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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Pobreza aumentará com "reforma" da Previdência

Saiba como a reforma da Previdência de Bolsonaro aumentará a pobreza. A tentativa do governo Bolsonaro de mexer com as regras das aposentadorias dá razão ao velho dito popular: “Tudo o que é ruim pode piorar”. Principalmente para quem a coisa já não anda boa.


Por Regina Camargo, economista, foi técnica do Dieese por 25 anos, no Jornal Luzilândia.

A proposta de “reforma” da Previdência do governo Bolsonaro encaminhada ao Congresso Nacional no quarta-feira (20) dá razão ao dito popular, segundo o qual “tudo o que é ruim pode piorar”, principalmente para a parcela mais pobre e vulnerável da sociedade. Além de dificultar o acesso de boa parte da população às aposentadorias e outros benefícios da seguridade social, a proposta reduzirá dramaticamente seus valores se for aprovada do jeito que está. Mais pessoas serão excluídas e ficarão sem proteção previdenciária. Haverá redução do poder aquisitivo dos beneficiários. A pobreza e a desigualdade social aumentarão.

As principais “maldades” da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que trata da reforma da Previdência são:

1. Fixa idade mínima para aposentadoria em 62 anos para mulheres e 65 anos para homens. Essa regra penaliza especialmente aqueles que começaram a trabalhar muito jovens. Por exemplo, alguém que começou a trabalhar aos 18 anos. Ainda que essa pessoa tenha contribuído para a previdência por 40 anos ela terá 58 anos ao final do período contributivo. Com essa idade, entretanto, ela não terá direito a receber valor do teto previdenciário. Para tanto, terá que trabalhar e/ou contribuir por mais quatro anos se for mulher e mais sete anos se for homem. Cerca de metade da força de trabalho não tem carteira assinada e a maioria dos informais ganha tão pouco que não consegue contribuir para a Previdência. Muitos alternam períodos de trabalho com e sem carteira e interrompem as contribuições diversas vezes ao longo da vida laboral. Além disso, a maioria fica pouco tempo num mesmo emprego, prejudicando o acúmulo de tempo de contribuição.

2. Aumenta o tempo mínimo de contribuição de 15 para 20 anos, dificultando o acesso à aposentadoria. Dadas as características do nosso mercado de trabalho, que tem elevada informalidade e rotatividade, é extremamente difícil conseguir contribuir para a previdência por longos períodos.

3. Piora a fórmula de cálculo das aposentadorias. Pela proposta, o valor das aposentadorias será calculado com base na média de todos os salários recebidos ao longo da vida laboral e isso reduzirá o valor médio da aposentadoria. Atualmente, o cálculo considera 80% dos salários de contribuição mais elevados e descarta os 20% mais baixos

4. No caso dos trabalhadores rurais, a proposta de reforma é ainda mais danosa, pois aumenta o tempo de contribuição de 15 para 20 anos e fixa idade mínima de 60 anos para homens e mulheres. Acontece que, no campo, as pessoas começam a trabalhar precocemente e os trabalhadores, geralmente, estão submetidos a condições de trabalho precárias, fato que encurta sua vida laboral.

Os rendimentos da agricultura familiar são muito modestos e nem sempre permitem aos trabalhadores realizar contribuições. Para os assalariados rurais a situação também não é favorável. Baixos salários, informalidade, descumprimento da legislação trabalhista e condições de trabalho análogas à escravidão são frequentes. Se aprovada, a reforma da previdência do governo Bolsonaro aumentará a pobreza no campo.

5. Reduz o valor do benefício pago aos idosos (65 anos ou mais) em situação de pobreza. Atualmente, eles recebem 1 salário mínimo. Esse benefício, conhecido por BPC (Benefício de Prestação Continuada) é pago com recursos da Seguridade Social.

A proposta de reforma, embora reduza a idade de acesso ao benefício para 60 anos, reduz seu valor para 40% do salário mínimo! Somente a partir de 70 anos será garantido o salário mínimo integral. A consequência será o aumento da pobreza entre idosos

6. Reduz o valor da pensão por morte para 60% da aposentadoria que o cônjuge recebia em vida, acarretando piora nas condições de vida das famílias que perderam um de seus provedores

7. Restringe aos acidentados no trabalho a concessão da aposentadoria integral por invalidez. Para os demais casos, a aposentadoria será limitada a 60% do valor devido. Isso poderá descaracterizar os acidentes de trabalho nas perícias médicas do INSS.

Em resumo, a reforma da previdência proposta pelo governo Bolsonaro, se for aprovada, irá prejudicar os trabalhadores, especialmente os mais pobres, que terão mais dificuldades para se aposentar. Ou jamais conseguirão. Caso consigam, sofrerão drástica redução no seu poder aquisitivo.

Além dessas mudanças, será criado um novo regime previdenciário baseado em contribuições individuais, a chamada capitalização. Cada trabalhador fará uma poupança pessoal para complementar a sua futura aposentadoria. Com as restrições impostas pela proposta de reforma da previdência do governo, é provável que ocorra um crescimento dos planos privados de previdência. Fica claro porque o sistema financeiro está tão “empenhado” nessa reforma. Mas isso é assunto para um próximo artigo.


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Celso Amorim sobre Venezuela: "Amanhã pode ser aqui"

Em entrevista ao blog do jornalista Jamil Chade, do UOL, o ex-chanceler Celso Amorim faz uma avaliação da política externa do governo de Jair Bolsonaro e alerta para os riscos de uma intervenção americana na Venezuela. "Uma mudança imposta ou estimulada de fora, inclusive com a ameaça do uso da força, é ilegítima e inaceitável. Hoje é lá, amanhã pode ser aqui", destacou o embaixador.

O ex-chanceler Celso Amorim durante entrevista para o UOL, em 2017
O diplomata conduziu o Itamaraty entre 2003 e 2011 e, no governo de Dilma Rousseff, ocupou ainda a pasta da Defesa. Eis os principais trechos da entrevista:

Durante a campanha eleitoral, em 2018, a política externa praticamente não existiu nos debates. Mas, desde janeiro, um dos principais pontos da agenda do novo governo tem sido sua postura internacional. De uma forma geral, como o sr. avalia as mudanças nas diretrizes da política externa brasileira e na forma pela qual está sendo conduzida?

Celso Amorim – Vejo com muita preocupação a forma como a política externa vem sendo conduzida. Já durante a administração Temer, o Brasil havia perdido o protagonismo que alcançara em governos anteriores.

A suspensão da Venezuela do Mercosul, que contribuiu para isolar (e, portanto, radicalizar) o nosso vizinho foi um erro diplomático sério, assim como a pouca atenção à América do Sul e a desativação da UNASUL, que nos privou de um instrumento útil para encaminhar soluções pacíficas para disputas internas e entre países da região.

No plano mais amplo, a participação do Brasil em grupos como BRICS e o G-20 se tornou inexpressiva. O Brasil deixou de ser um ator global. Mas isso é pouco se se compara ao que tem sido anunciado e, em certa medida, realizado pelo governo atual, com sua adesão acrítica à visão política dos Estados Unidos (ou mais especificamente ao trumpismo) e a proclamação de uma cruzada contra inimigos imaginários, como o "marxismo cultural" ou o multilateralismo destruidor de soberanias. Mesmo que se tratasse apenas de uma questão de retórica, isso já seria grave, pois em política – e, especialmente, em política internacional – as palavras contam.

