Por Perpétua Almeida
Renasceremos novas mulheres e novos homens pós-quarentena.
Não haverá escuridão. Esperancemos!
Nasci em um seringal no interior do Acre e somente aos 14
anos descobri o que era energia elétrica. Quando chegava a noite, nossa casa era
iluminada por um lampião. Era uma luz tênue, sem esplendor, mas ao mesmo tempo,
cumpria bem seu papel e não nos deixava ficar no breu. O alaranjado tímido que
se espalhava entre as paredes de madeira era também um clarão de esperança.
Nesses últimos dias, mesmo com luz elétrica em casa, me
senti de volta aos anos em que eu usava lampião: vi uma luz fraca ser acesa em
meio à escuridão. É perceptível que com a chegada do novo coronavírus ao mundo,
muita coisa se apagou. Nossos planos precisaram ser refeitos, novas rotas foram
traçadas, outros jeitos de seguir a vida foram desenhados. Entretanto, não à
toa, consigo ver o candeeiro mais forte agora com o isolamento. Vejo que muitas
famílias se reaproximaram, estão se conhecendo mais, se ajudando nas tarefas
diárias, se redescobrindo.
A saudade também tem visitado muitos lares, é verdade. Pais
e filhos que não podem se ver, netos que não podem visitar os avós, casais que
estão em casas diferentes, primos que não brincam juntos no fim de semana. Quem
mora sozinho tem aproveitado da própria companhia e aguarda ansiosamente a
oportunidade de um abraço. Nesse momento, precisamos ficar distantes uns dos
outros para voltarmos a ficar perto mais rápido.
Como uma ironia do destino, esse período de quarentena
coincidiu com a quaresma e com a Páscoa. Nos 40 dias que Jesus passou sozinho
no deserto, viveu muitas dificuldades e teve seu lado humano colocado à prova.
No coração do homem que também era Deus, havia o entendimento de que era
preciso passar por aquelas provações. No nosso coração, feito apenas de carne e
sem nenhuma divindade, pode surgir vez ou outra o questionamento do porquê de
enfrentarmos toda essa batalha.
Cada um encontrará dentro de si mesmo essa reposta, mas eu
me adianto e ouso dizer que ela só será descoberta se vista com os olhos da
esperança. Esperança de uma nova vida, de um novo mundo, de nossa humanidade
transformada. Esperança de que o bem vencerá o mal, de que juntos somos mais
fortes e de que precisamos cuidar a todo o momento de quem a gente ama –
especialmente do planeta.
Este cuidado, inclusive, aprendi desde muito cedo com a
minha família e depois no convento das Irmãs Dominicanas. Mais tarde, ao me
tornar deputada, tendo vivido na pele as dores e as necessidades dos mais
simples, passei a ter a oportunidade de lutar pelo bem da população. E sigo
neste caminho até hoje.
Desde o dia em que tomamos conhecimento de que o novo
coronavírus era uma ameaça para nosso país, eu, juntamente com a bancada dos
deputados do meu partido, o PCdoB, nos unimos a outros parlamentares que querem
trabalhar em prol dos brasileiros. Tornar a vida dos mais necessitados menos
difícil nesses tempos é o que me guia.
Com muita luta, nós, do Congresso Nacional, aprovamos o
Auxílio Emergencial de até R$ 1.200. Tenho batalhado por mais médicos nas
cidades, tenho me esforçado para garantir o mínimo de dignidade às pessoas e
tenho me dedicado a encontrar saídas para que trabalhadores e empresas
atravessem esse período turbulento com mais tranquilidade. No que depender de
mim, tenham certeza, ninguém sairá prejudicado. Estamos todos juntos.
Hoje é Páscoa, dia de celebrar a ressureição de Jesus e de
renascermos junto a Ele, dia de perdoar (aos outros e a si mesmo), de
ressignificar, de deixar para trás pesos e dores desnecessárias. O momento pede
união. Aos que podem estar em família, que vejam o amor renascer dentro de
casa. Aos que estão sozinhos, que se sintam acompanhados por aqueles que os
amam e encurtem a distância física por meio de ligações, videochamadas ou
mensagens de texto.
Renasceremos novas mulheres e novos homens pós-quarentena. A
luz do lampião, que um dia também foi a luz da esperança em minha vida,
iluminará novamente o mundo. Não haverá escuridão. Esperancemos!
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