Eu já senti todos os medos, eu já
gozei de todo jeito, eu já morri no fim da história, eu já furei corações com
salto fino, eu já toquei todos os corpos, eu já sangrei por todos os cortes, eu
já conheço todos os gostos, eu já bebi todos os venenos. Eu já beijei todas as
bocas. Eu vi o filme da Binoche. Eu sobrevivi.
Ela não disse nada disso, claro,
esticou o braço, ofereceu a mão, um lado do rosto, roçou com os lábios o rosto
dele, muito prazer.
Eu já joguei tudo fora e tomei
banho esfregando a pele com lixa pra apagar qualquer memória. Eu já tranquei a
porta, saí da cidade, chamei a polícia, pra não ser mais uma história. Eu já
teci mantas para filhos que nunca gestei e abortei cada palavra gentil que
pensei dizer.
Sentou na cadeira que ele puxou,
tragou o cigarro que ele acendeu, bebeu a cerveja que ele serviu. Sorriu.
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