Estamos assistindo a algumas ações concretas que vão nessa linha equivocada, desde a rejeição do Pacto Global sobre Migrações e a diminuição do interesse na questão climática, com a retirada do oferecimento do Brasil como sede da próxima COP (além da possível saída da Convenção de Paris) até o apoio incondicional às políticas norte-americanas de mudança de regime na Venezuela e de isolamento do Irã. Essas e outras posturas contrastam não apenas com as do governos Lula e Dilma mas também com aquelas de praticamente todos os governos democráticos, desde a Segunda Guerra Mundial.

Há uma falsa visão de soberania, que é confundida com a rejeição à ordem multilateral. Se levada adiante da forma como foi anunciada, a política externa sofrerá um retrocesso de décadas. A perda de prestígio do Brasil é um fato notório, refletido em órgãos da mídia no mundo inteiro e em textos de analistas insuspeitos de simpatizar com a esquerda. Como o governo está em seu início e ainda não houve uma "acomodação de camadas", é possível que haja recuo em algumas das posições que se chocam de maneira mais obvia com a tradição diplomática brasileira. Esperemos.

Durante a posse de Bolsonaro, o número de delegações estrangeiras foi a menor em décadas. Por qual motivo o sr. acredita que houve uma hesitação?

À exceção do governo de Donald Trump e de alguns líderes de direita europeia e da América Latina, a percepção que se tem do Brasil hoje não é favorável. Vários fatores contribuíram para isso. Na realidade, o despretígio do Brasil antecede as eleições. Não sou eu quem está dizendo, mas um veterano embaixador, que serviu em postos importantes durante vários governos de centro ou centro direita (uma distinção nem sempre simples de fazer). Afirmou aquele respeitado diplomata, em uma entrevista ao jornal Valor, que a imagem do Brasil não vai o vai melhorar enquanto o ex-presidente Lula estiver na prisão. A despeito de todo o noticiário envolvendo eventual corrupção, há uma percepção de grande parte dos líderes mundiais, independentemente de afinidades, que Lula – símbolo dos avanços sociais dos últimos anos e de uma política externa ativa e independente – foi objeto de um processo injusto e que sua condenação, em bases judiciais frágeis, foi fundamental para o resultado das eleições.

Há uma nova relação com o governo americano desde janeiro. De que forma o sr. acredita que possa impactar nas relações do País com outras regiões do mundo?

O tempo dirá. É possível que outras influências, digamos assim, "pragmáticas" venham a contrabalançar, até certo ponto, o impulso cruzadista de adesão ao trumpismo. Mas não antevejo a possibilidade de uma política aglutinadora de apoios a nossos interesses, como ocorreu na OMC, na primeira década do milênio, ou que contribua para uma maior projeção do Brasil no cenário mundial, como ocorreu no Governo Lula. Fui embaixador de FHC na ONU, em Genebra e em Londres. Nem sempre concordei com certas tomadas de posição. Mas, no conjunto, o comportamento do Brasil era racional e merecedor de respeito. Agora, na melhor das hipóteses, teremos uma política de baixo perfil. Na pior, criaremos hostilidades desnecessárias com países que, entre outros aspectos, são grandes clientes das nossas exportações ou importantes investidores.


domingo, 24 de fevereiro de 2019

Centrais se reúnem para definir agenda contra reforma da Previdência

As centrais sindicais se reúnem na próxima terça-feira (26) para avançar na construção do calendário de mobilização nacional, com atos públicos e protestos nos locais de trabalho, além de uma ampla campanha de conscientização da população acerca da gravidade da proposta de Reforma da Previdência apresentada pelo governo Bolsonaro ao Congresso Nacional.

Trabalhadores e sindicatos se reuniram na última quarta, na Praça da Sé, em São Paulo - Foto: Roberto Parizotti/CUT
A Assembleia Nacional da Classe Trabalhadora ocorreu na última quarta-feira (20) já com essa deliberação. O manifesto unificado lançado na reunião passada antecipa que será definido um dia nacional de lutas e mobilizações em defesas das aposentadorias e da Previdência, e que os dias 8 de Março – Dia Internacional da Mulher e 1° de Maio – Dia Internacional do Trabalhador também serão datas de mobilizações unificadas contra a reforma.

O ato na Praça da Sé, em São Paulo, contou com representações de sindicatos e movimentos de várias partes do país e delegações de trabalhadores de diversas categorias. Cerca de 10 mil manifestantes realizaram ato político contra a Reforma da Previdência do governo Bolsonaro e deram o recado: vai ter muita luta para impedir que o governo ataque a aposentadoria e a Previdência Social.

Na ocasião, o presidente da CTB, Adilson Araújo, defendeu a realização de uma greve geral, argumentando que “é hora de ampliar e radicalizar nossa luta”. Ao mesmo tempo, ressalvou que “não se constrói uma greve geral vitoriosa, como a que realizamos em 28 de janeiro de 2017, do dia para a noite. Temos o desafio de realizar, previamente, um cuidadoso e persistete trabalho nas bases, pois é fundamental conscientizar a classe trabalhadora sobre o que está em jogo nesta luta. Esta proposta é fruto da ganância capitalista, que quer transformar a nossa Previdência em mercadoria”. Araújo também chamou a atenção para “a centralidade da luta política contra o governo da extrema direita, cuja agenda é frontalmente contrária aos interesses do povo e da nação brasileira”.

Luiz Gonçalves, presidente da Nova Central em São Paulo, louvou a unidade das centrais e também conclamou à organização da greve geral. Já o presidente da CGTB, Ubiraci Oliveira, o Bira, criticou as privatizações observando que a Companhia Vale do Rio Doce (Vale, depois da privatização) “enquanto era uma empresa pública nunca teve problema com barragem, depois que foi privatizada seus donos promoveram dois crimes ambientais, que resultaram em centenas de mortes e destruição sem precedentes do meio ambiente”.

O governo não dialogou com as centrais ou representantes dos movimentos sindicais para formatar a proposta que encaminhou nesta quarta-feira ao Congresso. Consultou apenas os interesses do chamado “mercado”, ou seja, dos grandes capitalistas e banqueiros, que têm no ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, um fiel representante.

Pior que o Temer

A proposta é bem pior do que a do governo golpista liderado por Temer, que foi reprovada pelo povo e acabou não sendo votada no Parlamento. Nenhum trabalhador poderá se aposentar antes de completar 65 anos ou 62 anos, no caso das mulheres e a idade mínima. A apossentadoria por tempo de contribuição acaba, mas a o tempo de contribuição mínima para que o trabalhador, independente da idade, tenha acesso ao direito será elevado de 15 para 25 anos e ele terá pagar por pelo menos 40 anos para conseguir 100% do valor da aposentadoria.

Serão introduzidas novas restrições e dificuldades que tendem a inviabilizar o acesso à aposentadoria para a maioria da classe trabalhadora, tendo em conta a alta rotatividade do mercado de trabalho brasileiro. Ao longo do tempo, com a imposição concomitante do modelo de capitalização e da carteira de trabalho verde e amarelo (à margem dos direitos previstos na CLT e mesmo na Constituição), a aposentadoria pública, tal qual existe hoje, será extinta e todo o sistema previdenciário estará privatizado.

