Em outros tempos, a
televisão e até mesmo o horário eleitoral contribuíam para o debate de projetos
e as escolhas dos cidadãos. Hoje o objetivo é promover o desencanto. Quem ganha
com isso?
Segue animada a luta de partidos e candidatos por alguns
segundos a mais no horário eleitoral obrigatório no rádio e na TV, a se iniciar
em 31 de agosto. Há candidatos, como é o caso do ex-governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin, que apostam tudo nesse tipo de propaganda. É a sua última
esperança de melhorar os índices de intenção de voto registrados até aqui por
todas as pesquisas.
A expectativa, por certo, é que se repita o fenômeno das
últimas eleições municipais realizadas em São Paulo, onde um candidato
desconhecido recebeu uma cuidadosa embalagem de marketing e venceu as eleições
no primeiro turno graças à TV – e ao desinteresse pela política, já que Doria
perdeu para abstenções e brancos e nulos.
Se por um lado esse tipo de uso do horário eleitoral
distorce sua finalidade, levando o eleitor ao engano, por outro é nesse momento
que as mensagens honestas e não manipuladoras podem transitar livremente.
Personagens e ideias banidas ou distorcidas durante as programações regulares
das emissoras podem aparecer em sua integralidade nos horários obrigatórios.
A ditadura civil-militar de 1964-1985 tentou aniquilar todas
as organizações de esquerda existentes no pais, mesmo aquelas que não aderiram
à luta armada. Qual não foi a surpresa quando, ao final desse período, era
possível ver nas telas de TV, nos horários obrigatórios, os símbolos do
comunismo até então demonizados pela ditadura. Além das mensagens denunciando
as mazelas nacionais contrastando com a propaganda governamental ufanista.
Os programas eleitorais cumpriram um importante papel na
abertura democrática dos anos 1980 e na consolidação das liberdades políticas
dali em diante.
A sua importância está diretamente ligada à falta de
pluralidade no noticiário e na ausência de debates políticos no rádio e na TV.
Durante a ditadura a Polícia Federal enviava seguidamente ordens às redações
proibindo a divulgação de determinados assuntos ou a realização de entrevistas
com determinadas pessoas.
Entre os nomes censurados estavam, por exemplo, os de dom
Hélder Câmara e de Darcy Ribeiro e entre os inúmeros assuntos proibidos
incluíam-se o surto de meningite que ocorreu em São Paulo em meados da década
de 1970 e a volta às ruas das manifestações estudantis.
Hoje a situação se repete, não por via direta da Policia
Federal mas pela própria censura empresarial imposta pelos donos dos meios de
comunicação. Exemplo mais recente é o do banimento do nome do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva dos noticiários. Ao ser preso, a ordem das empresas é
que ele fosse esquecido, com a intenção de determinar a sua queda nas pesquisas
de intenção de voto, o que não ocorreu.
Sobreveio, no entanto, um fato novo, inesperado para os
operadores do jornalismo dessas empresas. A ordem do desembargador Rogério
Favreto de libertar o ex-presidente em pleno domingo pegou os plantonistas nas
redações de surpresa. De repente, tinham que falar de Lula de novo.
Para tanto, comentaristas e apresentadores de folga foram
chamados e, ao longo do dia, tentaram ir se refazendo do susto. Se o nome do
ex-presidente não podia deixar de voltar as telas e microfones, a forma como
isso foi feito enquadrou-se na linha da distorção, enfatizando o irrelevante (o
desembargador ser plantonista ou ter trabalhado em administrações petistas) e
escondendo o relevante (a incomunicabilidade do ex-presidente impedindo-o de
falar com a imprensa, a ausência de razões para o seu encarceramento e a
perseguição pessoal exercida sobre ele pelo juiz de piso Sérgio Moro).
Mas não é só em momentos excepcionais como os do domingo, 8
de julho, que a mídia adota essa postura. Ela faz parte da rotina normal de
trabalho.
Na televisão aberta, o veículo informativo único para a
maioria da população brasileira, não se debate política. E na TV fechada os
poucos que existem mantêm uma linha editorial conservadora, quando não
reacionária. O contraditório inexiste.
Outro exemplo recente de parcialidade ocorreu com o programa
Roda Viva, da TV Cultura que, diga-se, não é um programa de debates e sim uma
espécie de entrevista coletiva, ao contrário do que afirmou o vice-presidente
do Conselho Curador da emissora, Jorge da Cunha Lima, em artigo publicado num
jornal da imprensa corporativa.
Nesse programa, a pré-candidata do PCdoB à Presidência da
República, Manuela D’Ávila, viveu um dos momentos mais constrangedores da
história da TV brasileira. Cercada de entrevistadores alinhados ideologicamente
em campo oposto ao dela, quase não pôde falar, interrompida que foi por mais de
60 vezes. As perguntas eram de nível pedestre, quase sempre evidenciando a
indigência cultural dos perguntadores.
Como se vê, nos raros momentos em que a TV se abre para a
política, o faz de forma canhestra, não dando ao telespectador a possibilidade
de formar opinião através de um debate qualificado, rico em ideias capazes de
despertar o público para temas que são essenciais à sua vida.
Ao contrário, programas como o Roda Viva já há muito tempo
vêm dando a sua contribuição para o desencanto com a política cujo resultado é
o surgimento de “salvadores da pátria” que, em outros momentos históricos,
espalharam o terror pelo mundo.
Via - Portal Vermelho
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