No primeiro caderno da última edição dominical da Folha de São Paulo deste domingo (22), uma matéria surpreendente: “Prenúncio de que a Copa seria o fim do mundo não aguentou 3 dias”. Assinada pelo colunista Nelson de Sá, a matéria surpreende qualquer um que lê a imprensa brasileira por ter “empurrado” para a imprensa estrangeira um pecado da imprensa brasileira. O colunista atribui à imprensa estrangeira as previsões negativas sobre a Copa no Brasil.
O caradurismo não é só desse jornalista, mas do próprio
jornal – um mea-culpa sobre a cobertura da organização da Copa de 2014 seria
imperativo diante daquela que, de fato, está sendo a “Copa das Copas”. E não só
pela boa organização do evento, mas pelo que se vê em campo.
A infraestrutura tem funcionado tão bem quanto a que seria
esperável em qualquer país do dito “Primeiro Mundo”, os jogos são emocionantes,
o nível técnico tem sido altíssimo, o futebol latino-americano vai se impondo
sobre o do resto do mundo, levando incontáveis nações das Américas a um
verdadeiro orgasmo desportivo.
Eis o que ninguém previu. Ou melhor, eis o que aqueles que
previram não puderam dizer devido a uma literal censura da grande imprensa a
qualquer ponderação sobre os exageros que estavam sendo cometidos pela imprensa
e por partidos de oposição de direita e de esquerda, os quais enganaram os
brasileiros com afirmações falsas sobre o financiamento da Copa e sobre
problemas corriqueiros em qualquer grande evento.
Como foi previsto neste blog por incontáveis vezes, os
profetas do apocalipse deram com os burros n’água. Aqui sempre foi dito que a
Copa começaria, tudo estaria pronto e funcionando e que os que previam o
contrário ficariam com a brocha na mão.
Não é por outra razão que na mesma Folha de São Paulo,
escondida na coluna “Painel”, uma notinha de apenas uma frase, mas que tem um
potencial político imenso, revela que chegou a hora de Dilma capitalizar seu
bom trabalho. Abaixo, o texto da Folha
De virada
Assessores do Planalto estão exultantes com pesquisa interna
que afirma que 60% dos brasileiros consideram a Copa boa ou ótima até agora
Mesquinharia da Folha. A pesquisa interna do Planalto mostra
muito mais. Informações obtidas pelo Blog via contatos telefônicos dão conta de
que esses 60% dos brasileiros não dizem que “a Copa é que tem sido boa ou ótima
até agora”. Essa maioria diz que a ORGANIZAÇÃO da Copa e a qualidade dos jogos
é que têm sido “boas ou ótimas”.
Qual o efeito eleitoral disso? Na avaliação do Planalto, é
expressivo. Tão expressivo que a Folha detectou e, visando se distanciar do
alarmismo que promoveu ao lado de outros grandes meios de comunicação, publicou
essa reportagem de Nelson de Sá, na tentativa vã de fazer seus leitores de
besta ao empurrar-lhes a versão de que o catastrofismo
desportivo-organizacional partiu do exterior e não daqui mesmo, do Brasil.
A matéria em questão foi econômica ao relatar as análises
que estão sendo feitas em toda parte do mundo sobre a capacidade do país de
organizar um evento desse calibre. Uma das matérias da imprensa estrangeira
citadas pela Folha é de autoria de Sam Borden, correspondente esportivo do
diário norte-americano The New York Times na Europa. No último dia 17, Borden
qualificou a Copa no Brasil como “sucesso incrível” em artigo que ironiza o
noticiário sobre o evento, chamando-o de “previsão do dia do juízo final”.
O Blog traduziu alguns trechos do artigo de Borden. Confira, abaixo.
The New
York Times
Na Copa do Mundo, previsão do dia do juízo final dá espaço a
pequenos soluços no Brasil
San Borden
17 de junho de 2014
Um estádio não ficaria pronto a tempo. Outro não ficaria
pronto nunca. Protestos violentos iriam ameaçar os fãs e estragar tudo. Greve
no aeroporto e no metrô deixariam milhares de visitantes sem transporte.