Lavagem cerebral

No regime chileno de capitalização, com o qual sonha o banqueiro Paulo Guedes, patrões e governos não contribuem para o sistema previdenciário. O trabalhador arca com todos os custos para no final das contas receber, depois de anos e anos labutando e pagando a chamada Previdência complementar, uma aposentadoria miserável cujo valor não chega a 50% do salário mínimo.

Contando com a total cumplicidade da mídia burguesa (TV Globo, Record, SBT, Bandeirantes, etc), governo e “mercado” estão em plena campanha para vender o peixe podre da dupla Bolsonaro/Guedes. A julgar pelos comentaristas da Globo, o Brasil vive um dilema entre a reforma da Previdência (apresentada como remédio para o desemprego, o baixo crescimento e outros males da economia) ou o apocalipse.

O governo também apresentou suas primeiras peças de propaganda para dourar a pílula amarga, alegando que está apenas combatendo privilégio. Trata-se de uma mentira descarada. Os verdadeiros privilégios privilégios,nas Forças Armadas, no Poder Judiciário permanecerá praticamente intocáveios.

A aprovação da proposta não pode ser considerada favas contadas e o quadro no Congresso Nacional não é tão favorável à reforma como pretendem seus defensores. Por isto, a propaganda maciça pelos meios de comunicação de massas cujo propósito é promover uma lavagem cerebral da chamada opinião pública e pressionar os parlamentares. Em relação ao tema já não há espaço para o dissenso, o contraditório ou a divergência na mídia nativa. Reina, absoluto, o pensamento único neoliberal.

Com informações do Portal CTB

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Bolívia enfrenta a crise com desenvolvimento e geração de emprego

O vice-ministro do Emprego, Serviço e Cooperativas da Bolívia, Emilio Rodas, fala sobre o governo de Evo Morales, de nacionalização e industrialização, fortalecimento do Estado e cooperativismo no combate ao neoliberalismo. Defende a valorização dos salários, direitos e benefícios sociais, investimentos na formação científico-tecnológica, da campanha desinformativa movida pela grande mídia para atingir o presidente e do combate à corrupção.

Por Leonardo e Monica Severo, da Hora do Povo

Hora do Povo  - Apesar de se manter pelo quinto ano consecutivo como o país em que o PIB mais cresce na América do Sul, há uma trágica herança neoliberal a ser superada. O que tem sido feito para gerar empregos e valorizar o trabalhador?

Ao longo destes anos, temos buscado construir uma política integral de emprego, levando em conta que os 20 anos de neoliberalismo deixaram uma herança muito forte de informalidade no trabalho. Quando chegamos ao governo, mais de 70% das pessoas eram informais, não tinham vínculo empregatício e, portanto, não tinham qualquer segurança, nem de curto nem de longo prazo. Não tinham seguro de saúde nem condições de aposentadoria. Temos tentado mudar esta realidade através da formalização, da geração de empregos, da multiplicação de empresas e da legalização das microempresas. Hoje cerca de 45% da nossa economia ainda é informal. Estamos avançando, mas ainda falta muito.


A taxa oficial de desemprego do Brasil e Argentina supera com folga os 12%, cerca de três vezes superior à boliviana. De que forma a situação catastrófica destes vizinhos de peso impacta internamente?

No nosso país temos uma taxa relativamente estável de desemprego, em torno de 4,5%, o que comparado a qualquer dos nossos vizinhos é um percentual baixo. No entanto, o que apontamos, a partir do presidente Evo, é que o nosso objetivo deve ser o de garantir empregos de qualidade, com boa remuneração para o trabalhador, com segurança e direitos.

A crise internacional que chega via nossos vizinhos, particularmente Argentina e Brasil que são muito influentes, traz um impacto muito forte a partir da fronteira. Afeta em demasia o emprego, pois muita gente se dedica ao comércio, como em Cobija e Puerto Suárez. Então, além do fato de que deixam de nos comprar, ainda introduzem seus produtos.

E que medidas têm sido adotadas para enfrentar este quadro?

Temos enfrentado este quadro a partir de um plano de geração de emprego com cinco iniciativas. Há uma para profissionais jovens, pois muitas vezes a empresa alega não poder contratar pelo fato deles não terem experiência. Diante disso estimulamos as contratações envolvendo as empresas para que os incorporem e subvencionamos parte dos seus gastos. É um programa que dura um ano e pagamos o 13º salário, benefícios sociais e honorários, incentivando as empresas privadas e motivando os novos profissionais.

A segunda iniciativa, muito exitosa, foi lançada em 2017 pelo presidente Evo Morales, o Programa de Apoio ao Emprego. É um programa que não apoia apenas profissionais, técnicos e acadêmicos, mas também pessoas sem formação. Fechamos o acordo com uma empresa e oferecemos 20, 30 ou 40 trabalhadores, quantos ela necessite. Então, pagamos durante 90 dias, considerando esses três meses como etapa de aprendizagem para que o empregador e o trabalhador se conheçam e estabeleçam uma relação formal de trabalho.

A terceira é o apoio a empreendedores, pois muitos jovens não querem ter uma relação de dependência com o emprego. Então o que fizemos é financiá-los para que abram seu próprio negócio, uma atividade produtiva. São recursos pequenos, mas que possibilitam a eles se instalarem. Está indo muito bem. É uma iniciativa que trabalhamos conjuntamente com o Banco de Desenvolvimento Produtivo, criado pelo nosso governo para fomentar a produção no país.

A quarta é o financiamento de Projetos de Absorção Massiva de Mão de Obra, principalmente em todas essas cidades fronteiriças afetadas pela crise da Argentina e do Brasil, onde temos financiado projetos para a construção de obras de infraestrutura.

A quinta se materializa em obras relacionadas a impactos ambientais ou desastres naturais. Para estes locais, em vez de levarmos as mais avançadas tecnologias e equipamentos pesados, o que tratamos de fazer é mobilizar a maior quantidade de mão de obra para reparar os danos.

Eu diria ainda que há uma sexta iniciativa. É o fato de que o Estado na Bolívia é o principal investidor. Assim, como muitas empresas participam das licitações convocadas pelo Estado para realizar as obras de infraestrutura, incorporamos um incentivo de 5% na pontuação àquelas que nos demonstrem que vão fazer um maior uso de mão de obra. Queremos que incorporem novas tecnologias, mas que utilizem um número maior de trabalhadores. Por meio desse dispositivo, conseguimos criar 65 mil novos empregos somente no ano passado.

Vale ressaltar que nossa economia gera, por sua própria inércia, por sua própria dinâmica, 160 mil fontes de trabalho a cada ano. A população economicamente ativa que se incorpora anualmente é de 200 mil pessoas. Então, temos um déficit de 40 mil. Conseguimos superar esta situação com a criação destas milhares de fontes de trabalho adicionais. Estamos trabalhando bem neste campo, mas faz falta ajustar os ponteiros no que diz respeito à confiança do setor privado em relação ao Estado, para que juntos possamos superar estas lacunas.

Há um plano de desenvolvimento econômico e social que visa injetar recursos do Estado, particularmente em tecnologia.

É certo, temos o nosso plano de desenvolvimento econômico e social: são 48 bilhões de dólares que precisamos investir até 2020, grande parte deste investimento em tecnologia, como no caso do lítio. Em Mutún, começamos a construir a primeira indústria siderúrgica da Bolívia. Passados 80 anos de termos descoberto uma das maiores jazidas do mundo, nunca produzimos uma barra de aço. Com Mutún pela primeira vez vamos atender o nosso mercado com aço boliviano.


