Em entrevista ao Portal Vermelho, a historiadora Marly
Vianna aponta a importância da Revolução Russa, que completa cem anos. Para
ela, aquele outubro de 1917 mostrou ao mundo que o capitalismo não é eterno.
“Foi a primeira revolução que colocou os operários no poder e criou uma
sociedade sem exploração do homem pelo homem”, disse.
Confira abaixo a íntegra:
Portal Vermelho: São 100 anos da revolução que mudou o
mundo. O que diferencia a Revolução Russa das demais revoluções?
Marly Vianna: A diferença é que, desde a Revolução Francesa,
que acabou com o feudalismo, a Revolução de Outubro, como verdadeira revolução,
acabou com o modo de produção capitalista na Rússia. Sua imensa importância é
essa. Mostrou ao mundo – em especial à classe operária -, que o capitalismo não
é eterno. Foi a primeira revolução que colocou os operários no poder e criou
uma sociedade sem exploração do homem pelo homem.
Já se disse, com base em Gramsci, que aquela foi uma
revolução contra o capital? Esta tese tem sentido?
Penso que tem muito sentido. Contra o capital e
principalmente contra o capitalismo. O poder ficou nas mãos do povo, organizado
nos sovietes e orientado pelos bolcheviques. Infelizmente, a revolução em
outros países não ocorreu ou foi logo esmagada, e a jovem República Soviética
ficou isolada e atacada por todos os lados: externamente pelos países da
Entente, mal acabada a Grande Guerra e, internamente, pelos saudosos da
monarquia tzarista. A guerra civil foi uma verdadeira hecatombe e durante os
primeiros quatro anos do poder soviético a principal questão era não permitir a
volta do capitalismo. O capital – como uma relação de produção – não poderia
ser restaurado.
Que avaliação você faz do papel dos soviéticos na luta
anti-imperialista?
Foi imenso e imprescindível, não só para a luta
anti-imperialista como na defesa da paz no mundo. O Estado Soviético foi
anticapital, anticapitalista, uma forte barreira ao capitalismo financeiro
mundial. E uma barreira tanto mais forte quanto a União Soviética tornou-se a
segunda potência mundial.
É importante salientar a imensa força que teve uma sociedade
que acabou com a exploração. É importante salientar as vitórias, de significado
mundial, conquistadas pelo Estado Soviético: a vitória contra o nazi-fascismo
deveu-se principalmente à União Soviética, que impingiu aos nazistas suas
primeiras grandes derrotas: a Batalha de Moscou (de setembro de 1941 a abril de
1942) e a de Stalingrado (julho de 1942 a fevereiro de 1943), lutas que
custaram aos soviéticos mais de 20 milhões de mortos. Mas venceram.
O Estado Soviético apoiou de muitas maneiras a
descolonização, garantiu a não intervenção ianque em Cuba, foi um freio à
expansão desmedida do capital. Isso, com todos os problemas que enfrentou
permanentemente. Devemos assimilar os acertos e procurar entender os erros, sem
minimizá-los, para evitar repeti-los.
A União Soviética, a grande esperança da humanidade.
Completam-se cem anos de uma Revolução cujos frutos mais
diretos tiveram fim em 1991, com o fim da URSS. Apesar disso, que perspectiva
futura você vê para revoluções desse tipo?
A Revolução Socialista de Outubro, mostrando que o
capitalismo não era o fim da história e que os operários podiam chegar ao
poder, abriu uma perspectiva concreta: a possibilidade de se estabelecer uma
sociedade socialista, um poder operário. Até 1917 então isso era apenas uma
utopia. Depois da Revolução Russa passou a ser uma realidade. O Estado
Soviético teve fim, mas a perspectiva revolucionária não. Para terminar, cito
Joseph Fontana, o historiador marxista catalão:
"O caminho que há pela frente, se queremos escapar
desse futuro de desigualdade e empobrecimento que nos ameaça a todos, é
bastante complicado. O fracasso da experiência de 1917 mostra que as
dificuldades são muito grandes; mas penso que nos ensinou também que, apesar de
tudo, havia que prová-lo, e que tentá-lo de novo oxalá valha a pena” (FONTANA,
Josep. “A revolução Russa e nós”, In História e luta de classe. Nº 23, março de
2017, p.92).
Via – Portal Vermelho
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