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sexta-feira, 31 de maio de 2019

Paraná soma quase 10 mil casos de dengue. 848 na região Noroeste

Já são 9.976 casos de dengue em todo o Paraná. Desse total, 848 foram registrados no Extremo Noroeste, onde três pessoas morreram por causa da doença. Dos 28 municípios que compõem a região, seis estão em situação de epidemia.


As informações são da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e foram atualizadas na manhã de ontem. Apontam para o momento preocupante em Porto Rico, Nova Londrina, Loanda, Amaporã, Paranapoema e Cruzeiro do Sul, todos com quadro epidêmico.

Paranavaí não aparece entre os municípios com índice de epidemia. Apesar disso, na semana passada a Administração Municipal informou que o número de confirmações ao longo deste ano e a quantidade de casos em investigação são suficientes para estabelecer essa classificação.

Em todo o Paraná já foram confirmadas 16 mortes por dengue. Sete na região de Londrina, três na região de Cascavel e uma na região de Foz do Iguaçu, além das três na região de Paranavaí.

A orientação para os moradores é que mantenham os quintais limpos e não deixem água acumulada em latas, garrafas e outros objetos. Reservatórios devem ser devidamente tampados. Tudo isso para evitar que o mosquito transmissor da dengue, Aedes aegypti, deposite os ovos e complete o ciclo reprodutivo.

Para o poder público, as determinações incluem intensificar as ações de conscientização da comunidade, a fiscalização e os mutirões de limpeza. Outra diretriz é fazer a eliminação mecânica dos criadouros do mosquito em regiões onde há casos confirmados da doença.

Fonte: Diário do Noroeste
Via – Portal Loanda

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Papa escreve a Lula: “A verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação”

Líder religioso se solidariza pelas "duras provas" pela qual Lula tem passado; leia mensagem na íntegra.


Redação
Brasil de Fato

O Papa Francisco, autoridade máxima da Igreja Católica, enviou neste mês uma carta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No documento, em resposta à uma carta de Lula enviada em 29 de março, o pontífice se solidariza com ex-presidente, que, segundo ele, tem passado por “duras provas” com a morte de sua esposa, Marisa Letícia, de seu irmão, Genival Inácio, e de seu neto, Arthur.

“A sua Páscoa, sua passagem da morte à vida, é também a nossa páscoa: graças a Ele, podemos passar da escuridão para a Luz; das escravidões deste mundo para a liberdade da Terra prometida; do pecado que nos separa de Deus e dos irmãos para a amizade que nos une a Ele; da incredulidade e do desespero para a alegria serena e profunda de quem acredita que, no final, o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação”, diz a missiva.

O líder religioso também lhe deseja ânimo e confiança em Deus, além de pedir que Lula siga rezando por ele e diz que acredita, assim como seus antecessores, que “a política pode se tornar uma forma eminente de caridade se for implementada no respeito fundamental pela vida, a liberdade e a dignidade das pessoas”.

Confira abaixo a íntegra da carta ou ouça em áudio:



quarta-feira, 29 de maio de 2019

ECOS DE CANUDOS NO CANGAÇO... DEPOIMENTO DE EDMAR ROCHA TORRES

“O meu pai, Emar do Prado Torres foi o engenheiro civil responsável pela abertura de estrada na região de Canudos, entre 1930 e 1932. Como a região estava infestada por cangaceiros, e era muito perigoso o trabalho, meu pai precisou prevenir-se... Dos cento e vinte trabalhadores contratados, vinte eram para proteção... Eram jagunços, que se revesavam em dois turnos, dia e noite, dez a dez... Às vezes com alguns a mais...

Por Rubens Antonio

Depoimento de Edmar Rocha Torres:

Edmar Rocha Torres
E some a isto, na verdade, que todos os trabalhadores estavam armados com seus fusis... Isto é... Eram, na verdade, mosquetões... Acontece que, considerando a insegurança da área, o interventor, que havia adquirido os mosquetões apreendidos quando da revolta de São Paulo, da década de 1920, mandou distribuir entre os trabalhadores... Estavam, assim, todos armados... E o chefe deles era Pedrão, que tinha lutado em Canudos, e aparece, inclusive citado por Euclydes da Cunha...


Outro que lutou em Canudos, como líder, mas não apareceu nos relatos, foi Canário... Este também, com Pedrão, coordenava os jagunços.

Acima, o chefe da obra, engenheiro Emar do Prado Torres, então com cerca de 25 anos de idade, aparatado para eventual defesa da obra.
O exército mandou uns oficiais especialistas em tiro para dar treino aos matutos... mas, quando chegaram lá, viram que os matutos eram, na verdade, jagunços formados e que entendiam de armas até muito mais que eles... E eram muito bons mesmo de pontaria e manejo... Aí, pros... oficiais bons de tiro... acabou virando um passeio e até mesmo aprendizado para eles próprios...

O Pedrão usava dois punhais... Um era aquele grande, atravessado na cinta... Outro era o pequeno, muito afiado também, que ele mantinha preso aqui, na coluna, abaixo do pescoço, nas costas, porque dificilmente alguém revistaria ali... Ele prendia com uma espécie de emplastro... É este punhal aqui...

Se mandassem levantar as maos, ele, com as mãos na nuca, estava com elas pertinho da arma...

Quando as obras estavam para acabar, o Pedrão o deu ao meu pai...

Punhal de Pedrão - atualmente no acervo do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, doado por Edmar Rocha Torres.

Ele tinha um auxiliar terrível, famoso entre os outros jagunços... Era o “Gato”... Ele chegou até o meu pai indicado por Manoel Novaes. Tina um cabelo alourado longo, olhos muito azuis.
Ele disse:

- O seu Manoel Novaes pediu para eu proteger o senhor.

Ele tinha ido para lá também porque onde ele estava antes fora jurado de morte.

Era muito brabo... Ele sabia das coisas... porque também era de Serra Talhada, em Pernambuco... E todo mundo sabia dele e se pelava de medo e respeito... E ele era mesmo terrível... Só colocavam ele para missões de muita violência... Isto a tal ponto que ele não confiava em ninguém... Tanto fazia que sabia que estava marcado para morrer... Então, quando dava a janta, ele mesmo preparava as coisas dele, com todo cuidado, e comia... Pegava uma rede e sumia... Somente aparecia na manhã...

Na escuridão, caminhava, conforme ele disse depois ao meu pai, por cerca de dois quilômetros, em uma direção qualquer, escolhida para aquela noite... e que jamais repetia no todo... Então, por uns quinhentos metros, procurava uma situação em que ele pudesse pendurar a rede e ficar o mais escondido possível...

Acima, grupo de jagunços de um turno de defesa em construção de estrada, próximo a Canudos, em 1931. O segundo de pé, da esquerda para a direita é o chefe do grupo, o jagunço Pedrão, um dos líderes da Guarda Católica da rebelião de Antonio Conselheiro. Tendo sobrevivido ao drama de Canudos, emprestou sua experiência na liderança de jagunços contra os cangaceiros.

De pé, na frente, o jagunço apelidado Gato, tido como dos mais sagazes e violentos do grupo. Na mesma foto, à direita, um oficial do exército, enviado para dar instrução de uso das armas, mas que percebeu ser tal completamente desnecessária, em função do conhecimento dos jagunços.

Era ele o responsável pela segurança do meu pai, quando ele ia buscar o dinheiro para pagar as despesas da empresa, os funcionários e os jagunços...

Quando a obra acabou, meu pai pediu ao oficial responsável que as armas ficassem com os sertanejos. Colocou que eles poderiam ser alvo de vingança, por suas participações naquela defesa da estrada. Como não eram fuzis tombados, mas os tomados de São Paulo, o militar concordou, pegou os recibos de empréstimo e rasgou na frente do meu pai.

Quando tudo acabou, o Gato sabia que estava marcado e que se ficasse ali morreria... Aí, o meu pai trouxe o Gato para Salvador, e deu ele começou a trabalhar como um pacato jardineiro na casa da minha tia... Quem visse nem acreditaria quem ele era e do que era capaz...

Finalmente... um irmão dele que trabalhava em Santos, com um negócio daqueles transportes antigos... lotação... para empresas... chamou Gato e ele foi... Nunca mais se soube dele...

Nem mesmo o nome real do Gato eu sei... O mais terrível dos jagunços na imposição do regime de defesa contra os cangaceiros na empresa, sob a liderança do Pedrão...

Deste jeito... que bando de cangaceiros atacaria, ali, e quando? Nunca...
O meu pai, deitado na rede, aproveitando a presença desse cabra de Conselheiro, ia lendo a história do livro “Os sertões”, e ele, o Pedrão, sentado no chão, perto, ia dizendo se estava certo ou errado... Meu pai achou que ele era fidedigno, pois teve ocasiões que Euclydes creditou vitória aos jagunços e ele desmentia dizendo que tinham perdido tal e tal confronto... Ninguém mente contra si mesmo...

Pedrão, já idoso, com Manuel Ciríaco, dois guerrilheiros em Canudos.
Finalmente, o Pedrão foi esmirrando... Veio a Salvador tratar de um câncer na faringe... e o meu pai que o apresentou aos médicos que poderiam ajudá-lo... Finalmente, voltou para morrer na terra dele... Acabou tão mal... Carregado numa gamela...




terça-feira, 28 de maio de 2019

Confira dez argumentos de quem irá às ruas pela educação pública no próximo dia 30

A educação garantida pelo Estado é uma das áreas mais atacadas pelo governo brasileiro desde o golpe de 2016.

Atos do 15M levaram milhares de pessoas às ruas em todo país.
 Os do 30M serão ainda maior / Foto: Mobilização Contra os Desmontes da Educação
Redação

As manifestações em defesa da educação pública e contra os cortes anunciados pelo governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro (PSL) tomaram as ruas de pequenas e grandes cidades do Brasil no último dia 15 de maio com mais de 1 milhão de manifestantes.

Na próxima quinta-feira, dia 30 de maio, haverá uma nova jornada, um segundo grande ato pela educação pública.

“Acho que o dia 15 deu um recado ao governo Bolsonaro. Deu uma sacudidela como dizendo: ‘Toma cuidado porque o que está por vir para você não é pouco’”, disse a deputada estadual Maria Izabel Noronha, a Bebel (PT), também presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).

Desde o golpe contra a presidenta da República Dilma Rousseff, em 2016, a área da educação pública tem sofrido uma série de ataques dos governos Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PSL). A deputada faz um alerta sobre os interesses econômicos por trás dessas decisões políticas.

“Não é só [cortes] nas universidades públicas. Vai desde a educação infantil até a pós-graduação. O que está por trás? A privatização. Pagar mensalidades nas universidades. Isso nós não vamos permitir. Quem produz ciência e tecnologia para a sociedade são as universidades públicas. E elas são um patrimônio público porque são pagas com impostos”, disse a deputada.

O ato é organizado por diversas entidades, coletivos e associações de professores, alunos e movimentos populares.

Confira dez razões para participar dos atos e exigir o fim dos retrocessos na educação.

1 - Os cortes para a educação básica afetam recursos para a compra de móveis, equipamentos e também para a capacitação de servidores e professores

2 - Os cortes inviabilizam investimentos no programa EJA - Educação Jovens e Adultos e também o ensino em período integral.

3 - Estudantes, professores e instituições passaram a ser perseguidos ideologicamente, colocando em risco a liberdade de pensamento. AS mobilizações do dia 30 visam defender o ensino das disciplinas da área de humanas que fomentam o pensamento crítico e humanístico dos estudantes.

4 - O corte de verbas que afeta profundamente a educação, saúde, produção científica e tecnológica.

5 - As universidades públicas são responsáveis por mais de 90% da pesquisa e inovação no país. E prestam serviços à população por meio de projetos de extensão e hospitais universitários.

6 - Está sob risco o artigo 55 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação que coloca como responsabilidade da União assegurar os recursos para manter e desenvolver o ensino superior.

7 - Educação não é gasto, mas sim investimento. A importância do investimento na educação em todos os seus níveis é reconhecido por várias instituições multilaterais, como a ONU, que estipulou como um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, "assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos". Recentemente, o governo alemão, por exemplo, anunciou o investimento de 160 bilhões de euros entre 2021 e 2030 para universidades e centros de pesquisa.

8 - A educação foi a que teve o maior corte do governo Bolsonaro, são aproximadamente R$ 6 bilhões. O governo cortou ainda R$ 2 bilhões de projetos de ciências e tecnologia, desenvolvidos graças às universidades públicas.

9 - O sucateamento da educação pública na verdade tem o objetivo de ampliar a margem de lucro de grandes conglomerados internacionais, transformando a educação em mercadoria para venda, compra e geração de lucro.

10 - Na educação básica, os cortes prejudicam também os programas com foco na permanência de alunos de baixa renda, por exemplo, na melhoria da  merenda e do transporte escolar

Edição: Mauro Ramos

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Com pautas difusas e autoritárias, atos pró-Bolsonaro são menores que o prometido

Convocatória falava em "parar o Brasil" com atos "do Oiapoque ao Chuí"; números são inferiores aos do 15M, pela educação.

Manifestantes pressionaram o STF e o Congresso e pediram aprovação da reforma da Previdência e do pacote "anticrime" de Sergio Moro / Nelson Almeida / AFP.
José Eduardo Bernardes
Brasil de Fato | São Paulo

Com pautas difusas e tons de autoritarismo, manifestantes pró-Bolsonaro (PSL) se reuniram em cerca de 130 cidades do país neste domingo (26) para demonstrar apoio ao presidente da República. Embora a convocatória nas redes sociais falasse em "parar o Brasil" com atos "do Oiapoque ao Chuí", os números foram inferiores à greve nacional do último dia 15 em defesa da educação pública, que mobilizou 152 municípios.

Grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem pra Rua, que lideraram as manifestações pelo golpe contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) e ajudaram a eleger Bolsonaro nas ruas, não compareceram aos protestos deste domingo. Eles reuniram setores com pautas mais conservadoras, como o Direita São Paulo, Revoltados Online e o Clube Militar. Entre as demandas apresentadas na rua, a aprovação da reforma da Previdência e do pacote "anticrime" do ministro Sergio Moro. As palavras de ordem mais agressivas eram direcionadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao chamado "Centrão", ala que reúne partidos de centro-direita no Congresso Nacional.

Ao todo, houve manifestações em 22 estados e no Distrito Federal (DF) – os protestos contra os cortes na educação, no dia 15, ocuparam as ruas de todos os 26 estados brasileiros e mobilizaram mais de um milhão de pessoas.

Segundo os manifestantes, o governo não sofre de inaptidão e ineficiência. Para eles, Bolsonaro não consegue reverter a crise econômica e institucional porque não há harmonia entre os poderes, que impossibilitam a efetivação dos planos do presidente e sua equipe ministerial. Aos gritos de "mito", os apoiadores do presidente criticaram o vice, Hamilton Mourão, e enalteceram Olavo de Carvalho, considerado o "guru do bolsonarismo".

Os atos aconteceram em algumas das maiores cidades do país desde as 10 horas da manhã. Em Brasília (DF), se reuniram 10 mil manifestantes, segundo a Polícia Militar (PM). Em Belém (PA), foram três mil. Em Belo Horizonte (MG) e no Rio de Janeiro (RJ), não foi divulgada uma estimativa oficial de público.

Em São Paulo (SP), Recife (PE), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR), os atos começaram à tarde, a partir das 14 horas. A Avenida Paulista, na maior cidade do Brasil, recebeu o maior protesto do dia.

Confira, em instantes, o relato completo da manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo (SP).

Edição: Daniel Giovanaz

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Não existe combate a privilégios na reforma da Previdência

O mito construído em torno dos servidores "privilegiados" serve ao governo para convencer a sociedade em dar o apoio para a aprovação dessa "deforma". Todos os dias é possível ver ou ler notícias que sustentam esse discurso, mas que na prática não existe.

Por Pedro Armengol de Souza

Via - Rede Brasil Atual
Em sua campanha para conquistar o apoio da população brasileira para aprovação da PEC 6/19, da reforma da Previdência, que prevê o fim do modelo de Previdência Pública no Brasil, o governo de Jair Bolsonaro tem adotado o combate a privilégios como uma das principais narrativas. Mas, esse discurso não se sustenta e com alguns dados conseguimos desmontar o que consideramos ser apenas uma máscara, uma farsa; uma mentira montada para convencer desavisados.

Nós servidores públicos já passamos nos últimos anos por mais de sete reformas. A reforma contida na EC 70/12 colocou todos do setor público na mesma regra dos trabalhadores da iniciativa privada que assegura o teto previdenciário do INSS, hoje em R$ R$ 5.839,45.

Outro dado, disponível no Portal da Transparência e pelo próprio governo que disponibiliza tabelas salariais do setor público, é que a maioria dos servidores públicos no Brasil ganha abaixo do valor desse teto, ou seja, sequer seria financeiramente afetada pela reforma proposta. Os demais servidores tem como opção aderir a um fundo complementar previdenciário (Funpresp), caso queiram perceber uma aposentadoria acima do teto estabelecido pelo INSS.

Causa mais estranheza ainda que o governo sustente esse discurso do combate aos privilégios quando se observa a reforma da Previdência dos militares, enviada à parte ao Congresso Nacional. A proposta é no mínimo decepcionante para quem espera um combate a privilégios e trouxe até mesmo um plano de carreira que garante reajustes de mais de 124% aos militares, enquanto aos servidores civis não há sequer reajuste previsto.

Enquanto tenta convencer sociedade de que combate privilégios sem efetivamente os combater, o governo corre para aprovar uma reforma que, na verdade, propõe jogar a classe trabalhadora num modelo de capitalização, sem regras claras, e ainda retira da Previdência pública seu caráter de tripé social.

Os dados até aqui conhecidos terminam de colocar em cheque esse discurso. Dos cerca de R$ 1,2 trilhão que governo diz pretender economizar, 83% sairão de quem recebe até dois salários mínimos de aposentadoria. Além disso, preocupa que o custo de transição não tenha sido citado até hoje pelo governo que parece mesmo desconhecer os números. No entanto, países que adotaram o regime de capitalização e se arrependeram mostram que esse custo nos anos seguintes foi maior do que aquilo que se previa economizar.

Há outras críticas que precisam ser consideradas. Para alguns servidores há um prejuízo principalmente com um injusto adiamento do direito de se aposentar que poderia impactar no tempo de serviço já que pela proposta da PEC 6/19 as regras de transição seriam todas desconsideradas. Além disso, há situações onde poderia haver o chamado confisco salarial com servidores podendo ser tributados em até 22%.

Mas, a realidade no setor público ainda é de carreiras desestruturadas, tabelas salariais engessadas e desvalorizadas, falta de infraestrutura e de investimento e até mesmo ausência do direito à negociação coletiva.

O mito construído em torno dos servidores "privilegiados" serve ao governo para convencer a sociedade em dar o apoio para a aprovação dessa "deforma". Todos os dias é possível ver ou ler notícias que sustentam esse discurso, mas que na prática não existe.

Por isso, sabedores de que os impactos mais graves e profundos serão sentidos pela população mais vulnerável e pobre, dos trabalhadores que não darão conta de contribuir por 40 anos para garantir aposentadoria integral e também das incertezas que o modelo de capitalização lançará as gerações futuras, somos contra essa reforma.

Nós do setor público vamos nos engajar com outras categorias na greve geral convocada pelas centrais sindicais para o dia 14 de junho. Não há conforto para ninguém neste momento, todos nós estamos ameaçados. É hora de unir os trabalhadores do campo e das cidades em defesa de um dos maiores bens que temos que é o direito a uma aposentadoria digna. Não vamos abrir mão disso.

*Pedro Armengol de Souza é servidor público federal do recentemente extinto Ministério do Trabalho, diretor da Condsef/Fenadsef (Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal) que representa 80% dos servidores do Executivo Federal no Brasil e secretário adjunto de Relações de Trabalho na CUT. 

 Fonte: Diap (publicado originalmente no jornal Valor Econômico, em 13.05,2019)
Via - Portal Vermelho

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Cadê os monarquistas para impedir que o Banco do Brasil vire Bank of America?

Criado por D. João em 1808, o banco brasileiro será rifado por Bolsonaro com a anuência dos próprios descendentes da família real.