O Estado investe massivamente, porém o emprego é gerado no segundo bloco da economia, principalmente no que tem que ver com o investimento privado, com as pequenas empresas. É aí que estão trabalhando a maior parte das pessoas. Por isso precisamos ter uma relação de confiança com as pequenas, médias e grandes empresas, para que se animem a investir.

O balanço é bastante positivo.

Estes têm sido 13 anos muito positivos para a economia, para o social, para o produtivo, porém diríamos que o setor privado vem se convencendo muito lentamente. Não se equipara ao nível de entusiasmo do Estado para investir, não tem o mesmo ritmo. Se tivéssemos um setor privado que investisse pelo menos 70% do que investe o setor público não estaríamos com 4,6% de crescimento, mas com 8% ou 9%. Faz falta gerarmos um cenário de maior confiança, de articulação, com os diferentes setores. Estamos empenhados em fazer que isso ocorra.

Como o governo vê a questão do diálogo com os diferentes setores?

Temos uma boa relação com as associações empresariais e com as entidades sociais. Não descuidamos as relações com os setores vulneráveis da população, como são as pessoas com deficiência. Temos um projeto piloto focado neste momento exclusivamente na sua inserção. Aprovamos uma lei no final de 2017 que estabelece que os organismos do Estado, em qualquer dos seus níveis, precisa contar com um mínimo de 4% de pessoas com deficiência comprovada, e no setor privado 2%. Estes percentuais ainda não estão sendo cumpridos satisfatoriamente e temos ampliado a fiscalização.

Aprovamos também um bônus mensal para as pessoas com deficiência grave ou muito grave, a todos os que superem 30% de incapacidade física ou mental. São formas encontradas de atender a um setor historicamente ignorado, porque inexistiam políticas públicas.

Recordemos que enquanto os partidos políticos tinham financiamento do Estado, as pessoas com deficiência não recebiam nada. Quando chegou o presidente Evo Morales mudamos esta situação: o dinheiro dos partidos passou a ser destinado para quem precisava.

O Serviço Civil do seu vice-Ministério atende a quais demandas?

Tínhamos um Estado desenhado para o modelo neoliberal. O serviço civil é em certa forma o regulador da relação do servidor público com o Estado, o que regula seus direitos, suas obrigações, o que estabelece se cumpre ou não as normas. Este é um ponto em que estamos atrasados.


Temos a lei 2027, do funcionário público, que é o espinhaço, a coluna vertebral do modelo neoliberal com relação à gestão pública. Nestes anos não tivemos a possibilidade – ou diria, a vontade – para poder implementar uma reforma estrutural do serviço público. Esta é a razão de termos servidores em um limbo. Muitos, cerca de 300 mil, estão na qualidade de interinos. Um percentual mínimo está como funcionário de carreira e temos, inclusive, uma carreira que é vergonhosa, a do chamado “consultor de linea”, servidor que desenvolve a mesma função, realiza as mesmas atividades, mas sem os mesmos direitos dos demais trabalhadores.

Como é que essa precarização funciona na prática?

Determinada estrutura estatal conta com apenas 100 funcionários num setor e necessita de 120. Aí, como o processo de contratação é muito moroso – e terá de desembolsar mais -, destina uma parcela do seu orçamento para a convocação de “consultores de linea”, que trabalham ao lado de servidores com 13° salário, férias, seguridade social, enquanto eles só vão receber o salário sem nada, sem benefícios.

No Brasil temos o trabalhador terceirizado, que também sai mais barato para o empregador.

Sim, mas na Bolívia estamos reduzindo este pessoal. Antes tínhamos 30% das instituições com servidores com esta característica. Agora estamos sendo mais rígidos no controle orçamentário a fim de que haja a criação do posto de trabalho e não tenhamos um companheiro que esteja sendo tratado como um trabalhador de outra categoria. Por isso estamos empenhados na realização de uma reforma estrutural do serviço público, para que possamos redimensionar o Estado.

Também há o fato de que, na medida em que vão entrando novas tecnologias, as instituições tendem a reduzir postos de trabalho. Como os trâmites físicos, que agora são feitos na maior parte de forma eletrônica. No nosso entender, não se trata de reduzir, mas de realocar, reposicionar esses servidores em um novo modelo de Estado. Esta é uma questão muito complexa, pois no geral os cidadãos não enxergam com bons olhos o servidor público, sentem desconfiança. E os próprios servidores não se sentem cômodos, não se sentem bem. Portanto estamos tentando tratar de internalizar essa questão, colocar dentro da lei, para que tenhamos um trabalhador comprometido com o seu posto, pois em tese o servidor público tem de ser um dos melhores cidadãos. Ele é escolhido pela cidadania para que cuide dos bens coletivos, do patrimônio comum. Como isso ainda é algo muito débil, estamos tratando de agregar um componente ético muito forte, que garanta que os cidadãos sejam bem atendidos, que os bens públicos estejam bem cuidados, que os recursos públicos sejam bem utilizados, tanto os gastos como os investimentos, com cidadãos satisfeitos com o que o seu Estado está fazendo, com os serviços que está recebendo. Esta área é muito importante porque deve projetar o que acreditamos que deve ser o Estado.

E o papel das cooperativas neste modelo de desenvolvimento?

A partir do nosso ministério regulamos a vida institucional das cooperativas. Nosso país já tem 11 milhões de habitantes, cerca de 7,5 milhões fazem parte da população economicamente ativa e, desta, 3,5 milhões, pouco menos da metade, está de uma ou de outra forma ligada a algum tipo de cooperativa.


A vida cooperativa em nosso país é muito forte, muito sólida e impacta a vida social. Temos cooperativas categorizadas em produção, onde estão as cooperativas mineiras e agropecuárias. As mineiras por si só geram cerca de 200 mil postos de trabalho, para si mesmas, porque para as cooperativas não está permitida a contratação de pessoal externo. O que elas contratam fora é muito pouco, como contadores e engenheiros, o grosso do pessoal que faz trabalho físico é cooperativizado. As cooperativas mineiras são economicamente poderosas, pois equilibram o que produz o Estado e o setor privado.

E o setor agropecuário?

O setor agropecuário tem cerca de 1.600 cooperativas, em todas as regiões do país, que estão produzindo grande parte do alimento que consumimos.

E quanto às cooperativas de serviços públicos?

É no setor de serviços públicos onde estão as cooperativas telefônicas, elétricas, de água e esgoto, saúde, moradia. Um grande bloco que vai tendo maior presença quanto ao número de filiados, mas tem menor vida institucional.

Numa cidade, utilizo os serviços de água e esgoto, mas não lembro que sou sócio, que eles estão sendo oferecidos por uma cooperativa da qual faço parte mas não participo. Em nosso governo muitas cooperativas vêm sendo substituídas por empresas públicas, estatais, mas ainda na maior parte do território nacional quem provê estes serviços são cooperativas. Estas cooperativas chegaram a crescer tanto que tem 100 mil, 200 mil filiados. Então a vida institucional da cooperativa é cada vez mais débil porque o cidadão não vai à assembleia, não vai debater os temas. As decisões acabam ficando restritas a umas poucas centenas e isso termina por fazer com que um pequeno grupo se aproprie das suas decisões e do seu patrimônio.

