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sábado, 30 de novembro de 2019

E viva os amigos



Esta postagem segue em homenagem aos amigos, a todos aqueles que se reúnem vez ou outra para colocar em dia os acontecimentos, para inteirar-se dos pormenores, para rir em demasia dos momentos adversos superados pelo acúmulo dos dias e das experiências.

Prestamos aqui nosso tributo aos amigos de sempre, a todos aqueles que não se deterioraram com o tempo, aqueles cuja as idas e voltas dos dias não foram suficientes para romper os elos da solidez de uma amizade.

Um brinde aos mestres da descontração, aos exímios terapeutas combatentes do tédio, aos eliminadores de estresses, aos verdadeiros heróis, aos formidáveis palhaços que provocam nossas mais satisfatórias gargalhadas.

Nossa gratidão aos ótimos conselheiros, aos esteios fortes que sustentam nossas fraquezas e nos são refúgios nos reveses, aos grandes e bons amigos que zombam dos que se acham, que ridicularizam os chatos e desdenham os metidos a bestas.

Congratulamo-nos aos fantásticos amigos, aqueles que de tão especiais se tornam irmãos e por quem dispensamos imensa consideração.

Ah se não fossem os amigos! O que seria de nós sem esse povo que fala sério, chora e ri, essa gente maravilhosa que joga conversa fora, esses fiéis escudeiros por quem somos tão gratos.

Pessoas dos mesmos gostos, com quem nos identificamos, por quem somos capazes de acreditar que em meios aos horrores ainda exista gente que vale a pena.

Salomão dizia, “O homem que tem muitos amigos pode congratular-se, porém há amigos mais chegado que um irmão”.  O sábio rei sabia o que estava dizendo.

Nosso eterno muito obrigado ao dom da vida, e também à sorte pela oportunidade de conhecermos os inefáveis amigos. Um brinde a vida, à saúde e ao dom da amizade de cada um deles, VIVA OS AMIGOS.


Por Mateus Brandão de Souza










sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Se um cachorro fosse professor...

Se um cachorro fosse professor, você aprenderia coisas assim:

Quando alguém que você ama chega em casa, corra ao seu encontro.

Nunca perca uma oportunidade de ir passear.

Permita-se experimentar o ar fresco do vento no seu rosto.

Mostre aos outros que estão invadindo o seu território.

Tire uma sonequinha no meio do dia e espreguice antes de levantar.

Corra, pule e brinque todos os dias.

Tente se dar bem com o próximo e deixe as pessoas te tocarem.

Não morda quando um simples rosnado resolve a situação.

Em dias quentes, pare e role na grama, beba bastante líquidos e deite debaixo da sombra de uma árvore.

Quando você estiver feliz, dance e balance todo o seu corpo.

Não importa quantas vezes o outro te magoa, não se sinta culpado...volte e faça as pazes novamente.

Aproveite o prazer de uma longa caminhada.

Se alimente com gosto e entusiasmo.

Coma só o suficiente.

Seja leal.

Nunca pretenda ser o que você não é.

E o MAIS importante de tudo....

Quando alguém estiver nervoso ou triste, fique em silêncio, fique por perto e mostre que você está ali para confortar.

A amizade verdadeira não aceita imitações!!!

Texto de Ramiro Ros.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Darcy Ribeiro


Darcy disse certa vez: Na América Latina só temos duas saídas: ser resignados, ou ser indignados; eu não vou me resignar nunca. Não fez outra coisa na vida

Descalço.

Darcy Ribeiro, até nisso, foi embora como viveu. Chegava em casa e tirava os sapatos. Dizia que era por causa de seu sangue índio. Eu sempre achei que não: que era para sentir o chão nos pés.

Muito diferente que sentir os pés no chão: sentir o chão nos pés, porque era aquele chão, o da realidade, que ele quis mudar, transformar, como quis transformar o Brasil e a América Latina. O mundo.

No dia em que foi eleito Senador da República, vestiu um terno branco, de linho formidável, e ficou andando pela sala do apartamento de Copacabana, sorrindo agitado e vendo o mar, andando e andando - descalço.
   
Na noite do dia 31 de dezembro de 1995, Darcy estava na varanda desse mesmo apartamento, olhando a multidão espalhada pela praia e pelo asfalto e pelas calçadas da avenida Atlântica.


Das alturas daquele quinto andar ele contemplava tudo, os olhos de aviador percorrendo as pessoas, as ondas, as embarcações iluminadas.

Quando faltava pouco para a virada do ano duas amigas chegaram na varanda, aproximaram-se da cadeira em que ele estava sentado e colocaram no chão um grande balde prateado, desses que são usados para manter garrafas de vinho geladas.

No balde havia água do mar Atlântico e alguns punhados de areia. Quando ouviu o foguetório da meia-noite ele mergulhou os pés no balde.

Darcy queria virar o ano com os pés no mar. Ele não podia mais ir ao mar. Deu um jeito fazer o mar ir até ele. Até seus pés descalços.
   
Também assim quero me lembrar de Darcy Ribeiro para sempre. Também assim: Darcy acreditando profundamente na capacidade transformadora do bicho humano, rejeitando limites, desafiando barreiras, convocando desafios. Não era homem de sonhar com pouco. Sonhava grande, e se lançava aos sonhos para transformá-los em realidade e assim, mudar essa realidade que estava ali, cercando, imposta.
   
E lembrar também o que ele disse certo dia de santa ira e lúcida rebelião: “Na América Latina só temos duas saídas: ser resignados, ou ser indignados; e eu não vou me resignar nunca”.


Não fez outra coisa na vida além de traduzir essa frase-guia em cada ato, cada ousadia, cada sonho.
   
Convivi com ele durante vinte e dois anos. Um convívio denso, rico, intenso. Aquele furacão de vida, sonhos e ideias, varreu da minha frente, durante esse tempo todo, os fantasmas das derrotas e das desesperanças.


Fazia parte de meu cotidiano a inquietante sensação de conviver, lado a lado, com alguém que nasceu no mesmo ano de meu pai e conseguiu ser mais jovem que meu filho. Esse vazio, ninguém nem nada poderá preencher, jamais.
   
De todas as imagens deixadas por ele, de todas as memórias, acalanto uma, definitiva.


Certo fim de tarde de um sábado, ele saiu do escritório de Oscar Niemeyer, na avenida Atlântica. Vestia um terno branco formidável, de linho, e foi caminhando devagar pela calçada até o automóvel que o esperava.

Do mar, vinha uma brisa certeira. Visto lá do alto, o paletó branco esvoaçando, caminhando devagar, Darcy Ribeiro parecia um veleiro desafiando os ventos, rumo a um futuro que só ele poderia adivinhar.

Guardo essa imagem e guardo a certeza de que o porto, aquele porto, é preciso merecê-lo.

Darcy Ribeiro não perdeu, não foi derrotado. Mudou de rumo.

Onde quer que esteja, continua como sempre: indignado. E descalço.

Eric Nepomuceno
No Carta Maior.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

As oito qualidades das pessoas educadas


Por Kiko Nogueira

“A medicina é a minha legítima esposa; a literatura é apenas a minha amante.” O escritor russo Anton Tchekhov, gênio inovador do conto, escreveu uma carta para seu irmão em 1886. Nikolai estava morando em Moscou e tentava a vida como pintor. Queixava-se de ser um artista incompreendido. “As pessoas te entendem perfeitamente bem. Se você não entende a si mesmo, não é culpa delas”, escreveu-lhe Tchekhov.
Na carta, Tcheckhov tenta explicar o que é ser verdadeiramente educado. Basicamente, em sua visão, trata-se de ter elegância intelectual, mais do que ler livros ou falar sobre livros que você leu ou não leu. Num momento em que ser burro, histérico e vulgar está na moda, os oito conselhos de Tchekhov são bastante úteis.

Pessoas cultas devem, em minha opinião, satisfazer as seguintes condições:
Respeitam a personalidade humana e, pelo mesmo motivo, são sempre amáveis, gentis, educadas e dispostas a ceder ante os outros. Não fazem fila por um martelo ou uma peça perdida de borracha indiana. Se vivem com alguém a quem não consideram favorável e a deixam, não dizem “ninguém poderia viver contigo”. Perdoam o barulho e a carne seca e fria e as ocorrências e a presença de estranhos em seus lares.
Têm simpatia não só pelos mendigos e os gatos. Ficam também com o coração doído por aquilo que seus olhos não vêem. Levantam-se na noite para ajudar [...], para pagar a universidade dos irmãos e comprar roupa para sua mãe.

Respeitam a propriedade de outros e, em conseqüência, honram todas as suas dívidas.
São sinceras e temem à mentira como o fogo. Não mentem inclusive em pequenas coisas. Uma mentira é o mesmo que insultar quem está escutando e colocar em uma perspectiva mais baixa quem está falando. Não aparentam: comportam-se na rua como em sua casa e não presumem ante seus conhecidos mais humildes. Não tagarelam e não obrigam a confidência impertinente dos outros. Por respeito aos ouvidos de outros, calam mais frequentemente do que falam.

Não se sentem menosprezados por despertar compaixão. Não desertam a pena dos demais para que ele gemam e façam algo (ou muito) por você. Não dizem “Sou um incompreendido” ou “Me tornei de segunda categoria” porque isso é perseguir um efeito barato, é vulgar, velhaco, falso…

Não têm vaidade supérflua. Não se preocupam com esses falsos diamantes conhecidos como celebridades, que apertam a mão de bêbados ou são reconhecidos nas tabernas. Se ganham alguns centavos, não se pavoneiam como se estes valessem centenas de reais e não alardeiam que podem entrar onde outros não são admitidos. [...] Os verdadeiramente talentosos sempre se mantêm nas sombras entre a multidão, tão longe quanto seja possível do reconhecimento.

Se têm um talento, respeitam-no. Sacrificam o descanso, as mulheres, o vinho, a vaidade. Sentem-se orgulhosos de seu talento. Ademais, são exigentes.

Desenvolvem para si a intuição estética. Não podem ir dormir com a roupa do corpo, ver rachaduras das paredes cheias de insetos, respirar um ar ruim, caminhar no piso recém cuspido. Pretendem tanto quanto seja possível conter e enobrecer o instinto sexual. O que querem em uma mulher não é apenas uma colega de cama. Não pedem inteligência que se manifesta na mentira constante. Querem, especialmente se forem artistas, frescor, elegância, humanidade, capacidade de ser mãe. Não tomam vodca a qualquer hora do dia e noite, não cheiram os armários porque não são porcos e sabem que não o são. Bebem apenas quando estão livres, de vez em quando. Porque eles querem mens sana in corpore sano.


terça-feira, 26 de novembro de 2019

Abaixo o conceito cultural e machista contra nós mulheres

Por Luiza Daniara.

As vezes, a gente visualiza o Amor como algo necessário, talvez '' Essencial '' . E algo que deveria ser Belo e encantador se tornam assustador para algumas pessoas. Essa velha história de que mulher tem que casar, tem que ter filhos e tem que constituir família, tudo bem até ai, não sou contra nada disso, porém a frase clichê: “Mulher tem que ter idade pra casar, senão não casa mais”.

Desculpem-me aos adeptos, mas não concordo, a gente não tem que casar, por ter medo de ficar sozinha e daí encontrar o primeiro cara bem sucedido, '' legal '' por aí e juntar as panelas como dizem. O que é isso? prisão domiciliar? Ninguém quer amar pelo simples fato de ser obrigado a Amar...

Tudo tem sua hora certa, seu exato momento... não precisa sair por ai de balada em balada, de viagem em viagem, olhando totalmente atenta a cada personagem que passar ao seu lado, esperando encontrar o amor da sua vida, porque ele não vai aparecer enquanto você procurá-lo desesperadamente.

Escutem de uma vez por todas mulheres solteironas e desesperadas, homens fogem de mulheres caçadoras predadoras, pois é, e eles identificam de longe, as típicas. Então, Mulheres Lindas, independentes, sinceras, criativas e bem humoradas, quem disse que vocês precisam provar que são mulheres, só quando tem um par de calças ao seu lado e uma renca de filhos? heeeeinn? Não estou falando que ninguém deve casar, constituir família e bla bla bla ....

Claro, mas tudo tem seu momento e vai acontecer como deve ser! Não há tempo estipulado, não há relógio do tempo para o amor, ele vai acontecer...uma hora ele vai acontecer... E vai ser Lindo e encantador! Não fique procurando se assustar com o falso amor, só porque está desesperada para não ser chamada de titia. Acho justo.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Da série Reminiscências

Feliciano Amaral - Cantor evangélico
A maior parte da vida, convivi com amigos e parentes evangélicos, fui educado dentro dos preceitos cristãos evangélicos protestantes, vivi neste meio e já fui o que hoje não sou... daquela época, herdei o gosto por cantores evangélicos clássicos, para quem não sabe, a música evangélica também tem seus cantores clássicos, foram os precursores de todos esses cantores de agora, esses, que o mal gosto do tempo substituiu por cantores gospel.

Sempre me seduziram, letras de qualidade e tais letras e músicas, eram cantadas por estes primeiros evangélicos cantores, me refiro a Oseias de Paula, Luis de Carvalho, Irmãs Falavinha, Mateus Iensen, Trio Alexandre e Feliciano Amaral.

Os que foram educados no mesmo ambiente, ouvindo tais hinos com as mesmas normas e regras do protestantismo de minha época, hão de lembrar-se das "Cem Ovelhas" de Oséias de Paula, "Divino companheiro" de Luis de Carvalho, Luís de Carvalho com sua forte e incomparável voz, as vozes afinadíssimas das irmãs Falavinhas cantando "Jardim de Deus", Trio Alexandre entoava a "Oliveira verdadeira". Foram hinos que contribuíram para avivar a fé de muitos cristãos evangélicos, como diria meu amigo José Antonio, "esses cantores, cantavam com unção".

Trago aqui um hino com o pastor Feliciano Amaral, não é o Marco Feliciano jovem que fala pelos cotovelos e é detonado pela mídia, este Feliciano Amaral, é um ancião nascido em 1920 e que ainda vive nos dias de hoje, ele é cantor e pastor da Igreja Batista, havia um hino de Feliciano Amaral cujo a letra falava da profunda paz daqueles que renunciam ao mundo para viver sob a graça do evangelho...

Depois de alguns anos, reencontro no youtube esta obra entoada na voz deste senhor que foi o pioneiro da música evangélica no Brasil, a postagem a seguir é para recordar e para agraciar os ouvidos que se interessam e que também conhecem sobre o assunto - A sua benção pastor Feliciano Amaral.

"Meu terno Jesus"



sábado, 23 de novembro de 2019

Você é chato? 31 atitudes das pessoas inconvenientes

Se essa pergunta já passou por sua cabeça, confira alguns dos hábitos mais desagradáveis e reconheça honestamente quantos deles você comete todos os dias.


