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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Somos todos africanos

Somos mamíferos primatas – eis uma frase que resume bem a posição da espécie humana (Homo sapiens) na escala zoológica. Pelos sobre o corpo – ainda que relativamente escassos – e amamentação dos filhotes são características que compartilhamos com os demais mamíferos (classe Mammalia). Mãos e pés pentadáctilos e armados com unhas (em vez de garras), crânio em ângulo reto com o pescoço e órbitas oculares voltadas para frente, e não para os lados, são características que compartilhamos com os demais primatas (ordem Primates).


Por Felipe A. P. L. Costa

A espécie humana em perspectiva

O nome da ordem – Primates – foi cunhado por Carl von Linné (1707-1778), ou simplesmente Lineu, o criador da nomenclatura científica que usamos ainda hoje. O termo deriva de primus, palavra latina que significa ‘primeiro’ ou ‘em primeiro lugar’ e que foi usada por ele para designar o grupo que, em sua opinião, ocuparia a posição mais ‘elevada’ dentro do reino animal.

Ao longo da vida, Lineu descreveu e nomeou formalmente pouco mais de 40 espécies de primatas, distribuídas em quatro gêneros: Homo (seres humanos e chimpanzés), Simia (macacos do Novo e do Velho Mundo), Lemur (‘prossímios’ e um lêmure-voador, este posteriormente transferido para a ordem Dermoptera) e Vespertilio (morcegos, transferidos depois para uma ordem própria, Chiroptera). Desde então, outras espécies foram descritas e nomeadas, de sorte que atualmente a ordem abriga cerca de 380 espécies, a maioria encontrada em hábitats tropicais.

Como um grupo, os primatas têm sido objeto de estudo e preocupação de muitos cientistas. Não é difícil entender o fascínio que o grupo exerce, notadamente entre estudiosos da evolução: reconstituir a história evolutiva desses animais implicaria em conhecer melhor a história evolutiva de nossos ancestrais imediatos e, quem sabe, da nossa própria espécie.

Os primatas

A história evolutiva dos mamíferos teve início há cerca de 220-230 milhões de anos, a partir de uma linhagem ancestral de répteis (agora extintos), os terapsídeos. A ampla irradiação evolutiva do grupo, no entanto, só ocorreria quase 100 milhões de anos mais tarde.

As primeiras linhagens de primatas apareceram já na chamada era Cenozoica, iniciada há cerca de 65 milhões de anos. Eram pequenos animais arborícolas de hábitos noturnos, semelhantes aos musaranhos atuais (mamíferos da ordem Insectivora). Calcula-se que os primatas viventes sejam os remanescentes de um amplo processo de irradiação que deu origem a um total de ao menos seis mil espécies – a maioria, evidentemente, já extinta.

Há uns 50 milhões de anos, o ramo ancestral que daria origem a todos os primatas dividiu-se em duas linhagens: os estrepsirrinos (ou prossímios) e os haplorrinos (símios). Primatas estrepsirrinos são animais de pequeno porte, portadores de rinário (região úmida e desprovida de pelos em torno das narinas) e de uma cauda longa e não preênsil. O grupo, concentrado na África (principalmente Madagascar) e no Sudeste Asiático, inclui lórises, gálagos, lêmures e o ai-ai. Os haplorrinos são em geral animais de médio ou grande porte (com exceção de társios e micos, que são pequenos), muitos providos de cauda preênsil. O grupo está concentrado nas regiões tropicais da África, da Ásia e das Américas Central e do Sul e inclui társios, macacos e humanos.

O ramo ancestral dos haplorrinos se subdividiu em três grandes linhagens: os társios, os macacos do Novo Mundo (ou platirrinos) e os macacos do Velho Mundo (catarrinos).

O ramo dos macacos do Novo Mundo está separado do ramo dos macacos do Velho Mundo há ao menos 20 milhões de anos. Os macacos do Novo Mundo são arborícolas, sendo que muitos deles possuem cauda longa e preênsil, com a qual conseguem se agarrar aos galhos. Algumas espécies do Velho Mundo também são arborícolas, mas outras são essencialmente terrestres; de resto, nenhuma delas possui cauda preênsil.

Vale ressaltar que os primatas encontrados em território brasileiro são todos platirrinos. Entre essas espécies estão, por exemplo, o macaco-prego (Cebus), micos e saguis (Callithrix e gêneros afins), macaco-aranha (Ateles), muriqui (Brachyteles), bugios (Alouatta), uacaris (Cacajao), sauás (Callicebus) e o macaco-da-noite (Aotus).

Além da presença ou não de uma cauda preênsil, platirrinos e catarrinos diferem em outros aspectos importantes. Um deles é o nariz: platirrinos, como o nome indica, têm narizes amplos, com narinas afastadas e voltadas para frente; catarrinos têm narizes estreitos, com narinas próximas e voltadas para baixo. Há diferenças também na dentição: platirrinos possuem três pré-molares em cada meia-arcada, enquanto os catarrinos possuem apenas dois.

Os antropoides

Os primatas viventes mais intimamente aparentados aos seres humanos são os catarrinos, entre os quais duas grandes linhagens (referidas formalmente como superfamílias) são reconhecidas: Cercopithecoidea e Hominoidea.

A superfamília Cercopithecoidea abriga diversas espécies de macacos africanos e asiáticos, de hábitos arborícolas ou terrestres, caracterizados pela presença de cauda. Entre eles estão, por exemplo, babuínos (Papio), mandril (Mandrillus), colobos (Colobus) e o macaco-narigudo (Nasalis). Essa linhagem inclui a maior de todas as famílias (em número de espécies), Cercopithecidae, o que ajuda a fazer da África o continente mais rico em espécies de primatas.

Já a superfamília Hominoidea costuma ser subdividida em dois grupos: o dos pequenos símios (gibões) e o dos grandes símios, ou antropoides. Estes incluem o gênero humano (Homo) e outros três gêneros de primatas viventes, Gorilla (duas espécies de gorilas), Pan (chimpanzés e bonobos) e Pongo (duas – ou talvez três – espécies de orangotangos). Os três primeiros são gêneros essencialmente africanos – com a ressalva, mais uma vez, de que o gênero Homo tornou-se cosmopolita; o último é típico do Sudeste Asiático.

O gênero Homo

De 65 milhões de anos até cerca de 6-8 milhões de anos atrás, nossos ancestrais viveram como primatas de hábitos essencialmente arborícolas. Algumas das tendências observadas na evolução humana tiveram início entre esses ancestrais. Outras, no entanto, apareceram e se estabeleceram ao longo da história do ramo dos antropóides, entre os quais mais tarde surgiria o Homo sapiens moderno.

A maioria dos estudiosos é de opinião que chimpanzés e bonobos são os primatas viventes mais próximos da espécie humana. (Chimpanzés e bonobos são tão parecidos entre si que os próprios especialistas tiveram dificuldades para reconhecê-los como espécies distintas.) Mas que não haja dúvida: não somos descendentes de chimpanzés ou bonobos, do mesmo modo como eles não são nossos descendentes. Ocorre apenas que partilhamos de um mesmo ancestral comum.

Há uns 7-8 milhões de anos (equivalente a 350-400 mil gerações humanas), esse ramo ancestral comum teria se dividido, dando origem a duas linhagens: de um lado, os ancestrais de chimpanzés e bonobos; de outro, os ancestrais dos seres humanos. Como os detalhes da separação não estão devidamente documentados em restos fósseis, podemos dizer que há um hiato – retratado no imaginário popular como um ‘elo perdido’ – entre os humanos e seus parentes vivos mais próximos.

Ocorre que o número de espécies de hominídeos fósseis tem aumentado bastante nos últimos anos, preenchendo assim várias lacunas. Entre esses novos achados, o candidato a elo mais antigo que se conhece talvez seja o Sahelanthropus tchadensis, o ‘homem de Toumai’, cujos primeiros restos fósseis – um crânio, pedaços de mandíbulas e alguns dentes – foram encontrados no deserto de Djurab, no Chade, em 2001, por uma equipe franco-chadiana liderada pelo paleontólogo francês Michel Brunet (nascido em 1940). A idade desses fósseis foi estimada em 7 milhões de anos, recuando assim a idade do elo perdido em cerca de 3 milhões de anos  – antes do homem de Toumai, o elo mais antigo que se conhecia tinha cerca de 4 milhões de anos.

