Matando o tempo entre um compromisso e outro, passo de bike
na Kalunga da Cardeal e eis que esbarro numa muito pequeniníssima lojinha
azulejada toda branca repleta do chão ao teto dos mais finíssimos narguilés. Lá
dentro, dois homens conversavam, um atrás do balcão, o outro na frente.
Dou boa noite pra os dois, o segundo me responde um Opa em bom paulistanês, enquanto o primeiro, apoiado na bancada, enfilera cuidadosamente palavras medidas e pesadas, trocando as pessoas e pronomes e os pês pelos bês, com toda aquela eloquência elegantemente anasalada dos libaneses recém-brasileirados.
Dou boa noite pra os dois, o segundo me responde um Opa em bom paulistanês, enquanto o primeiro, apoiado na bancada, enfilera cuidadosamente palavras medidas e pesadas, trocando as pessoas e pronomes e os pês pelos bês, com toda aquela eloquência elegantemente anasalada dos libaneses recém-brasileirados.
Acuado pelo embate súbito entre minha insegurança
linguística e essa inclinação incontrolável a ler sinais na fumaça que herdamos
dos poetas e das nossas avós, arrisquei suando um salamaleico e meio, e eis que
engajamos uma prosa até que passável pros meus frouxos padrões, intercalando
nossos árabes inter-dialetais com um cadinho de português, que também não se
chega enfiando assim certos palavrões na língua dos outros, venhamos e
convenhamos.
Passados lá uns dois minutos de papo, e já descartadas quase
todas as frases marcadas que carrego na manga, o primeiro rapaz, que não fala
árabe mas assiste muito bem, me vira e "viu, você fala legal, hein!"
"ah, muito obrigado, mas mais ou menos, que é uma língua difícil,
né?" "pois é, mas vêm cá, cê veio pra cá era criança?"
E aí eu quis dar um abraço nesse habibi.
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