Matança em Las Vegas, nos EUA, reacende debate sobre
segurança pública e porte de armas de fogo
Juliana Gonçalves
O acesso às armas de fogo nos Estados Unidos sempre é
questionado quando ocorre uma tragédia, como a da madrugada deste domingo (2).
Pelo menos 58 pessoas morreram e mais de 500 ficaram feridas
quando um homem abriu fogo contra a multidão que assistia a um festival de
música em Las Vegas. Aproximadamente 40 mil pessoas estavam no local. O ataque
a tiros é considerado o mais letal da história dos Estados Unidos.
Em conversa com o Brasil de Fato, Guaracy Mingardi, que é
analista criminal, faz um paralelo com a realidade brasileira. Ele alerta que
casos como o de mortes em massa por armas de fogo, tão comuns nos Estados
Unidos, são mais difíceis de ocorrer aqui porque há mais dificuldade para que
elas sejam obtidas: "É muito fácil adquirir arma lá. Você consegue
adquirir, muitas vezes, sem nem aparecer, podendo encomendar pelo
correio".
Ele ressalta ainda que "quando o número de armas
circulando e armas entre criminosos diminui, o número de homicídios também
diminui".
Hoje, cerca de 300 milhões de civis estadunidenses têm armas
de fogo, dentro de uma população de 323 milhões, o que significa quase uma arma
para cada pessoa no país, como mostra o estudo do Fundo de População das Nações
Unidas.
Na recente tragédia estadunidense, testemunhas afirmaram que
os tiros vindo de armas automáticas duraram mais de dez minutos sem cessar. O
xerife Joseph Lombardo disse que foram encontrados "mais de dez fuzis"
no quarto de hotel onde o atirador Stephen Paddock, de 64 anos, estava
hospedado.
Nas redes, internautas reacenderam o debate sobre a
facilidade de se obter uma arma de fogo nos Estados Unidos e sobre a
possibilidade de se autodefender com elas. Mingardi considera que,
diferentemente do que prega o senso comum, a probabilidade de uma pessoa ter
condição de se defender usando uma arma de fogo em casos de violência é muito
pequena. Mesmo policiais treinados têm um alto índice de mortalidade quando
reagem a um assalto e estão à paisana, diz o especialista.
Outro ponto observado por ele é que o porte de arma podem
ter efeito contrário ao desejado:"Essas armas que as pessoas acham que vão
defendê-las não vão servir para isso, na maioria dos casos. As armas vão ser
roubadas e cair nas mãos dos criminosos uma hora ou outra. Isso é o que
acontece com a maioria das armas".
Por esse motivo, ele alerta para os debates que estão
ocorrendo no Congresso brasileiro com o objetivo de revogar o Estatuto do
Desarmamento, como propõe o deputado Jair Bolsonaro (PSC):
"Precisamos tomar cuidados para manter a legislação
como está, a pressão, o lobby que está havendo com a indústria armamentista em
conversa com muitos deputados. Temos que impedir que esse lobby tenha sucesso
porque, se depender deles, todo mundo vai andar armado e o número de mortos vai
aumentar muito. Qualquer briga de bar ou de trânsito vai ter um morto",
diz.
Atualmente, a Lei do Desarmamento (10.826/03) restringe a
concessão de porte apenas às categorias profissionais que dependem de armas
para o exercício de suas atividades – como policiais, integrantes das forças armadas
e guardas prisionais.
Edição: Vanessa Martina Silva
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