A epidemiologista e professora
titular da Ufes, Ethel Maciel, destaca que a vacinação das crianças é
fundamental para o controle da pandemia e para garantir uma volta às aulas
segura em 2022
Apesar da urgência, imunização
ainda não tem data para começar. Posição do governo Bolsonaro preocupa a
comunidade de especialistas principalmente diante da chegada da ômicron. “Temos
que iniciar o mais rápido possível”, alerta Mellanie Fontes-Dutra
Por Rodrigo Gomes | Rede Brasil Atual
São Paulo – Autorizada nesta
quinta-feira (16) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a
imunização de crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19 com a vacina da Pfizer
segue sem data para começar. O governo de Jair Bolsonaro não adiantou a compra
dos imunizantes específicos para essa faixa etária e nem iniciou as negociações
com a farmacêutica. E vem dando indícios que deve protelar a decisão o máximo
possível.
Ainda ontem, o presidente da República afirmou que gostaria de divulgar a identidades dos servidores da Anvisa que participaram do processo de análise. Nesta sexta-feira (17), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou ao canal CNN que pretende abrir uma audiência pública para consultar a sociedade sobre a vacinação infantil. A postura do governo, contudo, preocupa a comunidade científica, principalmente diante da variante ômicron. A avaliação é que o governo possa estar colocando essa população em risco e retardando o controle da pandemia no Brasil.
“Fico bastante preocupada com uma
situação assim pois a gente poderia já ter avançado bastante nas negociações e
nos contratos. Especialmente pensando agora na chegada da ômicron no país. É
muito importante que a gente imunize o mais rápido possível a maior porcentagem
da população alvo”, destaca a coordenadora da Rede Análise Covid-19, Mellanie
Fontes-Dutra. “Que possa haver uma articulação rápida entre o Ministério da
Saúde e a Pfizer para o envio dessas doses. Temos que iniciar o mais rápido
possível essa vacinação tão necessária para o enfrentamento (da pandemia) e
proteção desse público pediátrico”.
A covid em crianças
Segundo os técnicos, a vacina da Pfizer apresentou eficácia superior a 90% em crianças na faixa etária de 5 a 11 anos, com apenas um terço da dose utilizada em adultos. Os dados são relativos à imunização de 2.268 crianças que receberam duas doses da vacina ou placebo, com três semanas de intervalo. Como a formulação é diferente, deverá ser elaborada uma orientação específica para a vacinação de crianças e a Pfizer vai produzir embalagens diferentes das que identificam o imunizante utilizado em adultos. As sociedades brasileiras de Infectologia, de Imunologia, de Pediatria, de Imunizações e de Pneumologia e Tisiologia apresentaram pareceres técnicos apoiando a aprovação.
Em um vídeo exibido durante a
reunião da Anvisa, o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações e
presidente do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria,
Renato Kfouri, destacou o alto risco que as crianças correm com a doença causada
pelo coronavírus. “Só a covid-19 nessa população de crianças e adolescentes
mata mais do que todas as doenças do calendário infantil somadas anualmente.
Outros fatores para colaborar essa recomendação (da vacina) é o risco de
Síndrome Inflamatória Multissistêmica, o risco de covid longa, de
hospitalizações e toda a carga da doença que não é negligenciável na população
pediátrica, especialmente entre crianças de 5 a 11 anos”, advertiu Kfouri.
Em 22 meses de pandemia, cerca de
2.500 crianças morreram devido a complicações da covid-19. Doenças tipicamente
infantis como coqueluche, diarréia, sarampo, gripe e meningite, somadas,
causam, em média, 1.500 mortes de crianças por ano.
Vacinação é segura
A epidemiologista e professora
titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, destaca
que a vacinação das crianças é fundamental para o controle da pandemia e para
garantir uma volta às aulas segura em 2022. “Nós sabemos que a educação sofreu
impactos grandes e ter nesse momento a aprovação para que essa faixa etária
também seja incluída nos grupos prioritários da vacinação é muito importante
para ampliar a cobertura vacinal e auxiliar o país a conseguir uma diminuição
da transmissão (do vírus)”, pontua. “As crianças, mesmo tendo quadro da doença
menos grave – ainda que o Brasil tenha tido muitas mortes pela covid –,
alimentam essa cadeia de transmissão e infectam outras crianças, adultos,
adolescentes, a sua família e isso vai mantendo o vírus circulando.”
Ela destaca ainda que a vacinação
de milhões de crianças nos Estados Unidos comprova que o imunizante é seguro. E
reforça que a vacinação nesse grupo provocou menos casos de reações adversas do
que os registrados em adultos. “São mais de 5 milhões de crianças que já
receberam a vacina sem efeitos adversos graves”, frisa.
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