Fernanda Montenegro na posse de Gilberto Gil na Academia Brasileira de Letras. |
Músico e compositor assume a
cadeira 20 da ABL criticando a hostilidade do governo contra artistas e a
cultura.
O cantor, compositor e
ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, foi empossado hoje como novo ocupante da
cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras (ABL), sucedendo ao jornalista e
advogado Murilo Melo Filho. Gil foi recebido na ABL pelo também acadêmico
Antonio Carlos Secchin.
Em seu discurso de posse, o
imortal afirmou que a Academia Brasileira de Letras é a Casa da Palavra e da
Memória Cultural do Brasil. “E tem uma responsabilidade grande no sentido de
fortalecer uma imagem intelectual do país que se imponha à maré do
obscurantismo, da ignorância, e demagogia de feição antidemocrática. Poucas
vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de
cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora”, denunciou, para
aplausos da plateia.
“Há uma guerra em prol da
desrazão e do conflito ideológico nas redes sociais da internet, e a questão
merece a atenção dos nossos educadores e homens públicos. A ABL tem muito a
contribuir nesse debate civilizatório. E eu gostaria, aqui, de colaborar para o
debate, em prol da cultura e da justiça”.
Gil disse que, entre as tantas
honrarias que a vida lhe proporcionou, entrar na ABL tem uma dimensão especial.
“Não só porque a ABL é a casa de Machado de Assis, escritor universal,
afrodescendente como eu, mas também porque a ABL representa a instância maior,
que legitima e consagra, de forma perene, a atividade de um escritor ou criador
de cultura em nosso país. Sou filho de uma professora primária e um médico. A
eles devo o meu amor às letras e música. A imagem dos meus pais está comigo
nessa noite e sua memória para mim é uma benção”, disse.
Em outro trecho Gil citou as
alegrias e perdas ao longo da vida: “Tive grandes êxitos e alegrias nesta vida,
mas também muitas tristezas, a maior e mais dolorosa, a perda do meu filho
Pedro Gil. Mas não desanimo e é preciso resistir sempre. Apesar dos tempos
politicamente sombrios que vivemos aposto na esperança contra a treva física e
moral. Que haja ao menos a chama de uma vela até chegarmos a toda a luz do
luar”.
Apesar de dizer que não cantaria,
Gil acabou cantando durante o discurso, os versos: “Se a noite inventa a
escuridão, a luz inventa o luar. O olho da vida inventa a visão, doce clarão
sobre o mar”.
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