Ano será marcado por estagnação econômica, desemprego elevado e dólar próximo a R$ 6.
Via – Portal Vermelho
O último ano do governo Jair
Bolsonaro – a exemplo dos três anteriores – será de más notícias para a
economia brasileira. Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil preveem um
péssimo cenário para o País em 2022, com estagnação econômica, desemprego
elevado e dólar próximo a R$ 6.
Para o PIB (Produto Interno
Bruto) – indicador que soma todos os bens e serviços produzidos no país –, a
expectativa dos economistas é de estagnação. Analistas divergem se o número vai
ser um pouco negativo ou um pouco positivo, mas todos concordam que, no azul ou
no vermelho, o desempenho deve ficar muito próximo de zero. Com isso, o mercado
de trabalho tende a perder ímpeto, com a taxa de desemprego caindo mais devagar
e a geração de vagas formais se mantendo fraca. A
A crise cambial também deve
continuar. O câmbio – relação entre o valor da moeda brasileira e as moedas de
outros países – terá um ano bastante volátil e inconstante, reagindo à corrida
eleitoral e à provável alta de juros para conter a inflação nos mercados
desenvolvidos. Esse movimento tende a atrair investimentos principalmente aos
Estados Unidos, enfraquecendo as moedas de países emergentes, como o Brasil, e
já há quem aposte em um dólar encostando nos R$ 6 ao longo do próximo ano.
Com dois resultados negativos no
segundo e terceiro trimestres de 2021, a economia brasileira entrou este ano em
“recessão técnica” – termo usado pelos economistas quando são registrados dois
trimestres seguidos de PIB em queda. No quarto trimestre, houve retração na
indústria (-0,6%), no varejo (-0,1%) e nos serviços (-1,2%).
As vendas da Black Friday em
novembro e do Natal em dezembro, com crescimento fraco em relação a 2020,
reforçaram a sensação de falta de ímpeto da economia. É em meio a esse desânimo
que o país adentra 2022, ano que os economistas preveem que será de estagnação
para o PIB brasileiro.
Segundo o boletim Focus do Banco Central (de 27/12), que reúne as expectativas de diversos analistas do mercado, o PIB brasileiro deve crescer apenas 0,4% em 2022, após avançar cerca
de 4,5% em 2021. O País mal se
recuperou da queda de 3,9% de 2020, quando a pandemia fez seu maior estrago, e
já voltará à estagnação.
Os empregos serão afetados pela
crise econômica. O ano de 2021 já foi de recuperação insuficiente para o
mercado de trabalho, após o forte baque registrado no ano anterior. A taxa de
desemprego, que começou o ano em 14,5%, chegou a outubro em 12,1%, segundo o
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Conforme dados do Caged (Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério da Economia, há chances de o
Brasil retomar, no primeiro trimestre de 2022, aos números do pré-pandemia.
Ainda assim, o País, sob a política ultraliberal do governo Bolsonaro, vai
continuar com o desemprego na faixa dos dois dígitos. Em fevereiro de 2020,
quando foi identificado o primeiro caso de coronavírus no Brasil, a taxa de
desemprego estava em 11,8%.
“A desaceleração da atividade que
sofremos no segundo semestre de 2021, que foi bem forte, deve começar a ter um
impacto no emprego a partir do primeiro trimestre de 2022. A renda do trabalho
deve continuar bem baixa, sofrendo com os efeitos da inflação e com reajustes
nominais abaixo da alta de preços”, avalia o pesquisador Daniel Duque, do
Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Em 12 meses até novembro de 2021,
19,4% das negociações salariais entre sindicatos patronais e de trabalhadores
resultaram em reajustes acima da inflação, enquanto para 50,8% os reajustes
foram inferiores e 29,8% conseguiram ao menos repor a alta de preços. Os dados
são do boletim Salariômetro da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas)
Já conforme o IBGE, em outubro, o rendimento médio dos brasileiros caiu 11,1% na comparação anual, para R$ 2.449. Com isso, a renda no país descontada a inflação se encontra no menor patamar da série histórica, que tem início em 2012. Ainda de acordo com Duque, a recuperação modesta do emprego que deve ocorrer em 2022 tende a ser puxada pelos trabalhadores informais e por conta própria.
A inflação será outro fantasma
para os brasileiros neste ano, mesmo ficando provavelmente inferior às taxas de
2022. “Dado que a nossa economia ainda é muito indexada, boa parte da inflação
de 2022 vai ser influenciada pela inflação de 2021”, diz André Braz,
coordenador de índices de preços na FGV. É o caso do salário mínimo, que passou
de R$ 1.100 para R$ 1.212 neste ano, acompanhando a alta da inflação.
Também os aluguéis, mensalidades
escolares e impostos como IPVA e IPTU devem ser influenciados pela inflação do
ano passado em seus reajustes, cita o economista. Segundo Braz, boa parte da
pressão inflacionária só deve perder forçar a partir do segundo semestre, já
que a alta da taxa básica de juros leva de seis a nove meses para ter efeito
sobre a economia.
“O efeito colateral disso vai ser
um crescimento menor”, prevê Braz. “Isso vai bater direto no mercado de
trabalho e nas oportunidades de emprego, contribuindo de forma mais aguda no
segundo semestre para diminuir a demanda, que já está enfraquecida, mas que
tende a se enfraquecer ainda mais.”
Para Silvio Campos Neto,
economista da Tendências Consultoria, dois fatores principais devem influenciar
a cotação da moeda brasileira em 2022: as eleições presidenciais no Brasil e a
alta dos juros nos Estados Unidos. “A perspectiva de que o Fed [Federal
Reserve, o banco central norte-americano] eleve as taxas de juros por lá é um
sinal de dólar forte no mundo todo”, diz Campos Neto.
Nos últimos anos, o real teve comportamento atípico em relação às moedas de países emergentes, como o peso mexicano, colombiano e chileno, o rand sul-africano e o rublo russo. Embora todas essas moedas tenham perdido valor com a pandemia, o real não se recuperou, ao contrário das demais. “Em 2022, esperamos pressões renovadas [sobre o câmbio]. Ao longo do ano, podemos perfeitamente observar novos picos, até próximos de novo a R$ 6”, prevê. Ao fim do ano, o economista avalia que o câmbio deve ceder de volta aos R$ 5,70.
Por fim, os juros em alta. Em dezembro, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa básica de juros da economia brasileira em 1,5 ponto percentual (p.p.), para 9,25%. Foi o sétimo aumento seguido da Selic, que ao fim de 2020 estava em 2%, menor nível da história. O
Copom também indicou mais um
aumento de 1,5 p.p. para sua próxima reunião, em fevereiro de 2022.
No entanto, os sinais de fraqueza
da atividade e os últimos dados de inflação abaixo do esperado fazem alguns
economistas acreditarem que a autoridade monetária pode optar por subir menos
os juros no início deste ano. “Temos visto diversos sinais de desaceleração da
economia, na indústria, nos investimentos e nos indicadores de confiança, que
mostram um empresário mais cauteloso para 2022”, diz Rafaela Vitoria,
economista-chefe do Banco Inter. No boletim Focus, o mercado também aposta em
um início do corte de juros já no próximo ano, mas mais modesto, para 11,5%.
Com informações da BBC News
Brasil
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