Há outras peças nesse quebra-cabeça (e.g., Orrorin e Ardipithecus), mas as informações disponíveis sobre todos eles ainda são fragmentárias e insuficientes, dificultando que se estabeleça um quadro geral mais consistente, ao menos por enquanto.

A transição Australopithecus-Homo

Uns poucos milhões de anos após a separação dos ramos que dariam origem aos chimpanzés e aos humanos, a árvore evolutiva dos antropoides já havia experimentado diversas ramificações. Na opinião de estudiosos, os hominídeos fósseis mais próximos do gênero Homo são os do gênero Australopithecus, que teria prosperado entre 4 milhões e 1 milhão de anos atrás.

As espécies conhecidas de Australopithecus (e.g., A. garhi, A. robustus, A. africanus e A. afarensis) foram descritas a partir de pequenos restos fósseis, como dentes e pedaços de ossos do crânio. Uma famosa exceção é ‘Lucy’, nome dado ao esqueleto de uma fêmea de A. afarensis encontrado pelo paleoantropólogo estadunidense Donald C. Johanson (nascido em 1943), na região de Hadar, na Etiópia, em 1974, e datado de 2,9 milhões de anos atrás. Além de Lucy, foram encontrados no mesmo sítio restos de outros 13 indivíduos – o grupo todo foi apelidado de ‘primeira família’. Até hoje, já foram encontrados restos fósseis de mais de 300 indivíduos dessa espécie, em diferentes localidades da África. Os fósseis indicam que os australopitecos mediam entre 1 e 1,3 m de altura, eram bípedes e tinham uma capacidade craniana entre 350 e 400 cm3, equivalente a pouco menos de um terço da capacidade média dos seres humanos atuais – recentemente, porém, foram encontrados fósseis de australopitecos bem maiores.

O gênero Homo teria surgido em alguma região da África (o lugar exato ainda é motivo de discussão e pesquisa), entre 2,5 e 2 milhões de anos atrás, a partir de alguma espécie de Australopithecus (A. africanus e A. afarensis são os candidatos mais prováveis). Quatro processos costumam ser evocados na história evolutiva que deu origem ao gênero Homo e, dentro deste, à espécie Homo sapiens, a saber: aumento do cérebro (nosso cérebro tem em média uns 1,3 mil cm3 de volume, enquanto o dos chimpanzés, nossos parentes vivos mais próximos, tem em média um quarto disso); mudanças nas mandíbulas e nos dentes (as mandíbulas foram recuadas; os dentes diminuíram de tamanho, em especial os caninos); bipedalismo e mudanças no comportamento social e cultural. Hipóteses a respeito deste último processo, ao contrário dos três anteriores, estão fundadas no estudo de evidências indiretas (e.g., artefatos).

A aurora da espécie humana

Há quem imagine que a espécie de Lucy (Australopithecus afarensis) deu origem a duas linhagens: uma levou a mais um australopitecíneo, o A. africanus, enquanto a outra conduziu ao Homo habilis, primeiro representante conhecido do gênero humano. Há, no entanto, quem proponha uma rota alternativa: A. afarensis teria dado origem a A. africanus e este a H. habilis, a mais antiga espécie de Homo conhecida, com restos fósseis datados de 2,5 milhões de anos. O certo é que várias espécies de Australopithecus e Homo viveram juntas em diversas regiões da África, ainda que a duração e as implicações evolutivas dessa convivência sejam questões em aberto.

Os registros fósseis sugerem que o H. habilis surgiu entre 2 e 2,5 milhões de anos atrás, nas savanas africanas. Era bípede e de baixa estatura (pouco mais de 1 m de altura), mas com uma capacidade craniana (400-650 cm3) superior à dos australopitecos. Fabricava instrumentos rudimentares e já se comunicaria oralmente. Há cerca de 1-1,5 milhão de anos, uma linhagem de H. habilis teria dado origem ao H. erectus, a primeira espécie do gênero a sair da África: restos fósseis atribuídos a esta espécie foram encontrados na África, mas também na Ásia (Indonésia e China) e Europa. (A presença de H. erectus nas Américas é uma possibilidade que ainda carece de sustentação.) A capacidade craniana continuou aumentando, passando de aproximadamente 600 cm3 para mais de 1.000 cm3. O número, a especialização e a complexidade dos instrumentos associados a esses hominídeos também aumentaram de modo significativo.

Então, há uns 500 mil anos, populações humanas ditas anatomicamente arcaicas, descendentes talvez de H. erectus, ou que com eles partilharam de um ancestral comum, conseguiram se estabelecer na Europa, na Ásia e na Oceania (Indonésia), além da África. Não há ainda um consenso sobre a posição taxonômica e os nomes de todas essas diversas formas regionais (e.g., Homo heidelbergensis, H. neanderthalensis e H. helnei). Por fim, entre 40 e 80 mil anos atrás, populações de H. sapiens ditas anatomicamente modernas já estavam estabelecidas na África, na Europa e na Ásia. De onde vieram e como teriam surgido esses seres humanos modernos?

O berço é a África?

Alguns autores acreditam que os seres humanos modernos surgiram independentemente na África, na Ásia e na Europa. Essa é a chamada hipótese ‘multirregional’ para a origem do Homo sapiens. Outros, no entanto, defendem uma origem exclusivamente africana. É a hipótese ‘oriundos da África’. As evidências atuais sustentam melhor este segundo ponto de vista – os seres humanos modernos teriam surgido na África; em seguida, colonizaram a Ásia e a Europa, onde conviveram e terminaram substituindo os povos indígenas que viviam naquelas regiões.

Em linhas gerais, a história poderia ser resumida da seguinte maneira: há cerca de 300 mil anos, nossos ancestrais africanos teriam se dividido em duas linhagens, a primeira permaneceu na África, enquanto a outra (os neandertais – Homo neanderthalensis ou Homo sapiens neanderthalensis) saiu do continente africano, indo colonizar a Ásia e a Europa, onde prosperaram e viveram até cerca de 40 mil anos atrás, quando foram extintos. A linhagem que permaneceu na África deu origem aos humanos modernos (Homo sapiens sapiens), alguns dos quais migraram depois para o Oriente Médio, a Europa e a Ásia; em seguida, para a Austrália e ilhas próximas; e, por fim, há uns 15-30 mil anos, para as Américas (do Norte, Central e do Sul). Os humanos modernos e os neandertais teriam convivido por milhares de anos em diversas regiões, principalmente na Europa e na Ásia.

Evidências moleculares

A noção de que a espécie humana surgiu na África é antiga. Em 1871, Charles Darwin (1808-1882) publicou um livro sobre a evolução humana no qual já argumentava a favor dessa ideia. Vale ressaltar que, na época de Darwin, os antropoides extintos ainda eram desconhecidos – os primeiros fósseis de Australopitechus, por exemplo, só foram descobertos em 1924, na África do Sul.

Desde então, o estudo das origens dos seres humanos tem se guiado muito pelos achados fósseis. O mesmo vale para o estudo da colonização dos continentes ou das migrações regionais. Todavia, com o advento e a disseminação de técnicas moleculares, tem sido possível reconstituir capítulos importantes da nossa história evolutiva com base no estudo de marcadores genéticos presentes em populações contemporâneas. Um desses capítulos diz respeito à controvérsia em torno da saída do H. sapiens da África. Outro exemplo seria a questão da colonização das Américas, os últimos continentes a serem ocupados por seres humanos.

A opinião tradicional, com base no exame de fósseis e principalmente no exame de artefatos, sustenta que os primeiros colonizadores chegaram aqui por terra, através do estreito de Behring (entre o Alasca e a Rússia), vindos da Ásia. A partir de então, eles teriam colonizado a América do Norte e, em seguida, a América Central e ilhas próximas e, por fim, a América do Sul. Mais recentemente, porém, evidências moleculares – obtidas a partir do estudo de certos marcadores genéticos – serviram de base para uma hipótese radicalmente diferente. De acordo com esse novo ponto de vista, os primeiros colonizadores teriam chegado primeiro na América do Sul (vindos da África pelo mar) e só depois teriam colonizado as Américas Central e do Norte. Todavia, ainda mais recentemente, a balança tornou a favorecer a opinião tradicional, só que agora recuando o calendário da colonização para até 50 mil anos atrás.

Coda

Evidências fragmentárias dão origem a opiniões divergentes. Mais pesquisas de campo terão de ser realizadas antes que possamos equacionar e eventualmente resolver essas divergências, obtendo então uma noção mais clara do que se passou por aqui com os nossos antepassados. Acima de todas essas controvérsias, no entanto, uma coisa parece certa: todos nós – americanos, asiáticos, europeus etc. – descendemos de um mesmo ramo ancestral. Em outras palavras, a despeito das notáveis diferenças (físicas e culturais) que observamos hoje entre as mais afastadas e distantes populações humanas, viemos todos do mesmo lugar – somos todos africanos.

Sugestões de leitura

++ Foley, R. 1993. Apenas mais uma espécie única. SP, Edusp.

++ Lewin, R. 1999. Evolução humana. SP, Atheneu.

[Nota: trechos deste artigo foram publicados anteriormente na Ciência Hoje e no Observatório da Imprensa; para detalhes a respeito do livro mais recente do autor, O evolucionista voador & outros inventores da biologia moderna (2017), inclusive sobre a aquisição por via postal.

Via - Jornal GGN

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

4 passos para combater, prevenir e erradicar o feminicídio

Todos os dias, 13 brasileiras perdem a vida de forma violenta. Mais de 83% por feminicídio.


Vanessa Fogaça Prateano*
Brasil de Fato | Curitiba (PR)

Todos os dias, 13 brasileiras perdem a vida de forma violenta em algum canto do país. Embora morram mais homens do que mulheres no Brasil — uma outra tragédia, ampliada pelo racismo e pela criminalização da pobreza –, a luta do movimento feminista é pelo reconhecimento de que morremos por outras causas, em outros espaços e contextos e vítimas de algozes muito específicos.

Dessas 13 mulheres, mais de 83% morrerão pelas mãos de homens em quem confiavam e por quem nutriam afeto, o que demonstra a crueldade da situação: a maioria de nós será assassinada por alguém que nos viu crescer, ou com quem tivemos filhos, que frequenta a nossa casa e a quem chamamos de irmão, pai, amigo ou companheiro. Muitas também morreremos vítimas de violência sexual ou de um aborto inseguro.

Neste dia 25 de novembro, Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, são enormes os desafios a serem superados pelo fim dos crimes de ódio cometidos contra as mulheres, e eleger apenas alguns seria uma injustiça. Porém, é preciso começar de algum lugar, e focar na humanização do atendimento, no apoio às vítimas, na educação e na responsabilização dos meios de comunicação é um importante começo:

– Capacitação de profissionais: É preciso sensibilizar os profissionais que atuam no atendimento e acolhimento das mulheres vítimas de violência e dar a eles condições estruturais para realizar o seu trabalho, por meio do investimento massivo na criação e melhoria dos serviços. A humanização do atendimento é essencial, pois somente ela permitirá à mulher ter o apoio e a força necessários para seguir adiante com a denúncia. Uma mulher que é mal atendida e não volta a procurar o serviço é uma mulher que muito provavelmente entrará para as estatísticas.

– Amparo às sobreviventes e suas famílias: a vítima não pode ser esquecida neste processo, tampouco sua família e sua comunidade. Não bastam as leis e o combate aos crimes se os afetados pela violência são desamparados pelo Estado e pela sociedade. Neste processo, a vítima não pode ser apenas um número e um meio de prova. A valorização da memória das vítimas e a reparação a quem foi afetado também devem ser levadas em conta no enfrentamento da violência. Também é preciso investir em apoio psicológico e social e em programas de geração de renda para que a vítima tenha direito a recomeçar sua vida.

– Educação e conscientização da população: numa sociedade em que o machismo e a misoginia são fundantes e estruturantes das nossas relações e experiências, a violência contra a mulher é algo naturalizado no cotidiano. Para romper com essa mentalidade, é preciso desaprender a misoginia e se educar para a equidade e a justiça. Isso envolve desde a abordagem do tema em sala de aula até a produção de estatísticas que fundamentem as políticas públicas e a realização de campanhas voltadas à população como um todo.

– Uma mídia consciente e responsável: culpabilização da vítima, adoção de termos impróprios que naturalizam e até romantizam a agressão, viés puramente policial e sem contextualização. As reportagens sobre feminicídio no Brasil são um exemplo cruel de como a imprensa pode ajudar a reproduzir a violência contra a mulher. É urgente a capacitação dos profissionais de imprensa sobre a violência contra a mulher, assim como a responsabilização legal dos meios de comunicação que reiterem a violência.

*Vanessa Fogaça Prateano é jornalista, pesquisadora do Núcleo de Criminologia e Política Criminal do curso de pós-graduação em Direito da UFPR e fundadora do Coletivo de Jornalistas Feministas Nísia Floresta.

Reforma da Previdência

Por Carlos Latuff.


terça-feira, 28 de novembro de 2017

Municípios do noroeste recebem investimentos para obras e caminhões de coleta seletiva

Os recursos fazem parte de um pacote de mais R$ 100 milhões para cerca de 250 municípios confirmados pelo governo do estado para diversas áreas.


Os convênios foram assinados em solenidade no Palácio Iguaçu, com a presença dos prefeitos e lideranças.
Os caminhões, no valor de R$ 290 mil cada, serão destinados para coleta seletiva dos municípios de Alto Paraná, Nova Londrina, Querência do Norte e Marilena.

Já os quase 14 mil tubos serão destinados para os municípios de Alto Paraná (389), Ivaté (1020), Loanda (1087), Marilena (180), Maria Helena (457), Nova Esperança (732), Nova Londrina (830), Paranavaí (1310), Paraíso do Norte (444), Planaltina do Paraná (1582), Santa Inês (278), Santa Isabel do Ivaí (1000), São Manoel do Paraná (996) São Tomé (417), Tamboara (418), Tapejara (1000), Tapira (338) Terra Boa (1000) e Terra Rica (300).

Os recursos serão destinados dentro do Programa Sistema Integrado de Coleta Seletiva (Reciclo Paraná) e foram assinados convênios com o Instituto Águas Paraná para compra de caminhões adequados para a coleta seletiva. No total, valor chega a R$ 22,91 milhões.

Já o Águas Paraná repassará 44 mil metros de tubos de concreto, de diversos diâmetros, para obras de saneamento e drenagem do Programa de Controle de Erosão. São beneficiados 118 municípios, no valor aproximado de R$ 15,8 milhões.

Fonte: Diário do Noroeste


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Centrais convocam greve nacional contra reforma da Previdência

Em reunião realizada nesta sexta-feira (24) na sede da Força Sindical, representantes das centrais sindicais brasileiras definiram greve nacional no dia 5 de dezembro, às vésperas da data em que o governo Michel Temer pressiona para ser votada no plenário da Câmara a nova versão da reforma da Previdência.


Por Railídia Carvalho

Mais enxuto, o texto apresentado na quarta (22) retarda a aposentadoria do trabalhador brasileiro e rebaixa o valor do benefício. Em nota, as centrais afirmam que o novo texto mantém o “desmonte da Previdência”. 

Participaram da reunião a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), Força Sindical, Central dos Sindicatos Brasileiros, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Intersindical, CSP-Conlutas e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB).

Para Adilson Araújo, a greve demonstra uma “resposta contundente” ao governo Temer. “Sem pudor, o governo ilude, através de uma campanha publicitária sórdida e que mente descaradamente para o nosso povo”, declarou ao Portal CTB.

De acordo com o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, a proposta do governo impede a aposentadoria. “Nada mais é do que a retirada de direitos. A greve nacional vai mobilizar as categorias e principalmente as capitais do país com a orientação para que os transportes sejam paralisados”, informou.

O dirigente metroviário Wagner Fajardo, que também esteve na reunião, afirmou que a disposição de luta do movimento sindical demonstra que não há possibilidade de negociação com o atual governo. “Na próxima semana nos reuniremos com todos os setores de transporte das centrais para debater o tema. Provavelmente na terça-feira (28) vamos apontar a orientação de greve nacional das centrais”, explicou Fajardo.

Na terça está definida reunião na sede da Federação dos Trabalhadores em Transporte do Estado de São Paulo. Os metroviários devem realizar assembleia no dia 4 para deliberar sobre a greve.

Confira na íntegra nota divulgada pelas Centrais nesta sexta-feira (24)

São Paulo, 24 de novembro de 2017

Centrais Sindicais convocam greve nacional dia 5 contra reforma da Previdência e em defesa dos direitos

Reunidas na sede da Força Sindical na manhã desta sexta-feira , 24, as Centrais Sindicais CUT, Força Sindical, UGT, CTB, Nova Central, CSB, Intersindical, CGTB e CSP-Conlutas definiram realizar GREVE NACIONAL no dia 5 de dezembro, contra a nova proposta de desmonte da Previdência Social apresentada pelo governo.

As Centrais Sindicais convocam todas as entidades sindicais e movimentos sociais a realizarem ampla mobilização nas bases – assembleias, atos, debates e outras atividades – como processo de organização de uma Greve Nacional, no dia 5 de dezembro, contra as propostas de reforma da Previdência Social, que acaba com o direito à aposentadoria dos trabalhadores brasileiros.

As Centrais Sindicais exigem que o Congresso Nacional não mexa nos direitos dos trabalhadores!

Via – Portal Vermelho

Ato em São Paulo marca do Dia de Solidariedade ao Povo Palestino

A Assembleia Legislativa de São Paulo realiza nesta segunda-feira (27), às 19h, um ato solene pelo Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. A solenidade é uma iniciativa conjunta da deputada Leci Brandão (PCdoB) e do deputado Pedro Tobias (PSDB), ocorrerá no plenário Teotônio Vilela e contará com a presença do embaixador da Palestina no Brasil Ibrahim Alzebem.


A deputada Leci propôs a solenidade como forma de expressar o apoio do parlamento paulista à luta do povo palestino, tendo como base a Resolução 32/40 B da ONU (Organização das Nações Unidos), aprovada em 1977, que instituiu a comemoração do dia 29 de novembro como sendo o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, bem como a Lei Estadual do Estado de São Paulo, Nº 4.439, de 7 de dezembro de 1984, que institui o Dia Estadual de Solidariedade ao Povo Palestino.

A iniciativa parlamentar conta com o apoio da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), da Sociedade Árabe Palestino Brasileira de São Paulo, do Instituto Jerusalém do Brasil, da Confederação Palestina Latino Americana e do Caribe (COPLAC) e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz).

Contexto histórico

Em 1947 a ONU era integrada por 57 países e o ambiente político era completamente dominado pelos EUA, que fizeram pressão sobre as pequenas nações. Com 25 votos a favor, 13 contra e 17 abstenções e, sem o consentimento dos legítimos donos da terra, ou seja, do povo palestino, foi determinada, por meio da resolução de nº 18, a divisão da Palestina em dois Estados: o Palestino e o Israelense. Na partilha do território, 56% da área caberia aos israelenses que, na fundação de seu Estado, ocuparam 78% do espaço e se valeram da força para promover a expulsão dos palestinos de seus lares e terras. Os palestinos se refugiaram em acampamentos na Cisjordânia, Gaza, Líbano, Jordânia e Síria. Em 1967, Israel ocupou o restante do território que a divisão da ONU destinara à construção do Estado Palestino.

Em 1977, a Assembleia Geral do ONU pediu que fossem celebrados todos os anos, no dia 29 de novembro (resolução 32/40 B), o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Com efeito, foi nesse dia que, no ano de 1947, a Assembleia Geral aprovou a resolução sobre a divisão da Palestina [resolução 181 (II)].

A efetivação do Estado palestino independente, com Capital Jerusalém e o retorno dos refugiados, conforme as resoluções do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral da ONU, são questões cruciais à construção de uma paz com justiça e igualdade, uma paz duradoura para o povo palestino e todos os povos do Oriente Médio.

SERVIÇO:
Ato Solene pelo Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino
27 de novembro (segunda-feira) -19 horas
Auditório Teotônio Vilela (Av. Pedro Álvares Cabral, 201 – Ibirapuera – São Paulo/SP)
Mais informações: lecibrandao@al.sp.gov.br / (11) 3886-6790.

Do Vermelho/SP, com informações da Assessoria de Comunicação e Imprensa do Gabinete da Deputada Leci Brandão

domingo, 26 de novembro de 2017

Ziraldo, 85 anos maluquinhos

Ainda que cheio de restrições, o mercado de quadrinhos brasileiros, e o de arte como um todo, é tomado de desbravadores. Durante os anos 50, Ziraldo foi um deles, comandando o início de uma pequena revolução das HQs brasileiras contra os importados na década de 50.


Por Zé Wellington*

Com bancas abarrotadas de produtos dos chamados “Syndicates” (que incluíam Mandrake, Gato Félix e personagens da Disney), Ziraldo emplacou a primeira revista em quadrinhos brasileira feita por apenas um quadrinista, com a Turma do Pererê, que teve grande sucesso, mas foi cancelada em 1964, logo após o início da ditadura militar no Brasil. Antes disso, já tinha passado pela Folha da Manhã (atual Folha de São Paulo) e pela revista Cruzeiro. Chegou a receber o autor Maurício de Sousa, o criador da Turma da Mônica, em busca de emprego no seu estúdio na época.

Suas duas grandes contribuições para o quadrinho nacional viriam logo a seguir. A primeira foi a participação n’O Pasquim, tabloide que assumiu uma das principais vozes de oposição à ditadura, o que lhe custou uma prisão no dia seguinte ao AI-5. O periódico chegou a vender mais de 100.000 exemplares por semana.

Além d’O Pasquim, é difícil falar de Ziraldo sem a lembrança do Menino Maluquinho. Criado em 1980 num livro ilustrado, se tornou um grande sucesso comercial, adaptado para as mais diversas mídias, como histórias em quadrinhos, televisão, cinema e até música, num álbum com participação de artistas como Herbert Viana, Guilherme Arantes, Milton Nascimento e Rita Lee. O Menino Maluquinho é apenas um de uma extensa galeria de personagens do autor, que conta
ainda com The Supermãe, Bichinho da Maçã, Mineirinho, menino da Lua e Jeremias, o Bom.

Ziraldo não escapou de polêmicas e teve que lidar com a repercussão de declarações feitas para a imprensa sobre homossexualidade e ainda uma série de problemas envolvendo a realização do Festival Internacional do Humor Gráfico das Cataratas do Iguaçu, em 2003.

Na premiação do prestigiado Troféu HQMIX, o principal prêmio de quadrinhos do Brasil, em 2016, após ser chamado ao palco para uma homenagem, a primeira pergunta de Ziraldo foi: “por quê mesmo que estou ganhando isso?”. O “discurso” do agraciado seguiu com uma sequencia de relatos do autor que mais parecia um stand up de comediante. Sem dúvidas o momento mais divertido do evento. Enfim, a controvérsia é mesmo o sobrenome do meio de Ziraldo, procedida pelo sobrenome de um dos seus principais filhos desenhados: “Maluquinho”.

*Zé Wllington é sócio da agência de publicidade Convence, atua como quadrinista desde 2003, sendo o roteirista de Interludio, é vencedor do Troféu HQ MIX 2016 como Novo Talento Roteirista com Steampunk Ladies: Vingança a Vapor. Participa de coletâneas e revistas especializadas em literatura fantástica e quadrinhos. É colaborador e podcaster do sites Iradex e HQ Sem Roteiro.

Via - Portal Vermelho.

sábado, 25 de novembro de 2017

BEATRIZ MENDONÇA - A BELA DA SEMANA


Ser morena é estar em sintonia com tudo que há de mais atraente no campo da sedução, estas Deusas de corpos cobiçados são motivos de atenção que nos prende o juízo, contemplá-las é uma abdução, é fugir dos reveses para nos levar a um mundo de magia onde o pensamento divaga em sonhos deleitosos proporcionados pela formosura das silhuetas dessas musas de encantos infindos.

Sublime beleza é a dela, nascida talvez num dia de inspiração dos Deuses, num dia de êxtase dos anjos, num dia em que encantar os mortais era o propósito das divindades... Deu-se assim o surgimento daquela que foi criada com esmero, nasceu neste dia, Beatriz Mendonça...

Privilegiada pela genética, nossa homenageada faz parte de uma linhagem de mulheres reverenciáveis, seu nome merece ser citado quando a beleza feminina está em pauta.

Deste modo, Beatriz Mendonça, possui os predicados que a destacam entre aquelas donas de nossa admiração, ela está entre as beldades, faz parte do rol venerável das criaturas que se evidenciam pela formosura.

Curvemo-nos diante das morenas, naturais donas do meneio de corpos que as caracterizam entre tantas outras belas que compõe nosso feminino quadro populacional, curvemo-nos diante da beleza indizível de Beatriz, ela, perfeita sincronia do que há de mais perfeito no conjunto que faz da mulher um ser idolatrado.

Ela é um capricho natural, suprema por ser mulher, divina por ser bonita, ela é adorno a tornar melhor qualquer ambiente e neste pedestal onde semanalmente brilha a estrela feminina é obvio que ela não ficaria ausente, possuidora de um séquito de fãs, Beatriz Mendonça tem o direito de pisar o honrado chão do nosso panteão de belas, e assim, para os olhos venturosos, eis que a temos, proporcionando um regozijo a favor de nossas retinas.

Sendo, pois, querida e bela, é para nós um prazer expô-la neste pedestal de musas por onde semanalmente posam aquelas que são referências no quesito impecabilidade, Beatriz é parte daquelas que nasceram para fazer a diferença, por isso nosso dever em externar a gratidão pela confiança ao nos permitir mostrá-la como parte fundamental do que temos imenso orgulho, é devido a Beatriz que nossa comarca é considerada um recanto de belas.
Ela é um afago aos nossos olhos, ela é responsável pelo sorriso em nossos lábios, ela é sangue bom, ela é uma das páginas boas da nossa história...

Que a sorte nos seja favorável para que na vida sejamos brindados com a proximidade de Beatriz, ela é encanto, ela é fascínio, ela é alento, apreciemo-na, pois, ela é algo que temos de especial, deleitem-se leitores, a semana é dela e o regozijo é nosso, a beleza tem cor morena. Beatriz Mendonça é a Bela da Semana.

*BEATRIZ MENDONÇA DE LIMA – Nova Londrina/PR – Filha de Jair Lopes de Lima e Adriana Mendonça – Beatriz é corinthiana e estuda o 3º Ano do Ensino Médio no Colégio Ary João Dresch.



sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Contra intolerância, rádio Exu busca valorizar cultura e religiões de matriz africana

Transmitida pela web, emissora sediada em Belém, no Pará, tem populações negras como protagonistas de suas produções.


Lilian Campelo
"Exu, tu que és o senhor dos caminhos da libertação do teu povo sabes daqueles que empunharam teus ferros em brasa contra a injustiça e a opressão”.
O trecho acima é do poema Padê de Exu Libertador, na voz do jornalista Abdias Nascimento, escrito por ele em 2 de fevereiro de 1981. Exu é um dos orixás que compõem a religiosidade dos povos tradicionais de matriz africana e também dá nome a rádio comunitária em Belém.

A Rádio Exu de Comunicação Comunitária é uma rádio web de mídia étnica que completa dois anos em 21 de novembro, um dia após a celebração do dia da consciência negra.

Tata Kinamboji, um dos articuladores da criação da rádio, conta que foram os crimes de racismo e intolerância religiosa que motivaram sua criação: “Saiu no programa do Ratinho uma matéria sobre os terreiros de Belém, dizendo que nós violávamos túmulos, criminalizando as práticas tradicionais de matriz africana e essa peça, em especial, é fruto de um projeto fundamentalista que negava os direitos de cidadania do nosso povo”.

O programa foi ao ar em 2002. Nele, o apresentador culpa o então prefeito Edmilson Rodrigues, atualmente deputado federal pelo PSOL (PA), por ter autorizado a entrada de sacerdotes nos cemitérios. O SBT chegou a pedir desculpas à Prefeitura, mas os povos tradicionais de matriz africana de Belém não receberam nenhuma reparação por parte do veículo de comunicação.

Diante da repercussão e da violência sofrida, surgiu a ideia do nome da rádio, justamente porque Exu, o orixá da comunicação e o elo entre o mundo material e o espiritual, é uma das divindades mais demonizadas pela sociedade.

A rádio recebe produções de vários estados como Macapá, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Sergipe e Salvador.

Thiane Neves Barros é produtora do programa Abayomi, que significa o encontro precioso. De origem Iorubá, ela informa que Abayomi é o nome dado às bonecas de pano feitas por mulheres escravizadas e comenta a simbologia por trás desta proposta.

“É exatamente promover reencontros com essas mulheres, com nós mulheres negras que estamos na diáspora desde quando a escravidão foi autorizada por essas outras pessoas, pelos europeus, então a boneca tem uma referência a essa memória, a esse conhecimento e tem como objetivo continuar passando esse bastão, que é o bastão do reencontro e da diminuição da saudade do território.”

Ela afirma que as populações identitárias, indígena e negra, não possuem espaço na mídia hegemônica, e ressalta que exemplos como a rádio Exu e outras mídias e veículos em que essas populações são protagonistas de suas produções e narrativas vêm conseguindo ocupar espaços e criar oportunidades para serem ouvidas e visibilizadas.

Edição: Vanessa Martina Silva

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Transamazônica, 45 anos | Sobre madeira clandestina e ouro para inglês ver

Quarto e último capítulo da série de reportagens sobre a BR-230, baseada em um relato de viagem pelo Pará.

Sob a poeira da estrada, que se aproxima da bacia do Tapajós, o solo é rico em metais preciosos / Daniel Giovanaz

Daniel Giovanaz

No caminho que separa os municípios de Medicilândia e Uruará, o asfalto termina de repente, sem nenhuma sinalização, e a poeira pega os motoristas de surpresa. Esta é uma região de rios e igarapés, e são comuns as pontes de ferro e madeira, que suportam entre 20 e 30 toneladas – as maiores atravessam o Igarapé Pacal e o Rio Seiko.

Sobre esta última, cavalga o boiadeiro Manoel Aroeira, encarregado de levar 600 cabeças de gado de Uruará a Xinguara, no Sudeste paraense. São 930 km de viagem, e o tempo de percurso da boiada é estimado em 110 dias.

Aroeira tem o sorriso fácil e a pele cor-da-estrada, protegida por vestes longas e um chapéu de palha. A camisa, também coberta de poeira, permite ver na lapela a logomarca do consórcio Belo Monte. O boiadeiro explica que o irmão dele participou da construção da usina, e logo pede licença para voltar ao trabalho.

(Fotos: Daniel Giovanaz)

São quase 20 dias sem chuva, e a chamada "puaca" é cada vez mais espessa. As casas de madeira da Vila Globo do Mar, no km 98, são todas amarronzadas, com a pintura desgastada e a aparência envelhecida. Algumas estão com as portas abertas, e se vê de longe os móveis e eletrodomésticos sujos de poeira, em tom acastanhado: a Transamazônica é um elemento indissociável da vida.

A aridez diminui conforme se avança em direção ao km 100. Às três da tarde, a poeira baixa e a estrada parece umedecida por gotículas que caem do céu nublado – espaçadas e por pouco tempo. Seria exagero chamar de chuva ou garoa: os moradores da Transamazônica preferem usar o termo “sereno”. Ao lado da estrada, se veem dois ou três cadáveres bovinos, que Aroeira não foi capaz de salvar.

Sons da floresta

No fim da tarde, um pau-de-arara avança pela estrada no sentido contrário, de Uruará a Medicilândia. Na entrada de cada travessão, o motorista reduz a velocidade para que as crianças saltem e encontrem os pais à beira do caminho.

Três crianças descem no km 125, com o uniforme da escola José Bonifácio. Os irmãos Jackson e Maicon estão matriculados no ensino fundamental em Uruará. O primo Everton*, na educação infantil. As mães, em duas motocicletas, vão buscar os filhos de segunda à sexta no acostamento invisível da Transamazônica.

De moto, da estrada até a casa da família, são dez minutos mata adentro, no sentido norte. Quando as crianças voltam, o sol começa a se pôr, e resta uma hora de brincadeira ao ar livre. Elas gostam de correr, jogar futebol, nadar no riacho e procurar ossos de catitu na floresta. Catitu é uma espécie de porco-do-mato, com até 25 kg, que se alimenta de frutas, legumes e insetos.

A família de Jackson e Maicon é aficionada por música. Em um fim de semana, o pai e o tio construíram um violão com tocos de madeira talhados – o instrumento é bonito, mas quase não produz som. A velha cachorra da família tem os pelos louros, quase dourados, e se chama Madonna.

Jackson, o filho mais velho, sabe tocar percussão. Mais do que isso, ele monta sua própria bateria – sob olhares curiosos do irmão e dos primos – em menos de um minuto, com apetrechos que encontra atrás da casa dos pais. O resultado visual não é tão impressionante quanto o violão dos adultos, mas faz um barulho danado.


(Fotos: Daniel Giovanaz)
O interesse começou quando ele viu uma bateria em um programa de TV: ficou hipnotizado. Na igreja evangélica que a mãe frequenta, Edson pegou as primeiras dicas, e é fácil perceber que leva jeito. Com o olhar distante, como se mirasse um público imaginário, o garoto tamborila com facilidade a caixa, o bumbo e os pratos improvisados – ele construiu até um pedal, para marcar os compassos com o pé direito. 

Os pais do baterista prodígio têm uma pequena plantação de cacau. Ex-funcionários da Fazenda Panorama, a maior da região, eles decidiram romper o contrato de parceria para trabalhar de maneira autônoma. Além de vender as amêndoas para atravessadores de Medicilândia e Uruará, o casal cria porcos, patos e galinhas para subsistência.

O sonho da família é que Jackson e Maicon “vão longe, façam faculdade”. Mesmo assim, os dois meninos ajudam desde cedo a extrair as amêndoas da cabaça do cacau: estão preparados para seguir a profissão dos pais, se for preciso.


 O ruído que as crianças ouvem, a cada amanhecer, é o mesmo que acorda o senhor Ervino Gutzeit, dono e fundador da Fazenda Panorama, a 22 km de distância.

A Amazônia está repleta de macacos uivadores, que no Pará são chamados de capelães. É cada vez mais raro vê-los de perto, em áreas residenciais, mas os moradores garantem que não há como passar ileso à gritaria matinal nos travessões.

O capelão é o animal mais barulhento do mundo – estima-se que o uivo de um macho seja ouvido em um raio de até 5 km. Essa potência vocal, que atinge 130 decibéis, se deve ao hioide, osso localizado entre a laringe e a base da língua, que funciona como amplificador. Os seres humanos também possuem hióide, mas o osso dos capelães machos é maior.

Cidadão honorário do Pará, Ervino Gutzeit é capixaba, tem 85 anos e viveu a maior parte da vida à beira da rodovia Transamazônica. Neto de imigrantes alemães e filho de missionários cristãos que atuaram na Ilha do Bananal, a 1.250 km de Uruará, ele foi autuado por fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) por utilizar mão de obra análoga à escravidão em 2005. Dos 43 trabalhadores que viviam acampados na Fazenda Panorama, a 7 km da pista, 30 foram libertados naquela ocasião.

Com o patriarca em idade avançada, quem administra a Fazenda Panorama é o neto Helton Gutzeit, de 24 anos, que estudou na Suíça e fez um Master Of Business Administration (MBA) em São Paulo.

Madeira e progresso

Próximo ao km 140, à esquerda da pista, no sentido Medicilândia-Uruará, a mata fechada indica que aquela é uma terra indígena, livre da pecuária extensiva – ao menos, por enquanto.

Cobiçada por madeireiros e latifundiários da região, o território ocupado pelos Arara tem 274 mil hectares e cerca de 300 moradores. A área é limitada a norte pela Transamazônica e a sul pelo rio Iriri, que tem 2 km de largura e deságua na margem esquerda do Xingu.

Quando um ônibus ou caminhão passa por aqui, no verão, mal se enxerga o verde das árvores à beira da estrada de terra. A poeira sobe de tal forma que as folhas se tingem de marrom, até que venha uma rajada de vento ou uma chuva fina, rara nesta época do ano.

(Foto: Daniel Giovanaz)
Antes do trevo que dá acesso a Uruará, dois condomínios de alto padrão, em fase de obras, mostram que a renda média daquele município está alguns passos à frente de Medicilândia. Na capital do cacau, não há nada parecido com os loteamentos Parque Ypê e Bairro Planejado Nova Uruará – a julgar pelo asfalto, pelas palmeiras cuidadosamente plantadas nos canteiros e pelos outdoors das construtoras que prometem “qualidade vida” e “realização de sonhos”.

O poder aquisitivo, que aparenta ser alto, na comparação com as cidades vizinhas, não encontra respaldo nos números. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a remuneração média dos trabalhadores formais em Uruará é 1,9 salários mínimos, apenas a 46ª entre os 144 municípios do estado. A explicação é que a maioria atua na informalidade. Para se ter uma ideia, o IBGE indica que apenas 9% da população está ocupada, porque desconsidera os empregados sem vínculo trabalhista.

Uruará significa “ave noturna”, na língua tupi. Ainda que o progresso e a qualidade de vida prometidos nos outdoors não cheguem aos bairros “não planejados”, o centro da cidade é, de fato, mais organizado que o de Medicilândia ou Novo Repartimento. As ruas são amplas e iluminadas, e a maioria das lanchonetes ficam abertas durante a noite, a poucos metros da BR-230.

Os habitantes se reúnem nas praças da região central, ou em volta do coreto, e jogam conversa fora sentados em cadeiras de praia, para aliviar o calor da estação seca. Contribui para essa tarefa uma espécie de caminhão-pipa, que em vez de abastecer as casas, derrama água sobre as ruas não pavimentadas para assentar a puaca e refrescar as madrugadas.

Um encontro fortuito com o vereador Celino Marizeira (PMDB) em uma sorveteria, logo na chegada a Uruará, ajudou a entender a que se deve o desenvolvimento do município: à atividade madeireira. Em poucas palavras, o político explicou que essa é a “grande riqueza” da cidade, que ele descreve como “bem tranquila, bem agradável”.

O município tem 11,6 mil hectares em lavouras de cacau, mas a arrecadação de impostos com a venda de amêndoas é ínfima, a exemplo de Medicilândia. Também na atividade madeireira existe clandestinidade e evasão fiscal – basta ler o noticiário policial para saber que parte do produto sai da cidade sem nota. No entanto, a extração de madeira gera renda de outras formas.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o mercado ilegal movimenta mais de 100 bilhões de dólares por ano, e representa 30% de toda a madeira comercializada no mundo. No Pará, a proporção é ainda maior. Segundo a ONG Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que investigou a atividade entre 2011 e 2012, 78% da madeira que sai do estado é ilegal. Os principais destinos são Estados Unidos, Alemanha, China, Bélgica e Reino Unido.

Uma tora de 15 metros, com pouco mais de 6.250 m³ de madeira, vale cerca de R$ 10 mil no mercado clandestino. Como não incidem impostos sobre a venda ilegal, os cortadores, transportadores, e todos os atores da cadeia produtiva são recompensados, devido ao alto risco da atividade. Os salários acima da média, ainda que não constem na carteira de trabalho nem nos dados do IBGE, ajudam a movimentar o comércio em Uruará e mantêm a economia em alta.

Mercado negro

Funcionam em Uruará cerca de 20 madeireiras, que financiaram a campanha de quase todos os vereadores. Os números superam os outros três municípios que sobrevivem dessa atividade na Transamazônica, somados – Pacajá, Anapu e Placas.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) estima que, na década de 1970, com o início da construção da BR-230, havia 100 mil trabalhadores escravizados por ano em fazendas na Amazônia. Os números despencaram conforme o governo militar retirou os investimentos na colonização da região, e voltaram a subir após a redemocratização do país – não há registros oficiais que comprovem essa hipótese, ano a ano.


Entre 1964 e 1988, foram identificados 55 empresas ou fazendas que utilizavam mão de obra escrava no Pará.

Nos governos Lula e Dilma Rousseff (PT), a população aprendeu a conviver com as fiscalizações trabalhistas e ambientais, cada vez mais frequentes em Uruará. Em maio de 2008, uma ação conjunta do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Polícia Federal (PF) aplicou seis autos de infração, que totalizaram R$ 600 mil em multas, e embargou quatro serrarias no município. Três operavam sem licença, e uma armazenava madeira clandestina. Durante as visitas, houve tentativas de homicídio e uma viatura foi incendiada

A série de fiscalizações, que fazia parte da segunda etapa da operação “Grilo”, apreendeu 217 m³ em toras e 147 m³ de madeira serrada, a maior parte da espécie Jatobá. Esta árvore, cujo nome científico é Hymenaea courbaril, pode chegar a 80 metros de altura e está ameaçada de extinção. A espécie é considerada sagrada por povos indígenas da Amazônia, que costumam servir os frutos antes de rituais de meditação, para estimular o equilíbrio mental e a concentração.

Em junho de 2015, o Greenpeace divulgou imagens aéreas do município e flagrou novas irregularidades. A Fazenda Agropecuária Santa Efigênia teria fraudado inventários florestais para derrubar árvores na região – a madeira teria sido comercializada com 16 serrarias de Uruará, sem registro de origem.

Em outubro do ano passado, a Polícia Civil deflagrou a operação “Virtualis”, que prendeu seis pessoas em Uruará. As fraudes também envolviam servidores da Secretaria de Estado da Fazenda do Pará (Sefa) e madeireiros de outros quatro municípios da Transamazônica: Altamira, Pacajá, Placas e Rurópolis. O esquema consistia na emissão de notas fiscais de transporte e guias florestais “frias” – os fiscais da Sefa eram acusados de forjar as averiguações.

Um mês depois, a operação “Onda Verde” fechou três serrarias em Placas, a 60 km da região central de Uruará pela Transamazônica. Duas delas recebiam madeira cortada dentro da TI Cachoeira Seca, no limite entre os dois municípios. Um dos empresários presos escondia 200 toras de madeira no meio da mata, para enganar os fiscais do Ibama. O dano ambiental foi estimado em R$ 897 milhões.

A TI Cachoeira Seca tem cerca de 700 mil hectares, abriga indígenas da etnia Arara e é considerada “a mais desmatada do Brasil”.

A madeira clandestina que sai do Pará viaja até o litoral cearense, próximo a Fortaleza, e de lá costuma ser encaminhada para os países importadores. É possível saber o trajeto do produto através de rastreamentos via satélite e de apreensões que acontecem na própria rodovia.

Em maio deste ano, por exemplo, uma carreta que seguia de Uruará a Fortaleza foi apreendida em Buriti dos Lopes, região norte do Piauí. O veículo carregava 30 m² de madeira serrada sem a devida documentação – o que configura crime ambiental, segundo a Lei 9.605/98.


Mudança de área

David Amorim tem 72 anos e trabalha como motorista há quase meio século. Natural de Tijucas, a 55 km de Florianópolis, ele mudou-se para a região de Uruará no início dos anos 2000, para transportar madeira serrada. A empresa pagava em dia, mas o salário não compensava o risco de levar carga ilegal na caçamba.

“Era tudo frio! Às vezes tinha nota, mas já era a ‘nota da nota’”, lembra.

Quatro anos depois, o catarinense decidiu mudar de vida: comprou um lote por R$ 8 mil e construiu uma casa no travessão do km 95 norte, próximo a Medicilândia. “Tem gente que diz que eu paguei caro. Na época, aqui na Transamazônica, se trocava esses terreninhos de 40 m² por um relógio, ou uma espingarda”, brinca.

David Amorim vive com a esposa e o filho de cinco anos a 30 km do centro de Medicilândia. Há dois anos, trabalha como motorista do pau-de-arara que leva as crianças à escola Magalhães Barata, e conhece toda a vizinhança do travessão: “Não tem preço criar o menino no meio dos tamanduás, dos macaquinhos. Tem alguns problemas, sim. Às vezes o caminhãozinho atola ou capota na estrada, mas eu digo que isso aqui é um paraíso. E é bem menos perigoso levar as crianças para a escola do que transportar madeira fria”.

Desconfiança e violência

Além dos crimes ambientais, a extração ilegal de madeira está relacionada à superexploração do trabalho na Transamazônica, segundo informações da ONG Repórter Brasil. Em novembro de 2016, o Ministério Público do Trabalho (MPT) e o MTE se reuniram em Altamira com empresários da região para cobrar a redução dos acidentes de trabalho e da informalidade no setor.

O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Madeireira em Uruará trabalha com uma média de 100 acidentes por ano. As serrarias têm em média 20 funcionários, que costumam ser pagos “por diária”: menos da metade têm carteira assinada.

As pesquisadoras da Universidade Federal do Pará (UFPA), Luciana Sá Fernandes e Rosa Elizabeth Marin, analisam que o isolamento geográfico contribui para a perpetuação dos casos de trabalho escravo. No artigo Trabalho Escravo nas Fazendas do Estado do Pará, elas mencionam a fiscalização ocorrida em 2015 em uma fazenda em Uruará, a 150 km de qualquer área urbana. A autuação só foi possível porque um dos trabalhadores fugiu e relatou a situação à Promotoria de Justiça da Comarca de Uruará, que solicitou um mandado de busca e apreensão.

A atitude daquele trabalhador, Sebastião Almeida de Souza, é cada vez mais rara. Em geral, os escravizados são migrantes nordestinos, como ele, e têm dificuldade de se locomover na região, fora do local de trabalho. Na Fazenda Uruará, denunciada por Sebastião, havia dezenas de empregados sem registro, com idade inferior a 16 anos, sem salários ou em condições insalubres.

O dono da fazenda, identificado como Vicente Nicolodi, natural do Rio Grande do Sul, desmatava áreas de preservação ambiental para pastagem. A exemplo do que ocorre nas fazendas de cacau, eis a “norma” da Transamazônica: fazendeiro sulista, empregado nordestino.

Desmatamento. Tráfico de madeira. Trabalho análogo à escravidão. As atividades ilícitas que dominam a região oeste do Pará propiciam um ambiente de violência e desconfiança no entorno da BR-230. Em Uruará, é difícil transitar pela cidade, frequentar locais públicos e conversar com as pessoas sem ser inquirido sobre suas reais intenções.

Qualquer forasteiro pode ser um ambientalista, fiscal do MPT, ou outra dessas “figuras perigosas”, à paisana. Ninguém passa despercebido.

Nossa viagem pelo município chamou atenção a tal ponto que virou assunto em grupos de conversa no Whatsapp. Até o Comando Militar de Medicilândia foi acionado por essa rede de fofocas, atenta a qualquer movimento estranho, que possa ameaçar a segurança coletiva. Segundo a diretora da escola José Bonifácio, a população carrega até hoje o trauma do “caso Francisco” – uma quadrilha que percorria a Transamazônica nos anos 1990, sequestrando crianças e vendendo os órgãos no mercado negro.