Larissa Drumond - Portal iG

Embora a chatice seja um conceito subjetivo, algumas atitudes contribuem de forma definitiva para tornar um sujeito maçante. “Quem ganha este rótulo geralmente é monótono, entediante, excessivamente pessimista, insistente ou repetitivo. Faz sempre as mesmas perguntas, é extremamente minucioso, reclama o tempo inteiro ou é inconveniente, criando uma situação desconfortável”, diz Antonio Carlos Amador Pereira, professor de Psicologia da PUC-SP.

Segue 31 ocasiões de se identificar um chato.

Gritar quando não estiver ouvindo a pessoa do outro lado da linha: no caso, ela teria que falar mais alto, não você.

Puxar conversa com pessoas ocupadas: no transporte coletivo, algumas pessoas estão cansadas, querem cochilar, escutar música ou ler. Não puxe assuntos aleatórios.

Ser invasivo: algumas pessoas são mais reservadas ou talvez você não seja íntimo o bastante. Apenas deixe clara a sua consideração.

Prolongar histórias: não narre detalhes desnecessários, principalmente se não for deixar a história mais interessante ou se o ouvinte não conhecer os personagens.

Ser impaciente no trânsito: buzinar incessantemente não faz o carro da frente andar mais rápido, principalmente se o sinal acabou de ficar verde. Respire fundo e espere.

Contar piada sem graça: evite piadas de humor duvidoso no ambiente de trabalho ou em uma festa onde você não tem intimidade com os outros convidados.

Elogiar a si mesmo: não tente se autoafirmar contando aos outros o quão incrível você é. Com o tempo, eles vão descobrir (ou não). De qualquer forma, soa arrogante.

Falar alto demais: nada mais irritante do que alguém gritando perto de você. Fale no volume necessário para ser ouvido.

Ser monotemático: ter um filho é um momento feliz, mas procure variar os assuntos. Não é necessário mostrar as 30 fotos quase iguais que você tirou dele no fim de semana.

Oferecer comida insistentemente: se alguém recusa, pode ser que ela realmente não queira, e não que esteja com vergonha. Faça-a se sentir à vontade.

Ouvir música alta: tanto pelos fones de ouvido quanto em casa, modere no volume da música. Você pode atrapalhar os vizinhos e quem estiver ao redor.

Levar o carrinho carregado no caixa rápido: alguns caixas do mercado são destinados a 10 volumes no máximo. Não leve sua compra do mês só porque a fila está menor.

Mandar mensagens genéricas: não mande o mesmo texto de "bom dia" ou passagens da Bíblia para 20 amigos diferentes.

Telefonar em horários inadequados: jamais ligue cedo ou tarde demais. Muito menos pergunte: "Ainda estava dormindo?" Respeite a rotina dos outros.

Publicar mensagens sem sentido nas redes sociais: não poste um emoticon triste, uma contagem regressiva sem contar o motivo ou uma indireta. Ninguém vai entender.

Reclamar demais: queixar-se de eventos do cotidiano é normal. Chuva, calor, trânsito atrapalham todo mundo. Mas não faça disso um hábito.

Interromper as pessoas: espere a sua vez de falar, principalmente se você vai cortar a conversa para falar de outro assunto completamente diferente.

Usar o celular em ocasiões sociais: em reuniões, festas e jantares, guarde seu telefone e use-o apenas quando precisar. Ignorar as pessoas presentes é falta de educação.

Ficar parado no lado esquerdo da escada rolante: metrô não funciona como shopping, onde as pessoas estão passeando. Se quiser ficar parado, prefira o lado direito.

Postar imagens inconvenientes nas redes sociais: você tem o direito de ficar indignado em certas situações, mas não poste fotos de pessoas doentes ou animais mortos.

Pegar emprestado e não devolver: se seu amigo emprestar um filme, um livro ou qualquer outro pertence, não demore para devolver, nem invente desculpas para adiar a devolução.

Dar opinião sobre tudo: quando um grupo está conversando e você escuta involuntariamente, entre apenas se for chamado. Não lance suas opiniões ao mundo.

Convidar-se: sabe o vizinho que se convida para comer pizza na sua casa ao encontrá-lo segurando uma no elevador? Não seja como ele.

Decidir o pedido quando chegar a sua vez: você teve tempo suficiente na fila para resolver se queria um pão de queijo ou uma coxinha. Não comece a pensar quando chegar a sua vez.

Cutucar: sua conversa já deve ser interessante o suficiente para prender a atenção alheia. Não pegue no braço das pessoas enquanto fala, nem cutuque para chamá-las.

Ser dono da razão: não pense que sua opinião é mais correta que a alheia. Cada um tem um repertório, uma experiência e um ponto de vista. Saiba respeitar.

Exaltar demais as qualidades alheias: de agradável e simpática, você ganha fama de puxa-saco. Procure não fazer comentários positivos que possam soar falsos.

Parar de repente na calçada: outras pessoas estão andando atrás de você, por isso não pare para responder a uma mensagem no celular.

Repetir a mesma palavra ou expressão: "tipo", "assim", "na verdade", "aí" e "então" são alguns vícios que passam despercebidos. Evite os cacoetes.

Monopolizar a conversa: uma conversa é feita de troca de ideias. Dê sua opinião, mas espere a vez dos outros e aprenda a ouvir.

Entrar antes das pessoas saírem: dois corpos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo: no metrô ou no elevador, espere as pessoas saírem para depois entrar.

Também existe a possibilidade de a atitude em si não ser o problema, mas sim a frequência com que ela acontece. Um colega que faz uma piada sem graça ao chegar ao trabalho consegue ser tolerado naquele momento, mas a situação se complica quando ele passa a ter o mesmo discurso todos os dias – e os outros são obrigados a escutá-lo. É facil reconhecer um chato, mas é dificíl se ver como parte desse grupo. “O primeiro passo para abandonar esta fama é a autoanálise: os amigos estão se afastando? Os conflitos nos relacionamentos aumentaram? E, então, é necessário melhorar a convivência”, sugere Helio Deliberador, professor do Departamento de Psicologia Social da PUC-SP.

Quem nunca pegou um ônibus em que alguém falava absurdamente alto ao celular? Ou foi a algum evento em que o palestrante tinha a mania de repetir a mesma expressão a cada duas frases? Ou tem aquele amigo monotemático que sempre reclama e conta os mesmos problemas? Na presença de pessoas próximas com esta característica, vale avisar.

Muita atenção, no entanto, ao modo de falar. “Não adiantar usar um tom acusatório, porque o outro fica na defensiva. A melhor saída é explicar como você se sente em relação a determinada situação e qual seria sua reação caso ele agisse de um jeito diferente”, aconselha Antonio Carlos.

A chatice, em suas mais variadas formas, pode surgir em decorrência de insegurança e pela busca de atenção - o que quer dizer que o comportamento mal recebido por quem está ao redor pode ter sido uma tentativa de se destacar. No caso de desconhecidos e colegas de trabalho, resta mesmo desenvolver a tolerância. Para ajudar, comece analisando a si mesmo: quantas das atitudes descritas na galeria acima estão entre seu repertório diário? Cuidado, o chato pode ser você.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Algum dia faz sentido

Escute-me por favor... sobre o porque de tantos porquês, e respostas que eu não entendo, por favor me fale de verdades, eu sou meio alienada, sou eu e meus defeitos, meus traumas e meus medos... Pra mim não é fácil abrir o coração, mas a simplicidade e o complicado me completa, pode parecer clichê, mas sim eu amo sorrisos fáceis, amo o sol, amo a chuva, mas também quero o que não vejo; quero o obscuro; oculto; secreto; quero o que não entendo; quero os pecados  deliciosamente cometidos; Quero viajar através das nossas marés de amor; A razão que eu encontro pra explicar o meu querer, é que há sempre um pouco de razão na loucura... eu quero o que não se pode explicar aos normais! A hora ainda não chegou, mas um dia vai chegar, sem pressas; gosto do que estou sentindo, o meu sorriso não sabe disfarçar!

