Ministério da Saúde admite em documento à CPI da Covid que
medicamentos como cloroquina não funcionam contra a doença
Redação Rede Brasil
Atual
Em documentos enviados à CPI da
Covid no Senado, o Ministério da Saúde admitiu que os medicamentos do chamado
“kit covid-19” são ineficazes contra a doença do novo coronavírus. A pedido do senador
Humberto Costa (PT-PE), a pasta encaminhou à comissão duas notas técnicas que
afirmam que as drogas “foram testadas e não mostraram benefícios clínicos na
população de pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizadas”.
O documento lista a hidroxicloroquina,
cloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, colchicina e plasma
convalescente. E acrescenta que a ivermectina, que também compõe o kit, “e a
associação de casirivimabe + imdevimabe não possuem evidência que justifiquem
seu uso em pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados nessa
população”, destaca o Ministério da Saúde.
Os remédios totalmente
contraindicados no documento ganharam fama após lobby do presidente Jair
Bolsonaro desde o início da pandemia. Desde junho de 2020, no entanto, as
farmacêuticas fabricantes desses medicamentos já alertavam para a não eficácia
no combate à covid-19. Conforme reportou a RBA, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) também advertia, já no ano passado, para a ineficácia dessas medicações.
O lobby bolsonarista
À CPI da Covid no Senado, em
junho, os cientistas Natalia Pasternak e Claudio Maierovitch também denunciaram
que desde junho de 2020 já havia informações nacionais e internacionais
suficientes para não indicar a cloroquina, por exemplo, como tratamento médico.
Apesar das evidências científicas, o presidente da República continuou
apostando no coquetel sem comprovação.
E, em paralelo, mantinha-se contrário
às principais recomendações da ciência de consenso internacional, como
distanciamento social e o uso de máscaras. Reportagem do Congresso em Foco
também mostrou que os medicamentos citados na nota técnica são os mesmos usados
no chamado “tratamento precoce” indicados pelo aplicativo do Ministério da
Saúde, o TrateCov. O governo federal também preferiu gastar R$ 23,3 milhões em
campanhas publicitárias para divulgar o “kit covid” sem eficácia.
O custo foi confirmado à
Procuradoria da República. A prioridade deixou de lado investimentos em
campanhas de conscientização sobre as medidas não farmacológicas e vacinação
contra o vírus.
Documentos enviados à CPI da
Covid, obtidos pela agência de dados independente Fiquem Sabendo, também
revelaram que o Ministério da Saúde foi mais ágil em comprar medicamento sem
eficácia comprovada do que as vacinas. O presidente da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, ainda garantiu aos
senadores que houve pressão para que o órgão mudasse a bula da cloroquina.
Desinformação mata
O lobby também inclui senadores
da base governista. Entre eles, o parlamentar Luiz Carlos Heinze (PP-RS) que
constantemente aproveita do espaço na CPI para defender os medicamentos
ineficazes. Um levantamento do jornal Folha de S. Paulo mostrou ainda que
farmacêuticas faturam mais de R$ 1 bilhão com as vendas do chamado “kit covid”.
Uma delas, a EMS, registrou crescimento de 709% em 2020 em relação ao ano
anterior, o que significou um lucro de R$ 142 milhões.
Do outro lado das vendas, com na
época mais de 482 mil mortos, a avaliação de Pasternak, PHD em microbiologia,
pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) e fundadora do Instituto
Questão de Ciência (IQC) à comissão, foi a de que “a crença de que existe uma
cura simples, barata, que seria o sonho de todos nós, levou as pessoas a um
comportamento de risco”.
De acordo com a especialista, a postura do governo “confundiu as pessoas em relação à gravidade da doença”. A aposta a todo custo também fez “aumentar o número de vítimas da doença do novo coronavírus”.
“Eles morreram de desinformação”,
afirmou Pasternak em seu depoimento. “Entre as mais de 482 mil vidas perdidas,
parte são de vítimas que não adotaram as recomendações e acreditaram em uma
cura falsa e milagrosa”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário