Transmitida pela web, emissora sediada em Belém, no Pará,
tem populações negras como protagonistas de suas produções.
"Exu, tu que és o senhor dos caminhos da libertação do
teu povo sabes daqueles que empunharam teus ferros em brasa contra a injustiça
e a opressão”.
O trecho acima é do poema Padê de Exu Libertador, na voz do
jornalista Abdias Nascimento, escrito por ele em 2 de fevereiro de 1981. Exu é
um dos orixás que compõem a religiosidade dos povos tradicionais de matriz
africana e também dá nome a rádio comunitária em Belém.
A Rádio Exu de Comunicação Comunitária é uma rádio web de
mídia étnica que completa dois anos em 21 de novembro, um dia após a celebração
do dia da consciência negra.
Tata Kinamboji, um dos articuladores da criação da rádio,
conta que foram os crimes de racismo e intolerância religiosa que motivaram sua
criação: “Saiu no programa do Ratinho uma matéria sobre os terreiros de Belém,
dizendo que nós violávamos túmulos, criminalizando as práticas tradicionais de
matriz africana e essa peça, em especial, é fruto de um projeto fundamentalista
que negava os direitos de cidadania do nosso povo”.
O programa foi ao ar em 2002. Nele, o apresentador culpa o
então prefeito Edmilson Rodrigues, atualmente deputado federal pelo PSOL (PA),
por ter autorizado a entrada de sacerdotes nos cemitérios. O SBT chegou a pedir
desculpas à Prefeitura, mas os povos tradicionais de matriz africana de Belém
não receberam nenhuma reparação por parte do veículo de comunicação.
Diante da repercussão e da violência sofrida, surgiu a ideia
do nome da rádio, justamente porque Exu, o orixá da comunicação e o elo entre o
mundo material e o espiritual, é uma das divindades mais demonizadas pela
sociedade.
A rádio recebe produções de vários estados como Macapá, Rio
de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Sergipe e Salvador.
Thiane Neves Barros é produtora do programa Abayomi, que
significa o encontro precioso. De origem Iorubá, ela informa que Abayomi é o
nome dado às bonecas de pano feitas por mulheres escravizadas e comenta a
simbologia por trás desta proposta.
“É exatamente promover reencontros com essas mulheres, com
nós mulheres negras que estamos na diáspora desde quando a escravidão foi
autorizada por essas outras pessoas, pelos europeus, então a boneca tem uma
referência a essa memória, a esse conhecimento e tem como objetivo continuar
passando esse bastão, que é o bastão do reencontro e da diminuição da saudade
do território.”
Ela afirma que as populações identitárias, indígena e negra,
não possuem espaço na mídia hegemônica, e ressalta que exemplos como a rádio
Exu e outras mídias e veículos em que essas populações são protagonistas de
suas produções e narrativas vêm conseguindo ocupar espaços e criar
oportunidades para serem ouvidas e visibilizadas.
Edição: Vanessa Martina Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário