Pesquisadores da Imperial College London usaram a substância
para tratar um pequeno número de pacientes que não respondiam aos métodos
convencionais, e os resultados surpreenderam.
Reportagem de O Globo
Composto alucinógeno presente em cogumelos pode ajudar no
tratamento da depressão Foto: PIXABAY
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A psilocibina, composto psicoativo presente naturalmente nos
cogumelos alucinógenos, pode auxiliar no tratamento da depressão, sugere um
estudo publicado nesta sexta-feira na revista “Scientific Reports”.
Pesquisadores da Imperial College London usaram a substância para tratar um
pequeno número de pacientes que não respondiam aos métodos convencionais, e os
resultados surpreenderam: os benefícios duraram até cinco semanas,
aparentemente porque o composto “reiniciou” a atividade de circuitos cerebrais
relacionados com a doença.
Comparações das imagens cerebrais dos pacientes antes e um
dia após o tratamento com o alucinógeno revelaram mudanças na atividade
cerebral associadas com reduções marcantes dos sintomas depressivos.
Carhart-Harris ressalta que os resultados são iniciais, limitados a um pequeno
grupo de pacientes que não responderam a outros tratamentos, e não há um modelo
de controle. Mesmo assim, os resultados da terapia experimental são
surpreendentes.
— Nós demonstramos pela primeira vez mudanças claras na
atividade cerebral de pessoas com depressão tratadas com psilocibina — explicou
o líder da pesquisa, Robin Carhart-Harris. — Muitos dos nossos pacientes
disseram se sentir “resetados” após o tratamento, usando analogias dos
computadores. Por exemplo, um disse sentir como se o cérebro tivesse sido
“desfragmentado” como um disco rígido, e outro disse se sentir
“reinicializado”. A psilocibina talvez esteja dando a esses indivíduos o
pontapé inicial que precisam para se livrarem do estado depressivo.
Ao longo das últimas décadas, vários testes clínicos foram
conduzidos para determinação da segurança e efetividade dos psicodélicos em
pacientes com problemas psicológicos. O estudo da Imperial College London é o
primeiro a tentar tratar a depressão com o princípio ativo dos cogumelos alucinógenos,
conhecidos popularmente como cogumelos mágicos.
Os 20 pacientes que não demonstraram evoluções com
tratamentos convencionais receberam duas doses de psilocibina, sendo a primeira
de 10 miligramas e a segunda mais forte, com 25 miligramas. O intervalo entre
as doses foi de uma semana. 19 dos participantes realizaram exames de imagem no
cérebro antes de receberem o composto e um dia após a segunda dose. Os
pesquisadores mediram alterações no fluxo sanguíneo e na comunicação entre
diferentes regiões cerebrais. Questionários avaliaram os sintomas apresentados
pelos pacientes.
Imediatamente após o início do tratamento, pacientes
relataram uma redução nos sintomas depressivos, o que corresponde a relatos
anedóticos sobre o “brilho”, efeito caracterizado por melhorias no humor e
alívio no estresse. Mas os exames de imagem revelaram redução do fluxo de
sangue em determinadas áreas do cérebro, incluindo as amídalas cerebelosas,
conhecidas pela relação com as respostas emocionais, o estresse e o medo.
Também foi observado o aumento da estabilidade em algumas redes cerebrais.
A descoberta fornece uma nova visão sobre o que acontece no
cérebro das pessoas após elas “retornarem” de uma viagem psicodélica, com uma
desintegração inicial das redes neurais durante o uso dos alucinógenos, seguida
pela reintegração.
— Pode ser que os psicodélicos realmente “reiniciem” as
redes cerebrais associadas com a depressão, permitindo efetivamente que os
pacientes se libertem do estado depressivo — sugeriu Carhart-Harris.
Contudo, os pesquisadores alertam que os resultados não são
conclusivos, e pacientes com depressão não devem tentar a automedicação, já que
a equipe de pesquisas fornece um contexto terapêutico seguro à experiência
psicodélica. Um novo experimento, comparando a psilocibina com medicamentos
antidepressivos, será iniciado ano que vem.
— Estudos maiores são necessários para ver se esses efeitos
positivos podem ser reproduzidos em mais pacientes — alertou David Nutt,
coautor da pesquisa. — Mas os resultados iniciais são excitantes e fornecem um
novo caminho terapêutico a ser explorado.
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