Sucessivos recordes de casos já pressionam os sistemas de saúde em diversos estados |
Previsão da plataforma Info
Tracker (USP/Unesp) indica que, atualmente, cada 10 doentes devem transmitir a
doença para cerca de outras 20 pessoas
Por Tiago Pereira, da RBA
São Paulo – O avanço da variante
ômicron vem provocando recordes de infecção pela covid-19 no Brasil. Nesta
quarta-feira (26), a taxa de transmissão da covid-19 no país chegou a 1,9. Isso
significa que a cada 10 pessoas que contraem a doença, outras 19 são
contaminadas. É o maior avanço no contágio já registrado até aqui. E a taxa de
transmissão deve continuar subindo. De acordo com a plataforma Info Tracker,
parceria entre USP e Unesp, esse índice deve chegar a 2,03 até o fim do mês.
Nesse sentido, o Brasil registrou
nas últimas 24 horas mais 224.567 novos casos de covid-19, estabelecendo novo
recorde. Assim, a média móvel de diagnósticos diários avançou para 159.877 nos
últimos sete dias. Também é o maior índice registrado desde o início da
pandemia no país, em março de 2020. Os dados são fornecidos pelo boletim diário
do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
No mesmo período, 570 pessoas
morreram pela covid-19, de acordo com os dados oficiais. Como resultado, são,
ao todo, 624.413 as vítimas da doença. Com 365 óbitos na média móvel, o país
registra o maior índice desde meados de outubro.
Menos letal
Por outro lado, estudo realizada por um grupo de cientistas alemães aponta que a variante ômicron é menos eficaz em bloquear a ação do sistema imunológico. Os pesquisadores das universidades de Kent e Frankfurt identificaram que a nova cepa é mais facilmente inibida pela resposta do interferon. Trata-se de uma proteção imunológica presente em todas células do corpo que desencadeia a produção de anticorpos. A variante delta, por exemplo, afeta mais significativamente o interferon, impedindo a reação do sistema imune.
De acordo com o Martin Michaelis,
da Escola de Biociência da Universidade de Kent, o estudo fornece pela primeira
vez uma explicação sobre por que as infecções pela variante ômicron são
responsáveis por casos menos graves da doença.
Anteriormente, estudo divulgado
pela Universidade de Hong Kong mostrou que a ômicron se multiplica 70 vezes
mais rápido nos tecidos das vias aéreas, em comparação com a delta. A
proliferação acelerada ocorre principalmente nos brônquios dos pacientes. Por
outro lado, nos pulmões, a nova variante se reproduz 10 vezes mais lentamente
do que a versão original do coronavírus. Mas não se sabia, ao certo, os motivos
para esse comportamento.
Mais transmissível
Ainda assim, apesar de levar a
casos menos graves, proporcionalmente, o número total de internações já causa
sobrecarga nos sistemas de saúde do país. Seis estados e o Distrito Federal têm
mais de 80% das UTIs ocupadas, segundo boletim Observatório Covid-19, da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Recentemente, o pesquisador da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Leonardo Bastos explicou essa relação. Ele
utilizou duas cidades hipotéticas com 1 milhão de habitantes cada. Uma delas enfrentando
um surto de uma doença menos transmissível e mais agressiva. E outra com um
surto mais transmissível, porém menos grave, como é o caso ômicron.
No primeiro caso, o contágio da doença atingiria 5% da população, com 1% evoluindo para casos graves. No segundo caso, com apenas 0,5% evoluindo para casos graves, porém atingindo 20% da população. Nesse modelo, após três meses, espera-se 50 mil infectados e 500 casos graves para a primeira cidade. Na segunda, no entanto, o total de infectados chegaria a 200 mil, com 1.000 casos graves.
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