Como vem se estruturando uma
coalizão conservadora em defesa da “escola neutra.”
Por Amanda Mendonça e Pâmella Passos
Da Mórula Editorial
O Brasil vivencia nos últimos
anos uma conjuntura que reúne episódios graves e constantes de ataques aos
direitos humanos. Somado a este fator temos a retirada de direitos sociais
básicos, como o acesso a alimentação, moradia, saúde, educação e trabalho. Um
cenário onde o desmonte do Estado, a desproteção social e a insegurança da
população são direcionados para uma suposta ameaça de destruição da família e
da ordem moral hegemônica.
Assim, sentimentos como o medo, o
temor de uma possível mudança nas estruturas sociais conhecidas pela maioria da
população, vêm sendo produzidos e acionados como parte do projeto de poder em
curso no país. Uma parcela significativa deste projeto, que garante sua
existência, consiste na construção de um inimigo. E é neste contexto que o
“professor doutrinador”, ou o novo inimigo, ganhou notoriedade nos últimos anos
no Brasil.
Para falar sobre a construção
deste novo inimigo, Pâmella Passos e Amanda Mendonça recuperam a trajetória de
um dos grandes responsáveis por esta invenção: o Movimento Escola sem Partido
(MESP). Tal movimento, ao defender uma suposta neutralidade pedagógica, acusa
educadores de influenciar seus alunos exercendo sobre eles um poder de
persuasão comparado a uma patologia. O MESP passou a reunir uma diversidade de
atores, combinando, fundamentalmente, setores da direita intelectual e
partidária do país, a cúpula religiosa cristã e setores do empresariado
brasileiro — uma atuação combinada de agentes através de uma coalizão
conservadora em defesa da “escola neutra”. Consolida-se um cenário em que a
família está em risco, a educação das crianças corre perigo e o professor é
parte importante desta ameaça.
Através de pequenos exemplos, as autoras desenvolvem um quadro sobre as perseguições a docentes no Brasil, identificando o período de acirramento destas perseguições, os principais argumentos e ferramentas. Este texto busca contribuir com análises de como tais perseguições ocorrem e na produção futura de dados sobre em que segmentos de ensino, áreas de conhecimento e regiões do país (pequenas e grandes cidades) elas vêm acontecendo com mais frequência.
No Jornal GGN
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