Por Andréa Oliveira
Há tempos, muito, muito tempo li
uma crônica linda de Drummond que fez quando Cecília Meireles morreu. Dizia que
lá encontraria, no céu de nuvens, amigos e seria a professora a receber os que
lá chegavam… Algo assim.
Eu gosto de ler, mas quando leio Cecília parece que estou em algum lugar especial, quase transcendendo. Eu tinha 12 anos quando ganhei uma coleção de livros do meu pai. Uma estante com cerca de 30 livros. No sul do Pará, Xinguara. Uma casa bonita, de madeira ou tábua, chão pintado de vermelho. Ao redor um sítio e muitas árvores e plantas da mamãe.
Eu tinha meu quarto, ficava lá para ler, porque para dormir sozinha tinha medo.
E lá, desse quarto cercado de
madeira, li Cecília. Era um livro sobre ela, com contos e poemas. Foi meu
Google e nele a conheci. E como chorei.
Lembro de ler dezenas de vezes, Pistoia, cemitério brasileiro. E chorava muito
sempre que o lia. Foi quando decidi que era impossível que eu mesma fosse um
dia poeta. O poema lido já era intenso demais. Decorei Punhal de Prata, Mulher
ao espelho. Adorava Ou isto ou aquilo e tive meu primeiro aprendizado com a
solidão e o abandono lendo um conto dela sobre um cachorrinho na escada da
porta de uma casa.
Eu amo Cecília Meireles. Foi
minha primeira professora. Ela das nuvens, com os escritos na terra, me deu a
mão e me conduziu para a literatura.
Tão delicada e forte. Eu amo Cecília. Olhinhos de gato. Nossa flor de poemas.
Para hoje, deixo aqui o trechinho
final de “Olhinhos de gato” , lido tantas e várias vezes:
“E ela via os mortos e os vivos.
E os vivos não sabiam. Nem talvez os mortos, também”
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