Nathália Ferreira Guimarães é natural de Patos de Minas (MG) - Foto: Andressa Pestili |
“Quando escrevo, é para me
lembrar da esperança que eu mesma sei que tenho”, diz Nathália Ferreira.
Ana Carolina Vasconcelos
Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG
Mais 600 mil vidas perdidas, o
Brasil de volta ao mapa da fome e os altos índices de desemprego marcam
profundamente o contexto atual do país. É diante desse cenário que Nathália
Ferreira Guimarães, autora mineira natural da cidade de Patos de Minas, publica
seu primeiro livro.
Produzido pela editora Caravana,
de Belo Horizonte, “Vermelho” é resultado da necessidade de Nathália de se
comunicar com o mundo durante o isolamento social. Em quatro capítulos, a
escritora aborda as feridas brasileiras, mas diz da importância da memória para
construir um novo projeto de futuro.
Para conhecer o que motivou e
marcou a escrita de “Vermelho”, o Brasil de Fato MG conversou com Nathália. “A
literatura, para mim, serve como lembrança, como memória das potencialidades
que já vivemos e de como podemos resgatá-las, mesmo em momentos difíceis”,
aponta.
Confira a entrevista:
Brasil de Fato MG – “Vermelho” é
seu livro de estreia. O que te motivou e como foi o processo de criação?
Nathália Ferreira – A escrita foi
um processo que permitiu me conhecer melhor.
É como fazer com que as coisas que sentimos morem também no papel.
Dividir as dores. Na pandemia, me veio o desejo de publicar os poemas e prosas
poéticas que eu já escrevia. No período de isolamento social foi quando escrevi
mais.
Um livro de entrevistas da Hilda
Hilst me marcou. Ela disse que publicava muito porque tinha a necessidade de se
comunicar. No período de isolamento social, com a pandemia, mas também com as
pessoas passando fome e morrendo sem assistência, precisei comunicar minhas
dores. E também comunicar com meus companheiros e companheiras que eu não via.
O livro nasce do desejo de compartilhar esses sentimentos e da necessidade de
dizer que há esperança.
O Brasil vive um momento difícil,
de crise, de sofrimento. Qual é o papel da poesia nesse contexto?
A literatura, para mim, serve
como lembrança, como memória das potencialidades que já vivemos e de como
podemos resgatá-las, mesmo em momentos difíceis. Quando escrevo, é para me
lembrar da esperança que eu mesma sei que tenho. De alguma forma, ao escrever,
me sinto em coletivo.
Por exemplo, quando leio Ferreira
Gullar me sinto como se estivesse conversando e lutando com ele, dividindo as
mazelas e pensando junto como superá-las para cantar um mundo novo.
Quando a gente vê todo o desmonte
pelo qual passa o Brasil, a gente fica muito desacreditada. Eu vejo uma geração
muito sem perspectiva de futuro, incrédula. Temos que lembrar quem nós somos e
o que podemos ser. Se a gente não acreditar, o futuro pode ser tenebroso.
Para mim, a poesia ajuda nisso.
Porque um povo sem memória é um povo sem presente e sem futuro, perdido na sua
história.
Como o livro está organizado?
O livro se apresenta com o poema
“Vida em vermelho”, que traz signos usados ao longo dos textos dos quatros
capítulos. O primeiro capítulo, “Úlceras”, diz sobre as feridas abertas neste
contexto de retirada de direitos, em tempos de conjuntura desbotada.
A segunda parte, "Aquarela e
Bordô: Saudade Corrente e Memória Firme", fala sobre as diferenças e
semelhanças entre a saudade e a memória. Se não fincamos nossos pés na memória,
começamos a não construir o futuro. Esse
capítulo inicia com um poema que ajuda a explicar esse sentido: “Para construir
futuro, nem viver de passado, nem morrer sem memória”.
Com uma crítica ao amor
romântico, a terceira parte do livro, “Paixões corais”, fala sobre os amores
que colorem e aquecem a nossa vida. Apresenta a proposição de amores
companheiros, livres. O capítulo relembra o amor camaradagem da Alexandra
Kollontai e o esforço de construir relações mais igualitárias e companheiras.
Por fim, o último capítulo se
chama "Ego em Carmim" e trata sobre a força do Eu na relação entre
com o mundo e com os outros.
Como adquirir o livro?
O livro foi produzido pela
editora Caravana, de Belo Horizonte. Em pré-lançamento, é possível adquiri-lo
pelo site da editora. Nossa expectativa é que ele esteja em mãos na Bienal
Mineira do Livro, que acontece de 13 a 22 de maio deste ano. Também queremos
fazer um lançamento no início de junho.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Larissa Costa
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