LITOGRAVURA DO BANCO DO BRASIL POR PIETER GOTFRED BERTICHEM, NA RUA DA ALFÂNDEGA, RIO,, 1854

Em Dallas, na semana passada, Paulo Guedes, ministro da Economia do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro, declarou que pretende anexar nosso Banco do Brasil ao Bank of America. “Vamos procurar fazer uma fusão entre o Banco do Brasil e o Bank of America. São bancos bons para empréstimos agrícolas. Já fizemos uma nova relação entre a Embraer e Boeing. Vamos construir empresas transnacionais. Vamos ultrapassar as nossas fronteiras na procura de melhores oportunidades econômicas”, disse o ministro, na tradução feita pela NBR.

É curioso ver como não houve nenhuma reação dos setores conservadores e ditos “patriotas” contra a intenção do ministro de transformar o Banco do Brasil, uma instituição com mais de 200 anos de história, na filial de um banco privado norte-americano. Mais espantoso ainda: como é que os monarquistas, aliados de Bolsonaro, não deram nem um pio em favor do banco criado pelo príncipe regente D. João em 1808, quando a família real se mudou para o Brasil? Por que o “príncipe” Luiz Philippe de Orleans e Bragança, deputado federal pelo partido do presidente, não defende uma instituição criada pelos seus antepassados?

Havia apenas três bancos emissores no mundo –na Suécia, na França e na Inglaterra– quando D. João decidiu fundar o Banco do Brasil. É bem verdade que, desde o princípio, os Bragança nunca tiveram muito amor pela instituição que criaram. Quando a família real retorna para Portugal, em 1821, promove um verdadeiro desfalque no banco, levando absolutamente todos os metais e joias que haviam nos cofres, deixando os clientes que confiaram suas economias à entidade literalmente a ver navios. O banco acabou fechando em 1829, mas foi recriado em 1853 pelo imperador Dom Pedro II, tetravô do “príncipe” bolsonarista atual.

Em julho daquele ano, Dom Pedro sanciona a Lei nº 683, que cria o Banco do Brasil, iniciativa do Presidente do Conselho de Ministros e Ministro da Fazenda, Joaquim José Rodrigues Torres, futuro Visconde de Itaboraí. Seus novos estatutos foram aprovados pelo decreto n. 1.223, de 31 de agosto de 1853, que autorizou a fusão do Banco Comercial do Rio de Janeiro, criado em 1838, e do Banco do Brasil, fundado em 1851 por Irineu Evangelista de Souza, o futuro barão de Mauá, reunindo, assim, os capitais necessários para sua abertura. É este o Banco do Brasil que Paulo Guedes quer transformar em Bank of America.

Os monarquistas parecem não estar nem aí para isso, embora durante as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff andassem pela avenida Paulista e outros pontos de encontro da extrema direita distribuindo uma “cartilha monarquista” onde se gabavam dos “benefícios trazidos pelo império ao país”, como… o Banco do Brasil, a Casa da Moeda e a Caixa Econômica Federal, outros alvos da sanha privatista de Guedes.



Que “patriotas” são estes que não defendem o patrimônio brasileiro? Que “patriotas” são esses que aceitam ver o Banco do Brasil transformado em Bank of America? E que monarquistas são esses que não saem em defesa de uma instituição criada por seus próprios antepassados?

quarta-feira, 22 de maio de 2019

"Vamos voltar a uma época em que não tinha nem giz", diz ex-reitor da UFPE

Amaro Lins faz uma análise do crescimento das universidades nos últimos anos e dos cortes anunciados pelo MEC.

Amaro Lins foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco e secretário de educação superior do Ministério da Educação / Foto: UFPE
Por Daniel Lamir

Amaro Lins foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco de 2003 a 2011, secretário de educação superior do Ministério da Educação nos anos de 2011 e 2012 e hoje é professor do Departamento de Engenharia Civil da UFPE. Em entrevista ao Brasil de Fato, o professor fez uma análise das mudanças feitas pelo Ministério da Educação na gestão do ministro Abraham Weintraub e do presidente Jair Bolsonaro.

Brasil de Fato: O ministro Abraham Weintraub justificou os cortes na educação superior pública afirmando que o que é feito nas universidades brasileiras é balbúrdia. Nesse sentido, o que o professor entende como balbúrdia?

Amaro Lins: É interessante que essa mesma pergunta foi feita ao ministro da educação. E para ele, balbúrdia é a universidade promover o debate, a integração, a busca da compreensão da diversidade que nós temos na sociedade brasileira. Ele considera balbúrdia a universidade discutir política. O que nós, povo brasileiro, percebemos, é que balbúrdia é essa transformação que estão fazendo para voltar à idade média, à irracionalidade. A universidade é o lugar por excelência da diversidade. Se o ministério chama isso de balbúrdia, é porque acho que chegamos no fundo do poço. As universidades e a educação básica precisam estar à serviço do desenvolvimento nacional, que é econômico, mas com forte impacto no social.

Como analisar esses cortes propostos pelo MEC?

Era preciso dar continuidade a esse período fértil que vinha passando a educação brasileira, especialmente nos últimos 15 anos. Nós estávamos passando por um processo de transformação na educação. Esse corte agora é um suicídio e todo nós sabemos e o governo também sabe. O governo disse que investiria e melhoraria a educação básica, e, olhando para a tabela de cortes, a educação básica teve um corte de 39% a 68% do total de investimentos. Onde são esses cortes? na construção de novas creches, na melhoria das salas de aula, na formação de professores. Isso tem um impacto tremendo. Os Institutos Federais com corte de 35% e a as universidades de 30%. Isso vai paralisar as universidades. Nós vamos voltar a uma época que não vai ter nem giz.

Quais podem ser os impactos para o funcionamento das universidades, especialmente em relação à infraestrutura e o desenvolvimento de projetos?

Esse corte vai afetar fortemente a estrutura das universidades. Ele vai interromper os projetos de extensão, que são voltados para a sociedade e será um corte importante nas pesquisas que estão em andamento. Se você para uma pesquisa por um ano ela não retorna do ponto onde parou. O mesmo acontece se reduzem os investimentos nos alunos de baixa renda, eles não tem mais como frequentar a universidade porque não tem condições subsistir. Os programas de bolsas de manutenção vão parar. Algumas áreas são mais críticas, como as licenciaturas. Você precisa formar bons professores, que é onde tudo começa. Aí o governo “Ah, vamos investir na educação básica” mas a educação básica começa na formação de professores, e é a universidade que faz isso. No geral, esse desinvestimento na universidade resulta num crescimento e desenvolvimento menor, no agravamento da situação social. Foi um esforço enorme para que a educação chegasse aos jovens e aos adultos e isto está sendo jogado no lixo. Isso é motivo suficiente para as pessoas saírem para as ruas. O nosso futuro está correndo um grave risco. Cabe a cada um de nós se posicionar para que esse sucateamento não seja efetivado e que possamos retomar aquele crescimento virtuoso com o avanço da educação, ciência e tecnologia.

