A RBS - afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul e Santa
Catarina - é uma das empresas suspeitas de participação no esquema de corrupção
montado para não pagar impostos e que sonegou bilhões de reais. A notícia está
entre os trending topics do twitter desde que começou a circular, nesta
terça-feira (29), em Porto Alegre. O presidente executivo do grupo RBS, Eduardo
Melzer, pode estar de saída da casa.
Quem deu o furo foi o jornalista Luiz Cláudio Cunha, que
desde o ano passado acompanha a crise na empresa em matérias publicadas no
Jornal JÁ de Porto Alegre. Segundo Luiz Cláudio, o afastamento de Duda Melzer,
como é conhecido, será oficializado em outubro.
A especulação – já conhecida há semanas no mercado da
comunicação – ganha força a medida em que se aproxima o momento em que a
Polícia Federal denunciará os primeiros nomes da Operação Zelotes.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, as gaúchas RBS e Gerdau
são as empresas sobre as quais recaem os indícios mais fortes de participação
no esquema de corrupção montado para não pagar impostos. Nesta primeira leva de
denunciados estarão o nome de seis empresas e seus dirigentes, cujos crimes
contra a Receita Federal somam R$ 5,7 bilhões.
A CPI do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf),
instalada no Senado Federal, já aprovou a convocação de Duda Melzer para dar
seu depoimento sobre a investigação. Ainda que deixe o cargo, o executivo
deverá ir ao Legislativo, neste caso como ex-presidente do grupo.
O Grupo RBS é, atualmente, o principal conglomerado de
comunicações no Rio Grande do sul e em Santa Catarina. Detém, nos dois estados,
quatro canais e 18 retransmissoras de TV que atingem quase 800 municípios, oito
jornais impressos e sete rádios.
Executivo faltou a grandes eventos
A RBS não confirma a mudança na sua direção, mas o site
Coletiva.Net, que cobre o mercado de comunicação gaúcho, endossou a matéria de
Luiz Cláudio. “Há semanas circula no mercado a informação de que foi contratado
um escritório de head hunters (caça-talentos) de São Paulo para identificar um
profissional que assuma o comando do grupo”, diz um texto publicado no site.
A se confirmar a informação, será a primeira vez em mais de
meio século de existência, que a condução da empresa deixará as mãos da família
Sirotsky e passará para um profissional do mercado.
Em sua matéria, a Coletiva.Net elenca sinais de que Duda
Melzer está de saída. Segundo o site, o presidente executivo faltou a dois
grandes eventos do grupo realizados recentemente, o ZH Em Pauta e a entrega do
Troféu Guri, na Expointer. “Na Expointer, uma das mais destacadas promoções do
grupo de comunicação, o anfitrião e orador foi Nelson Sirotsky; Duda não
compareceu”, assinala o texto.
Tesouradas atingiram homens de confiança
Duda Melzer é neto do fundador da empresa, Maurício
Sirotsky, e assumiu o comando do grupo em 2012, no lugar do tio, Nelson
Sirotsky, que hoje é presidente do Conselho de Administração da companhia, onde
tem assento outros parentes diretos ou indiretos do fundador.
A figura de Duda Melzer ganhou fama além dos círculos da
comunicação em agosto do ano passado quando anunciou a demissão de 130 funcionários
por e-mail, o que ele considerava uma demonstração de “coragem e desapego”.
“Temos apoio dos acionistas nas nossas decisões e temos
também (...) coragem, energia e desapego para deixar de fazer coisas que não
agregam e investir no que pode nos fazer crescer”, escreveu, na ocasião.
Duda também saudou as novas operações da empresa, vinculadas
à indústria da bebida. “Muitos de vocês que já são sócios da Wine agora poderão
também ser da Have a Nice Beer, o maior clube online de cervejas da América
Latina, que está vindo para o Grupo”, destacou em seu comunicado.
Como a repercussão – inclusive entre leitores, ouvintes e
telespectadores da empresa – foi ruim, a demissão em massa acabou sendo feita a
conta gotas para evitar maiores desgastes à empresa.
Era tudo parte de um plano orientado pelo consultor Cláudio
Galeazzi, que segundo Luiz Cláudio é conhecido como Galeazzi Mãos de Tesoura
porque atua nas empresas para promover cortes em nome dos resultados positivos
para acionistas.
“O fio agudo do consultor acabou sangrando até as relações
entre criador e criatura, os dois Sirotsky que se revezaram no poder, Nelson e
Eduardo”, revela Luiz Cláudio.
Os cortes teriam atingido gente de confiança do antecessor
de Duda, Nelson Sirotsky. “Dois homens da tropa de elite de Nelson — o
vice-presidente de jornais, rádio e digital, Eduardo Smith, e o diretor de
jornalismo, Marcelo Rech — foram excluídos do círculo de decisão da RBS,
provocando uma cisão irreparável nas relações entre tio e sobrinho”, relata o
jornalista.
*Jornalista do Jornal JÁ de Porto Alegre (RS).
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