Por May Gregório 
Novembro de 2013

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Sem rédeas

(Marcos Valnei – julho de 2013)


Faço e infrinjo minha própria lei
Desprezo o trono, desacato o rei
Minha história eu componho
Não me curvo a quem me destrata
Sou real e a sociedade abstrata
Então me imponho

O que é certo pra tantos, é errado pra mim
Não tinja meu começo com os tons do seu fim
Me deixe existir
E se lá na frente der com a cara no muro
Dispenso sua luz, prefiro o escuro
Que eu produzir

A vida é passageira e eu embarco com ela
Se a viagem machuca, aceito as sequelas
Corro meus riscos
Não é da sua conta o que penso ou faço
Tenho meu território, lugar e espaço
Escolho meus discos

Respeito sua tribo, sua fé e sua turma
Mas não deposito meu voto na urna
Da imposição

Se você vai pro céu e eu vou pro inferno
Aproveite o verão mas não quero o inverno
Faço minha estação.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Sagrados ou profanos?

A maioria dos humanos não religiosos manifesta em seus julgamentos éticos, políticos e existenciais valores essencialmente religiosos. Acredita ter rompido com uma forma de compreensão da vida moldada pelo sagrado.

Tece críticas aos fundamentos religiosos por considerar infundados e irracionais. Por outro lado, é incapaz de perceber que em seus juízos acerca da vida humana há um número infinito de exemplos de sacralização e divinização.

O homem dito profano avalia a conduta moral, as ideologias políticas e as perspectivas existenciais tomando como parâmetro elementos, intrinsecamente, religiosos: retoma o papel do redentor, do justo, do "eleito" e do "ungido" na figura do messias dos nossos dias, o proletariado.

Retoma a interpretação sagrada do maniqueísmo ao suprimir a diversidade e a multiplicidade, reduzindo a vida política ao embate entre o bem e o mal, transfigurada na sempiterna luta da direta e esquerda (e não há outra opção aos seus olhos).

Retoma a ideologia messiânica judaico-cristã ao prever o fim da história como o fim dos conflitos políticos. A luta final entre Cristo e o Anticristo também transfigurada na luta entre burgueses e proletariados. Como evidencia Eliade (O Sagrado e o Profano), o homem dito profano possui a mesma esperança que o homem cristão, a saber, espera romanticamente o fim absoluto da história e a consagração da paz.

Evidentemente, o militante profano se orgulha de suas novas crenças e como as ovelhas religiosas, abraça seus, supostos, novos princípios e carrega por debaixo de seus braços o prenúncio de uma nova ordem: a verdade revelada.

O profano de nossos dias reza a mesma cartilha que os ortodoxos religiosos e, assim sendo, torna seus valores mais medíocres do que aqueles fundados pela crença religiosa.


terça-feira, 19 de novembro de 2019

As 14 características do homem perfeito


QUE CARACTERÍSTICAS você, homem, deve ter para interessar aquela criatura suave e cruel, delicada e tirânica, sublime e miserável, generosa e avarenta, capaz de nos levar ao céu e logo depois à sarjeta, mas, em duas palavras, irresistível e incomparável, portanto insubstituível — a fêmea?

Bem, você definitivamente não é o primeiro a se formular essa questão tão complexa, nem será o último. Um sábio indiano, Vatsayana, que viveu numa época que não se sabe precisamente, mas que estudiosos chutam em algum ponto entre os séculos IV e VI AC, se deteve na pergunta fundamental, a mãe de todas, da vida de um homem. Ele é o autor, ou pelo menos se imagina que seja, do Kama Sutra, que está longe de ser o manual erótico que muitos pensam que é sem ter lido, depois de ver apenas algumas ilustrações e ouvir de orelha dizerem que é.

Para facilitar a minha vida e a sua, vou colar um trecho da Wikipedia sobre o Kama Sutra e Vatsayana:
“Ao contrário do que muitos pensam, o Kama Sutra não é um manual de sexo, nem um trabalho sagrado ou religioso. Ele também não é, certamente, um texto tântrico. Na abertura de um debate sobre os três objetivos da antiga vida hindu – Darma, Artha e Kamadeva – a finalidade do Vatsyayana é estabelecer kama, ou gozo dos sentidos, no contexto. Assim, Darma (ou vida virtuosa) é o maior objetivo, Artha, o acúmulo de riqueza é a próxima, e Kama é o menor dos três.”

Bem, de volta ao Planeta Terra. Vatsayana, de cujo Kama Sutra recomendo vivamente a leitura, elaborou uma lista de atributos do homem a quem elas entregam o coração, a alma e as demais coisas menos elevadas espiritualmente que, francamente, também interessam a nós. São 14. Aos homens, sugiro que vejam em quantos se enquadram. Caso se dêem bem serão o objeto invejado e admirado de fêmeas.
Se não pontuarem bem, têm uma boa lição de casa, desde que persistentes e, mais que tudo, humildes para reconhecer fraquezas. Às mulheres, recomendo que verifiquem o grau de acerto ou não do velho indiano que investigou os mistérios metafísicos e físicos do amor.

Os homens ideais, segundo ele, são:

1) os versados na ciência do amor;

2) os que têm habilidade para contar histórias;

3) os que conhecem as mulheres desde a infância;

4) os que conquistaram a confiança delas, mulheres;

5) os que lhes enviam presentes;

6) os que falam bem;

7) os que fazem coisas de que elas gostam;

8 ) os que nunca amaram outras mulheres;

9) os que conhecem seus pontos fracos;

10) os que gostam de festas;

11) os liberais;

12) os que são famosos por sua força;

13) os empreendedores e corajosos;

14) os que superam os demais homens em cultura, aparência, boas qualidades e generosidade.

Por Fabio Hernandez.

Sobre o Autor:
O cubano Fabio Hernandez é, em sua autodefinição, um "escritor barato".
Via DCM

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Conto "História de todos os dias", de Orígenes Lessa

Orígenes Lessa
Ariovaldo Mendes curtira por ela, desde que a conhecera, uma fulminante e desesperada paixão. Anos correram, sofreu ele as mais radicais mudanças na vida, com desastres íntimos e mortes na família, mas o amor, apesar da indiferença com que era recebido, não se lhe extinguiu. Era uma verdadeira obsessão, constante, única, eterna. Muitas vezes lutou Ariovaldo Mendes contra si mesmo. Era preciso acabar. Seria uma tolice, uma loucura sem nome, entregar-se desvairadamente àquele amor inútil, que não seria jamais correspondido. Mas em vão raciocinava e se debatia. O amor era superior às suas forças. Tomara-o de improviso aos quinze anos e seguiria com ele em vida em fora, sem lhe dar trégua nem descanso. Já datava de dez anos. Tinham sido dez anos de martírio. E o martírio __ ele estava certo disso __ o seguiria até à morte!

