As pirâmides de Gizé têm estimulado a imaginação humana.
Quando foi erguida, a Grande Pirâmide tinha 145,75 m de altura (com o passar do
tempo, perdeu 10 metros do seu cume). O ângulo de inclinação dos seus lados é
de 54º54'. Sua base é um quadrado com 229 m de lado. Mas, apesar desse tamanho todo, é um quadrado
quase perfeito - o maior erro entre o comprimento de cada lado não passa de
0,1%, algo em torno de 2 cm, o que é incrivelmente pequeno. A estrutura consiste em mais de 2 milhões de
blocos de pedra, cada um pesando de duas a 20 toneladas.
Na face norte fica a entrada da pirâmide. Um número de
corredores e galerias leva ao que seria a câmara mortuária do rei, localizada
no "coração" da estrutura. O sarcófago é de granito preto e também
está orientado com as direções da bússola.
Surpreendentemente, o sarcófago é maior do que a entrada da câmara. Só pode ter sido colocado lá enquanto a
construção progredia, um fato que evidencia a complexidade do projeto e como
tudo foi cuidadosamente calculado.
São cálculos assombrosos.
Por exemplo, se você tomar o perímetro da pirâmide e dividi-lo por duas
vezes a sua altura, chegará ao número pi (3,14159...) até o décimo quinto
dígito. As chances de esse fenômeno
ocorrer por acaso são quase nulas. Até o
século 6 d.C., o pi havia sido calculado só até o quarto dígito.
E isso é só o começo.
A Grande Pirâmide pode ser a mais velha estrutura na face do planeta, é
a mais corretamente orientada, com seus lados alinhados quase exatamente para o
norte, sul, leste e oeste. É um mistério
como os antigos egípcios conseguiram tamanha precisão sem utilizar uma bússola
- assim com é incrível que até agora ninguém tenha aparecido com uma explicação
para o enigma.
Ao que parece, todas as construções na planície de Gizé estão
espetacularmente alinhadas. No solstício
de verão, quando visto da Esfinge, o Sol se põe exatamente no centro da Grande
Pirâmide e de sua vizinha, a pirâmide de Quéfren. No dia do solstício de inverno, visto da
entrada da Grande Pirâmide, o Sol nasce exatamente do lado esquerdo da base da
cabeça da Esfinge e passa toda a cabeça até se pôr ao lado direito de sua
base. A geometria das três pirâmides tem
sido uma fonte de confusão por muitos anos, por causa da maneira aparentemente
imperfeita com que foram alinhadas. É
curioso, porque foram os egípcios os inventores da geometria.
Por outro lado, a pirâmide está colocada num lugar muito
especial na face da Terra - ela está no centro exato da superfície terrestre do
planeta, dividindo a massa de terra em quadrantes aproximadamente iguais. O meridiano terrestre a 31º a leste de
Greenwich e o paralelo a 30º ao norte do equador são as linhas que passam pela
maior parte da superfície terrestre do globo. No lugar onde essas linhas se
cruzam está a Grande Pirâmide, seus eixos norte-sul e leste-oeste alinhados com
essas coordenadas. Em outras palavras, a
Grande Pirâmide está no centro da superfície terrestre. Ela é, por assim dizer, o umbigo do mundo.
Muitos arquitetos e engenheiros que estudaram a pirâmide concordam
que, com toda a tecnologia de hoje, não conseguiríamos construir uma
igual. Será ? Às vezes as pessoas
preferem acreditar em qualquer coisa menos na capacidade do gênio humano. Foi com essa intenção que, em 1944, um grupo
de arqueólogos tentou construir uma réplica da pirâmide, sem usar a tecnologia
moderna, nem mesmo a roda, mas seguindo uma escada proporcional de tamanho,
tempo e número de operários 40 vezes menor.
Isso resultaria justamente nos 10 m que faltam ao cume da Grande
Pirâmide.