Essas e outras previsões do dia do juízo final foram
preocupações perpétuas nos dias que antecederam a Copa do Mundo no Brasil, mas,
após quase uma semana inteira de jogos, a situação no maior país da América do
Sul dificilmente pode ser considerada sombria.
Para os fãs que gostam de gols que enchem os olhos,
resultados surpreendentes e futebol elegante, este campeonato, até agora, tem
sido um sucesso incrível. Os jogos são apaixonantes, e o drama dos jogos tem
sido perfeito para a televisão.
[...]
Há que dizer que ninguém pode realizar um grande evento
esportivo como a Copa do Mundo ou as Olimpíadas sem alguns problemas. Este ano,
em Sochi, na Rússia, os jogos de inverno tiveram invasão de cães vira-latas,
hotéis incompletos, ou inexistentes. Em 2004, os jogos de verão em Atenas
tiveram greves de trabalhadores, contratempos com a infraestrutura, e histeria
em uma infinidade de lugares. O parque olímpico onde ocorreram os jogos de
Londres em 2012, uma semana antes ainda estava em obras.
Diante dessa realidade, certamente o Brasil merece mais
indulgência.
[...]
A gama de problemas tem sido grande. Alguns tiveram que ver
com acabamento da construção, como fios elétricos visíveis no estádio do São
Paulo ou a instalação de aparelhos de ar-condicionado e carpete horas antes do
apito inicial, em Cuiabá, ou 30% dos porteiros do estádio de Brasília, que não
apareceram para trabalhar, criando impasse do lado de fora das catracas.
Alguns foram cosméticos, como a grama queimada no estádio de
Manaus, que obrigaram a organização do estádio a pintar o gramado com tinta
verde.
Nada disso foi definitivamente prejudicial para o evento. Os
jogos puderam ocorrer dentro das previsões. Mas a cada dia ocorreram problemas
cujo potencial não pôde ser previsto. No domingo, em Porto Alegre, por exemplo,
o sistema de som do Estádio falhou com as equipes já em campo, deixando os
jogadores de França e Honduras, que esperavam pelos hinos nacionais de seus
países, enfurecidos.
[...]
Para ser justo, a sorte é sempre um fator nesses
espetáculos. Qualquer grande evento pode ter um deslize imperceptível, como o
NFL aprendeu em 2013, quando o Super Bowl foi adiado por quase uma hora depois
de um apagão que mergulhou o Superdome, em Nova Orleans, na escuridão. Em
comparação, o problema com as luzes no estádio de São Paulo durante o jogo de
abertura da Copa do Mundo foi um problema menor.
[...]
Como sempre ocorre, a preocupação com a logística foi
discutível. Em geral, as condições para realização dos jogos têm sido
excelentes. Em cidades como Natal e Salvador – onde os campos sofreram chuva
excepcionalmente pesada -, ficou comprovada a qualidade dos sistemas de
drenagem. Em última análise, esta é a prioridade mais importante, pois as
condições para realização dos jogos são o que geralmente definem o legado
histórico de um evento.
[...]
A pesquisa interna do Palácio do Planalto citada (de forma
incompleta e tímida) pela Folha faz todo sentido. Basta um mínimo de reflexão
para entender. A menos que a maioria dos brasileiros seja composta de
lunáticos, todos estão fazendo o “link” entre o que foi previsto e o que está
acontecendo.
Ora, se foi previsto “juízo final” e, muito pelo contrário,
o que se vê é uma festa linda que está encantando não só o Brasil, mas o mundo,
no mínimo o mau-humor de parte dos brasileiros com Dilma Rousseff será
repensado. Os mais inteligentes perceberão que ela foi alvo de tremenda
injustiça, encetada, obviamente, por uma politicagem rasteira e de viés
eleitoreiro. Os brasileiros não são injustos. Ao menos a maioria de nós, não é.
Fonte: Brasil 247
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