     Maria Amália nunca lhe dera a entender nada, sabendo da paixão que o devorava. Tratava-o com simpatia, com uma simpatia feroz que o punha doido. Tratava-o como aos demais frequentadores da casa, sem diferença alguma. Era a amiguinha, a camaradinha, mas a mulher perfeitamente insensível, estranha ao seu amor.

     Mais de uma ocasião Ariovaldo procurou abrir-se, dizer-lhe tudo, falar dos seus sofrimentos, do seu martírio, do seu amor. Mas no momento decisivo desfalecia-lhe o ânimo. Que lhe adiantava falar? Amontoaria apenas motivos novos para o seu ridículo, porque a sua inútil paixão era universalmente conhecida. Falar dela seria contar a mais velha e tola de todas as novidades. E seria melhor antes permanecer naquela meia incerteza que, quando nada, lhe dava lugar a uma fugitiva sombra de esperança.
     Um dia, porém, ele se resolveu. Falaria! Viesse o que viesse, falaria, liquidaria tudo! Ou sim, ou não, mas terminante, final! Se fosse repelido, voltaria para o seu povoado longínquo do Nordeste, onde acabaria em silêncio, aniquilado e fracassado, porque de nada lhe valia o seu talento, a sua cultura, o seu renome social, se lhe faltava tudo, aquele amor.

     Havia um baile em casa de Maria Amália. Grande acontecimento social, muito decote e pouquíssimo cabelo. Ariovaldo lá foi. Estava decidido.

     Como que providencialmente, encontrou-a no jardim, sozinha, a fugir da balbúrdia e do calor das danças., verdadeiro suplício naquela noite escaldante de dezembro carioca. Chegou-se e falou. Sem frases pontilhadas dos grandes adjetivos sentimentais, sem citações poéticas nem lirismo de algibeira, declarou-se francamente o seu amor, que ela não poderia ignorar, e pediu-lhe um sim ou não, mas definitivo e formal.
     Maria Amália não se surpreendeu. Há muitos anos esperava aquele momento, que tanto e tão absurdamente demorara. Mas infelizmente ela não o amava. Muita amizade, muita simpatia, muito respeito, mas não havia amor.

     Ariovaldo sorriu com tristeza e despediu-se. Bastava-lhe aquilo.

     Seguiu a pé, acabrunhado, como um sonâmbulo, alheio e indiferente a tudo. Tinha impressão de que um vácuo infinito e insanável se formara na sua alma. Fracassara toda a sua vida. Desaparecera tudo. Ruíra tudo. Sonhos, ideais, aspirações, nada mais lhe restava. E absorto como estava, esmagado e vencido, ao atravessar uma rua, foi colhido pelo prosaísmo de um Ford em disparada.

     Era um desfecho banal de "notícias de última hora". Gritos, tropelia, assistência, retratos nos jornais, visitas cerimoniosas de amigos compungidos.

     Ao receber a nova, Maria Amália sentiu um profundo abalo e correu a vê-lo. Ele estava entre a vida e a morte, tal o choque recebido. Não a reconheceu quando, dizendo-se sua noiva, obteve dificilmente permissão para o cuidar. E tratou-o com desvelo apaixonado, passando insone dias e noites, como se daquilo dependesse a sua própria existência. Os médicos e parentes iam ao ponto de censurar aquela dedicação absurda, inexplicável, absoluta. Mas ela não se moveu de ao pé da cama senão quando o viu perfeitamente salvo.

     Foram dias de angustiosa espera, até que o doente começou a voltar a si, como um ressuscitado. Ariovaldo mal tinha ideia do que se passara e só muito lentamente foi reconstituindo os acontecimentos anteriores. Via Maria Amália ao seu lado, com uma expressão amiga e uma grande alegria no olhar macerado, mas não soube precisar bem a sensação recebida. Voltava de um outro mundo. Parecia-lhe tudo novo.

     Dias depois, ainda pálido, Ariovaldo Mendes bateu à porta do palacete de Maria Amália , num recanto delicioso de Copacabana. Maria Amália correu a recebê-lo com uma alegria que não podia dominar. Mas o semblante anuviou-se-lhe quando o viu, com a sua voz arrastada e triste, dar um tom cerimonioso à palestra. Vinha agradecer-lhe do fundo d'alma a dedicação, o desinteresse com que o tratara, com que se sacrificara quase pela sua vida. Ele não o merecia, não saberia nunca pagar-lhe a bondade com que o desvelara.

     Maria Amália quis protestar, Ariovaldo interrompeu-a. Ninguém, mulher alguma faria o mesmo, ninguém!
     Olharam-se ambos como se não se compreendessem. Houve uma ligeira pausa.

     __ E, por último, eu vinha me despedir...
     __ Vai viajar?
     __ Sigo amanhã para o Norte ...
     __ Sim? Por muito tempo?

     Definitivamente . Já liquidei todos os meus negócios e nada mais me resta no Rio. Levo até nomeação para um lugarejo da Paraíba.

     __ Mas parte assim, sem me ter dito nada?
     __ E que poderia lhe dizer, senão vir trazer-lhe as minhas despedidas?
     Maria Amália não respondeu. Tinha os olhos cheios d'água.
     __ Que tem, Maria Amália?

     __ Mas o nosso amor? Você não compreende quanto o amo, Ariovaldo?
     Ariovaldo não podia mais compreender. Já era demasiado tarde. Muita gratidão, muita 

sábado, 16 de novembro de 2019

Mês da Consciência Negra: 10 docs sobre artistas negros para assistir no Netflix


Para conhecer, conscientizar e inspirar as novas gerações de talentos.

A CANTORA NINA SIMONE
Por Cynara Menezes


Todo ano, no mês de novembro, mês da Consciência Negra, o Socialista Morena publica vários posts sobre o tema, para contribuir justamente à conscientização dos brasileiros em relação à dívida histórica que temos com os negros. Em 2019, abrimos a série recomendando alguns documentários bacanas sobre artistas afro-americanos que estão no Netflix. Para conhecer, conscientizar e inspirar as novas gerações de talentos.

