por aliados no judiciário.
Daí a opção da grande mídia pelo pensamento anti-republicano dos grotões que
habitam o coração e a mente das pessoas. Faz todo o sentido esta nova opção
dado que os grotões, ao se corporificarem nas sessões de comentários da
internet, passaram da condição de um espaço geográfico apenas para, também, e
principalmente, um espaço midiático pautando e sendo pautado, em um ciclo
vicioso, por editoriais, colunas de jornais dos formadores de opinião de
direita e espaços nobres da TV e rádio.
*Jorge Alberto Benitz é engenheiro e consultor
Via – Portal Vermelho
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