Era em um livro de 5ª série da matéria de língua portuguesa, lá pelo ano de 1986, havia em meio as suas lições esta poesia de Paulo Setúbal que agora transcrevo aqui:
Alma Cabocla
de Paulo Setúbal
A ti, minha mãe, que és a melhor
das mães, estes despretensiosos versos
da nossa terra e da nossa gente.
MINHA TERRA
DE VOLTA...
Minha terra... Ai, com que abalo,
Com que sincera emoção,
Eu, dando rédea ao cavalo,
Margeio este fundo valo,
— Caminho do meu torrão!
*
Tudo, no ar, festa e brilho!
E é com a alma a vibrar,
Que eu corto as roças de milho,
Por este sinuoso trilho
Que à minha terra vai dar.
*
Ninhos... flores... que tesouro!
Que alegria vegetal!
À luz do sol, quente e louro,
Com seus penachos cor de ouro,
— Como é lindo o milharal!
*
Abelhas, asas espertas,
Num revoejo zumbidor,
poisam trêfegas, incertas,
Pelas corolas abertas
Das parasitas em flor...
*
Na mata, de quando em quando,
Soa o trilar dos nambus.
Os pintassilgos, em bando,
As frontes sonorizando,
Gorjeiam em plena luz!
*
E eu sigo... Vou enlevado
Nesta poesia sem fim.
Bem sinto, de lado a lado,
Que um trecho do meu passado
Em tudo ri para mim!
*
Quem há, aí, que compreenda
Minha brusca, alta emoção,
Ao ver, ao longe, a fazenda,
Com sua chata vivenda,
Surgir no azul do espigão?
*
Aqui, nesta boa roça,
São todos amigos meus.
Por isso, a cada choça,
Toda gente se alvoroça
Para vir dizer-me adeus.
*
É o Quincas! É o Zé Colaço!
O Juca Elias! Nhô João!
Todos eles, quando eu passo,
Num longo, num rude abraço,
Apertam-me ao coração!
*
E aquele? Céus! Nhô Claudino!
O olhar em pranto ele traz...
É um velho, meigo e franzino,
Que outrora me viu menino,
E que hoje me vê rapaz...
*
Chego... Que festa infinita!
Como eles me querem bem!
Até a pobre da nhá Rita,
Com seu vestido de chita,
Corre a abraçar-me também!...
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