Estamos enfrentando esse problema nos serviços telefônicos na maior parte dos departamentos, além da crise institucional estamos enfrentando uma crise de mercado, pois a telefonia convencional é mínima, já foi substituída pelo whatsapp. O mercado virou para a internet e estas cooperativas não tiveram a capacidade de atualizar-se de modernizar-se. Elas precisam sobreviver e para isso necessitam dar um salto qualitativo.

Outro setor é o de serviços onde estão as empresas de transporte nacional e internacional, urbano e público. Há uma forte presença das estruturas cooperativas e é difícil construir políticas públicas com setores tão grandes e massivos. É difícil oferecer as contrapartidas estatais, já que nós é quem regulamos sua vida institucional, legal, se os representantes estão democraticamente eleitos, cumprindo com a lei de cooperativas que aprovamos há quatro anos.

Há também cooperativas financeiras. Um monte de gente que constitui uma e agora interatua no mercado financeiro: abrem depósitos, dão créditos, e o Estado é quem regula. As de água, a autoridade de serviços básicos; a de eletricidade, a autoridade de água e eletricidade, então há uma dupla fiscalização, porque cada uma destas autoridades tem um ministério acima dela, que encabeça o setor. Este é um pouco a compreensão de cada um destes setores do valor estratégico da cooperativa. Para nós, as cooperativas não devem apenas sobreviver, como serem potencializadas e se desenvolver para ser uma via alternativa ao capitalismo selvagem, que nos permita construir projetos de uma maneira coletiva. Porém este é um debate que temos mantido dentro do próprio governo, e não temos avançado muito. Assim, na hora de regular o prestador de serviço não se distingue se é empresa privada, empresa pública ou cooperativa. A cooperativa tem outra dimensão, tem limites. Por lei, a cooperativa não pode ter fins de lucro. Esta realidade impõe outra perspectiva. Nisso estamos avançando. Neste ano conseguimos constituir o conselho consultivo de fomento cooperativo, estabelecido pela lei 356, das cooperativas, após um amplo debate em que atingimos um nível de confiança entre todos os setores.

Quando começaram a aplicar o modelo neoliberal, o sistema cooperativo foi que salvou o país e o manteve e sustentou na qualidade de país mineiro. Porque todas as atividades mineiras foram depreciadas, com os cooperativistas ganhando apenas para sobreviver. Depois desses 20 anos de neoliberalismo, período em que foi um instrumento vigoroso, foi um dos primeiros que se somou ao processo com ampla capacidade de mobilização. E isso lhe dá uma situação privilegiada no processo na hora de discutir e definir políticas públicas. Para este ministério, o setor cooperativo é estratégico.

Com que mecanismos o governo Evo tem enfrentado o grave problema da corrupção?

Acreditamos que a lei da gestão pública, a lei do serviço público, precisa estabelecer o perfil do servidor público, que tipo de funcionário queremos. Incorporamos o servidor, mas isso não quer dizer que ficará para sempre, que se desejar fazer carreira deverá incorporar esta compreensão do compromisso coletivo.

O modelo neoliberal que herdamos, anterior a 2005, era desenhado institucionalmente para o latrocínio, porque se desenhou um Estado para roubar a sociedade, para roubar a Pátria. Com leis, eles roubaram nossos aviões, roubaram nossas ferrovias, nossas geradoras de eletricidade, nossas jazidas de petróleo. Era um sistema desenhado para o roubo. Quando assume, o presidente Evo decide recuperar, nacionalizar, financiar o desenvolvimento. Mas temos nos descuidado um pouco da formação do servidor público. Temos a Escola de Gestão Pública Plurinacional que da metade para cima da hierarquia está trabalhando bem em termos de formação técnica, quanto à qualificação, à tecnificação do servidor. Porém a outra questão implica um trabalho permanente, de avaliação, acompanhamento, de orientação e, sobretudo, de dignificação do serviço público. Porque à medida que as pessoas sentem que este é um trabalho sólido, constante, que irá se aposentar neste emprego, irá cuidar do seu desempenho. Nossa orientação tem sido de uma mudança radical.

Ao longo destes 13 anos não vais encontrar, seja no presidente, no vice-presidente ou nos ministérios alguém envolvido em casos de corrupção. Mais abaixo, a estrutura é muita solta e permite muitas subjetividades, iniciando por um trâmite que simplesmente fica engavetado porque não lhe ofereceram nada em troca. A gestão pública não deve permitir tanta subjetividade, devem ser estabelecidos procedimentos específicos, claros: A, B e C. E a partir daí não se pode dar margem para interpretações.


Nós temos uma grande estrutura contra a corrupção nos ministérios e vice-ministérios, há toda uma rede de acompanhamento institucional em cada um deles. Há unidades de auditoria interna, unidades de transparência, que servem para acompanhamento, mas precisa haver um grande compromisso das autoridades para fazer com que estas estruturas funcionem, que o cidadão sinta que realmente tem onde reclamar. E que esta resposta seja rápida, seja imediata. Temos trabalhado com muita vontade, dependendo da vontade da autoridade, porém o que precisamos é de um desenho institucional da gestão pública que seja realmente eficiente. E eficiente não só para a execução, para o desenvolvimento da gestão, mas para com o cuidado dos recursos públicos. Isso passa por uma nova lei de gestão pública e por uma nova lei de serviços públicos que realmente estabilize a relação laboral e que permita o acompanhamento e a capacitação permanente. Precisamos viver de forma transparente, em vitrines, com todos olhando o que estamos fazendo. Ninguém precisa estar escondido para fazer as coisas. Hoje nossas normas de contratação contam com todos esses componentes, mas são muito subjetivas. É preciso, sobretudo, investir na consolidação da carreira do funcionário, para que ele não termine optando por um caminho equivocado.

No caso boliviano, como avalias a manipulação do tema pela grande mídia?

Na Bolívia, como no Brasil e na Argentina, o tema da corrupção também vai sendo superdimensionado pela estratégia política que tenta nos colocar como os mais corruptos, quando somos os que mais temos lutado contra a corrupção e quem melhores resultados obtivemos. E os números o comprovam. Casos em que a direita e os meios de comunicação alinhados com ela os manipulam são emblemáticos, como é o Caso Zapata. [Nome dado a uma série de “denúncias” jornalísticas realizadas a partir de fevereiro de 2016 atribuindo a Evo Morales a paternidade de um menor chamado Ernesto Fidel Morales Zapata – que logo se comprovou nunca haver existido. A campanha desinformativa foi lançada poucos dias antes do referendo constitucional e acabou por ser determinante na derrota do presidente por estreita margem]. Nunca se comprovou a participação ou interferência de um único funcionário público em qualquer ato de corrupção e isso nos custou um referendo. Depois os que armaram o suposto escândalo confessaram, assumiram abertamente, rindo, porém o dano já havia sido feito. O foco era objetivo: danificar a credibilidade do presidente.


Outro é o caso do Fundo Indígena, criado para manejar aproximadamente 60 milhões de bolivianos (R$ 32,8 milhões). Assim surgiu, terminando por gerir 5 bilhões de bolivianos (R$ 2,74 bilhões), com a mesma estrutura. Aí há um problema de desenho institucional, pois a estrutura não se expandiu à medida que cresciam os recursos. [Criado com o objetivo de apoiar projetos de povos originários, o Fundo Indígena foi extinto por Evo em 2015 devido ao envolvimento de funcionários com “projetos fantasma”].

