Em entrevista à Fórum, ex-presidente boliviano fala sobre
golpe contra seu governo e interesses estadunidenses no país.
"Tenho certeza que o partido vai voltar ao governo e
vamos voltar a implementar políticas que priorizam o povo", afirma Evo
Morales. - ABI
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Marina Duarte de Souza
Brasil de Fato | São Paulo (SP)
O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, afastado por um
golpe de Estado no final de 2019, participou na manhã deste sábado (4) do
programa Fórum Onze e Meia para falar sobre o golpe de Estado que sofreu no
final de 2019.
O líder popular boliviano relembrou que desde que seu
partido político, Movimento para o Socialismo-Instrumento Político pela
Soberania dos Povos (MAS-IPSP), foi eleito, houve sucessivas tentativas de
golpe da direita à democracia do país, todas elas com “mãos dos Estados Unidos
por trás”.
“Os últimos movimentos não são diferentes de outros golpes
de direita e fascistas insuflados pelos Estados Unidos. Na verdade, o golpe foi
contra um outro modelo econômico da Bolívia sem FMI, sem capital estrangeiro,
que mostrou que outra Bolívia é possível. Essa independência foi uma afronta ao
imperialismo”, explica o ex-presidente.
Morales enfatiza que “foi um golpe ao índio, à população e
pelo lítio”, ao explicar que o governo estadunidense “nunca perdoou” o fato de
o governo boliviano ter definido uma política econômica de produção autônoma e
independente em torno da exploração das jazidas da matéria prima para as
baterias de equipamentos eletrônicos e veículos elétricos. O país possui a
maior área do mineral do mundo.
:: As multinacionais, o valioso lítio da Bolívia e a
urgência de um golpe ::
Morales afirmou que a renúncia à presidência e a posterior
saída da Bolívia foi uma medida de proteção ao povo boliviano, uma vez que as
forças golpistas da polícia militar, forças armadas e extrema direita, apoiadas
pelos Estados Unidos, ameaçavam “derramar sangue”.
“Até o momento das eleições não havia irmão e irmã que
tivesse sido baleado. Para mim, o direito à vida está acima de tudo. Mas a
partir do dia seguinte das eleições aumentou a violência e começaram a aparecer
os casos de mortes a bala, quando 35 pessoas foram assassinadas nas ruas. Houve
uma conversa entre as lideranças politicas do governo e do partido para que de
fato renunciasse, deixasse o país para tentar conter a violência da extrema
direita”.
Após narrar os episódios que se seguiram para que
conseguisse sair do país, o ex-presidente conta que atualmente, as pesquisas
indicam que se houvesse eleições hoje o MAS-IPSP teria mais de 50% dos votos.
Ele considera que a população que apoiou o golpe já se arrependeu e que há
incertezas sobre os próximos dias, já que com a epidemia do novo coronavírus,
as eleições, marcadas para 3 de maio, foram canceladas.
“Esperamos que os políticos no poder tenham consideração
pela população e tentem cuidar da sua saúde e necessidades. Tenho certeza que o
partido vai voltar ao governo e vamos voltar a implementar políticas que
priorizam o povo, os índios, os trabalhadores, contra o poder imperialista”,
reafirma Morales.
Enquanto a Bolívia espera por eleições, o governo golpista
segue violando direitos humanos e a legislação do país.
Edição: Mauro Ramos
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