1. I call him Morgan
Larry Reni Thomas, um professor, tem entre suas alunas uma senhora que se identifica com a apreciação dele pelo jazz. “Ah, meu marido era músico de jazz”, ela diz. O professor então descobre que ela é ninguém menos que Helen Morgan, a viúva do trompetista Lee Morgan –e sua assassina. Helen o matou, aos 33 anos, em 1972, supostamente por ciúmes. O documentário do sueco Kasper Collin é costurado a partir do áudio da entrevista de Larry com Helen, uma figura tão complexa quanto o marido cuja carreira interrompeu.
2. O Diabo na Encruzilhada
Será mesmo que Robert Johnson, o lendário guitarrista de blues, morto aos 27 anos, que influenciou várias gerações de músicos, fez um “pacto com o diabo”, como reza a lenda, ou isso é um mito utilizado para diminuir seu talento? Essa investigação é o ponto central do documentário de Brian Oakes, cuja narrativa se completa com animações sobre a vida do músico, sobre a qual há apenas duas fotografias…
3. As duas mortes de Sam Cooke
Sam Cooke era bonito, elegante, famosíssimo como cantor e engajado nas lutas pelos direitos civis dos negros nos anos 1960. Amigo de Muhammad Ali e Malcolm X, Cooke, considerado o pai da moderna soul music, suas músicas só eram menos executadas que as de Elvis Presley. No entanto, morreu baleado na porta de um motel barato em Los Angeles, em 1964, em circunstâncias até hoje não esclarecidas, o que obscureceu tanto seu talento quanto seu ativismo político.
4. Floyd Norman
O desenhista foi o primeiro negro a trabalhar como animador na Disney, mas curiosamente o tema racial não é tão central na sua história quanto o preconceito de idade. Floyd Norman se esquiva e nega ter encontrado dificuldades na carreira por ser negro. “Eu simplesmente cheguei lá, pedi emprego e me deram”, ele diz. Mas, ao completar 80 anos e após uma trajetória brilhante, se ressente por não ter se tornado um manda-chuva dos estúdios, ao contrário dos colegas brancos, e por ter sido demitido ao se tornar “velho” para a indústria. A Disney, aliás, fez um acordo onde permitia que ele falasse da questão racial em sua autobiografia, mas não sobre a questão da idade.
5. What happened, miss Simone?
Indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2015 (perdeu para o filme sobre Amy Winehouse), traz fotos, gravações e filmagens inéditas da pianista, cantora e ativista Nina Simone, além de entrevistas com sua filha, Lisa, e amigos, misturado com imagens históricas da luta pelos direitos civis dos negros nos EUA dos anos 1960. A perseguição que sofreu por seu envolvimento levaria Nina, uma das maiores artistas negras de todos os tempos, a se mudar para a Libéria nos anos 1970, decepcionada com o que os EUA se tornaram, e depois para a França, onde morreu. “A América que eu sonhei nos anos 1960 foi uma piada ruim, com Nixon na Casa Branca e a revolução negra substituída pela era disco”, ela escreveu em suas memórias.
6. Whitney – Can I be me
Esse é provavelmente o mais triste documentário da lista. No auge da carreira, Whitney Houston chegou a ser uma das maiores popstars negras da história. O single do filme O Guarda-Costas (1992), I Will Always Love You, é até hoje o mais vendido por uma mulher em todos os tempos. A vida pessoal de Whitney, porém, era uma tragédia: um casamento tóxico e o envolvimento com drogas pesadas arruinaram sua carreira e a levaram à morte precoce aos 48 anos, em 2012, afogada em uma banheira, mesmas circunstâncias em que morreria sua filha Bobbi Kristina três anos depois, aos 22. O documentário traz revelações, como o abuso sexual sofrido na infância, para tentar explicar a trajetória de Whitney.
7. Quincy
Dirigido pela filha do lendário produtor, executivo, músico e arranjador, a atriz Rashida Jones, o documentário é um tributo a Quincy Jones. Não há espaço para críticas (como os ataques que sofreu dos próprios negros por seus casamentos com mulheres brancas), só para a celebração do artista, que completou 86 anos. Mas não deixa de ser inspirador conhecer a trajetória de Quincy, que saiu de uma infância miserável em Chicago e superou o trauma de ter a mãe esquizofrênica internada num hospício, para se tornar um dos mais poderosos nomes da indústria musical, amigo de Ray Charles, Frank Sinatra e Barack Obama. Além de ser uma personagem deliciosa de assistir, energia muito boa a do Q..

8. O pai da black music

Conta a história de Clarence Avant, pouco conhecido pelo público em geral, mas um nome fundamental da história da black music. Como quase todos os nomes desta lista, Avant, hoje com 88 anos, teve uma infância dura no Sul segregacionista dos EUA e com um padrasto abusivo que chegou a tentar envenenar. Foi morar com uma tia em Nova Jersey e lá, mesmo sem completar os estudos, decolou para uma carreira brilhante como o agente que impulsionou a carreira de muita gente, inclusive Barack Obama. Foi agente de Sarah Vaughan, do brasileiro Luiz Bonfá e também de jogadores de futebol americano, como Jim Brown.
9. Who shot the Sheriff?
O documentário parte da tentativa de assassinato, nunca elucidada, de Bob Marley em 1976 para dar um panorama da música e da política na Jamaica de então, com a violenta repressão sobre o reggae e a cultura rastafári. O país vivia então uma disputa sangrenta entre os partidários do primeiro-ministro Michael Manley, um socialista democrático até hoje muito popular no país, e seu opositor Edward Seaga, gerando uma onda de violência que só cessa em 1980 com a eleição de Seaga. Bob Marley diz que não quer se envolver em política –até que a política o alcança, na forma de dois tiros de raspão às vésperas de um show gigante, promovido com a ajuda de Manley para tentar pacificar o país. Sua mulher, Rita, e o agente Don Taylor ficam seriamente feridos. Bob irá ou não irá fazer o show?
10. Reincarnated
Cansado de escrever rap, Snoop Dogg vai à Jamaica para fazer um disco de reggae com “paz, amor e luta”. Lá, conhece Bunny Wailer, o lendário parceiro de Bob Marley, que o chama de “Snoop Lion”, sua “reencarnação”, a partir daí o alter ego reggae do cantor. Snoop vai a Trench Town, onde o reggae e o ska nasceram, e percorre as vizinhanças mais barra pesadas de Kingston, sempre recebido como um rei. Tudo regado a muita, muita maconha. Onde chega, presenteiam Snoop com “camarões” gigantescos de erva (percebe-se de onde vêm a inspiração para os dreadlocks…), que o rapper, cumpridor das regras do bom maconheiro, retribui sempre com sua marijuana californiana –o músico, ativista da erva, tem uma marca de cannabis, Leafs by Snoop. Muita informação sobre a cultura rastafári, reggae e rap –e boas gargalhadas.




sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Como foi o primeiro 'Lula livre' em 1980

Em abril de 1980, Lula liderava uma greve de metalúrgicos que já durava 17 dias em fábricas da região de São Bernardo do Campo. Na ocasião, foi preso pela Polícia Militar. Mas como Lula foi parar nos calabouços da ditadura militar? O que a prisão significou para o período e para o futuro presidente da República? Como foi o momento em que ele foi solto? Para entender essas questões, a BBC News Brasil consultou depoimentos, conversou com ex-companheiros de Lula e com pessoas que participaram das mobilizações do período.


Por Leandro Machado, da BBC Brasil

"Foi Marisa, sua mulher, quem viu, deu grito avisando que ele vinha a pé. O motorista da Veraneio do Dops ficou com medo quando viu aquela multidão perto da casa do Lula e o deixou no meio do caminho. E o líder metalúrgico, recém-saído da cadeia, chegou a sua casa a pé, carregando uma pequena mala. Mas, antes, a peãozada que invadiu sua casa e as ruas vizinhas, assim que deu a notícia no rádio, ergueu Lula nos braços, estouraram rojões e voltou-se a ouvir em São Bernardo do Campo: 'Luuuuula, Luuuuuula, Luuuuuula'."

Foi assim que, no dia 21 de maio de 1980, o jornalista Ricardo Kotscho iniciou a descrição, em reportagem no jornal Folha de S.Paulo, da chegada de Luiz Inácio Lula da Silva a sua casa depois de 31 dias de prisão.

O então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC havia sido detido no dia 19 de abril por policiais do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), órgão de repressão da ditadura militar que governava o país.

Os motivos do encarceramento de Lula eram bem diferentes da recente detenção, que foi encerrada com a decisão do Supremo Tribunal Federal (SFT) de suspender prisões após condenações apenas em segunda instância. O órgão decidiu que os processos precisam transitar em julgado em todas as instâncias para que o réu seja preso. Nesta sexta-feira (08/11), a Justiça Federal de Curitiba determinou sua soltura com base na decisão do Supremo.

