Enquanto as escolas de samba desfilavam com enredos antifascistas e antirracistas, público das arquibancadas manifestava o apoio popular à candidatura do ex-presidente. Já os gritos que partiram dos camarotes deixaram clara a preferência das elites brasileiras por Bolsonaro.
Por Mariana Mainenti
Presentes nas fantasias e nas
alegorias, as desigualdades sociais brasileiras estiveram evidenciadas neste
Carnaval no próprio público que assistiu aos desfiles. Após dois anos sem folia
por conta da pandemia, agravada pela gestão Bolsonaro, as escolas de samba
deram voz às minorias e Lula recebeu o apoio das arquibancadas enquanto dos
camarotes ouviu-se gritos vindos dos ricos favoráveis ao atual presidente.
Em São Paulo, com o grito de
“Basta!”, a arquibancada juntou-se à Gaviões da Fiel exigindo “meu lugar de
fala/a voz destemida/
cabeça erguida por nossos
direitos/quando o fascismo do asfalto
é opressor à militância por
respeito”. Cantando que “o ventre das mazelas sociais/Ante ao preconceito vai
se libertar/Vidas negras nos importam/O grito da mulher não vão calar”, a
escola levantou o público. A plateia foi arrebatada ainda mais pelos versos
“Meu gavião, chegou o dia da revolução/Onde a democracia desse meu Brasil/Faça
o amor cantar mais alto que o fuzil”, para em seguida conclamar “Escute o meu
clamor, ó pátria amada/É hora da luta sair do papel/Basta é o grito que embala
o povo/
Eu sou Gaviões, sou a voz da Fiel”
Segunda a desfilar neste sábado
(23), a escola fez críticas não somente ao fascismo como à escravidão,
lembrando o enriquecimento dos donos de Engenho às custas da exploração de
homens e mulheres. De acordo como G1, o carro abre-alas, com um enorme gavião –
símbolo da escola – fez uma homenagem ao povo africano, mostrando como chegaram
ao Brasil. O segundo carro teve como destaque a escultura de uma criança magra
com um prato com ossos e tinha, na parte de cima, um banquete. Os participantes
da escola encenaram também a moradia em cortiços e favelas, troca de tiros e
morte na escadaria lateral. O carro lembrou ainda tragédias como a do menino
Miguel, em Recife, e a falta de oxigênio para tratar pacientes internados com
coronavírus.
O terceiro carro, que simulava um
incêndio na mata e representava a devastação ambiental e resistência indígena,
trouxe o cacique Raoni, líder do povo Kayapó conhecido internacionalmente pela
defesa dos direitos dos povos indígenas. O quarto e último carro da Gaviões da
Fiel pedia paz, e foi uma celebração às pessoas que lutaram por justiça, com
homenagens a nomes como Nelson Mandela, Frida Kahlo, Mahatma Gandhi e o jogador
Sócrates. Contudo, segundo informações do portal UOL, ao final do desfile da
escola, houve brigas entre integrantes da torcida que estavam na arquibancada e
pessoas de um camarote.
Jacaré na Avenida
Na mesma noite, a Rosas de Ouro também encantou o público com um grande ritual de cura através da fé, da magia, da ciência e, claro, do samba, após dois anos de pandemia. A escola criticou declarações do presidente Jair Bolsonaro contra a vacinação e o “transformou” em jacaré na avenida.Já a Mocidade Alegre celebrou a história da cantora brasileira Clementina de Jesus, mulher negra e referência do samba carioca. E a Águia de Ouro fez uma homenagem à cultura afro-brasileira, reverenciando Oxalá. Primeira a desfilar, a Vai-Vai também voltou ao Grupo Especial homenageando os povos africanos enquanto a Barroca Zona Sul, fez uma homenagem ao Zé Pilintra, uma entidade das religiões afrodescendentes.
Luta de classes
No Rio, o clima esquentou já no primeiro dia do Grupo Especial, quando as vozes que vieram do público refletiram a luta de classes. Segundo relata o portal Socialismo Criativo, o público da arquibancada pedia animado ‘Fora Bolsonaro’, enquanto os frequentadores dos camarotes respondiam com xingamentos ao ex-presidente Lula. No setor 3 da Sapucaí, a resposta veio com um Lulaço: “Olê, Olê, Olê, Olá, Lula, Lula…”.
Em vídeos realizados pelo repórter da Revista Fórum, Lucas Rocha, é possível ouvir os protestos, que tiveram início quando o presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) anunciou no sistema de som as escolas de samba que iriam desfilar naquela noite e a banda da Polícia Militar do Rio de Janeiro tocou o hino nacional.
Já o “filho 01” do presidente Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), foi vaiado por foliões da arquibancada ao chegar à Sapucaí. As vaias somente cessaram quando o senador pelo PL (RJ) entrou no Camarote.
Com enredo antirracista, o Salgueiro foi ovacionado. A escola teve seu grande momento quando a bateria se ajoelhou com o punho erguido. A alegoria que trazia um totem simbolizando a derrubada do racismo e outra com referências a Laíla, Marielle Franco, Moïse Kalagambe, Haroldo Costa e Mary Marinho foram destaque na apresentação.
A escola veio repleta de convidados, com cerca de 170 ativistas, artistas e intelectuais negros, além de um grupo de 20 refugiados de cinco nacionalidades diferentes que vivem no Rio de Janeiro. Estiveram presentes pessoas de Angola, Marrocos, República do Congo, Síria e Venezuela.
Com informações dos portais UOL, G1, Socialismo Criativo e Revista Fórum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário