Últimos dados sobre emprego no Brasil mostram que, das 13,4
milhões de pessoas sem emprego, 37,8% desistiram da procura.
Entre desempregados, subocupados, desalentados e pessoas que
não estão ocupadas por outros motivos, Brasil tem 28,3 milhões de subutilizados
/ José Cruz / Agência Brasil.
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O número de pessoas aptas ao trabalho mas sem emprego no
Brasil superou a marca dos 13,4 milhões no primeiro trimestre de 2019. Isso
significa dizer que 12,7% dos brasileiros e brasileiras estão desempregados. Os
dados atualizados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), na última terça (30).
"Os dados confirmam o indicativo do aumento do número
do desemprego. Talvez o mais importante seja o volume desse aumento de desocupados.
São 1,2 milhões de pessoas, comparando com o trimestre anterior. A taxa
aumentou mais de um ponto percentual, o que é muito significativo em um
primeiro trimestre", comenta Patrícia Pelatieri, coordenadora de pesquisas
do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese).
:: "Trabalho precário, intermitente, é a antessala do
desemprego", diz Ricardo Antunes ::
Uma análise mais aprofundada sobre os dados do IBGE revela
outros recortes que permitem avaliar a evolução do cenário laboral brasileiro:
6,8 milhões de pessoas estão subocupadas. Tratam-se, em geral, de trabalhadores
informais ou que se dedicam aos chamados bicos, trabalhando menos horas do que
poderiam.
O sociólogo Ricardo Antunes, um dos maiores estudiosos brasileiros
sobre o mundo do trabalho, explicou em entrevista ao Brasil de Fato que este
tipo de trabalho, informal, intermitente é a "antessala do
desemprego".
Os números apontam também para um grupo crescente de
trabalhadores desalentados, ou seja, desempregados que deixaram de procurar
emprego, cresceu 3,9% no último trimestre. No total, 180 mil pessoas desistiram
de encontrar um trabalho, somando 4,8 milhões de brasileiros.
Antunes interpreta que a condição de desalento não significa
que o trabalhador ou a trabalhadora não queira mais buscar emprego porque não
precisa. "Eles não buscam mais emprego porque estão fazendo isso há um,
dois anos. Para buscar emprego você tem que acordar cedo, ter dinheiro para
condução, para alimentação. É muito custoso", analisa.
Somados os trabalhadores sub-ocupados, os trabalhadores que
poderiam trabalhar mas não o fazem por diversos motivos – uma mãe que não pode
trabalhar por ter que cuidar de um filho pequeno sem acesso a creche, por
exemplo – e os trabalhadores desalentados,
o Brasil atingiu o recorde de 28,3 milhões de pessoas classificadas pelo IBGE
como subutilizadas.
"É muito preocupante olhar esse quadro, principalmente
ao verificarmos o perfil dos desalentados, dos sub-ocupados e desempregados.
São, em sua maioria, mulheres jovens entre 18 e 24 anos. Trabalhadores de
ocupações elementares, com baixa escolaridade. Estamos falando de um
empobrecimento da classe trabalhadora muito significativo", alerta
Pelatieri.
:: "Qualquer vaga serve": paulistanos saem às ruas
em busca de emprego ::
De acordo com Antunes, a criação de bolsões de desempregados
é servil ao sistema capitalista. Sobretudo no cenário atual, em que as
políticas sociais estão em retração, e com os efeitos da reforma trabalhista,
tornando trabalhadores cada vez mais reféns às condições degradantes impostas
pelos empregadores.
"O desemprego é o flagelo mais brutal. E cada vez mais
esse bolsão de desempregados se confunde com o bolsão de subempregados, de
informais intermitentes, porque todos esses vivenciam muitos horários de suas
vidas em que deveriam trabalhar para sobreviver, na condição real de
desemprego", concluiu Antunes.
*Colaboração Lu Sudré e Rodrigo Chagas
Edição: Rodrigo Chagas
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