Dessa vez, Lula passou por um processo criminal e foi condenado à prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato — ele nega todos os crimes. Nos anos 80, o então sindicalista foi detido sem mandado judicial, apenas com base na Lei de Segurança Nacional.

Em abril de 1980, Lula liderava uma greve de metalúrgicos que já durava 17 dias em fábricas da região de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, área industrial na Grande São Paulo.

A paralisação vinha na esteira de outras mobilizações em anos anteriores, e a ditadura temia que ela se prolongasse demais. Ou seja, a esperança dos militares era de que a prisão de Lula e de outros líderes sindicais desmobilizasse greve.

Isso não aconteceu, no entanto. A detenção do proeminente sindicalista fortaleceu o movimento e estimulou a opinião pública a tomar partido de suas demandas.

Mas como Lula foi parar nos calabouços da ditadura militar? O que a prisão significou para o período e para o futuro presidente da República? Como foi o momento em que ele foi solto? Para entender essas questões, a BBC News Brasil consultou depoimentos, conversou com ex-companheiros de Lula e com pessoas que participaram das mobilizações do período.

As greves antes da prisão

As grandes greves dos metalúrgicos do ABC começaram em 1978, na montadora Scania. Depois, elas se espalharam para outras empresas da região — o setor tinha cerca de 140 mil funcionários no ABC paulista, região fabril que englobava originalmente as cidades de Santo André, São Bernardo e São Caetano (posteriormente, Diadema também passou a fazer parte do "cinturão").

Mas o descontentamento dos trabalhadores vinha de antes. Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), que investigou crimes cometidos pela ditadura, Lula lembrou que arrochos salariais e perdas de benefícios começaram ainda no final dos anos 1960.

"Até então, cada metalúrgico da indústria automobilística recebia todo santo mês um aumento de salário. Se você pegar a carteira de um trabalhador da Volkswagen em 1967, vai ver que ele recebia aumento em janeiro, fevereiro, março. Em abril tinha antecipação do dissídio coletivo... Em 1968, as empresas passaram a diminuir esses aumentos e acabar com alguns privilégios que a gente tinha. Fomos sendo sufocados... Isso criou um clima de animosidade [entre companhias e trabalhadores]."

Posse de Lula na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em 1978, dois anos antes da prisão

Segundo Francisco Macedo, doutor em história pela USP e professor do Instituto Federal de Minas Gerais, as primeiras greves de 1978 foram realizadas dentro das fábricas. "Os trabalhadores entravam na fábrica e cruzavam os braços, porque, na ditadura, não havia espaço para expressão fora desse ambiente", conta Macedo, cuja dissertação de mestrado foi sobre o sindicalismo do ABC.

Os operários saíram vitoriosos naquele ano, conseguindo um aumento substancial de salários e outras melhorias.

No ano seguinte, 1979, as companhias decidiram expulsar da linha de montagem quem parasse dentro da empresa — uma maneira de separar grevistas de quem continuava trabalhando. Isso levou os sindicalistas para o portão e às manifestações nas ruas.

"Nesse período, houve forte repressão do aparato estatal. Houve uma intervenção no sindicato, afastando Lula e outros dirigentes da direção, o que enfraqueceu a greve", conta Macedo.

A contragosto, os trabalhadores aceitaram uma proposta das empresas, encerrando a paralisação naquele ano. Lula conta que saiu da assembleia "xingado de traidor" por ter aceitado negociar com os patrões enquanto boa parte dos companheiros queria continuar parada.

Greve preparada

Depois do fim da intervenção no sindicato, em julho de 1979, Lula e os colegas começaram a se preparar para a campanha salarial do ano seguinte. "Começamos as mobilizações mais de seis meses antes da data-base do dissídio, que era 1º de abril", lembra Djalma Bom, de 80 anos, tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC na época.

Djalma conta uma história curiosa sobre a criação do fundo de greve, uma arrecadação de dinheiro e alimentos que teve grande importância para que o movimento de 1980 se prolongasse por 41 dias.

"Em uma das assembleias, um companheiro me indicou a leitura de Germinal, do Émile Zola. No romance, os trabalhadores da indústria mineral da França criam uma arrecadação para que eles consigam sobreviver durante a greve. Tive a ideia de fazer o mesmo."

Nos meses anteriores, o sindicato e a Igreja Católica, que apoiava os trabalhadores, abriram as portas de templos do ABC e da Zona Leste de São Paulo para angariar recursos. A ideia era suprir as necessidades dos grevistas que não receberiam salários durante a paralisação. "Na greve, o fundo ajudou 32 mil famílias, distribuímos 480 tonelada de alimentos", diz Djalma.

Para o historiador Francisco Macedo, a preparação para 1980 teve outra inovação: membros do sindicato visitaram a casa dos funcionários para conversar sobre o movimento com as famílias. "A ideia era explicar para os parentes a importância da paralisação e de sua continuidade, porque, no momento da greve, os trabalhadores poderiam sofrer pressão dos familiares para retornar ao trabalho."

Djalma se lembra de outro aspecto importante para fomentar os trabalhadores e a opinião pública. "O Lula teve uma compreensão de que nossa luta não era apenas por melhores condições de salário e de trabalho, mas sim pelo restabelecimento da democracia no Brasil. A luta deveria ser mais política", diz.

Macedo concorda com essa análise. "Os trabalhadores perceberam que todo o aparato repressivo do Estado estava contra eles, e não apenas as empresas. A luta passou a ser não apenas pelo aumento salarial, mas pela democracia também. Eles perceberam que sem democracia a luta nunca chegaria a um resultado."

A greve começou no dia 1º de abril, mas, nos dias seguintes, as empresas se recusaram a negociar melhorias. No entanto, como havia uma sensação de derrota em relação ao ano anterior, o sindicato acreditava que deveria "ir até as últimas consequências", segundo Macedo.

Por outro lado, nos dias seguintes, boa parte trabalhadores se desmobilizou: eles queriam voltar a receber salários depois de dias sem nenhum avanço tangível nas negociações.

Nesse sentido, Djalma conta uma conversa que teve com Lula antes de uma assembleia no estádio municipal da Vila Euclides: "Lula me falou: 'Djalma, para a greve continuar, para os trabalhadores continuarem mobilizados, precisa acontecer alguma coisa extraordinária'".

Lula não imaginava, mas esse fato "extraordinário" iria ocorrer no dia 19 de abril.

A prisão dos sindicalistas

Lula fichado pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde ficou preso por 31 dias em 1980
Por volta das 6h30, oito homens armados com metralhadoras cercaram a casa de Lula, no bairro de Ferrazópolis, em São Bernardo. "Na minha casa estava o Geraldo Siqueira Filho (então deputado estadual) e o Frei Betto."

"Quando eles (militares) bateram na porta, o Frei Betto falou: 'a polícia tá aí'. Eu não tinha nem lavado o rosto ainda. Falei para eles: 'espera que vou me trocar'. Eles disseram: 'não, não pode esperar'. Voltei para dentro de casa e fui me trocar", contou Lula, em depoimento à Comissão Nacional da Verdade.

Vários sindicalistas do ABC foram presos no mesmo momento. Entre eles, o próprio Djalma Bom e Isaias Urbano da Cunha, hoje com 79 anos. "Abri a porta de casa, e era o pessoal da Polícia Federal. Me deram socos e me algemaram com as mãos para trás. Meu filho tinha oito anos e saiu correndo pela casa, assustado. Me levaram preso de pijamas, descalço", diz Isaias, que na época era dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André.

