Pertencemos à camada mais populosa da sociedade, onde a verdade se externa nua e crua, onde as dificuldades estão presentes e a palavra NÃO nos acompanha constantemente.
Aqui o buraco é mais embaixo, caminhamos lado a lado com a injustiça. E as conquistas quando as temos, chegam através de muita capacidade pessoal, muito equilíbrio e força para se levantar das puxadas de tapete, os triunfos se os temos, vem com muito peito e muita raça.
Desdobramos-nos dia após dia para driblamos a forte zaga do sistema excludente, somos oprimidos, escravizados. Somos matéria prima, mão-de-obra barata para o benefício de uma outra camada abastada e deleitosa.
Somos a parte da sociedade onde existe um povo guerreiro, onde estão os verdadeiros heróis, onde com sol, chuva e vento, pessoas escrevem a sua existência. Existência esta, que poderia ser muito mais longeva e qualitativa, não fosse a falta de dignidade que nos mata a míngua sem nos assistir com a justiça a qual merecemos.
Aqui não nos rasgam sedas, não vivemos rodeados por bajuladores. Ai daqueles que aqui estão se por ventura mostrar-se insatisfeitos. Não nos é dado o direito á resistência, somos treinados a pacificação, somos adestrados a aceitarmos tudo em perfeita ordem, pois desde a nossa mais terna idade, estamos cientes que devemos ser ordeiros, pois a ordem é quem garante o progresso daqueles que estão onde não estamos.
Somos os excluídos dos excludentes. Não está para nós a parte boa do bolo, não desfrutamos das regalias que deliciam a poucos, somos peças, somos a plebe, somos o combustível que movimenta toda a máquina fazedora de riqueza.
Aqui, muitos bons médicos não serão médicos, muitos mestres, não serão mestres, muitos grandes profissionais não o serão, tudo pela falta de oportunidade, tudo pelo sistema cruel que nos cala e que enterra bons e verdadeiros talentos.
A verdade nauseabunda, revoltante e deprimente é esta: Foi assim com nossos antepassados, assim nós somos e assim serão nossos filhos, netos e toda geração futura. Estamos todos aprisionados, fadados ao fracasso de um beco sem saída.
Teremos uma esperança?
Talvez, talvez um dia apareça uma nova realidade, um novo sistema miraculoso que nos tire da lama a qual estamos atolados e que faça cair por terra toda realidade opressora, mas isto são apenas esperanças e esta parte da sociedade a qual nós estamos incluídos, a muito se alimenta de esperanças vãs. Até lá o povo continuará escrevendo sua sobrevivência, munidos de muita fé e muito sonho, horas acreditando no impossível e desta forma tirando forças para continuar existindo, assim é e assim será, desde que o mundo é mundo.
Por Mateus Brandão de Souza, graduado em história pela FAFIPA e sobrevivente.
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