Ultimamente, Bolsonaro vem questionando a relevância das ciências humanas. Como podemos analisar essa movimentação?

A universidade deve representar o conjunto de áreas do conhecimento para formar cidadãos e cidadãs conscientes do seu papel na sociedade e com capacidade de intervir na realidade do seu país. Para isso é preciso que exista uma harmonia na formação de diversas áreas. A tecnologia, por exemplo, tem feito coisas assombrosas, até o aumento da expectativa de vida, mas essa tecnologia precisa de direcionamento, ser aplicada de maneira adequada. Mas como isso vai acontecer se as pessoas não tem uma formação humanística, em sociologia e filosofia? Se não houver essa capacidade de educação, vira um caos. Paulo Freire sempre ressaltou o papel da educação para a autonomia e a cidadania, é pra isso que serve a educação. Quando se retiram os recursos da área de humanas, isso gera conflitos, porque estará sendo feita uma formação defeituosa. Essa ideologização absurda na universidade não existe. Essas pessoas provavelmente não tiveram uma formação humanística. Elas vivem numa bolha, e numa bolha inclusive de grande perversidade.

Edição: Monyse Ravenna

terça-feira, 21 de maio de 2019

O dever de desobedecer

A Organização das Nações Unidas (ONU) consagra o 15 de maio como Dia Mundial da Objeção de Consciência. Infelizmente, poucas pessoas sabem do que se trata. Objeção de consciência é a atitude de quem, por convicção religiosa, social ou política, se nega a pegar em armas e a participar de guerras e praticar atos violentos. Supõe desobediência a leis que ferem a consciência da pessoa ou a ética de um grupo.

No Brasil dos tempos da ditadura, o arcebispo Dom Hélder Câmara, escutado no mundo inteiro, era censurado e considerado subversivo / Reprodução/CNBB.
Por Marcelo Barros

O Direito internacional ensina que toda pessoa tem o direito e o dever de desobedecer, quando a ordem dada se opõe à sua consciência. Pelo fato de seguir ordens, ninguém deixa de ser responsável pelo que faz. Os tribunais internacionais condenaram soldados nazistas que, cumprindo ordens de oficiais superiores, torturaram ou mataram pessoas.

Obedecer vem do verbo latino obaudire que significa “escutar interiormente”. Então, a verdadeira obediência é a capacidade de escutar a palavra do outro, levá-la a sério, mas, depois, agir de acordo com a sua consciência. Ninguém deve cumprir ordens iníquas.

Em Israel, jovens recrutados ao serviço militar invocam a objeção de consciência para se negar a combater palestinos ou a queimar casa de pessoas pobres, ato comum perpetrado pelas tropas de ocupação israelita. Nos Estados Unidos, por objeção de consciência, muitos jovens se negam a invadir outros países e a agredir negros e migrantes pobres nas ruas. Diante do Congresso, militantes pacifistas foram presos por rasgarem publicamente o documento de incorporação militar.

Em alguns países, cidadãos exigem saber a destinação exata do pagamento de seus impostos e não aceitam pagar impostos se o dinheiro for aplicado em sociedades que fabricam armas ou investem em negócios antiéticos. Em todo o mundo, há consumidores que não compram carne de fazendas que destroem florestas e dizimam a natureza.

De fato, no decorrer da história, a humanidade tem progredido mais pela ação de pessoas que desafiaram as leis do que através daquelas que simplesmente seguem os caminhos convencionais. Por muito tempo, homens e mulheres, admirados no mundo inteiro e premiados com o Nobel da Paz, em seus países eram considerados como rebeldes e desobedientes. No passado, Gandhi e Martin Luther King foram presos e condenados como desobedientes às leis. Na África do Sul, Nelson Mandela passou 20 anos na prisão como subversivo. Para os budistas tibetanos, o Dalai Lama, é a reencarnação do Buda da Compaixão. No entanto, para o governo chinês, é um dissidente, desobediente às leis. Na América Latina, o prêmio Nobel da Paz foi dado a Rigoberta Menchu, índia que, durante  anos, viveu exilada do seu país e a Adolfo Perez Esquivel, advogado que, por muito tempo, foi ameaçado de prisão na Argentina. No Brasil dos tempos da ditadura, o arcebispo Dom Hélder Câmara, escutado no mundo inteiro, era censurado e considerado subversivo.

Em 1980, em El Salvador, Monsenhor Romero, canonizado como santo pelo papa Francisco, poucos dias antes de ser assassinado pela ditadura militar do seu país, pregava do alto do seu púlpito: “Peço aos soldados que desobedeçam e parem a violência, Não matem. Não torturem. Não cometam injustiças”.

Atualmente, de tal modo, o modelo democrático está em crise que, em países como os Estados Unidos, a Itália, Argentina e Brasil, o governo é ocupado por pessoas que se revelam sem escrúpulos. Não disfarçam o ódio, a discriminação a pessoas e grupos diferentes e sua admiração à violência. O presidente da República propõe que todas as pessoas possam ter armas, pais ensinem crianças a atirar e policiais tenham direito de matar  quem lhes pareça suspeito. Por todo o país, se espalham atos de racismo, de violência contra a mulher e contra minorias sexuais. O ministério da educação pretende proibir o ensino da Filosofia e da Sociologia nas universidades. Nesse contexto, em nome da humanidade, todo cidadão tem obrigação de se posicionar contrário a que esses projetos perversos se concretizem. Não basta ser contra. É preciso lutar contra a loucura dessa farsa produzida pela Globo e outros grandes meios de comunicação que nos roubaram a democracia e nos conduziram à barbárie. 

A violência, cometida por uma pessoa individual, ou pelo Estado, nunca construirá um mundo de paz e justiça. Nos mais diversos continentes, grupos religiosos e civis se negam a pegar em armas e exigem substituir treinamentos militares por ações pacíficas. Fazem serviço civil no lugar do serviço militar obrigatório e a lei reconhece esse direito.

A Constituição brasileira garante aos jovens o direito da objeção de consciência. Ninguém pode ser obrigado a fazer serviço militar ou, se é policial praticar violência contra outra pessoa. A ONU consagra essa semana para divulgar essa informação e tornar conhecido o direito que toda pessoa tem de se negar a obedecer a ordens injustas e iníquas. 

Mais do que qualquer poder social e político, religiões e Igrejas deveriam reconhecer o direito à dissidência e à objeção de consciência diante de um poder religioso autoritário ou, por qualquer razão, injusto. Conforme a Bíblia, quando as autoridades de Jerusalém proibiram os apóstolos a falar no nome de Jesus, estes responderam: “Entre obedecer a Deus e aos homens, é melhor obedecer a Deus. Por isso, nós desobedecemos a vocês”(At 5, 29).

Edição: Marcos Barbosa

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Lula está apaixonado e tem planos de se casar com Janja, diz colunista

Após visita ao ex-presidente, o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira anunciou a notícia de que Lula está apaixonado e quer se casar.


