Uma pessoa negra é morta pela
polícia a cada quatro horas, diz Rede de Observatórios da Segurança.
Pesquisa da Rede de Observatórios
de Segurança revela que uma pessoa negra é morta pela polícia a cada quatro
horas.
Por Cezar Xavier
-Rio de Janeiro é o estado que
possui o maior número de pessoas negras mortas pela polícia
-SP, estado mais populoso do
país, é o segundo em número de mortes Com
98%, Bahia apresenta a maior porcentagem de negros mortos por agentes.
Em Salvador, Fortaleza e Recife
100% dos mortos em ações policiais são negros.
-PE mais que dobrou o número de
mortos pela polícia e 97% dessas pessoas são negras
-No CE, negros tem sete vezes
mais chances de morrer que não negros.
-Número de negros mortos pela
polícia ultrapassa 90% no Piauí.
-Maranhão tem apagão de dados e não acompanha a cor dos mortos pela polícia .
Estas são algumas das conclusões
da pesquisa da Rede de Observatórios da Segurança com sete estados monitorados.
A cada quatro horas uma pessoa
negra é morta em ações policiais na Bahia, no Ceará, no Piauí, em Pernambuco,
no Rio de Janeiro e em São Paulo. É o que mostra o estudo Pele alvo: a cor da
violência policial elaborado pela Rede de Observatórios da Segurança, publicado
nesta terça-feira (14). Os estados são seis dos sete que são monitorados pela
rede. O sétimo é o Maranhão, onde o governo não acompanha a cor das vítimas da
violência, o que para a entidade é “uma outra forma de racismo institucional”.
O trabalho é resultado de dados referentes ao ano de 2020, que foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. Pela segunda vez, a Rede de Observatórios analisa os números das secretarias de segurança dos estados monitorados. A primeira foi no ano passado.
Conforme a pesquisa, mesmo “em um
contexto de crise sanitária mundial, o racismo não dá trégua e, pelo contrário,
mata ainda mais, tanto por vírus como por tiro”. O estudo apontou que, entre as
2.653 mortes provocadas pela polícia, com informação racial nos seis estados da
rede, 82,7% delas eram pessoas negras.
O Rio de Janeiro mais uma vez foi
o estado com mais mortes de pessoas negras em ações policiais. No caso dos
1.092 mortos que tiveram a cor/raça informada, 939 registros eram de pessoas
negras. Apesar disso, a Bahia novamente apresentou a maior porcentagem de
mortes de pessoas negras por agentes do estado, sendo a polícia mais letal do
Nordeste. Pernambuco teve um aumento de 53% de mortes provocadas por ação de
agentes do estado, passando de 93% para 97% de pessoas negras entre as vítimas
de um ano para o outro.
Nesta edição, a Rede de
Observatórios de Segurança, pela primeira vez, apresenta também os números das
capitais e constatou que 100% dos mortos pela polícia em Recife, em Fortaleza e
em Salvador eram pessoas negras. Em Teresina foram 94% e no Rio de Janeiro 90%
de negros mortos pelas polícias.
Para a rede, a proporção de
negros mortos pela polícia frente à sua proporção na população “é a imagem mais
contundente do racismo que estrutura a atividade policial. Em todos os estados,
a presença de negros entre os mortos pela polícia é bem maior do que na
composição populacional dos estados, mostrando que a morte pela ponta de um
fuzil carregado por um policial atinge de maneira desproporcional os negros em
relação aos não negros”.
Bahia
De acordo com dados do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, Santo Antônio de Jesus, na Bahia, é a cidade
em que mais pessoas negras morrem em ações policiais no Brasil. Entre os que
possuem o maior número de mortos, o estado ocupa a terceira posição (595
mortos). O Rio de Janeiro aparece em primeiro lugar (939) e, em segundo, São
Paulo (488), que é o estado mais populoso do Brasil. A pesquisa mostrou ainda
que a polícia da Bahia, entre todos os estados da rede, é a que apresenta o
maior percentual de pessoas negras mortas em ações policiais, com 98%, enquanto
que na capital Salvador todas as vítimas da polícia são negras.
Ceará
O estudo Pele alvo: a cor da
violência policial indicou que, no Ceará, negros tem sete vezes mais chances de
serem mortos do que os não negros. Lá, no percentual da população em geral,
62,3% correspondem a negros, mas entre as vítimas de agentes estatais, pessoas
negras atingiram 87,2%. A rede destacou que a constatação ocorreu mesmo com o
estado sendo “um dos que mais acumulam problemas com relação ao acompanhamento
da cor das vítimas. São 106 vítimas incolores contra 39 com identificação
racial”. Na capital Fortaleza, 100% dos mortos pela polícia com identificação
racial são negros.
Maranhão
No Maranhão, A rede chamou
atenção para a dificuldade em obter resultados no estado por causa da falta de
acompanhamento da cor das vítimas de policiais. No entanto, foi possível
verificar que o número de pessoas vitimadas por policiais no Maranhão, no
total, subiu de 72, em 2019, para 97, em 2020. “A variação entre um ano e outro
foi de 35%”.
Pernambuco
Em Pernambuco, 113 pessoas foram
vítimas de ações policiais no estado. Entre elas, 109 eram pessoas negras, três
brancas, e em um caso não foi identificada a cor da pele. Em 2019, o total de
pessoas mortas pela polícia no estado atingiu 74 casos, dos quais 93% eram negras.
Piauí
No Piauí, o percentual de vítimas
da violência letal da polícia, de pessoas negras, alcançou 91%. Com 94% de
letalidade da população negra por atividade policial, a capital Teresina ficou
em terceiro lugar entre as monitoradas.
Rio de Janeiro
Ainda que permaneça como o estado
que mais registra mortes em ações e intervenções das polícias, o Rio de Janeiro
anotou 1.245 mortes no ano de 2020, o que representa uma redução de 31% em
relação a 2019. No entanto, “o valor é o terceiro maior registro de toda a
série histórica”. As pessoas negras são 86% entre os mortos pela polícia. A
capital também é a com o maior número total de mortes (415). No município, 90%
dos mortos em ações policiais são negros.
São Paulo
Em 2020, São Paulo teve 814
mortos pela polícia. Do total de homicídios, 770 ocorrências tiveram registro
de raça das vítimas e em 63,4% dos casos, eram negras. Outra informação que a
pesquisa revelou é que a proporção de pardos (5,4%) e de pretos (29,4%) entre
os mortos é quase o dobro do percentual desse mesmo grupo na população
paulista. Já entre os brancos, que representam 64% da população de São Paulo,
são 36% entre os mortos pela polícia. Na capital, o percentual de negros mortos
pela polícia é de 69%, no entanto, em número de casos, o município (317) só
perde para o do Rio de Janeiro (415).
Rede de Observatórios
Depois de fazer a produção de
dados em cinco estados, a Rede de Observatórios, que é um projeto do Centro de
Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), com apoio da Fundação Ford, no
segundo semestre deste ano, ampliou o estudo para o Maranhão e o Piauí. Para
isso, se juntaram ao trabalho, a Rede de Estudos Periféricos, da Universidade
Federal do Maranhão (UFMA) e do Instituto Federal do Maranhão (IFMA); o Núcleo
de Pesquisas sobre Crianças, Adolescentes e Jovens, da Universidade Federal do
Piauí (UFPI) e a Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD);
além do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop); do
Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC) e ao Núcleo de Estudos da
Violência (NEV/USP).
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