Hoje mais do que nunca, assistimos a decadência da moral, do
caráter, dos princípios humanos e do bom costume. O poder, o dinheiro a
ganância pelo ter, corrompe o ser humano, o desumaniza e o faz injusto. A sede
pelo possuir em muitas das vezes deixa o homem orgulhoso, preconceituoso e em
outras ocasiões, transforma o indivíduo num ser pérfido.
Vivemos na época do vale quanto pesa, você vale exatamente a
quantia de sua conta bancaria ou de seus bens materiais, sendo assim, para o
indivíduo que tem posses, tanto faz ele ter caráter ou não, para o endinheirado,
dá no mesmo ser honesto ou traidor, a escolha ele faz de acordo com o peso de
sua consciência, uma vez que ser bom ou ruim não implicará em sua conduta
frente aos que o julgam, aliás, dificilmente um rico é julgado por alguma falta
de qualidade.
O pobre obviamente, não pode se dar ao luxo de escolher sua
conduta sem sair lesado, neste mundo corrompido, pobre tem que ser bonzinho,
honesto, compreensivo, pacífico e trabalhador. Ao pobre é dever andar na ordem
e se deixar adestrar, ao indivíduo desafortunado está traçado o destino de
servir com exemplo e retidão, mesmo que o conforto e a dignidade não esteja de
forma alguma a ele reservado, ao pobre cabe a submissão e o conformismo.
Um exemplo clássico na distinção pobre e rico está na
questão relacionada a vida amorosa, nesta sociedade maculada e demagoga o
indivíduo pobre porém de caráter, boa índole tem forte chance de perder a
mulher amada para o primeiro forasteiro endinheirado que lhe fizer oposição,
mesmo sendo desonesto, o rico tem larga vantagem numa possível disputa amorosa.
Ter dinheiro é o mesmo que jogar com cartas marcadas, é ter
carta na manga, é estar sempre na vantagem, não é a toa o alto índice de pobres
revoltados por sua condição de vida, a ausência do dinheiro a má distribuição
de riquezas, forma uma sociedade de cidadãos injustiçados, à margem da
qualidade de vida. Ser pobre não é estar em desvantagem apenas no montante de
cifras, ser pobre é ser espezinhado, é não desfrutar de justiça e ser
hostilizado.
A própria sociedade desprovida de dinheiro, desvaloriza o
indivíduo igualmente pobre, ao rico, além de sua vantagem financeira, ele pode
ser feio, devasso, imoral, porem sua moral permanecerá intacta, farão vistas
grossas quanto aos seus defeitos, o fato do indivíduo ter dinheiro, o isentará
de qualquer mácula. Claro que a falta de qualidade moral não é uma
particularidade dos indivíduos ricos, mas a ausência dela surtirá mais efeito
ao pobre do que ao rico.
Nos meios da moda, a índole de uma pessoa é medida pela
etiqueta de suas roupas, pelo carro que dirigem e pelo imóvel em que moram.
Quando pobre, cai por terra a inteligência, a honestidade se torna nula, os
valores morais não são contabilizados quando esta ou aquela pessoa não tiver em
mãos o fator dinheiro para por em jogo.
O rico é rodeado de “amigos”, ao rico está os bons convites,
os melhores lugares, as mulheres lindas, enfim, a parte boa desta vida
passageira está destinada ao rico. Aos reles mortais restam o resto, assim
funciona e é a realidade de nossa gente, ao pobre é imposto muitas barreiras,
faltas de oportunidade, entraves e dificuldades.
O pobre por melhor que seja, será sempre olhado de soslaio,
neste mundo cão, viver é para o pobre um padecimento, sobreviver é uma proeza.
Augusto dos Anjos em um de seus poemas nos diz: “O homem que neste mundo vive
entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera”
Assim seguimos, nos tornando cada vez mais corrompidos,
injustiçados e perseguidos, o maior castigo de tudo isso, é ter-se a
consciência desta condição desfavorável que estamos imergidos. O lado podre da
maçã clama, temos fome e sede de justiça, saciem-nos.
Mateus Brandão de Souza – Graduado em História pela FAFIPA
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