Lula está apaixonado e tem planos de se casar. A informação foi dada pelo economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, após visitar o ex-presidente na prisão, na última quinta-feira (16). Amiga de Lula desde os tempos das caravanas da cidadania, a socióloga Rosângela, também chamada de Janja, é namorada de Lula há cerca de um ano.

De acordo com a coluna de Guilherme Amado, da revista Época, Janja é paulista, mas vive em Curitiba, era amiga de Lula e teriam começado a namorar antes do ex-presidente ser preso. Ela trabalha em Itaipu Binacional há 16 anos, e visita com frequência Lula na sede da Polícia Federal, em Curitiba.


sexta-feira, 17 de maio de 2019

Sob pretexto de desburocratizar indústria, Bolsonaro pode elevar índice de acidentes

Presidente quer reduzir normas de segurança no trabalho; país registrou 4,5 milhões de acidentes de trabalho em 7 anos.

Desburocratizar normas de segurança e saúde no trabalho podem aumentar acidentes e precarização no setor / Pixabay
Luciana Console
Brasil de Fato | São Paulo (SP)

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou que o governo federal vai realizar mudanças nas Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde no Trabalho à partir de junho. A informação foi divulgada na última segunda-feira (13) pela rede social do presidente sob a justificativa de que as leis estariam defasadas e travando o desenvolvimento da indústria. O objetivo do governo é desburocratizar o setor e, com isso, aumentar a produtividade.

Para repercutir o anúncio do presidente e suas possíveis consequências, o Brasil de Fato conversou com o supervisor do Núcleo de Políticas Públicas do Dieese, Nelson Karam, considerado um especialista na área. Segundo ele, o discurso de que as normas regulamentadoras estão desatualizadas e brecam a indústria é equivocado.

"O primeiro esclarecimento é que isso já vem sendo feito, então não é que essas normas ficaram paradas no tempo. Elas são renovadas, atualizadas, adaptadas continuamente. Em segundo lugar, essa mudança nas normas passam sempre por um olhar tripartite, uma comissão composta por representações de governos, trabalhadores e empresários, que sentam, pactuam e discutem as características dessas normas, as modificações que necessitam ser feitas. Então, não é uma obra de governo fazer essa atualização. A menos que o governo queira quebrar uma regra na concessão dessas normas". 

O especialista aponta que o governo tem trabalhado na ideia de que uma regulação traz dificuldade para as empresas produzirem e eleva os custos de produção. Porém, em um país onde os acidentes de trabalho tem números alarmantes, a flexibilização das Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde trazem como principal consequência a fragilização do trabalhador e aumento da precarização do trabalho. Nos últimos sete anos, foram registrados 4,5 milhões, dos quais 16,9 mil foram fatais.

Além disso, o próprio Estado também sofre as consequências de um ambiente de trabalho inseguro, na dimensão da saúde pública com atendimento dos acidentados pelo SUS e pensões pelo INSS.

Karam também explica que ambientes de trabalho mais seguros significam a possibilidade de produção com mais eficiência e produtividade.

"O que nos preocupa neste momento é que, ao que tudo indica, a intenção do atual governo ao rever essas normas não vai na linha de proteger o trabalho, a produtividade das empresas. Ao contrário, o governo sinaliza e olha pra essas normas unicamente como uma barreira de custo para as empresas".

Recentemente, o Brasil assistiu a casos onde a diminuição dos custos empresariais se deu justamente nos setores de segurança, como é o caso do crime da Vale em Brumadinho (MG), onde mais de 200 funcionários foram soterrados pela lama do rompimento da barragem da mineradora. O caso é considerado o maior acidente de trabalho do Brasil.

Karam também dá como exemplo de acidentes trabalhistas o uso do amianto no Brasil, produto químico altamente cancerígeno e proibido em diversos países por causar morte dos trabalhadores que manipulam o material. Além disso, ele cita a liberação do uso de agrotóxicos já banidos internacionalmente por causar malefícios à saúde dos trabalhadores do campo.

Para ele, a melhor saída para a retomada da produtividade industrial está longe de ser “simplificar” as normas de segurança. Ele aponta que a manutenção é necessária para acompanhar as mudanças do mercado e das formas de trabalho, mas que é preciso debate.

“As normas regulamentadoras tem que caminhar para incorporar essa nova dimensão do trabalho, então tem que ser continuamente atualizadas. Agora simplesmente em uma canetada querer burocratizar um único sentido de reduzir custos para empresa e expor o trabalhador não é a direção correta nem mais adequada para um país que busca caminhar para retomada do crescimento”, finaliza.

 Edição: Aline Carrijo

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Cadê os “imbecis”, Bolsonaro? Avenida Paulista é tomada pelo maior protesto desde os do impeachment

Bolsonaro conseguiu, em cinco meses de governo, a maior manifestação na Paulista desde as primeiras pedindo o impeachment de Dilma.


Quem diz isso não é o DCM, mas o MBL.

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Governo se embabanou todo com a história da balbúrdia, ficou uma semana em cima de uma narrativa falsa e esquerda soube aproveitar, mesmo que com distorção, a oportunidade pra fazer uma de suas maiores mobilizações de rua desde o começo do impeachment.
445 pessoas estão falando sobre isso

Publicado por Kiko Nogueira
No DCM

Os números ainda não estão fechados, mas calcula-se em pelo menos 100 mil.

Os “imbecis”, os “idiotas úteis”, a “massa de manobra” lotou a avenida de cabo a rabo, gerando imagens arrebatadoras.

O Tsunami varreu o Brasil todo, mas poucos símbolos são tão fortes quanto os que você vê neste artigo em fotos da Mídia Ninja, do artista plástico Tchelo Nogueira e do jornalista Pedro Zambarda, do DCM.

Teve até boneco do Bolsonaro, o bozoleco.

Enquanto a multidão se reunia e cantava e confraternizava, com três caminhões de som, o ministro da Educação tentava justificar os cortes na Câmara.

Atacou deputados, assassinou a concordância nominal, usou um powerpoint, fez analogias idiotas com somas de 2 mais 2.

Num piro, deu um jeito de meter Lula no meio de uma conversa maluca sobre a “carteirinha azul” que ele teve como bancário ou algo assim.

Os estudantes e professores querem Bolsonaro fora da presidência.

Noves fora tudo, estão ajudando o Brasil a se curar de uma doença.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Protestos pela educação revelam ‘Brasil muito maior que Bolsonaro’ nas redes sociais

O Brasil emplaca no Twitter nesta quarta-feira (15) pelo menos três termos relacionados à onda de protestos contra o bloqueio nos orçamentos de institutos e universidades federais anunciado pelo Ministério da Educação (MEC). #TsunamiDaEducação, #TodosPelaEducação e #NaRuaPelaEducação alcançam os trending topics na rede utilizada como um dos principais meios de comunicação pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).



Publicado na Rede Brasil Atual

Na esteira da repercussão de diversos atos que estão ocorrendo no país, além de outros previstos e da paralisação de escolas e universidades nesta quarta, o Ministério da Educação divulgou nota afirmando estar aberto ao diálogo para “debater sobre soluções que garantam o bom andamento dos projetos e pesquisas em curso”, e justificou-se alegando que foram cortadas “despesas discricionárias”.

A explicação foi rebatida pelo coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara. No Twitter, ele classificou a declaração como “covarde”. “Quero saber se Weintraub aceita ficar sem água, luz e segurança, por exemplo. As universidades e escolas federais logo estarão nessas condições”, apontou o coordenador, referindo-se ao ministro da Educação.

Lembrando de outra declaração de Weintraub, referente à “balbúrdia” em universidades, a cantora Maria Rita reforçou que “balbúrdia é quando não tem verba pra manutenção do laboratório, ministro”.

Outra declaração, esta do próprio presidente também causou polêmicas neste dia de protestos pelo país: Bolsonaro chamou os estudantes de “idiotas úteis”. Nas redes sociais, a deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) considerou a fala um ataque aos brasileiros: “As ruas estão cheias de brasileiros legitimamente protestando contra os cortes na educação. Que tipo de governante se refere assim ao seu próprio povo? O senhor é uma vergonha”.

Apesar das declarações do presidente, há um reconhecimento maior aos atos em defesa da Educação no país, como ressalta o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad – ministro da Educação (2005-2012) responsável por políticas como o ProUni: “Um país que se sonha grande precisa de uma educação de qualidade, republicana, precisa de ciência, de pesquisa, em todos os campos do conhecimento. Não estamos enfrentando uma batalha política. Estamos diante da defesa de um marco civilizatório”.


A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que, como Haddad, disputou as últimas eleições presidenciais, manifestou pelas redes seu apoio ao Dia Nacional de Greve na Educação, considerando as iniciativas de Bolsonaro como “agressões ao bom-senso”. “Esse é o governo do fim: vamos acabar com isso e com aquilo, extinguir, cortar, encerrar. Nenhuma política construtiva, só o desmonte do que existia antes”, analisa.

O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, também ex-presidenciável pelo Psol, descreveu os atos como um “dia de aulas nas ruas”, e criticou a postura do presidente lembrando que “O Brasil é muito maior que Bolsonaro”.

Via - DCM



Cruz e Sousa, "Poeta Negro", um dos inventores de nossa poesia moderna

João da Cruz e Sousa nasceu numa fazenda em Nossa Senhora do Desterro (SC), em 1861, filho de escravos que receberam alforria. Poeta e jornalista, introdutor do Simbolismo no Brasil, dirigiu o jornal Tribuna Popular, no qual publicou artigos contra a escravidão e o racismo.

Dois conhecidos retratos de Cruz e Sousa: Poeta foi reconhecido pelas principais vozes de nossa historiografia literária

Por Claudio Daniel

Casou-se com Gavita Gonçalves, com a qual teve quatro filhos, todos mortos precocemente, de tuberculose, o que levou a mãe à loucura. A vida trágica do poeta, que revolucionou a literatura brasileira, encerrou-se em 1898, com apenas 36 anos de idade.

Cruz e Sousa, considerado o maior poeta do movimento simbolista no Brasil, publicou em 1893 o livro Broquéis (1893) introduziu na poesia brasileira o novo estilo. Esse livro estranho, inventivo, de uma beleza nervosa, é diferente de tudo o que foi publicado antes, entre nós. Conforme José Aguinaldo Gonçalves, o poeta simbolista, “fascinado pelo mistério e pelo caráter fluídico das coisas, aprofundou o universo das sugestões, da ambiguidade, da abstração mística, do sentimento sensorial do mundo. Para isto, vai criar um universo vocabular próprio, voltado para a neblina, o onírico, o vaporizante, o lactescente, o litúrgico, o etéreo, o plangente, o soluçante, o errante, o luminoso, as brumas e o encantatório transcendente”.

O poeta se voltava contra a objetividade naturalista, a descrição minuciosa de detalhes, em favor de uma construção de imagens “vagas, fluidas, cristalinas”, próximas a um certo abstracionismo. Cruz e Sousa seguiu, em sua mirada de miragens, a pista indicada por Mallarmé: “Nomear um objeto significa eliminar três quartos do prazer de adivinhá-lo. Sugerir, eis o sonho”. Essa é uma linha paralela à técnica de acordes isolados na música de Débussy e ao pontilhismo de Pissaro e Seurat, na pintura, que prenunciavam a superação da tonalidade e do figurativismo por novos modos de composição.

O talento plástico de Cruz e Sousa é evidente sobretudo em Missal, coletânea de poemas em prosa publicada no mesmo ano que Broquéis. Assim, na peça intitulada Navios, o poeta nos diz: “Praia clara, em faixa espelhada ao sol, de fina areia úmida e miúda de cômoro. Brancuras de luz da manhã prateiam as águas quietas, e, à tarde, coloridos vivos de ocaso as matizam de tintas rútilas, flavas, como uma palheta de íris”. Em outra peça, Bêbado, lemos: “O mar tinha uma estranha solenidade, imóvel nas suas águas, com uma larga refulgência metálica sobre o dorso. Da paz branca e luminosa da lua caía, na vastidão infinita das ondas, um silêncio impenetrável. E tudo, em torno, naquela imensidade de céu e mar, era a mudez, a solidão da lua...”. O efeito cromático é mais eficaz com o recurso de sonoridades raras, pois é a música que melhor expressa o sentimento de vago, difuso, diáfano, despertando a intuição e o sonho. Para Edgar Allan Poe, poesia é a “construção precisa do impreciso”, “criação rítmica da Beleza”, e, seguindo nessa trilha, Verlaine irá reivindicar “a música antes de tudo”. Cruz e Sousa, afinado com seus mestres espirituais, irá fazer da melopéia um dos pilares de sua filosofia da composição e o fio condutor de todas as relações sinestésicas.

Em Outras Evocações, o poeta nos diz: “O estilo é o sol da escrita. Dá-lhe eterna palpitação, eterna vida. Cada palavra é como que um tecido do organismo do período. No estilo há todas as gradações de luz, toda a escala dos sons. (...) A palavra tem a sua autonomia; e é preciso uma rara percepção estética, uma nitidez visual, olfativa, palatal e acústica apuradíssima para a exatidão da cor, da forma e para a sensação do som e do sabor da palavra”. As palavras, em sua corporalidade, e não apenas como conceitos, têm força de expressão mágica, evocatória, como notou Mallarmé; por essa razão, diz o autor de Brise Marine, o poeta deve buscar “o verso que, de diversos vocábulos, refaz uma palavra total, nova, estranha à língua e como que encantatória”. É dessa construção do estranhamento, do inusitado, que advém a experiência do êxtase estético, que Joyce chamava de epifania. Cruz e Sousa, como um taumaturgo morfológico, criou, em seu cadinho de quintessências, um novo vocabulário, mesclando termos em neologismos insólitos, tais como: absíntica, nirvânica, pantérico, tantálico, beethovínica, estradivário, torcicolosamente. Além disso, assimilou um léxico luxuoso e alucinado, com laivos gongorinos: neblinoso, alampadário, flamívona, alabastrino, espumaroso, empurpuresce. Com esse livro mágico de sortilégios e encantações, Cruz e Sousa conduziu aliterações (“suspira, sofre, cisma, sente, sonha”), anagramas (“areia úmida e miúda”), paronomásias (“torvas e turvas”, “gralha, grasma e grulha”), assonâncias (“Das tuas asas serenas”), anáforas (“só fúria, fúria, fúria, fúria, fúria”) e outras magias com a habilidade de um mestre consumado.

