O que a Folha de S.Paulo faria se um delator da Lava Jato
mencionasse o pagamento de uma propina de R$ 300 mil para o ex-presidente Lula?
Não há nenhuma dúvida de que o caso seria estampado em letras garrafais na
manchete principal do jornal; basta lembrar que esse foi o procedimento quando
a Folha noticiou uma acusação falsa a uma nora de Lula; além disso, quando
denunciado, o pecuarista José Carlos Bumlai perdeu o nome e virou "o amigo
de Lula"; em outro episódio, numa manchete sobre o senador Delcídio
Amaral, a foto estampada também foi a do ex-presidente; agora, quando o senador
Aécio Neves (PSDB-MG) é citado num esquema de propina, o caso é escondido numa
nota de rodapé; diante do duplo padrão de julgamento, o colunista André Singer
afirmou no último sábado que a mídia abafa a corrupção tucana.
Nesta quarta-feira, às vésperas do fim do ano, a Folha de S.
Paulo trouxe um furo de reportagem do jornalista Rubens Valente. Segundo um dos
delatores da Operação Lava Jato, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente
nacional do principal partido de oposição e candidato derrotado nas últimas
eleições presidenciais, recebeu uma propina de R$ 300 mil da empreiteira UTC
(leia mais aqui).
Em condições naturais de temperatura e pressão, a notícia
teria sido estampada na manchete principal do maior jornal do Brasil. No
entanto, mereceu apenas uma nota de rodapé na primeira página da publicação,
confirmando a tese do colunista André Singer de que a mídia faz de tudo para
abafar a corrupção tucana.
"Enquanto o PT aparece, diuturnamente, como o mais
corrupto da história nacional, o PSDB, quando apanhado, merece manchetes,
chamadas e registros relativamente discretos. O primeiro transita na área do megaescândalo,
ao passo que o segundo ocupa a dimensão da notícia comum", disse Singer.
"A salvaguarda do PSDB pelos meios de comunicação reforça a tese de que o
objetivo é destruir a real opção popular e não regenerar a República."
(leia mais aqui)
O caso de Aécio mereceria ainda mais destaque, quando se
leva em conta o fato de que, há um ano, o senador tucano, em aliança com o
deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vem liderando uma cruzada moralista para
derrubar a presidente Dilma Rousseff, num terceiro turno sem fim que tem
causado sérios danos à economia. No entanto, como disse Singer, a denúncia
contra o tucano "ocupa a dimensão da notícia comum".
Vale-tudo contra Lula
A Folha, naturalmente, poderá argumentar que, no caso de
Aécio, a denúncia de um delator carece de comprovação. Mas não foi esse o
comportamento do jornal quando se tratava do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
No dia 16 de outubro deste ano, a Folha cravou em sua
manchete a seguinte notícia: "Delator diz ter repassado R$ 2 mi para nora
de Lula". Era mentira. A Folha havia apenas embarcado numa
"barriga" (jargão jornalístico para as notícias falsas) do colunista
Lauro Jardim, do Globo, o que mereceu reparos da ombudsman da publicação (leiaaqui).
Mais recentemente, a Folha deu outras demonstrações de sua
perseguição a Lula. Ao noticiar uma denúncia contra o senador Delcídio Amaral,
a Folha estampou na manchete a foto do ex-presidente. Quando o pecuarista José
Carlos Bumlai foi denunciado, ele também perdeu o direito ao nome e foi retratado
como "amigo de Lula".
Nas pesquisas recentes do Datafolha, Aécio e Lula têm sido
pesquisados como os dois principais nomes da disputa presidencial de 2018 e não
faz sentido que os critérios de avaliação dos dois sejam distintos. Se a Folha
avança o sinal em relação a Lula, deveria, por coerência, adotar o mesmo padrão
com Aécio. Se é cautelosa com o tucano, deveria agir de modo semelhante em
relação ao ex-presidente.
Via - Brasil 247
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