Papa Francisco durante sua primeira visita à Bolívia, em
2015, ao lado de crianças bolivianas e do então presidente Evo Morales -
Vincenzo Pinto / AFP
|
Redação
"Continuem a luta e se cuidem como irmãos. Rezo por
vocês, rezo com vocês", expressa o Papa Francisco em carta destinada às e
aos integrantes dos movimentos populares e organizações sociais de todo o
mundo, divulgada neste domingo de Páscoa (12).
Na data em que milhões de cristãos celebram a Ressurreição
de Cristo, o pontífice destina suas orações àqueles que dedicam suas vidas à
transformação social, atuando a partir de suas comunidades.
"Penso nas pessoas, sobretudo nas mulheres, que
multiplicam o pão nos restaurantes comunitários, cozinhando com duas cebolas e
um pacote de arroz um delicioso refogado para centenas de crianças; penso nos
doentes, penso nos idosos. Nunca aparecem nos grandes meios de comunicação.
Tampouco aparecem os camponeses e agricultores familiares que seguem lavrando
para produzir alimentos saudáveis sem destruir a natureza, sem monopolizar ou
negociar com a necessidade do povo. Quero que vocês saibam que nosso Pai
Celestial olha por vocês, os valoriza, reconhece e os fortalece em sua
escolha", escreve.
Com palavras emocionantes, que expressam sua proximidade com
os movimentos populares, recordando encontros ocorridos no Vaticano e em Santa
Cruz de la Sierra, na Bolívia, o Papa Francisco enaltece o trabalho realizado
por essas organizações em meio à pandemia do novo coronavírus.
"Se a luta contra a covid-19 é uma guerra, vocês são um
verdadeiro exército invisível lutando nas perigosas trincheiras. Um exército
que conta apenas com as armas da solidariedade, da esperança e do sentido de
comunidade que renasce nestes dias nos quais ninguém se salva sozinho. Vocês
são, para mim, como lhes disse em nossos encontros, verdadeiros poetas sociais
que, a partir das periferias esquecidas, criam soluções dignas para os
problemas mais urgentes dos excluídos", afirma.
No documento, ele recorda a situação de vulnerabilidade
enfrentada pela população mais pobre, sem-teto, presos, migrantes,
trabalhadores informais, para os quais, em suas palavras, "as quarentenas
se tornam insuportáveis" por não contarem com garantias legais que os protejam.
Para o líder da Igreja Católica, a crise desencadeada pela
pandemia é uma oportunidade da humanidade repensar seus padrões de produção e
consumo, orientados pela competição, individualismo e "lucro desmedido
para poucos".
"Quero que pensemos no projeto de desenvolvimento
humano integral que almejamos, centrado no protagonismo dos Povos em toda a sua
diversidade e o acesso universal a esses três T que vocês defendem: terra, teto
e trabalho. Espero que este momento de perigo nos tire do piloto automático,
agite nossas consciências adormecidas e permita uma transformação humanista e
ecológica que coloque fim à idolatria do dinheiro e coloque a dignidade e a
vida no centro", suplica.
Na mensagem, o pontífice ainda direciona suas críticas ao
mercado e aos "paradigmas tecnocráticos" que, segundo ele, orientam
muitos governos ao redor do mundo e "não são suficientes para abordar esta
crise nem os outros grandes problemas da humanidade".
Para Francisco, neste contexto em que a epidemia traz à tona
e acirra as desigualdades, os movimentos e organizações populares devem ser
reconhecidos, porque são os responsáveis por transformar as crises e privações
"em promessa de vida para suas famílias e comunidades", com modéstia,
dignidade, esforço e solidariedade.
Devido às medidas sanitárias recomendadas pela Organização
Mundial da Saúde para combater a propagação da doença, neste domingo (12), as
celebrações litúrgicas do Vaticano serão realizadas sem os fiéis na Praça de
São Pedro devido à pandemia do novo coronavírus.
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