A poética de Cruz e Sousa não teve uma evolução estética linear; ela oscilou entre a abstração e a caricatura, a elipse e o discurso, a brevidade e o jorro verbal, o gosto refinado e o kitsch. De Broquéis a Faróis, o poeta mudou a sua maneira de olhar para os objetos, e o resultado é uma nova forma de fanopéia, menos etérea, mais densa. Como nos diz Roger Bastide, o poeta “tinha começado pela dissolução das formas exteriores dos objetos, diluindo-os na bruma do sonho, e termina pela volta à matéria, porém matéria sutilizada e preciosa, cintilação de cristal ou de joia, certamente encarnação da Forma inteligível, mas encarnação em algo que nada mais tem de sensual e que nada retém do calor do concreto. Destruição das formas (no plural) nas cerrações da noite, cristalização da Forma (no singular) ou solidificação do espiritual numa geometria do translúcido, tais são, afinal, os dois grandes processos antitéticos e complementares ao mesmo tempo, que permitiram a Cruz e Sousa trazer aos homens a mensagem da sua experiência e apresentá-la em poesia de beleza única, pois que é acariciada pela asa da noite e, todavia, lampeja com todas as cintilações do diamante”.

Faróis, publicado em 1900 (edição póstuma), é um livro de imagens sombrias que têm a marca do triste fado do poeta: Cruz e Sousa, o filho de escravos, nascido na cidade de Desterro (hoje Florianópolis), sofreu o preconceito racial, a miséria e, nos seus últimos anos, a morte do pai e a loucura da esposa, Gavita. O pessimismo do autor, seu “tantalismo dantesco”, expressou-se aqui em poemas longos, narrativos, retórico-discursivos, com tinturas expressionistas que recordam por vezes a poesia de Trakl e a pintura de Munch: “Os miseráveis, os rotos/ são as flores dos esgotos./ São espetros implacáveis/ os rotos, os miseráveis”; “Coalha nos lodos abjetos/ O sangue roxo dos fetos”; e, com a terrível veemência dos freaks, dos danados: “Vermes da inveja, a lesma verde e oleosa,/ Anões da Dor torcida e cancerosa,/ Abortos de almas a sangrar na lama”.

O tom realista, sarcástico, que abusa do grotesco, aproxima-se, por vezes, do kitsch. O uso excessivo de adjetivos, por sua vez, é outro aspecto a ser observado: em Música da Morte, por exemplo, há nada menos que 20 adjetivos nos 14 versos do soneto! Faróis é um livro irregular; não tem a mesma alta qualidade de Broquéis. É o testemunho dramático dos insucessos de seu autor, mais do que ninguém, um “gauche na vida”. Deve-se destacar, no entanto, o poema de abertura, Recolta de Estrelas, dividido em dísticos de sete sílabas, em que o poeta usou nada menos que 42 rimas diferentes; o poema de construção semelhante intitulado Litania dos Pobres; Tédio, talvez seu poema mais próximo ao expressionismo; o conhecido Violões que Choram; e Flores da Lua, em que há ecos distantes de Laforgue (que escreveu Fauna e Flora da Lua). Faróis, apesar dos desníveis de escritura, é um livro que merece ser lido, pois é a gênese da mórbida e bela antiepopéia de Augusto dos Anjos.

Em Últimos Sonetos, talvez a mais bem acabada de suas obras, o poeta, já fatigado da existência, aborda o anseio de união mística com o Absoluto, Nirvana búdico, que representa o fim do ciclo de intermináveis transmigrações. Neste livro admirável, Cruz e Sousa levou à perfeição o soneto como gênero literário, com uma precisão técnica impecável e uma pureza de expressão raramente igualadas por outros nomes da poesia de língua portuguesa. É notável, nesta obra formalmente tão rica, a reconciliação do poeta com o quinhentismo camoniano e os modos do barroco, em versos como: “Almas vis, almas vãs, almas escuras”, “O infinito gemido dos gemidos” e, sobretudo, o quarteto inicial de Flor Nirvanizada: “Ó cegos corações, surdos ouvidos,/ Bocas inúteis, sem clamor, fechadas,/ Almas para os mistérios apagadas,/ Sem segredos, sem eco e sem gemidos”. Precisamos citar, também, Alucinação, soneto que é quase uma antecipação de Pessoa: “Ó solidão do Mar, ó amargor das vagas,/ Ondas em convulsões, ondas em rebeldias,/ Desespero do Mar, furiosa ventania,/ Boca em fel dos tritões engasgada de pregas”. O Poeta Negro, aqui, transcendendo as cortinas neblinadas do Simbolismo, alcançou um timbre universal.

A fortuna crítica do poeta é póstuma, mas ele foi reconhecido pelas principais vozes de nossa historiografia literária. Sílvio Romero considerou Cruz e Sousa “o melhor poeta que o Brasil tem produzido” e “o ponto culminante da lírica brasileira após quatrocentos anos de existência” (e, portanto, superior a Castro Alves, Gonçalves Dias e Olavo Bilac). Também José Veríssimo expressou seu respeito pela “flor singular, de rara distinção e colorido, de perfume extravagante mas delicioso” da poesia de Cruz. Por fim, obteve o reconhecimento internacional, como demonstra o ensaio O Drama de Cruz e Sousa, de Bastide, que coloca o Poeta Negro ao lado de Mallarmé e Stefan George como a tríade máxima do Simbolismo.

A poesia de Cruz e Sousa é a retorta alquímica de onde provêm as líricas saturnais de Alphonsus de Guimaraens, Pedro Kilkerry, Ernâni Rosas, Maranhão Sobrinho e Augusto dos Anjos; e está presente na primeira fase de Manuel Bandeira, no místico surrealismo de Murilo Mendes e Jorge de Lima e nas modernas experiências intersemióticas, que levaram o princípio da sinestesia, filtrado pelas teorias de Charles Peirce, aos meios eletrônicos de comunicação, como o vídeo e o computador. João da Cruz e Sousa, o poeta do Desterro, não é um esqueleto esquecido na tumba de seus ancestrais, mas um dos inventores de nossa poesia moderna.

Via – Portal Vermelho

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