Cordas e varetas serviam como instrumentos para medição e
demarcação do terreno, as pedras foram cortadas a cinzel nas pedreiras
distantes, transportadas de barco e empurradas até o local da empreitada, ao
lado de Quéops. O sistema utilizado para
erguer as pedras foi uma combinação da rampa com as alavancas. Tudo como nos
velhos tempos.
Para surpresa geral, as pedras foram se encaixando com
precisão milimétrica e a construção progrediu, apesar dos atrasos provocados
pelo desconhecimento do know-how da época, que teve de ir sendo desvendado na
base da tentativa e erro. O que frustou o sucesso da empreitada foi o
tempo. Não deu. Se a equipe dispusesse de alguns dias a mais,
além dos 45 dias determinados, teria construído uma Grande Pirâmide em escala.
Robert Bauval e Adrian Gilbert tem um estudo astronômico
sobre as pirâmides. Os dois publicaram suas descobertas preliminares no livro
THE ORION MYSTERY, editado pela Heinemann.
Eles também fizeram um documentário para a TV em 1995, lançando uma nova
e intrigante luz sobre o assunto. Os
pontos de vista expressados no livro e no documentário foram inicialmente
desprezados pelos egiptólogos acadêmicos, mas, conforme as evidências foram
reforçando sua teoria, mais e mais gente a foi aceitando.
Embora Virgina Trimble e Alexander Badawy tenham sido os
primeiros a notar que os "respiradouros" da pirâmide de Quéops
apontavam para a Constelação de Órion, aparentemente com o objetivo de mirar a
alma do rei morto em direção àquela constelação, Bauval foi o primeiro a notar
que o alinhamento das três pirâmides era uma acurada imagem espelhada das Três
Marias, como são chamadas no Brasil as estrelas Alnitak, Alnilam e Mintaka, que
formam o "cinturão" de Órion. A isso ele deu o nome de Teoria da
Correlação, que forma a espinha dorsal de sua pesquisa.
As pirâmides há muito vêm fascinando Robert Bauval. Ele é um engenheiro egípcio, filho de pais
belgas, nascido em Al-Iskandariyaa (Alexandria), e passou a maior parte da sua
vida trabalhando no Oriente Médio. Por
muitos anos ponderou sobre o significado de Sah, a constelação de Órion e sua
ligação com as pirâmides.
Bauval sabia que a aparentemente inconsistente disposição
das três pirâmides em Gizé não era acidental.
O problema há muito ocupava sua cabeça e a de seus amigos
engenheiros. Muitos concordavam que o
alinhamento, embora incomum não era um erro, dado o conhecimento matemático que
os egípcios tinham.
Enquanto trabalhava numa obra da Arábia Saudita, Bauval
costumava passar as noites com a família e os amigos num churrasco no
deserto. Num desses finais de noite ao
redor da fogueira, um amigo engenheiro, que também era astrônomo amador,
apontou para a constelação de Órion, que se levantava atrás das dunas. Ele
mencionou de passagem que as estrelas que formam o cinturão do caçador pareciam
imperfeitamente alinhadas, e não formavam uma diagonal reta. Mintaka, a estrela mais à direita, está
ligeiramente fora do
prumo. Enquanto o
amigo explicava, Bauval ia vendo a luz - o alinhamento das três estrelas
correspondia perfeitamente ao das
pirâmides de Gizé !
Inicialmente Bauval usou o programa de astonomia Skyglobe
para checar o alinhamento das estrelas em 2450 A.C. O software foi suficiente para clarear a
mente de Bauval quanto ao valor da sua descoberta. O programa Skyglobe também pode colocar a
Via-Láctea nos mapas celestes que produz, e ao fazer isso Bauval encontrou as
evidências para a sua teoria. Gizé está
a oeste do Nilo, da mesma forma que Órion está a "oeste" da
Via-láctea, e na mesma proporção em que Gizé está para o Nilo.