Como o sujeito político deste processo é o indígena, toda a campanha veio no sentido de matar a credibilidade de seu líder, também minando a sua base social, dizendo “todos os índios são ladrões”, “roubaram o dinheiro do Fundo Indígena”. Está clara para onde está direcionada a estratégia. Buscaram comprometer e macular todo o processo de mudança com isso.

No caso do Fundo Indígena, as denúncias de irregularidades foram feitas por nós mesmos, por nossas próprias entidades, pela Controladoria do Estado, que foi quem fez as auditorias e detectou as irregularidades. Há aí uma forte presença do Estado tratando de resolver o problema. Diríamos que perdemos, que os índios perderam, pois esta era uma fonte direta e aberta de financiamento para todo o nosso movimento social, para as nossas estruturas, para as nossas comunidades, e a partir houve uma mudança na política e estes recursos passaram a ser intermediados pelos municípios. A sociedade civil como tal perdeu uma sólida fonte de financiamento. Esta é a estratégia de debilitamento do sujeito político do processo, que, ao contrário do que esperavam nossos detratores, continua se fortalecendo.

E a importância da industrialização nesta batalha?

No modelo econômico tem havido quase uma distribuição aritmética exata: 33% investimento público, 33% justiça social e 33% reservas. Nós pegamos o Estado com menos de 1,5 bilhão de dólares de reservas. Quem trabalha com economia sabe o quanto isso impacta na credibilidade com nossos negociadores no estrangeiro. Quando chegamos ao governo, o presidente nacionaliza os hidrocarbonetos, em 2006, e no final daquele ano pergunta ao ministro da economia quando é que ele pensava ir a Paris. Porque em todos os governos neoliberais, os ministros da Economia ou da Fazenda iam a Paris nos meses de setembro ou outubro. Era a reunião do Clube de Paris, dos países ricos com os pobres e endividados. Então o ministro lhe responde que não ia ser necessário, que naquele ano ia nos sobrar dinheiro. A partir daí temos mantido esta lógica, conseguindo ampliar as nossas reservas para 17 bilhões de dólares, ao mesmo tempo em que transferimos recursos para os setores mais vulneráveis da população, ampliando o subsídio para a natalidade, para pessoas com deficiência, para os bônus de amparo às crianças que estudam [praticamente eliminando a evasão escolar], ampliando os suplementos alimentares para pessoas idosas e uma série de transferências indiretas como é o subsídio à água, à eletricidade e ao combustível. Lembrando que nós não somos autossuficientes em combustível, importamos gasolina e diesel.

O investimento sustentável no desenvolvimento é visível. Há pouco o presidente lembrou que tínhamos pouco mais de 1.000 quilômetros de rodovia pavimentada, hoje superamos 5.000 quilômetros construídos, com mais 2.700 em construção. O orçamento para a estrutura viária, assim como para os demais setores estratégicos, tem sido feito de forma sustentada.


O outro ponto é a industrialização. Quando chegamos ao governo devíamos ao Brasil “gás rico”, dizíamos. O Brasil pagava a mesma quantidade de valores calóricos que nos paga agora, mas levava todo o líquido, porque não havia em nenhum lugar usinas separadoras. Construímos duas, uma em Yacuiba, em Tarija, para filtrar o que vai à Argentina, e outra em Rio Grande, em Santa Cruz, para filtrar o que vai ao Brasil. A partir daí começamos a produzir gás liquefeito de petróleo, gasolina e outros produtos. Desenvolvemos a petroquímica em Bulo Bulo, que está produzindo 700 mil toneladas anuais de ureia e amoníaco, construímos a usina de cloreto de potássio, estamos construindo a nossa siderúrgica e nossa Central de Investigação Nuclear aqui em El Alto.

E a questão da formação científico-tecnológica dos profissionais?

Nisso há um grande déficit. A partir de um problema político que temos com o sistema universitário, que permanece ancorado nos anos 90, numa bolha, numa cápsula do tempo. Neste momento, direito e auditoria continuam sendo as duas carreiras que mais formam profissionais. Sempre digo para os companheiros: “os advogados para dizer que não se pode e os auditores para dizer que se fez mal”. Isso a nível de Estado. Porém, apesar disso, seguem sendo o número um, porque a universidade é uma espécie de enclave neoliberal, na sua cabeça, nas mentes de seus administradores. Eles se entretêm com sua “democracia universitária”, nos impõem a barreira da autonomia, então não conseguimos uma conexão. A universidade não sabe o que está se passando no país, não está acompanhando.


Mas não teria como ter uma universidade pública em sintonia com o processo de transformações?

Criamos três universidades indígenas: a Guarani, a Quechua e a Aymara, mas diria que algumas privadas mais visionárias se conectaram melhor com o processo. Não politicamente, mas academicamente.

Acabaram tendo mais senso…

Nós vivemos o boom do petróleo e do gás nos anos 90 e 2000 e quando começa a declinar o mercado dos hidrocarbonetos recém a universidade pública começa a se abrir. Está formando somente agora engenheiros petroleiros ou engenheiros de gás, quando o mercado já não procura por eles. É uma falta de conexão, de olfato.

Outro exemplo é o canal universitário. Em nosso país os jornalistas, técnicos e executivos melhor remunerados dos meios de comunicação são os dos canais universitários. São canais que não ganham uma publicidade nem geram um recurso, mas tem o seu salário assegurado. Assim funcionam as universidades: a ninguém interessa pesquisar, investigar ou inovar. Os que fazem isso estão marginalizados politicamente da vida universitária.

Realmente uma bolha…

Temos o reitor da Universidade Nacional de San Andrés, que encabeça o Conade (Comitê Nacional de Defesa da Democracia) – de oposição – que mais faz política nas ruas do que debater internamente sua proposta acadêmica, sua crise. Nenhuma das 11 universidades públicas, do Estado boliviano, aparece sequer entre as 500 principais da América Latina – entre públicas e privadas. Isso demonstra o nível em que nos encontramos. Sabemos que esta questão de ranking é mais de mercado, mas não deixa de ser um indicador. Por isso em cada um dos projetos que estamos desenvolvendo há um componente de formação.

Por exemplo, os companheiros que estão trabalhando no Centro de Investigação Nuclear vão à Rússia estudar durante três anos. O mesmo se fez com os trabalhadores da usina de cloreto de potássio, de ureia e amoníaco. No caso do projeto siderúrgico, também irão 150 profissionais jovens à China, onde viverão dois anos e meio, para que quando a usina esteja concluída sejam eles que a administrem.

Temos a compreensão de que necessitamos de uma grande revolução educativa. Tivemos uma evolução interessante do ponto de vista da legislação no campo da educação, principalmente incorporando o componente técnico, para que os companheiros comecem a se relacionar com pelo menos certas orientações vocacionais. Mas estamos chocando a universidade pública com estas limitações, pois temos profissionais para áreas que não lhe correspondem.

Há pouco fizemos um levantamento no nosso vice-ministério, uma medição do mercado laboral nas três principais capitais, e nos demos conta que o que está buscando a juventude, o que está sendo produzido pela educação e o que está demandando o mercado de trabalho são coisas que não se parecem, não tem nenhum contato. Há um fosso, principalmente pela carência das nossas universidades públicas, que precisam se somar ao processo. É preciso sintonia.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

A maldade ideológica da "reforma" da Previdência

Via - Metrópoles
A luta desesperada da direita pela “reforma” da Previdência Social diz muita coisa. Uma delas, talvez a principal, é que há uma conta a ser paga, inflada pelos efeitos da crise global que estourou em 2007-2008. O chamado “déficit fiscal”, que na visão dos neoliberais deve ser sanado com recursos provenientes dos direitos dos trabalhadores e do patrimônio público — as privatizações —, é o coração do problema. Ao desvendá-lo, aparece a essência da crise e se compreende o desespero da direita pela “reforma” da Previdência Social.

