Só os viajantes acabam. E mesmo
estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o
viajante se sentou na areia da praia e disse: “Não há mais que ver”, sabia que
não era assim. O fim da viagem é apenas o começo doutra.
É preciso ver o que não foi visto, ver outra
vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que
se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o
fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava.
É preciso voltar aos passos que
foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É
preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.» Assim é.
Assim seja.
José Saramago, "Cadernos de
Lanzarote" (1994)
Fotografia de Isaura Almeida
Via – Sonhar a Realidade
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