Tarda ao Brasil lembrar de um
passado, nem tão distante, em que nos anos 1970 e 1980 – ainda na ditadura –
mulheres da periferia se levantaram e enfrentaram a carestia e o medo dos
militares
Por Antonio Pedro (Tonhão)
O mês de março trouxe mais uma
triste notícia ao povo e aos trabalhadores brasileiros. A inflação bateu em
1,62%, a maior dos últimos 28 anos (para o mês), desde 1994, quando foi criado
o Plano real. Como para esse governo, “desgraça pouca pro povo é bobagem”. O
presidente do Banco Central, Roberto Campos, já avisou que a inflação, prevista
de 4,7% para 2022 vai estourar o teto da meta, de 5%, e deve chegar a 7,1% no
fim do ano. Para o espanto de todos, Campos disse estar surpreso com a
inflação. Se ele fosse a um supermercado ou feira, como qualquer trabalhador,
saberia que isso virou rotina.
Tarda ao Brasil lembrar de um
passado, nem tão distante, em que nos anos 1970 e 1980 – ainda na ditadura –
mulheres da periferia se levantaram e enfrentaram a CARESTIA e o medo dos
militares para exigir controle de preços dos gêneros de primeira necessidade e
aumento de salários para seus companheiros – operários, cujo sindicatos estavam
na ilegalidade. Foi uma década – entre 1973 e 1982 – de organização na base que
trouxe muito aprendizado do “saber e fazer” popular. Um levante precisa
acontecer novamente para o despertar do povo.
O Brasil vivencia uma crise
social pior que a do Peru. Lá, por muito menos, o povo já saiu às ruas, houve
confrontos com a polícia e pelo menos cinco pessoas morreram. A carestia dos
alimentos e combustíveis foi o estopim para a revolta, inclusive da classe
média, que não viu seus salários acompanharem a inflação. Embora seja um
governo progressista, não conseguiu ainda se livrar de pilares neoliberais que
retiram as riquezas do país e mantem a desigualdade.
Na Ásia, Oriente Médio, América
do Sul e Europa, o povo não quer mais pagar a conta da crise capitalista. Os
motivos que estão levando países como Peru, Sri Lanka, Paquistão e Grécia a
revoltas populares, inclusive derrubando governos, são mais ou menos os mesmos:
inflação descontrolada de itens básicos como energia, gás, combustíveis e
alimentos, somados a não correção e aumento dos salários.
Essas tensões não ficarão
limitadas a esses países. No Brasil, a situação se torna a cada dia mais
insustentável, uma vez que o governo Bolsonaro só agrava a crise.
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