A chegada dos efeitos da crise global e logo em seguida a instalação da crise política que levou ao golpe de Estado em 2016 alterou a relação entre receitas e despesas orçamentárias. As medidas de proteção ao país, apoiadas basicamente em investimentos públicos, adotadas pelos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff começaram a ser revogadas em 2013.

Entre o terceiro trimestre de 2013 e o último trimestre de 2014 a economia enfrentou um ciclo de desaceleração puxado pela queda na taxa de investimento, que passou a apresentar patamares negativos a partir do segundo semestre de 2014. Essa desaceleração pode ser atribuída a múltiplas causas. Começa pelas falhas na condução da política econômica e fatores políticos, como as manifestações de 2013 e a incerteza eleitoral de 2014, além de fatores internacionais.

Diante da fragilidade da economia brasileira, o governo optou por um choque recessivo ou, em outras palavras, lançou mão de um conjunto de políticas de “austeridade” econômica. Com isso, a economia mergulhou na recessão, a arrecadação despencou e entrou em cena a agenda dos golpistas, centrada no ataque aos direitos dos trabalhadores e ao patrimônio público. Logo após o golpe, chegaram, a toque de caixa, a “reforma” trabalhista e a Emenda Constitucional 95, destinada a congelar investimentos nas necessidades básicas do povo.

A Emenda e a “reforma” da Previdência Social são complementares, meios para transferir, à mão grande, recursos orçamentários para o universo financeiro. Essa é a essência de um governo neoliberal, que vê nas despesas públicas primárias, ou não financeiras, as rubricas a serem cortadas para o “ajuste fiscal”. Ao atacar o Estado no que ele tem de democrático e social, além de entregar o patrimônio público e as riquezas naturais — sobretudo o pré-sal —, o governo imprime em sua agenda a marca nítida do ultraliberalismo e do neocolonialismo.

Essa são as bandeiras estruturantes do governo Jair Bolsonaro. As sucessivas crises políticas, que embora previsíveis emitem sinais de paralisia no governo, é o grande desafio para essa agenda. Mais do que os fatos, o que preocupa os ideólogos e apoiadores do governo são esses tropeços que podem inviabilizar a celeridade desejada para a “reforma” da Previdência Social. Mesmo as concessões, como a elevação das tarifas sobre a importação de leite em pó — uma ação para acomodar setores que fizeram campanha para Bolsonaro —, são recebidas como sinais de que esse governo não está sendo fiel às suas promessas de campanha.

Foi o que fez um editorial do jornal O Globo desta segunda-feira (18), intitulado “Sinais erráticos sobre o liberalismo na economia”. Segundo o texto, “os liberais estão no governo, mas ainda têm dificuldades com poder”. O jornal O Estado de S. Paulo, também em editorial, analisou os percalços da economia em 2018 e concluiu dizendo que da confiança que o governo conseguir transmitir depende a “aprovação, sem muita demora, de uma boa reforma da Previdência”. Nessas afirmações estão o apelo à ideologia da direita como argumento para o governo apertar o passo e entregar logo o que prometeu.

Nessa ideologia está a ideia de igualdade apenas no plano jurídico e da economia guiada pela “mão invisível” do mercado, limites do “país justo” defendido pelos liberais. Ela tenta dar um ar de modernidade à sua maldade, como a pobreza e a desesperança social. Em tempos passados, crises dessa natureza provocadas pelo velho liberalismo resultaram em situações dramáticas dos povos. Alguns seguiram o caminho fascista e nazista. Entender essas contradições e erguer barreiras contra a marcha da extrema direita é a grande tarefa da oposição.


terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

A queda do alpinista Bebianno

Brasília é o Monte Everest da política. Muitos chegam ao acampamento base, a uma altitude de 5.364 metros. Não deixa de ser um feito. Alcançar os 8.848 metros do cume é coisa para “fora de série”. Só os “super-humanos” conseguem manter-se no topo por muito tempo.


Por Ricardo Cappelli*

Gustavo Bebianno não tem passado, perdeu o presente e o único futuro, se houver, é de homem-bomba da República. Chegou perto do pico graças ao seu faro de empreendedor. Viu um iaque selvagem subindo a montanha sozinho e resolveu apostar no animal.

Circula na capital federal que o ex-ministro foi o responsável por reunir 15 milhões de argumentos para convencer Luciano Bivar a “emprestar” o PSL para o Capitão. Seu lugar no Palácio do Planalto cumpriria a suposta missão de monitorar o “payback” da empreitada.

Bolsonaro já vinha revelando aos mais próximos três preocupações: a inabilidade política de Paulo Guedes, a fúria indomável de seus meninos e a “verve empreendedora” de Bebianno.

Guedes se adaptou rápido a altitude estabelecendo uma parceria com Rodrigo Maia. O filho Carlos parecia um problema insolúvel. Até a Folha de SP revelar os laranjas do PSL.

A queda de Bebianno pode resolver dois problemas do governo. Primeiro, retira da “Capela Sistina” um habitante devoto do Exu Caveira, a entidade das coisas materiais. É difícil construir governos imunes aos “adoradores da carne”. Mas dentro do Vaticano, não dá.

Em segundo lugar, o episódio enche de argumentos os que querem ver os filhos afastados.

Ao expor seu ministro, o presidente atirou no próprio pé. Ao ameaçar publicamente o Capitão, Bebianno deixou o presidente sem opção. Pior do que ser injusto é demonstrar fraqueza.

Se olhasse para história recente, o presidente teria refletido antes desta trapalhada. Dilma Roussef se pautava pela imprensa. Uma simples nota numa revista era suficiente para ela pegar o telefone e cobrar explicações de seus ministros.

É a típica ilusão-classe média da mídia como expressão da “sacro santa” opinião pública. Bolsonaro parece morder a mesma isca da petista. A Folha não atirou em Bebianno. O alvo dela é o presidente, corroer sua autoridade e governabilidade.

Existem duas maneiras de enfrentar situações como essa. A mais fácil é jogar o auxiliar aos leões. Resistir aos ataques pode sempre cobrar um preço de popularidade no curto prazo. No longo prazo, sinaliza para o exército que o general é fiel à tropa e vai com ela para a guerra.

Dilma escolheu o primeiro caminho. A cada nova denúncia defenestrava seus auxiliares no Jornal Nacional. Parecia dar certo. Atingiu uma popularidade impressionante. Para o povão era a “mulher do Lula”, para a classe média, a “faxineira implacável”. Uma soma imbatível.

Acabou isolada. Brasília virou um mar de ressentimento e desconfiança. Quando Cunha abriu o processo de impeachment o destino da presidenta já estava traçado.

A novela da demissão deixará marcas. O sinal de instabilidade e desequilíbrio deixará o Congresso ressabiado. O custo da reforma da previdência pode ter subido.

A oposição vai comemorar a queda, mas é bom não perder o foco. Três pilares sustentam o governo: o grupo militar da dupla Heleno-Mourão, o núcleo econômico de Paulo Guedes e a aliança Moro-Globo.