O advogado José Carlos Dias, que defendia presos políticos do regime militar, também foi detido no mesmo dia. "Soube que o Lula tinha sido preso. Decidi sair de casa, mas logo me disseram que havia vários homens de terno e gravata na rua. Achei que havia algo grave acontecendo, e peguei meu passaporte. Falei para minha mulher: 'se eu não ligar em 20 minutos é porque fui preso'."

Na praça Panamericana, Zona Oeste de São Paulo, ele foi detido por "homens com metralhadoras". "Havia umas 15 pessoas presas no Dops, entre elas vários clientes meus. Não há nada pior que você ser advogado e acabar preso com seus próprios clientes", conta Dias, que foi solto no mesmo dia e, anos depois, viraria ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Na época, o chefe do Dops era o delegado Romeu Tuma (1931-2010), que depois se tornaria senador por São Paulo. Ao contrário de outros presos políticos, que foram torturados e até mortos nos porões da repressão, Lula conta que foi bem tratado pelo então policial. "O Tuma me tratou dignamente, com humanidade. Minha mãe estava com câncer. Ele me deixou sair algumas vezes à noite para vê-la", contou.

Eurídice Ferreira de Melo, conhecida Dona Lindu, morreu de câncer no dia 12 de maio, enquanto o filho estava preso. Djalma Bom se lembra do momento em que Lula soube da morte. "Ele foi chamado na direção do Dops. Quando voltou para a cela, tinha lágrimas nos olhos e disse: 'Djalma, minha mãe faleceu'."

O sindicalista foi autorizado por Tuma a ir ao velório. Coincidentemente, anos depois, dois parentes do ex-presidente morreram enquanto ele estava preso em Curitiba: um irmão e um neto — no primeiro caso, a Justiça Federal não autorizou sua ida ao velório.

O efeito da cadeia

Em 1980, a prisão de Lula e outros sindicalistas acabou tendo o efeito contrário do que pretendia a ditadura militar: a greve se fortaleceu.

"Os militares cometeram a burrice de me prender com 17 dias de greve. O que aconteceu depois? Foi um motivo a mais para greve continuar. Houve passeatas e mobilização [contra as prisões], até com o [poeta] Vinicius de Moraes", disse Lula.

Em 22 de abril, por exemplo, um operário da Volkswagen, uma das fábricas mais afetadas, contou como a detenção de Lula foi vista por seus companheiros e até pela família: "Um vizinho meu, fura-greve, só parou (de trabalhar) por causa da prisão do Lula. Ele me falou: 'isso não pode acontecer'. Até meu sogro e minha sogra que eram a favor do governo, agora viraram contra", disse o operário à Folha de S.Paulo.

Dentro da cadeia, o clima era de incerteza: os sindicalistas chegaram a fazer uma greve de fome por quatro dias.

Isaias, que ficou 28 dias preso, relata uma conversa que teve com Lula na cela. "Lula me disse que não sabia se a gente sairia vivo ou morto, mas que entraríamos para a história. Ele disse que nossos netos ou bisnetos chegariam no governo um dia. Ele não disse que ele seria o governo, o presidente, mas sim os nossos netos."

Para o historiador Francisco Macedo, as mobilizações dos metalúrgicos tiveram outros componentes favoráveis: a cobertura massiva da mídia e uma certa abertura do regime militar com ações como a anistia e o fim do bipartidarismo. "Esse contexto fez com que Lula surgisse como um líder bastante popular, iniciando as conversas para a criação do Partido dos Trabalhadores."

Com o aumento da repressão e uma pressão interna pelo retorno às fábricas, os trabalhadores encerraram a greve sem que suas demandas fossem atendidas pelos empresários.

Para Macedo, no entanto, os metalúrgicos tiveram vitórias simbólicas nos anos seguintes à paralisação de 80, como a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do PT, além da retomada da democracia em 1985. "O principal legado da greve de 1980 é simbólico: a ideia de que os trabalhadores são sujeitos ativos, que se organizam e lutam por suas reinvindicações no espaço público", diz.

Para a indústria, o efeito foi um prejuízo material: 75 mil veículos deixaram ser produzidos no período, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

'Nas mãos dos metalúrgicos'

Militantes e sindicalistas foram até sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
para acompanhar Lula antes de sua prisão, em abril de 2018
Lula foi liberado do Dops por volta das 20h naquele 20 de maio. O juiz Nelson da Silva Machado Guimarães considerou que não era mais necessário manter a prisão dos sindicalistas depois do fim da greve. "A ordem pública não se acha mais perturbada", afirmou o magistrado.

Uma multidão esperava Lula em São Bernardo com fogos de artifício e cachaça para comemorar a soltura do líder. Ao chegar, ele deu uma entrevista ao jornalista Ricardo Kotscho em cima dos ombros dos companheiros. "Esse é um dos momentos mais felizes da minha vida", disse. Kotscho depois viraria secretário de imprensa do governo Lula no início do primeiro mandato do petista.

No dia, Lula afirmou não ter medo de ser detido novamente. "Se eu tiver de ser preso pelos mesmos motivos, por representar os anseios da minha categoria, eles podem me prender mais 500 vezes."

Embora as discussões sobre a criação do PT já estivessem em curso, o sindicalista foi lacônico sobre seu futuro: "Sou um homem que nunca fez planos para o futuro. Meu destino sempre foi traçado pela categoria, está nas mãos dos metalúrgicos".

Por coincidência, foi também das mãos dos metalúrgicos que Lula saiu para ser preso novamente pela Polícia Federal, mas 38 anos depois, em 7 de abril de 2018, dessa vez condenado em terceira instância pelo caso do tríplex do Guarujá. Uma imagem do ex-presidente sendo carregado pela multidão em frente ao sindicato virou um símbolo daquele momento.

Hoje, seus companheiros de ativismo sindical têm visões conflitantes sobre as duas prisões.

Para Isaias, por exemplo, elas não têm nenhuma relação. "A diferença é grande: em 1980 ele foi um preso político. Dessa vez, não: foi preso por desfalques, por desvios de dinheiro, e não conseguiu provar sua inocência. Ele foi preso como um criminoso, naquela época ele era um herói", afirma.

Já Djalma pensa diferente: "Para mim, Lula continua sendo a mesma pessoa. Ele foi o preso político mais importante do mundo. A prisão foi uma armação para que ele não pudesse concorrer à Presidência no ano passado", afirma.

'Junto a Lula'

Preso ou não, Lula continua sendo um assunto importante mesmo para ex-companheiros que deixaram o ABC paulista e o sindicalismo para sempre.

José Alves Bezerra, de 71 anos, por exemplo, conheceu o petista no final dos anos 1970, em São Bernardo. Junto ao líder, participou de assembleias e greves no ABC, o que lhe rendeu um casamento (ele a conheceu a esposa no sindicato) e uma demissão da Volkswagen, onde trabalhava.

Mas depois Bezerra se aposentou em outra empresa e voltou para a terra natal, a cidade de Várzea Alegre, no interior do Ceará. De lá, acompanhou a trajetória recente do ídolo: do popular presidente da República a presidiário em Curitiba. "Nunca mais o vi pessoalmente, só pela TV. Acho que ele deveria ser inocentado, mas quem sou eu para falar alguma coisa, né?", diz, por telefone.

A admiração pelo político passou do ex-metalúgico para seu filho, um professor de história de 26 anos. "No 1º de maio, meu filho foi até Curitiba para ficar na frente da prisão do Lula", diz.

 Fonte: BBC Brasil

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