Crimes sem solução não são raros por aqui. Nos últimos dois anos, a morte de dois madeireiros deixou a cidade de cabelos em pé – um motivo a mais para desconfiar de qualquer um. Em 2015, Luciano Stracke desapareceu no Bairro Vila Brasil, onde morava com a família. O corpo dele foi encontrado no Rio Uruará em estado de decomposição, 15 dias depois. Em março deste ano, Jan Clésio Ferreira de Aguiar foi assassinado a tiros no Bairro Progresso I. A polícia acredita na hipótese de “acerto de contas”.

Para inglês ver

Para além de Uruará, no sentido leste-oeste, outros quatro municípios são cortados pela BR-230, até o limite com o estado do Amazonas: Placas, Rurópolis, Itaituba e Jacareacanga.

Os dois primeiros estão entre os dez maiores produtores de cacau do Pará. O perfil da cadeia produtiva é semelhante ao que se verificou em Medicilândia, e a remuneração média dos cidadãos em empregos formais é 2,1 salários mínimos. O IBGE indica que, em Placas, apenas 4,1% da população está ocupada, o que indica alto nível de informalidade.

De Medicilândia a Placas, são 170 km, e mais 90 km até Rurópolis. A rodovia, estreita e não pavimentada, tem como atrativos as gigantes castanheiras e a típica poeira do verão amazônico.

A população de Itaituba é maior que a dos três municípios vizinhos somados: 98 mil. O distrito de Campo Verde, a 30 km de distância, é conhecido pelo trânsito de caminhões no entroncamento da Transamazônica com a BR-163. Por esta rodovia, os grãos que saem do Mato Grosso são levados ao porto de Santarém.

O asfalto volta a fazer parte da paisagem nas imediações de Itaituba, com uma breve interrupção no rio Tapajós. A exemplo do que ocorre em Belo Monte, a travessia é feita de balsa.

O rio faz parte da dinâmica da cidade. Com 200 milhões de hectares usados para mineração, a bacia do Tapajós abrange, além de Itaituba, os municípios de Trairão, Jacareacanga, Rurópolis, Belterra, Aveiro, Santarém e Novo Progresso. Cerca de 10% da área explorada pelo garimpo está dentro de Unidades de Conservação Federais. Por exemplo, as Florestas Nacionais Itaituba I e II, e os Parques Nacionais Jamanxin, Rio Novo e Amazônia.

Não é fácil frear o desmatamento nas Unidades de Conservação. Em maio de 2016, o sargento da Polícia Militar (PM) João Luiz de Maria Pereira foi assassinado em uma emboscada, após desmontar um acampamento ilegal no Parque Nacional Jamanxin. A equipe em que ele atuava recebeu dezenas de disparos. João Luiz foi atingido no pescoço e morreu 40 minutos depois, a 60 km da área urbana de Novo Progresso.


Garimpeiros e madeireiros trabalham em parceria. O acampamento desmontado pela equipe da PM era usado para extração de madeira, mas também guardava máquinas e equipamentos usados para mineração.

O ouro é o metal mais explorado na região, e Itaituba detém cerca de 80% dos títulos minerários para a extração no Pará – o que representa mais da metade da economia da cidade.

São dois mil garimpos no entorno do Tapajós, quase todos irregulares. Nos últimos 60 anos, foram extraídas 800 toneladas de ouro da bacia. Hoje, atuam 50 mil garimpeiros, e a maior parte deles extrai ouro de forma manual.

A empresa britânica Serabi Gold é a principal companhia exploradora de ouro e cassiterita em Itaituba. Em 2015, foi a 8ª maior produtora de ouro em solo brasileiro.

Em junho deste ano, o vereador Peninha (PMDB) fez um discurso na Câmara Municipal e demonstrou preocupação com a falta de controle dos minérios que saem de Itaituba por via aérea. Segundo o parlamentar, a cidade não desfruta das riquezas do ouro, e quem se aproveita são os estrangeiros. “Nem os aviões usados pela Serabi são de empresas itaitubenses. As aeronaves vêm do Mato Grosso, pegam o ouro no garimpo e levam, e nós não sabemos nem a quantidade de ouro que sai”.

A canadense Eldorado Gold e a sul-africana Anglo Gold Ashanti, uma das maiores mineradoras do mundo, também iniciaram projetos de extração de ouro e cobre na bacia do Tapajós, mas não há dados públicos sobre o potencial de exploração de cada uma delas. Ambas estudam atuar em Unidades de Conservação, e os investimentos, somados, chegam a 1 bilhão de dólares.

Falta de pavimentação e saneamento básico. Baixa escolarização. Mineração em áreas de proteção ambiental. 

Jacareacanga, último município da Transamazônica paraense, é um cartão de visitas para o próximo estado que a rodovia atravessa: Amazonas. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é 0,505 – considerado baixo, inferior ao de países como Quênia e Paquistão –, e os dilemas socioambientais da cidade são uma síntese de tudo que se viu à margem da BR-230.

A taxa de escolarização de jovens e adolescentes entre 6 e 14 anos é a 5466ª do Brasil, em um ranking de 5570 municípios. Cerca de 2% dos domicílios têm esgotamento sanitário adequado, segundo o IBGE.

Emancipado de Itaituba desde 1991, Jacareacanga tem 40 mil habitantes, dos quais dez mil são indígenas. Os conflitos étnicos são cada vez mais frequentes, e não estão desvinculados da disputa pelos recursos minerais da bacia do Tapajós.

Em junho de 2012, um índio da etnia Munduruku foi morto a facadas e pauladas. Segundo a polícia, foi um latrocínio, e os assassinos levaram consigo pepitas de ouro que estavam com a vítima. Os Munduruku não deixaram barato e atearam fogo na moto dos suspeitos, transferidos à delegacia de Itaituba.

No ano seguinte, lideranças indígenas voltaram a protestar, desta vez contra a construção de barragens no rio Teles Pires. Sobre os ossos de seus antepassados, será inaugurada em 2018 a Usina Hidrelétrica São Manoel. E não adianta ocupar o canteiro de obras: o país precisa dos 700 MegaWatts – como outrora precisou de uma estrada que ligasse o sertão à Amazônia.

Embora o Brasil seja uma nação pluriétnica, por previsão constitucional, outra queixa dos Munduruku em Jacareacanga é a dificuldade para registrar bebês com nomes tradicionais, conforme a língua e a grafia de cada povo. O Ministério Público Federal (MPF) advertiu o cartório da região e acrescentou que o registro civil com nomes tradicionais tem o respaldo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Talvez seja esta a mais simbólica das reivindicações. Produtivo ou especulativo, o capital expropriou-lhes as terras, os recursos, a memória, os costumes, o idioma, tudo. Resta-lhes um nome, como tábua de salvação.

Veias escancaradas

A rodovia segue até o município de Lábrea, entre os rios Purus e Madeira. São mais 827 km de BR-230, para além do Pará, e cada um deles corrobora o fracasso do projeto de Médici para desenvolver a região e impedir a entrega de recursos naturais.

A pobreza, a escravidão e a precariedade dos serviços à margem da Transamazônica contrastam com uma riqueza cada vez menos visível a olho nu. Milhões de hectares de floresta foram destruídos em nome da pecuária, da energia elétrica, do transporte rodoviário, das monoculturas ou da mineração. Os metais estão debaixo da terra, prontos para brilhar no mercado estrangeiro. Com eles, sob o solo amazônico, jazem os cadáveres de quem um dia se opôs a esse modelo predatório, e morreu condenado ao anonimato.

Subsiste como patrimônio desta região de veias abertas, a trajetória honrada dos migrantes que constroem suas vidas em função da rodovia – ou apesar dela. Aos olhos do agronegócio, das multinacionais e do próprio Estado, que não cumpre suas obrigações, Jonas, Maicon, Manoel, Isaílde, Junior, Tonico, David, Maria de Lourdes e Vilimar são apenas mão de obra barata. Cabe a eles mudar o rumo da Transamazônica: não se pode esperar nada de quem, há 45 anos, enriquece às custas da superexploração do homem e da floresta.


Acesse o especial completo sobre os 45 anos da inauguraçãoda Rodovia Transamazônica.

*As pessoas com idade inferior a 18 anos são apresentadas neste relato com nome fictício e a imagem borrada.


Edição: Simone Freire
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