Tirando alguns técnicos qualificados e um ou outro político experiente que ocupa posição em função de acordos pontuais, todos os outros são coadjuvantes. Estão ali para distrair a plateia enquanto o jogo principal do momento – a reforma da previdência – é jogado.

Bebianno era um destes. Chegou a ocupar um pequeno espaço em função do temperamento de Onyx. Exonerado, pode soltar a bomba que quiser. Se a reforma for aprovada voltará para a planície e será o que sempre foi: ninguém.

*Ricardo Cappelli é secretário da representação do governo do Maranhão em Brasília e foi presidente da União Nacional dos Estudantes.

AS FLÔ DE PUXINANÃ

Via - Folha da Manhã
Acariciando os dias que vou trilhando, a procura sempre  do bem maior  que é  a sobrevivência,  mesmo que  cercada de outros  desejos os quais engrandecem a alma  e a sede de viver.
Assim, nesse contexto, caminha a humanidade, sonhando, buscando a coerência do sentido VIVER, onde  paira a dúvida  de ter dúvida das certezas que muitos  acreditam incertas.

ASSIM, traduz  a incerteza da certeza do autor dos versos cantados abaixo, quando se apaixonou em uma de suas caminhadas pelos recantos  do mundo, sempre em busca do amor platônico e voraz.

As flô de Puxinanã  - Zé da Luz, poeta que veio ao mundo como Severino de Andrade Silva e recebeu a alcunha de Zé da Luz, das terras nordestinas, nasceu em 29 de março de 1904 em Itabaiana, região agreste da Paraíba e faleceu no Rio de Janeiro em 12 de fevereiro de 1965.. Nome de guerra e poesia, nome dado pela terra aos que nascem Josés e, também, aos Severinos, que se não for Biu é seu Zé.

As flô de Puxinanã  (Paródia de As “Flô de Gerematáia” de Napoleão Menezes).

Por Zé da Luz

Três muié ou três irmã,
três cachôrra da mulesta,
eu vi num dia de festa,
no lugar Puxinanã.

A mais véia, a mais ribusta
era mermo uma tentação!
mimosa flô do sertão
que o povo chamava Ogusta.

A segunda, a Guléimina,
tinha uns ói qui ô! mardição!
Matava quarqué critão
os oiá déssa minina.

Os ói dela paricia
duas istrêla tremendo,
se apagando e se acendendo
em noite de ventania.

A tercêra, era Maroca.
Cum um cóipo muito má feito.
Mas porém, tinha nos peito
dois cuscuz de mandioca.

Dois cuscuz, qui, prú capricho,
quando ela passou pru eu,
minhas venta se acendeu
cum o chêro vindo dos bicho.

Eu inté, me atrapaiava,
sem sabê das três irmã
qui ei vi im Puxinanã,
qual era a qui mi agradava.

Inscuiendo a minha cruz
prá sair desse imbaraço,
desejei, morrê nos braços,
da dona dos dois cuscuz!

Do Recanto das Letras - Enviado por Risonaldo Costa em 08/08/2010
Código do texto: T2426053

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Cogumelos alucinógenos 'reiniciam' cérebro de pacientes com depressão

Pesquisadores da Imperial College London usaram a substância para tratar um pequeno número de pacientes que não respondiam aos métodos convencionais, e os resultados surpreenderam.

Reportagem de O Globo

Composto alucinógeno presente em cogumelos pode ajudar no tratamento da depressão Foto: PIXABAY

A psilocibina, composto psicoativo presente naturalmente nos cogumelos alucinógenos, pode auxiliar no tratamento da depressão, sugere um estudo publicado nesta sexta-feira na revista “Scientific Reports”. Pesquisadores da Imperial College London usaram a substância para tratar um pequeno número de pacientes que não respondiam aos métodos convencionais, e os resultados surpreenderam: os benefícios duraram até cinco semanas, aparentemente porque o composto “reiniciou” a atividade de circuitos cerebrais relacionados com a doença.

Comparações das imagens cerebrais dos pacientes antes e um dia após o tratamento com o alucinógeno revelaram mudanças na atividade cerebral associadas com reduções marcantes dos sintomas depressivos. Carhart-Harris ressalta que os resultados são iniciais, limitados a um pequeno grupo de pacientes que não responderam a outros tratamentos, e não há um modelo de controle. Mesmo assim, os resultados da terapia experimental são surpreendentes.

— Nós demonstramos pela primeira vez mudanças claras na atividade cerebral de pessoas com depressão tratadas com psilocibina — explicou o líder da pesquisa, Robin Carhart-Harris. — Muitos dos nossos pacientes disseram se sentir “resetados” após o tratamento, usando analogias dos computadores. Por exemplo, um disse sentir como se o cérebro tivesse sido “desfragmentado” como um disco rígido, e outro disse se sentir “reinicializado”. A psilocibina talvez esteja dando a esses indivíduos o pontapé inicial que precisam para se livrarem do estado depressivo.

Ao longo das últimas décadas, vários testes clínicos foram conduzidos para determinação da segurança e efetividade dos psicodélicos em pacientes com problemas psicológicos. O estudo da Imperial College London é o primeiro a tentar tratar a depressão com o princípio ativo dos cogumelos alucinógenos, conhecidos popularmente como cogumelos mágicos.

Os 20 pacientes que não demonstraram evoluções com tratamentos convencionais receberam duas doses de psilocibina, sendo a primeira de 10 miligramas e a segunda mais forte, com 25 miligramas. O intervalo entre as doses foi de uma semana. 19 dos participantes realizaram exames de imagem no cérebro antes de receberem o composto e um dia após a segunda dose. Os pesquisadores mediram alterações no fluxo sanguíneo e na comunicação entre diferentes regiões cerebrais. Questionários avaliaram os sintomas apresentados pelos pacientes.

Imediatamente após o início do tratamento, pacientes relataram uma redução nos sintomas depressivos, o que corresponde a relatos anedóticos sobre o “brilho”, efeito caracterizado por melhorias no humor e alívio no estresse. Mas os exames de imagem revelaram redução do fluxo de sangue em determinadas áreas do cérebro, incluindo as amídalas cerebelosas, conhecidas pela relação com as respostas emocionais, o estresse e o medo. Também foi observado o aumento da estabilidade em algumas redes cerebrais.

A descoberta fornece uma nova visão sobre o que acontece no cérebro das pessoas após elas “retornarem” de uma viagem psicodélica, com uma desintegração inicial das redes neurais durante o uso dos alucinógenos, seguida pela reintegração.

— Pode ser que os psicodélicos realmente “reiniciem” as redes cerebrais associadas com a depressão, permitindo efetivamente que os pacientes se libertem do estado depressivo — sugeriu Carhart-Harris.

Contudo, os pesquisadores alertam que os resultados não são conclusivos, e pacientes com depressão não devem tentar a automedicação, já que a equipe de pesquisas fornece um contexto terapêutico seguro à experiência psicodélica. Um novo experimento, comparando a psilocibina com medicamentos antidepressivos, será iniciado ano que vem.

— Estudos maiores são necessários para ver se esses efeitos positivos podem ser reproduzidos em mais pacientes — alertou David Nutt, coautor da pesquisa. — Mas os resultados iniciais são excitantes e fornecem um novo caminho terapêutico a ser explorado.

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