Ainda que cheio de restrições, o mercado de quadrinhos brasileiros,
e o de arte como um todo, é tomado de desbravadores. Durante os anos 50,
Ziraldo foi um deles, comandando o início de uma pequena revolução das HQs
brasileiras contra os importados na década de 50.
Com bancas abarrotadas de produtos dos chamados “Syndicates”
(que incluíam Mandrake, Gato Félix e personagens da Disney), Ziraldo emplacou a
primeira revista em quadrinhos brasileira feita por apenas um quadrinista, com
a Turma do Pererê, que teve grande sucesso, mas foi cancelada em 1964, logo
após o início da ditadura militar no Brasil. Antes disso, já tinha passado pela
Folha da Manhã (atual Folha de São Paulo) e pela revista Cruzeiro. Chegou a
receber o autor Maurício de Sousa, o criador da Turma da Mônica, em busca de
emprego no seu estúdio na época.
Suas duas grandes contribuições para o quadrinho nacional
viriam logo a seguir. A primeira foi a participação n’O Pasquim, tabloide que
assumiu uma das principais vozes de oposição à ditadura, o que lhe custou uma
prisão no dia seguinte ao AI-5. O periódico chegou a vender mais de 100.000
exemplares por semana.
Além d’O Pasquim, é difícil falar de Ziraldo sem a lembrança
do Menino Maluquinho. Criado em 1980 num livro ilustrado, se tornou um grande
sucesso comercial, adaptado para as mais diversas mídias, como histórias em
quadrinhos, televisão, cinema e até música, num álbum com participação de
artistas como Herbert Viana, Guilherme Arantes, Milton Nascimento e Rita Lee. O
Menino Maluquinho é apenas um de uma extensa galeria de personagens do autor,
que conta
ainda com The Supermãe, Bichinho da Maçã, Mineirinho, menino
da Lua e Jeremias, o Bom.
Ziraldo não escapou de polêmicas e teve que lidar com a
repercussão de declarações feitas para a imprensa sobre homossexualidade e
ainda uma série de problemas envolvendo a realização do Festival Internacional
do Humor Gráfico das Cataratas do Iguaçu, em 2003.
Na premiação do prestigiado Troféu HQMIX, o principal prêmio
de quadrinhos do Brasil, em 2016, após ser chamado ao palco para uma homenagem,
a primeira pergunta de Ziraldo foi: “por quê mesmo que estou ganhando isso?”. O
“discurso” do agraciado seguiu com uma sequencia de relatos do autor que mais
parecia um stand up de comediante. Sem dúvidas o momento mais divertido do
evento. Enfim, a controvérsia é mesmo o sobrenome do meio de Ziraldo, procedida
pelo sobrenome de um dos seus principais filhos desenhados: “Maluquinho”.
*Zé Wllington é sócio da agência de publicidade Convence,
atua como quadrinista desde 2003, sendo o roteirista de Interludio, é vencedor
do Troféu HQ MIX 2016 como Novo Talento Roteirista com Steampunk Ladies:
Vingança a Vapor. Participa de coletâneas e revistas especializadas em
literatura fantástica e quadrinhos. É colaborador e podcaster do sites Iradex e
HQ Sem Roteiro.
Via - Portal Vermelho.
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