Bauval colocou a precessão das Três Marias e descobriu que,
devido à sua proximidade no espaço e à sua grande distância da Terra, há 5 mil
anos as estrelas apareciam exatamente do mesmo modo como são vistas hoje. Claro, elas mudaram em declinação -antes
estavam abaixo do equador celeste, a cerca de 10 graus de declinação.
A astronomia é fundamental na Teoria da Correlação de
Bauval. Em um ciclo de 26 mil anos, o
eixo do nosso planeta oscila levemente e isso leva a uma mudança aparente na
posição das estrelas. Esse fenômeno é
conhecido pleno nome de precessão.
Enquanto a Terra oscila, a Estrela Polar que marca o Pólo norte celeste
vai mudando. Atualmente, a estrela
Polaris marca esse ponto, mas, na época das pirâmides, no lugar dela estava
Thuban, da constelação Draconis. Dentro
de dez anos, a estrela Vega, da constelação de Lira, irá ser o pólo norte
celeste.
Outra mudança na posição das estrelas é provocada pela
expansão do universo. As estrelas não estão paradas no espaço - elas têm o que
se chama de movimento próprio. Algumas
estão se movendo em direção à Terra, enquanto outras estão se afastando. Grupos
de estrelas relacionadas, como as Três Marias, em Órion, tendem a se mover
juntas pelo espaço.
A mudança da posição de uma estrela está em função, entre
outras coisas, de sua distância do local de observação. Estrelas que estão muito longe parecem se
mover bem devagar. Este é o caso das
Três Marias, distantes aproximadamente 1,4 mil anos-luz Terra. Assim, através dos séculos, elas mudaram sua
declinação, e hoje nascem e se põem em tempos diferentes. Mas elas retêm sua forma característica por
causa da distância.
É muito importante entender que o céu era diferente no tempo
das pirâmides. A forma geral das Três Marias tem permanecido igual, embora
muitas outras partes do céu tenham mudado drasticamente. Graças aos sofisticados programas de
computador, é possível projetar o céu de volta no tempo, o que permitiu a
Bauval verificar e construiu sua teoria.
As relações que tal descoberta implica são fascinantes. Os egípcios eram dualistas, tudo em que
pensavam e em que acreditavam tinha sua contraparte - causa e efeito, direita e
esquerda, leste e oeste, morte e renascimento - e nada era visto isoladamente.
Eles construíram em Gizé uma réplica exata do cinturão de Órion, o destino do
Faraó, o Duat. Longe de ser uma tumba, a
pirâmide seria o ponto de partida da
jornada do rei morto de volta às estrelas de onde veio.
A egiptologia
tradicional acredita que os egípcios praticavam a religião solar, centrada na
adoração de Ra. O culto a Ra, cujo centro era Heliópolis, a Cidade do Sol, era
sem dúvida
importante, mas parece que era um apêndice de uma religião
estelar ainda mais antiga. Toda a
evidência que tem surgido sugere que Ra era meramente um dos instrumentos pelos
quais o rei retornava ao tempo primordial, e não ao seu objetivo final. A
aplicação da Astronomia ao estudo do Antigo Egito mostra que as estrelas tinham
importância definitiva no destino final do rei, como se pode notar pelo texto
466 recolhido na pirâmide : "Ó Rei, és esta grande estrela, a companheira
de Órion, que gira pelo céu com Órion, que navega o Duat com Osíris..."
O rei era muito importante por ser o elo entre os deuses e
os homens, e era tratado com enorme respeito na vida e na morte. Desde o momento de seu nascimento era educado
e treinado para seu retorno às estrelas.
Cada aspecto da sua vida estava associado com sua jornada. Ele aprendia as rezas e encantamentos (muitos
foram colocados nos Livro dos Mortos), que lhe garantiria uma jornada
segura. Seu objetivo na vida era um
retorno bem-sucedido, e a pirâmide, longe de ser uma tumba ou um memorial, era
um ponto de partida dessa grande jornada.
Autora: Lu Gomes
Fonte: Revista Planeta - Grandes Mistérios nº 3
http://www.geocities.com/Athens/Atrium/6509/cpiramidesorion.html
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