Por Lincoln de Britto Santos
Nos meus tempos de escola o dia de 22 de abril de 1500 ainda era lembrado pelos professores, afinal a data marcava o descobrimento do Brasil pelos portugueses, um marco na nossa história e na história mundial. Infelizmente não era esclarecido como e porque que nossos irmãos lusitanos vieram para cá, sempre houve a dúvida do descobrimento ter sido ou não um acidente, e esta tal duvida nunca fora respondida, ainda que muitos professores preferiam afirmar que tudo realmente não passava de um acidente.
A resposta de que tudo não passou de um acidente era mais conveniente, afinal era só dizer que “os lusitanos estavam em direção as Índias e no meio de sua rota houve uma tempestade e eles acabaram desembarcando em terras tupiniquins”. Fácil não é? Amputamos mais da metade da história, fatos que todo brasileiro deveria conhecer.
Antes de sabermos como foi à chegada lusitana em terras brasileiras deveríamos conhecer como era a Europa do século XV e XVI e qual era o contexto que Portugal vivia. A Europa do século XV e XVI passava por um momento de grande importância no campo político, econômico e religioso.
Tinha-se uma Europa marcada pela formação dos Estados nacionais, conquista marcada por diversas guerras feudais. Um período bastante instável afinal não só os problemas políticos afligiam o Velho Mundo mais também doenças como a Peste Negra que levou a morte milhões de pessoas, desastres climáticos que prejudicou fortemente o setor agrícola.
Outro problema era um perigoso inimigo externo: o islã. O mundo muçulmano neste período estava em crescente expansão constituindo seus domínios pelo Oriente Médio, marcado pela conquista da cidade de Jerusalém, e conquistando o norte da África e partes do sul da Europa, sendo assim dominando as principais rotas comerciais que dava acesso ao mercado indiano e chinês via Mar Mediterrâneo.
As cruzadas nascem desse choque de civilizações, onde o mundo muçulmano lutava por crescimento econômico e por Allá, e onde a Europa também lutava pela prosperidade, mas também defendendo a cruz de Cristo.
Portugal nesse contexto histórico também buscava por estabilidade econômica e independência política, durante séculos se envolveu em guerras contra seus vizinhos, Leão e Castela em prol de sua independência, e sua expansão territorial foi marcada pela luta contra os muçulmanos desde a tomada de Lisboa em 1147 a conquista de Ceuta em 1415.
Vasco da Gama que em 1497 tomou posse em nome de Portugal de uma nova rota comercial que ligava a Europa as Índias contornando o cabo da Boa Esperança no sul da África navegando pelas águas do Oceano Índico.
Em meio dessa busca pela conquista e pela estabilidade, outra potencia cristã também procurava seu “lugar ao sol” que era a Espanha. Com uma história bastante semelhante à portuguesa, várias foram as guerras que resultaram sua unificação que teve fim em 1492 quando conquistaram Granada localizada no sul, do país.
Com a conquista da América no mesmo ano por Cristóvão Colombo, o Papa Alexandre VI sob a pressão da Espanha usou do poder que lhe cabia, e dividiu o mundo em duas partes desta vez traçando um meridiano vertical e não horizontal como foi posto pela bula Æterni regis do Papa Sisto IV em 1481, afinal segundo o tratado anterior Colombo atracou em terras que pertenciam a Portugal.
A bula Inter Coetera de 1493, obra do Papa Alexandre VI foi à proposta da Igreja Católica para beneficiar a Espanha, afinal diante desse novo acordo, todo o continente americano ficaria sob o julgo da coroa espanhola, mas graças os conhecimentos cartográficos e geográficos adquiridos por Portugal, segundo alguns autores graças a Escola de Sagres, o rei João II de Portugal contesta o acordo e exige que ele deve ser revisto.
Dessa contestação nasce o Tratado de Tordesilhas que desde 1494 começou a ser estabelecido através de muitas disputas diplomáticas entre representantes das duas coroas junto o papado. Sendo assim um novo meridiano foi traçado a 370 léguas ou 1770 km das Ilhas de Cabo Verde, agora oferecendo parte das terras americanas ao reino lusitano.
Satisfazendo finalmente o desejo das duas coroas, agora o Papa Júlio II em 1506, seis anos depois da chegada de Pedro Álvares Cabral no Brasil, oficializa o tratado que é a certidão de nascimento do Brasil, proporcionando a difusão da língua portuguesa, da expansão do catolicismo e contribuindo com a formação do primeiro império global do mundo que foi o Império Português.
Prof. Lincoln de Britto Santos
22.04.2011
Olá! Somente um comentário...
ResponderExcluirNa parte final do texto se fala no Papa Julio II e coloca 1494 como seis anos depois da chegada de Cabral. Penso que há um equívoco não? O papa do Tratado de Tordesilhas não era Alexandre VI, e o tratado não foi seis anos antes de Cabral aqui chegar?
Prof. Sergio.
Caro Professor Sérgio, seu comentário me fez revisar a seqüencia dos acontecimentos, talvez não consegui citá-los com clareza no texto, mas segue aqui a cronologia dos fatos:
ResponderExcluir1481 - Bula Æterni regis do Papa Sisto IV Pontificado (1471-1484).
1492 - Descoberta da América.
1492-1503 Pontificado do Papa Alexandre VI
1493 - Bula Inter Coetera - Papa Alexandre VI
1493-1506 Período de negociação entre as coroas ibéricas junto ao papado.
1503-1513 Pontificado do Papa Júlio II
1506 - Júlio II aprova o tratado.
Talvez aqui pude ser mais claro...Um abraço.