Por Patativa do Assaré
Nesta vida aperriada
Pra me livrá das furada
Destes teus zóio redondo,
Caboca onde é que eu me soco
Caboca onde eu me coloco?
Caboca onde é que eu me escondo?
Pra me esquecê dos teus zóio
Eu canto, eu grito, eu abóio,
Faço tudo que é preciso,
Mas por onde eu vou passando
Sinto teus zóio briando
Por dentro do meu juízo.
Meu padecê, minha cruz,
É duas bola de luz
Que me dêxa incandiado,
Estas duas jóias prima
Com a força de dois íma
Me puxando pra teu lado.
Vendo os teus zóio prefeito
Sinto entrando no meu peito
Dois ferrão de marimbondo
Caboca, não seja ingrata,
Tu me martrata e me mata
Com esses zóio redondo.
Me tire desta sentença,
Tu só parece que pensa
Que eu não tenho coração,
Tu me amofina e me aleja
De ruêdera, de inveja,
De ciúme e de paixão.
Sabe quá é a meizinha
Pra essa doença minha?
Pregunta que eu te respondo,
Era se tu me quisesse
E de coração me desse
Estes teus zóio redondo.
Nota: Patativa do Assaré era o nome artístico (pseudônimo)
de Antônio Gonçalves da Silva. Nasceu em 5 de março de 1909, na cidade de
Assaré (estado do Ceará). Foi um dos mais importantes representantes da cultura
popular nordestina.
Vida e obras
Dedicou sua vida a produção de cultura popular (voltada para
o povo marginalizado e oprimido do sertão nordestino). Com uma linguagem
simples, porém poética, destacou-se como compositor, improvisador e poeta.
Produziu também literatura de cordel, porém nunca se considerou um cordelista.
Sua vida na infância foi marcada por momentos difíceis.
Nasceu numa família de agricultores pobres e perdeu a visão de um olho. O pai
morreu quando tinha oito anos de idade. A partir deste momento começou a
trabalhar na roça para ajudar no sustento da família.
Foi estudar numa escola local com doze anos de idade, porém
ficou poucos meses nos bancos escolares. Nesta época, começou a escrever seus
próprios versos e pequenos textos. Ganhou da mãe uma pequena viola aos
dezesseis anos de idade. Muito feliz, passou a escrever e cantar repentes e se
apresentar em pequenas festas da cidade.
Ganhou o apelido de Patativa, uma alusão ao pássaro de lindo
canto, quando tinha vinte anos de idade. Nesta época, começou a viajar por
algumas cidades nordestinas para se apresentou como violeiro. Cantou também
diversas vezes na rádio Araripe.
No ano de 1956, escreveu seu primeiro livro de poesias
“Inspiração Nordestina”. Com muita criatividade, retratou aspectos culturais
importantes do homem simples do Nordeste. Após este livro, escreveu outros que
também fizeram muito sucesso. Ganhou vários prêmios e títulos por suas obras.
Patativa do Assaré faleceu no dia 8 de julho de 2002 em sua
cidade natal.
Foto: Talita Santos.
Fonte: Sua Pesquisa
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