Quem não idealiza a figura das pessoas que admira e tem o
desejo de conhecer pessoalmente?
Na dura militância clandestina, desde que ingressei no
PCdoB, no início dos anos 70 — partido hoje quase centenário, de larga tradição
de luta e combatentes lendários —, alimentava enorme vontade de conhecer nosso
principal dirigente, João Amazonas.
Sequer conseguia mentalizar como seria a sua fisionomia
então, dele conhecera apenas fotos antigas.
Foi quando o jornal Movimento publicou entrevista feita em
Paris, ilustrada com a foto do velho dirigente, sorriso simpático, cabelos
alongados e escorridos, totalmente brancos.
A foto me impressionou como se o estivesse vendo de perto,
levando-me a supor tratar-se de um homem de porte mediano, fisicamente muito
forte, postura imponente.
Até que numa reunião no Centro de Cultura Operária, em São
Paulo, após a Anistia, finalmente o contato "ao vivo e a cores" se
deu.
Na reunião, a que compareci com Alanir Cardoso, estavam José
Duarte, Dynéas Aguiar (também velhos dirigentes), João Amazonas e Renato Rabelo
(dirigente da nova geração). O tempo presente se confundia com a História!
Dentre os mais antigos, antes, me impressionara Diógenes
Arruda, que retornou ao Brasil antes de Amazonas, e esteve no Recife por uns
quinze dias, e eu o acompanhei em várias conversas e pequenas reuniões.
Exuberante, comunicativo, bigode denso, costeletas espessas, pródigo em falar
sobre todos os assuntos, sobretudo sobre a História do Brasil e a trajetória do
PCdoB.
A surpresa foi Amazonas: pequenino, de aparência fisicamente
frágil, tímido e de uma simplicidade comovente. Ouvia atentamente, falava
baixo, pausado, como se quisesse a um só tempo convencer e cativar o
interlocutor. Porém um gigante na condução clarividente e firme do nosso
Partido, parecendo-me assim bem "maior" do que eu imaginara.
Essa discrepância entre o imaginado e o real ocorre
cotidianamente, às vezes de modo até divertido, entre nós outros simples
mortais.
Na minha última campanha de deputado estadual, vitoriosa,
mais de uma centena de militantes e ativistas concentrados numa das esquinas do
Alto José Bonifácio, zona norte do Recife, aguardando o início de uma caminhada
pelas ruas do bairro. Uma jovem se aproxima e pergunta:
— Quem é o deputado?
— É aquele ali.
— Virgem Maria, é muito mais feio do que parece no panfleto!
— Pois essa é a esposa dele, falou alguém próximo.
— Perdão, dona, não é bem isso que eu queria dizer...
— Tem problema não, ele sabe disso.
Pelo menos fica a certeza de que "tamanho não é
documento" — feiura também não. Vale o que cada um pensa e faz.
* Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central
do PCdoB
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