Um dos maiores horrores da nossa história aconteceu em
Minas, em Barbacena. Pouco conhecido hoje, o hospício de Barbacena foi cenário
de horror, dor e morte, local comparado aos piores campos de Concentração
Nazista. As pessoas, eram enviadas para Barbacena em vagões de carga,
amontoados, como os Nazistas faziam com os Judeus quando os enviavam para seus
Campos de Concentração. Dai a semelhança.Nesse hospício foram mortos 60 mil
pessoas durante seu funcionamento, uma média de 16 por dia. Foi constatado que
a maioria dos que lá foram internados, não eram loucos, eram pessoas normais.
Foram parar no hospício pela maldade humana. Eram...
Homossexuais, prostitutas, negros, jovens rebeldes, pessoas
tímidas, alcólatras e mendigos eram internados a força por serem incômodos para
a sociedade;
Gente rica e poderosa internavam lá seus adversários
políticos e quem os prejudicasse;
Maridos, para ficarem com as amantes, internavam suas
esposas. Ou internavam as amantes que lhes davam problemas.
Internados, acabavam ficando loucos de verdade. Viviam num
ambiente de solidão, humilhações e sofrimentos constantes. Andavam nus, bebiam
água de esgoto. Comiam fezes, bebiam urina e eram constantemente submetidos a
altas descargas de energias elétricas. Muitos viviam acorrentados pelos pés e
mãos ou mesmo trancados em jaulas, como animais, sem sequer sair para tomar
sol. Os choques no hospício eram tão altos que até derrubava os muros das
casas. Ao longe se ouvia gritos de dor e de socorro, mas ninguém fazia nada.
Quem era levado para o Hospício de Barbacena nunca mais
voltava. Morriam pelas altas voltagens dos choques, de fome, de frio, por
doenças causadas pela falta de higiene e de dor, muita dor. As familias dos que
lá morriam eram informadas(quando eram informadas) da morte dos parentes
internados meses depois, por carta ou telegrama. Nem tinham notícias de onde
foram sepultados ou o que fizeram com os restos mortais dos que lá morriam.
Hoje o Hospício foi desativado. Virou museu que conta a
história da loucura. A dor, os gritos, choques, choros e mortes ficaram no
passado e na alma de Minas e do Brasil. Era um hospício do Governo e escolheram
Barbacena para sediá-lo. Nesse local, milhares de pessoas, em sua maioria,
foram internadas a força, vindas de todos os lugares de Minas e do Brasil. Uma
mancha vergonhosa na história de Minas e de nosso país e um ar de assombro em
perceber como o ser humano por ser tão mal a ponto de cometer e permitir tanta
desumanidade, tanta maldade para com seu próximo.Essa é uma história triste,
história essa que muitos não querem que venha a tona, que seja discutida e que
seja mostrada.
Holocausto brasileiro: 60 mil morreram em manicômio
“Milhares de mulheres e homens sujos, de cabelos
desgrenhados e corpos esquálidos cercaram os jornalistas. (...) Os homens
vestiam uniformes esfarrapados, tinham as cabeças raspadas e pés descalços.
Muitos, porém, estavam nus. Luiz Alfredo viu um deles se agachar e beber água
do esgoto que jorrava sobre o pátio. Nas banheiras coletivas havia fezes e
urina no lugar de água. Ainda no pátio, ele presenciou o momento em que carnes
eram cortadas no chão. O cheiro era detestável, assim como o ambiente, pois os
urubus espreitavam a todo instante”.
A situação acima foi presenciada pelo fotógrafo Luiz Alfredo
da extinta revista O Cruzeiro em 1961 e está descrita no livro-reportagem
Holocausto Brasileiro, da editora Geração Editorial, que acaba de chegar às
livrarias de todo o País. Ainda que tenha semelhanças com um campo de
concentração nazista, o caso aconteceu em um manicômio na cidade de Barbacena,
Minas Gerais, onde ocorreu um genocídio de pelo menos 60 mil pessoas entre 1903
e 1980.
Apesar de ser uma história recente, o fato de um episódio
tão macabro permanecer desconhecido pela maioria dos brasileiros inspirou a
jornalista Daniela Arbex. “Eu me perguntei: como minha geração não sabe nada
sobre isso?”. A obra conta a história do maior hospício do Brasil, que ficou
conhecido como Colônia e leva este nome por ter abrigado atos de crueldade
parecidos com os que aconteceram na Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra
Mundial.
“Dei esse nome primeiro porque foi um extermínio em massa.
Depois porque os pacientes também eram enviados em vagões de carga (ao
manicômio). Quando eles chegavam, os homens tinham a cabeça raspada, eram
despidos e depois uniformizados”, explica a autora. Daniela não foi a única a
comparar Colônia ao holocausto. No auge dos fatos, em 1979, o psiquiatra
italiano Franco Basaglia visitou o hospício com a intenção de tentar reverter o
que ocorria no local. “Estive hoje num campo de concentração nazista. Em nenhum
lugar do mundo presenciei uma tragédia como essa”, disse na ocasião.
A Colônia foi inaugurada em 1903 e continua aberta até hoje,
mas o período de maior barbárie aconteceu entre 1930 e 1980, quando pessoas
eram internadas sem terem sintomas de loucura ou insanidade. Segundo o
livro-reportagem, cerca de 70% das pessoas não tinham diagnóstico de doença
mental. “Foi o momento mais dramático. A partir de 1930, os critérios médicos
desapareceram. Em 1969, com a ditadura, o caso foi blindado. Não gosto de
chamar assim, mas (entre 1930 e 1980) foi um período negro. Foi criado para
atender pessoas com deficiência mental, mas acabou sendo usado para colocar
pessoas indesejadas socialmente, como gays, negros, prostitutas, alcoólatras”,
contou.
Internação e sobrevivência
Daniela contou ainda que a ordem para internação das pessoas
na Colônia vinha dos mais influentes da sociedade na época. “Quem decidia é
quem tinha mais poder. Teve pessoas que foram enviadas pela canetada de delegados,
coronéis, maridos que queriam se livrar da mulher para viver com a amante. Não
tinha critério médico nenhum. Tem documento que mostra que o motivo da
internação de uma menina de 23 anos foi tristeza”, criticou.
Ao chegarem ao manicômio, os internados tinham uma rotina
“desumana”. Eles dormiam juntos em salas grandes sem cama. Todos tinham que se
deitar sobre o chão do cômodo, que era coberto apenas por capim. Acordavam por
volta das 5h da manhã e eram enviados para os pátios, onde ficavam até 19h,
todos os dias. “Barbacena é uma cidade muita fria. Até hoje tem temperatura
muito baixa para os padrões brasileiros. Pessoas eram mantidas nuas nos pátios
em total ociosidade. Pensa bem que condição sub-humana”, disse a jornalista.
Além disso, a alimentação na Colônia era precária, o que
causou a desnutrição e, consequentemente, o desenvolvimento de doenças em
vários dos “pacientes”. “Eles tinham uma alimentação muito pobre, de pouca
qualidade nutritiva. Muitas pessoas passavam fome. Tem histórias de gente que
em momento de desespero comeu ratos ou pombas vivas. (...) As pessoas acabavam
tendo sede e bebiam urina ou esgoto porque tinha fossas no pátio. Não tinha
nenhuma privacidade. Até 1979 era assim, faziam xixi e coco na frente de todo
mundo", explicou.
O fato dos homens, mulheres e até crianças ficarem pelados o
tempo todo criava um clima de promiscuidade no manicômio. Há relatos de
mulheres que foram estupradas por funcionário. “Consegui depoimentos nesse
sentido de (estupro e abuso sexual), mas não consegui provar. Tem um caso de
uma mulher que disse ter engravidado de um funcionário. Certo é que havia uma
promiscuidade incrível. As pessoas eram mantidas nuas, dormindo juntas nessas
condições. Crianças eram mantidas no meio dos adultos”, lamentou.
Além das condições insalubres, o hospício chegou a ter 5.000
pessoas ao mesmo tempo, enquanto a capacidade original era para 200 pacientes.
Nesses períodos de maior lotação, 16 pessoas morriam todos os dias. “Não era
uma coisa determinada, não existia uma ordem (para matar). As coisas foram se
banalizando. Um funcionário via que outro fazia tal coisa com o paciente e
repetia. As pessoas deixaram as coisas acontecerem. Não tinha essa coisa de
vamos fazer com essa finalidade. Era exatamente por omissão”, comentou.
Venda de corpos
Mas a morte dava lucro. A autora do livro conta que
encontrou registros de venda de 1.853 corpos, entre 1969 e 1980, para
faculdades de medicina. “O que a gente não sabia e conseguimos descobrir, com a
ajuda da coordenação do Museu da Loucura, foi que 1.853 corpos foram vendidos
para 17 faculdades de medicina do País. O preço médio era de 50 cruzeiros. Dá
um total de R$ 600 mil reais, se atualizarmos a moeda. Tem documento da venda
de corpos. De janeiro a junho de um determinado ano, por exemplo, a
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) recebeu 67 peças, como eles
mencionavam os corpos”, afirma.
Depois de algum tempo, o mercado deixou de comprar tantos
cadáveres. Os funcionários passaram, então, a decompor os corpos dos mortos com
ácido no pátio da Colônia, diante dos próprios pacientes, para comercializar
também as ossadas.
O caos estabelecido na Colônia foi descoberto pela revista O
Cruzeiro, que publicou em 1961 uma reportagem de denúncia de José Franco e Luiz
Alfredo, entrevistado por Daniela Arbex no livro. A autora conta que, na época,
houve comoção em torno do caso, mas as condições continuaram as mesmas no
hospício. “Na época, o (ex-presidente) Jânio Quadros estava no poder. Ele falou
que ia mandar dinheiro para a Colônia, falaram que ia fazer acontecer e nada.
Não foi feito nenhum tipo de intervenção que fizessem os absurdos cessarem. De
1961 até 1979, a situação continuou tão grave quanto”, explica.
As “atrocidades” no hospício só começaram a diminuir quando
a reforma psiquiátrica ganhou fôlego em Minas Gerais, em 1979. Hoje, o
manicômio é mantido pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG)
e conta com 160 pacientes do período em que o local parecia mais um “campo de
concentração”. Ninguém nunca foi punido pelo genocídio.
FONTE: IG
Via - Conheça Minas
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